Com a maior das "surpresas" Luís Filipe
Menezes anunciou há umas semanas ser candidato à Câmara do Porto. Estando
impedido de concorrer de novo a Gaia e Rui Rio, pelas mesmas razões, impedido
de concorrer ao Porto, a que acresce o enorme espírito de missão e sacrifício
de Menezes e a nunca escondida apetência pela liderança da Invicta, Menezes não
resistiu ao apelo, ninguém o agarrou e pronto, é candidato a transformar o
Porto numa das mais endividadas autarquias do país como conseguiu com Gaia. Ao
que parece, o desinteressado espírito de missão do Dr. Menezes não convenceu CDS,
o habitual parceiro de coligação do PSD no Porto que acaba de anunciar que não
apoia esta candidatura. A coligação também por aqui está a tremer e mesmo
dentro do PSD não é consensual a aceitação do missionário Menezes.
À medida que se aproxima o período de lançamento
das próximas autárquicas, os aparelhos da partidocracia vão definindo
estratégias de regulação da dança das cadeiras. Devo confessar que acho um
espectáculo absolutamente deprimente e despudorado que também pode ilustrar-se
com a contratação em final de época, por parte da estrutura concelhia do PSD de
Oeiras, do Dr. Moita Flores, um conhecido entertainer e escritor medíocre,
criminólogo, comentador televisivo, etc., etc., e também presidente da Câmara
de Santarém na qual também consegiu um excelente nível de endividamento. Não se
conhecem os valores do contrato, mas sabe-se que, obviamente, Moita Flores é um
profundo conhecedor do concelho vizinho de Santarém, o de Oeiras, pelo que se
percebe a bondade e acerto da escolha.
No entanto, exemplos destes são muito comuns.
Há tempos a imprensa referia, apesar das
eleições ainda virem longe, que o PSD se prepara para, apesar da oposição do
CDS, aprovar a “clarificação” legal que permite que um cidadão que já cumpriu
três mandatos à frente de uma estrutura autárquica possa concorrer … a outro
município. A jogada manhosa prendia-se, pelo menos, com a intenção já explícita
de apresentar o “action man”, Dr. Luís Filipe Menezes, que já não pode
concorrer a Gaia, à Câmara do Porto, dado que Rui Rio também já está no fim do
“contrato” dos três mandatos. Evidentemente que não é caso único, há umas
semanas ouvi o senhor presidente da Câmara de Vila Nova de Poiares, o Sr. Jaime
Soares, também conhecido pela sua ligação ao universo dos bombeiros, já
impedido de concorrer ao mesmo município, admitir a possibilidade de se
candidatar a Coimbra. São uns empreendedores, sempre a bombar.
De acordo com o quadro legal, para esta mudança
normativa o PSD não precisa dos votos do CDS, basta que um dos partidos da
oposição se abstenha.
Aqui surge a posição do PS em que, por exemplo,
Francisco Assis é absolutamente fiel ao espírito da lei, a renovação política,
o combate à eternização no poder, mas desconhece-se a posição que virá a ser
adoptada por António José Seguro. Em todo o caso, também no PS há quem já vá
afirmando que não vê “qualquer razão para que um autarca que atinja um limite
de mandatos numa autarquia não possa candidatar-se a outra”, o que também não
estranho. Por coincidência e só para exemplo, o PS tem um autarca em fim de
mandato em Loures, Joaquim Raposo, que entende como uma boa candidatura para
disputar a Câmara de Sintra a Fernando Seara, se este, entretanto, não se “interessar”
pela Câmara de Lisboa. É um susto a dança das cadeiras.
E é assim que esta choldra, como diria o eterno
Eça, funciona. A lei é clara na sua intenção e formulação mas, como sempre, se
não serve os interesses partidários de ocasião, muda-se a lei, é simples e
aparentemente barato. No entanto em termos de saúde ética da nossa vida cívica
o preço deste pântano é altíssimo.
O despudor e a partidocracia capturaram e
debilizaram a qualidade da democracia e confiança e envolvimento cívico dos
cidadãos.
Este é, também, uma dimensão enorme da crise, das
crises.
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