Um Relatório da rede Eurydice da
Comissão Europeia vem, sem surpresa, mostrar que os professores portugueses,
conjuntamente com os de Espanha, Grécia, Eslovénia e Irlanda, são os mais
afectados por reduções salariais e medidas de austeridade. Por outro lado e este,
sendo um dado conhecido, nem sempre é lembrado, os professores portugueses
estão entre os que mais tempo necessitam para atingir o topo da carreira.
Este é o tipo de informação que
será discutida e usada de forma muito díspar de acordo com a agenda e os posicionamentos dos diferentes
comentadores.
Do meu ponto de vista, algumas
notas simples.
Em primeiro lugar, os professores,
de uma forma geral, não são uma classe privilegiada como frequentemente e em
diferentes circunstâncias e cores, o poder político quer fazer crer e fazer
instalar na opinião pública. Muitas vezes esta construção de uma imagem de privilégio
e mesmo de diabolização da classe, mais não é que uma estratégia, para criar
ambiente social favorável ao desenvolvimento de medidas com repercussões nos aspectos
profissionais dos docentes. Estratégias semelhantes são usadas com outras
classes profissionais, médicos, por exemplo.
Os últimos tempos têm sido particularmente
elucidativos deste tipo de processos à semelhança do que se verificou, aliás,
com Maria de Lourdes Rodrigues.
Por outro lado, poderão surgir
vozes que de uma forma excessivamente corporativa, que se entende mas que não
deve retirar lucidez, reclamarão um modelo menos restritivo de progresso na
carreira ancorados no tempo que se demora a atingir o topo.
Muitas vezes aqui escrevi e não
mudei de opinião a minha oposição frontal e clara ao estabelecimento de quotas.
Sempre disse e defendo que se alguém é excelente à luz dos critérios com que é
avaliado deve aceder à consequência dessa classificação e não ser travado por
questões administrativas, traduzidas num simples, "és excelente mas
desculpa lá, já não cabes".
Esta posição não tem a ver, antes
pelo contrário, com facilitismo na progressão, mas sim com a necessidade imprescindível
e um modelo sólido, competente, eficaz e justo de avaliação que está longe de
ser instalado e no qual assente uma progressão, possível e adequada, na careira.
Finalmente, não sendo parte interessada,
sinto-me muito à vontade para defender que a exigência e responsabilidade
social e ética de quem forma o futuro, os miúdos, não é compatível com uma
classe profissional desvalorizada na sua imagem, desvalorizada no seu
desempenho profissional e desvalorizada no seu estatuto salarial.
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