Dados do Inquérito Nacional em Meio Escolar de
2011 sobre os consumos, hoje divulgados, mostram um acréscimo no consumo de
álcool entre os adolescentes e também das chamadas drogas leves. Estes dados
confirmam a informação disponível sobre este universo, os consumos, os
diferentes consumos. Dada a sua relevância, parece oportuno retomar algumas
notas.
Segundo o European Scholl Survey Project on
Alcohol and other Drugs /2011 – ESPAD, a prevalência do consumo de tabaco, álcool, drogas,
medicamentos e inalantes, os adolescentes portugueses estão dentro da média
europeia. No entanto, dados do ano passado do Instituto da Droga e da
Toxicodependência apontavam no sentido de se verificar um aumento preocupante
do consumo de drogas duras por parte dos adolescentes e uma tendência de
abaixamento do número de toxicodependentes.
Embora seja de saudar este abaixamento global do
número de consumidores é importante estar atento à utilização das drogas duras
e das drogas “novas” pelo efeito devastador e, sobretudo, pelo facto do aumento
estar a envolver os mais novos. Parece-me importante recordar que os estudos
também referem que o consumo de álcool tem vindo a crescer alterando-se os
padrões de consumo, beber na rua (é bastante mais barato), e o consumo
excessivo e rápido (binge drinking). Este padrão tem vindo a ser sublinhado por
diferentes estudos sobre os hábitos dos adolescentes e jovens portugueses,
cerca de 70% dos jovens com 15 anos consomem álcool.
Este quadro torna verdadeiramente necessária uma
política de prevenção, tratamento e combate ao tráfico, caso da droga, eficaz
e, tanto quanto possível, com os recursos necessários.
Ao que foi noticiado há meses, em virtude dos
limites orçamentais, o Instituto da Droga e da Toxicodependência iria
prescindir dos serviços de algumas centenas de técnicos, psicólogos e
assistentes sociais, que integravam as unidades de tratamento de proximidade
com resultados conhecidos e também procederá ao encerramento de unidades de
atendimento ao nível concelhio em vários locais do país.
No que respeita ao álcool, como é sabido, a venda
processa-se com a maior das facilidades e baixíssimo controlo da idade dos
compradores. Muitos adolescentes, ouvidos em estudos nesta matéria, referem
ainda a ausência de regulação dos pais sobre os gastos, sobre os consumos ou
sobre as horas de entrada em casa, que muitas vezes tem que ser discreta e
directa ao quarto devido ao “mau estado” do protagonista.
Existem áreas de problemas que afectam as
comunidades em que os custos da intervenção são claramente sustentados pelas
consequências da não intervenção, ou seja, não intervir ou intervir mal é
sempre bastante mais caro que a intervenção correcta em tempo oportuno. A
toxicodependência e o consumo do álcool são exemplos dessas áreas.
Quadros de dependência não tratados
desenvolvem-se habitualmente, embora possam verificar-se excepções, numa
espiral de consumo que exigem cada vez mais meios e promove mais dependência.
Este trajecto potencia comportamentos de delinquência, alimenta o tráfico,
reflecte-se nas estruturas familiares e de vizinhança, inibe desempenho
profissional, promove exclusão e “guetização”. Este cenário implica por sua vez
custos sociais altíssimos, persistentes e difíceis de contabilizar.
Face ao consumo de álcool pelos adolescentes,
pode haver alguma negligência paternal mas, na maioria dos casos, trata-se de
pais, que sabem o que se passa, “apenas fingem” não perceber desejando que o
tempo “cure” porque se sentem tremendamente assustados, sem saber muito bem o
que fazer e como lidar com a questão. De fora parece fácil produzir discursos
sobre soluções, mas para os pais que estão “por dentro” a situação é muitas
vezes sentida como maior que eles, justificando-se a criação de programas
destinados a pais e aos adolescentes que minimizem o risco do consumo
excessivo.
Costumo dizer em muitas ocasiões que se cuidar é
caro façam as contas aos resultados do descuidar. Assim sendo, dificilmente se
entendem algumas opções.
Sem comentários:
Enviar um comentário