segunda-feira, 22 de outubro de 2012

E SEGUE A DANÇA DAS CADEIRAS

Com a maior das "surpresas" Luís Filipe Menezes anunciou há umas semanas ser candidato à Câmara do Porto. Estando impedido de concorrer de novo a Gaia e Rui Rio, pelas mesmas razões, impedido de concorrer ao Porto, a que acresce o enorme espírito de missão e sacrifício de Menezes e a nunca escondida apetência pela liderança da Invicta, Menezes não resistiu ao apelo, ninguém o agarrou e pronto, é candidato a transformar o Porto numa das mais endividadas autarquias do país como conseguiu com Gaia. Ao que parece, o desinteressado espírito de missão do Dr. Menezes não convenceu CDS, o habitual parceiro de coligação do PSD no Porto que acaba de anunciar que não apoia esta candidatura. A coligação também por aqui está a tremer e mesmo dentro do PSD não é consensual a aceitação do missionário Menezes.
À medida que se aproxima o período de lançamento das próximas autárquicas, os aparelhos da partidocracia vão definindo estratégias de regulação da dança das cadeiras. Devo confessar que acho um espectáculo absolutamente deprimente e despudorado que também pode ilustrar-se com a contratação em final de época, por parte da estrutura concelhia do PSD de Oeiras, do Dr. Moita Flores, um conhecido entertainer e escritor medíocre, criminólogo, comentador televisivo, etc., etc., e também presidente da Câmara de Santarém na qual também consegiu um excelente nível de endividamento. Não se conhecem os valores do contrato, mas sabe-se que, obviamente, Moita Flores é um profundo conhecedor do concelho vizinho de Santarém, o de Oeiras, pelo que se percebe a bondade e acerto da escolha.
No entanto, exemplos destes são muito comuns.
Há tempos a imprensa referia, apesar das eleições ainda virem longe, que o PSD se prepara para, apesar da oposição do CDS, aprovar a “clarificação” legal que permite que um cidadão que já cumpriu três mandatos à frente de uma estrutura autárquica possa concorrer … a outro município. A jogada manhosa prendia-se, pelo menos, com a intenção já explícita de apresentar o “action man”, Dr. Luís Filipe Menezes, que já não pode concorrer a Gaia, à Câmara do Porto, dado que Rui Rio também já está no fim do “contrato” dos três mandatos. Evidentemente que não é caso único, há umas semanas ouvi o senhor presidente da Câmara de Vila Nova de Poiares, o Sr. Jaime Soares, também conhecido pela sua ligação ao universo dos bombeiros, já impedido de concorrer ao mesmo município, admitir a possibilidade de se candidatar a Coimbra. São uns empreendedores, sempre a bombar.
De acordo com o quadro legal, para esta mudança normativa o PSD não precisa dos votos do CDS, basta que um dos partidos da oposição se abstenha.
Aqui surge a posição do PS em que, por exemplo, Francisco Assis é absolutamente fiel ao espírito da lei, a renovação política, o combate à eternização no poder, mas desconhece-se a posição que virá a ser adoptada por António José Seguro. Em todo o caso, também no PS há quem já vá afirmando que não vê “qualquer razão para que um autarca que atinja um limite de mandatos numa autarquia não possa candidatar-se a outra”, o que também não estranho. Por coincidência e só para exemplo, o PS tem um autarca em fim de mandato em Loures, Joaquim Raposo, que entende como uma boa candidatura para disputar a Câmara de Sintra a Fernando Seara, se este, entretanto, não se “interessar” pela Câmara de Lisboa. É um susto a dança das cadeiras.
E é assim que esta choldra, como diria o eterno Eça, funciona. A lei é clara na sua intenção e formulação mas, como sempre, se não serve os interesses partidários de ocasião, muda-se a lei, é simples e aparentemente barato. No entanto em termos de saúde ética da nossa vida cívica o preço deste pântano é altíssimo.
O despudor e a partidocracia capturaram e debilizaram a qualidade da democracia e confiança e envolvimento cívico dos cidadãos.
Este é, também, uma dimensão enorme da crise, das crises.

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