Portugal vai finalmente adoptar a partir de 2013 as
curvas de crescimento produzidas pela OMS como referência e monitorização do
desenvolvimento de bebés, crianças e adolescentes no que respeita à evolução do
peso, do comprimento/altura e do perímetro cefálico.
Muitos países já utilizavam este padrão pelo que se justificava
a alteração que, lê-se no Público, traduzirá um crescimento mais próximo do “ideal”.
Sobre esta questão, o “ideal”, umas notas breves.
Como bem sublinha Mário Cordeiro, o uso desta referência é
importante no sentido de detectar eventuais problemas, mas importa que a sua
leitura e uso seja cautelosa.
Mário Cordeiro fala de uma “ditadura” ou “”neurose” dos
percentis, ou seja, uma preocupação excessiva e desequilibrada dos pais sobre a
”normalidade” dos seus filhos. Esta preocupação pode criar algumas dificuldades
no processo educativo pela ansiedade e instabilidade que promove com consequências
menos positivas.
As tabelas constituem, pela quantidade de casos nos quais
assenta a sua construção, um padrão de referência sólido e que contém um
espectro largo de “normalidade” pelo que as diferenças observadas entre crianças e
entre cada criança e a “tabela”, podem ser perfeitamente normais desde que se
contenham nos limites que os profissionais conhecem.
Não existe a criança “ideal”, criança que “vem nos livros e manuais”,
que em cada momento da sua vida está no parâmetro ideal em todas as dimensões
do seu desenvolvimento e funcionamento. É fundamental que os pais se relacionem
com serenidade e informação com as diferenças que se registam no
desenvolvimento dos miúdos e na comparação que todos os pais não resistem a
fazer com as outras crianças.
É certo que estamos num tempo de normalização, todos os
iguais, tudo da mesma forma e de pressão para a excelência, para o ideal, de
redução das pessoas a números, estatísticas e quadros, o que merece reflexão.
Estes tempos produzem em muitos pais e muitos miúdos uma
pressão que alguns, pais e filhos, não conseguem suportar de forma positiva.
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