Não é nada de novo o entendimento de que as
circunstâncias de vida pelas quais as pessoas e as famílias passam têm um
reflexo fortíssimo, positivo ou negativo, na vida dos miúdos e no seu
crescimento saudável em todas as dimensões. Aliás, os estudos e os dados
mostram que os mais novos e os mais velhos são justamente os grupos etários
mais vulneráveis aos risco da pobreza.
Nos tempos duros que correm são frequentes as
referências às graves dificuldades que muitas famílias atravessam, sobretudo
decorrentes do desemprego, aumentam exponencialmente as situações de desemprego
que afectam ambos os progenitores, o corte nas prestações sociais e mesmo no
acesso a alimentação de qualidade que levou a que as escolas providenciem
pequeno almoço e refeições a um número crescente de crianças.
Sendo certo que os problemas dos pais são
importantes, é, por outro lado, fundamental perceber e estar particularmente
atento aos efeitos para as crianças que estes tempos de chumbo inevitavelmente
produzirão, insisto, em diferentes dimensões do seu crescimento e
funcionamento.
Na verdade, cada criança que nasce, e nascem cada
vez menos, deveria levar a comunidade a estabelecer com essa criança um
contrato ético através do qual a comunidade se obriga a providenciar cuidados e
educação de qualidade nos diferentes contextos de vida da crianças,
designadamente na família e na escola. Na terminologia em inglês pode
utilizar-se uma síntese significativa e curiosa, "educare",
envolvendo "education" e "care".
A comunidade, nós, nos diferentes patamares em
que funcionamos e decidimos, não podemos falhar no cumprimento deste contrato
ético.
No fundo, como diz o cancioneiro e dirá cada
criança, eu só quero o que me é devido, por me trazerem aqui, eu nem
sequer fui ouvido, no acto de que nasci.
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