quinta-feira, 31 de maio de 2007

PORTUGAL - AFINAL NÃO É O INFERNO

Finalmente uma notícia interessante. De acordo com um estudo publicado em The Economist, em 121 países considerados, Portugal coloca-se na nona posição como país seguro e pacífico. Curiosamente, aparece mais bem colocado que os Estados Unidos, os polícias do mundo contemporâneo.

Como já aqui tenho referido, estou longe de considerar que o país seja o inferno que o tratamento leviano e demagógico dispensado por alguma comunicação aos incidentes que lamentavelmente ocorrem, leva a entender. Esta abordagem acaba por sustentar discursos, a meu ver, perigosos por parte de alguns “opinion makers” e de uma franja política que, por diferentes razões, afirmam uma paranóia securitária que, de forma estranha e certamente coincidente, se direcciona para minorias que, assim, ficam genericamente associadas ao mundo “extremamente inseguro e violento” em que vivemos. Atente-se, por exemplo, no discurso do PNR e de algumas figuras da direita portuguesa.

Temos, como todas as sociedades actuais, problemas de segurança mas só a lucidez na análise desses problemas facilitará a sua gestão e prevenção mais eficazes. Sem demagogia e populismo, sem preconceito, sem sobrevalorizar a repressão, pois, estes podem ser caminhos que, sabendo como começam, também sabemos como podem acabar.

quarta-feira, 30 de maio de 2007

GREVE GERAL - ganharam todos

Considerando a turbulência política que caracteriza o nosso quotidiano, sabem-me sempre bem os relaxantes momentos proporcionados pela análise do que acontece nos dias de eleições, seja de que natureza for, e nos dias com greves agendadas, seja qual for o seu âmbito.

Esta tranquilidade advém do facto de nestes dias se estabelecerem verdadeiros consensos entre os interesses em conflito. O mais estimulante é que o consenso se estabelece em torno da ideia de que… ganharam todos. Ele há coisas fantásticas não há? Foi o caso verificado com a greve geral de hoje, ou parcial, ou total, ou o que acharem por bem. As entidades representantes dos empregadores, incluindo a administração, afirmam que se registou um bom resultado pois a iniciativa não teve a adesão referida e ou esperada, não teve impacto significativo na vida das comunidades, que fica evidente a aceitação das políticas seguidas, etc. Por outro lado, as estruturas representativas dos trabalhadores informam-nos que a adesão correspondeu às expectativas, que os trabalhadores mostraram o seu descontentamento, que o movimento sindical obteve mais uma retumbante vitória, etc.

É. As histórias ficam sempre mais bonitas quando todos se sentem bem, quanto mais não seja… até amanhã.

terça-feira, 29 de maio de 2007

PERPLEXIDADES QUE JUNTAM SÓCRATES E O SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Duas perplexidades daquelas que nos recordam Eça. Choldra de país.

Um acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, reduz em um terço a pena de prisão aplicada a um sujeito que, comprovadamente, abusou de forma continuada entre 2000 e 2004 de um rapaz agora com 13 anos, sendo ainda que se apuraram mais 4 situações de abuso que não foram a julgamento porque os pais das crianças envolvidas não apresentaram queixa. A fundamentação da decisão sobre o recurso da defesa, assenta em aspectos como “não é certamente a mesma coisa abusar de uma criança com 5,6, ou 7 anos ou de um jovem com 13”, ou que “a imagem social do arguido foi prejudicada com o processo”. O douto acórdão entende ainda que o silêncio da criança, devido a ameaças, propiciou o comportamento do arguido e, finalmente, que a pena de 7 anos e 5 meses, já confirmada na Relação, sendo “excessiva e desproporcionada” deverá ser reduzida para 5 anos. Para que conste os nomes destes escribas de direito que se clamam de juízes de um tribunal supremo são RODRIGUES DA COSTA, ARMÉNIO SOTTOMAYOR, REINO PIRES E CARMONA DA MOTA. Como se não bastasse, num ímpeto corporativista acéfalo, o Vice-presidente do Supremo, ANTÓNIO HENRIQUES GASPAR, achou o acórdão excelentemente fundamentado. Amigos, vergonha e tristeza.

Segunda perplexidade. O Primeiro-ministro José Sócrates em visita oficial à Rússia, aceita que a Praça Vermelha em Moscovo seja encerrada para a realização do seu jogging matinal. Claro que a ideia de encerrar não foi sua (o despudor tem limites) mas não a recusou. Vergonha destes umbigos deslumbrados.


CANDIDATOS A LISBOA - PRIMEIRAS MEDIDAS

Num exercício de antecipação, procurámos imaginar a primeira medida que os candidatos já conhecidos à Câmara de Lisboa tomariam caso fossem eleitos. Ficou como segue.

António Costa – PS – Estabelecer, por decreto municipal, a sua rigorosa independência e distância face à política governamental do PS
Helena Roseta – o outro PS – Criar um movimento de cidadãos e cidadãs para saber a sua opinião sobre o que fazer
Sá Fernandes – BE – Embargar qualquer obra em curso
Carmona Rodrigues – o outro PSD – Convidar Santana Lopes para assessor só para chatear Marques Mendes
Fernando Negrão – PSD – Substituir a estátua de Sá Carneiro por uma de Marques Mendes
Ruben de Carvalho – CDU – Oferecer um lugar na vereação ao Partido "Os Verdes"
Gonçalo da Câmara Pereira – PPM – Determinar o seu tratamento por Marquês
Manuel Monteiro – ND – Disponibilizar um T0 para sede do seu partido
Telmo Correia – CDS-PP – Proibir Teresa Caeiro de realizar qualquer intervenção perto de um microfone
Pinto Coelho – PNR – Realizar uma visita de cortesia ao bairro da Cova da Moura

Não morasse eu na famosa margem sul e estaria preocupado.


sexta-feira, 25 de maio de 2007

DIA INTERNACIONAL DA CRIANÇA DESAPARECIDA - à vossa consciência

Hoje, 25 de Maio, segundo o calendário que serve de agenda para as consciências, passa o Dia Internacional da Criança Desaparecida.

O problema é exactamente este. Em muitas circunstâncias e por variadas razões, parece que a criança desapareceu das nossas consciências. Provavelmente por isso, de vez em quando, precisamos que uma tragédia, o desaparecimento da Madeleine por exemplo, se transforme num episódio histérico-mediático que nos convença de uma genuína preocupação com o estafado “supremo interesse da criança” e do seu entendimento como princípio fundador das nossas comunidades. Preocupemo-nos então com o desaparecimento das crianças.

Amanhã, será outro dia.
(Foto de José Pinto)

quinta-feira, 24 de maio de 2007

SENHOR MINISTRO MÁRIO LINO

Excelência,

Apelando à sua generosidade apresento-lhe a seguinte situação.

Por azares da fortuna acabei por nascer e viver no Deserto da Sara, como sabe o petit nom da margem sul do Tejo. Estou num trágico inferno Senhor Ministro. Os meus filhos engrossam as estatísticas que envergonham o nosso país e a sua colega Ministra da Educação pois, por falta de escolas, estão condenados ao analfabetismo. Todos os dias temos alguém conhecido ou familiar que falece por falta de assistência pois hospitais… não existem O seu colega Ministro da Saúde tem aqui a tarefa facilitada pois não se pode fechar o que nunca abriu. Como sabe, não temos indústria e comércio e, no deserto, a agricultura é residual pelo que poucos trabalham aqui no Deserto da Sara. Mesmo assim, os poucos que o fazem têm de percorrer longuíssimas distâncias até chegar ao Portugal rico e desenvolvido da margem Norte. Até estas viagens são infernais pois, como muito bem sabe Vossa Excelência como Ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, não temos estradas, as carroças são lentas e a travessia do Tejo torna-se difícil porque os barcos não ajudam. O nosso ordenamento territorial obedece às leis do deserto pelo que não temos cidades, apenas aldeias e tão dispersas que nem as grandes superfícies chamadas Centros Comerciais aqui se instalam. Embaraça-nos muito, também, o isolamento em que vivemos pois quando, por milagre, alguém se lembra de vir ao Deserto da Sara não pode ficar devido à inexistência de hotéis, embora tenhamos numa aldeia chamada Costa da Caparica, uns parques de campismo muito jeitosos que Vossa Excelência já visitou num safari que fez pelo Deserto da Sara, aquando da revolta do mar.

Como vê Excelência, é o inferno. Quando, com a ajuda de um familiar rico ou com algum subsidiozinho dado pelo governo a que Vossa Excelência pertence, oferecemos um presente aos nossos filhos, quase sempre optamos por “kits de sobrevivência”. É por isso que me dirijo ao Senhor Ministro no sentido de me ajudar. Um primo da cunhada do tio da minha mulher falou-me que existe uma terra chamada Ota que fica situada numa região chamada Éden onde existe tudo, mas mesmo tudo, o que pode fazer feliz uma família preocupada com o bem-estar dos seus filhos. Parece que só falta mesmo um aeroporto mas, disse-me esse familiar, o Senhor comprometeu-se pessoalmente a construí-lo. Só lhe pedia então um emprego para sair aqui do Deserto da Sara e dar à minha família o que merece. Ajeito-me em qualquer coisinha e, se tiver dificuldade, peço ajuda a um ucraniano daqueles que são doutores e sabem fazer de tudo e que agora vêm para as nossas obras. Como vê peço pouca coisa. Em troca prometo o meu voto e o da família, prometo rir-me das graças sobre a sua inscrição na Ordem dos Engenheiros, e, muito importante, não farei queixa dessas graças.

Queira Senhor Ministro aceitar os meus agradecimentos pela atenção que possa dispensar a esta trágica situação.

Seu, José Marques
Almada

quarta-feira, 23 de maio de 2007

DO "NÃO DEVO" EM FALÊNCIA AO "QUANDO QUISER SERÁ ASSIM" ADIADO - As mães adolescentes

Segundo dados da Comissão Nacional de Protecção de Crianças e Jovens em Risco, um quarto dos responsáveis pelos menores envolvidos nos processos instaurados em 2006, 25209, têm menos de 18 anos. A estes dados creio ser interessante juntar um indicador retirado do Estudo HBSC – A Saúde dos Adolescentes Portugueses divulgado em 2006. Na população adolescente inquirida, 18,2 % afirmam-se sexualmente activos e, de entre estes, 82% das raparigas referem os 14 anos ou mais para o estabelecimento da primeira relação sexual.

Esta realidade mostra o enorme desafio social que constitui a saúde dos adolescentes, neste caso, relativa à sexualidade e risco acrescido de maternidade.

A expectativa de um comportamento sexual regulado em função do “não devo” associado ao pecado, parece em falência. A expectativa de um comportamento regulado em função do “não quero”, pode parecer ingénua actualmente. A expectativa de um comportamento regulado pelo “quando quiser, será assim” parece adiada e carece de auto-regulação e (in)formação. Cremos que a minimização deste quadro, aliás como em outros aspectos relativos a comportamentos saudáveis dos adolescentes e jovens, reside exactamente nestes dois eixos, autonomia e (in)formação, isto é, jovens que decidem sobre os seus comportamentos tendo acesso e dominando os recursos necessários à decisão. Já não é o tempo de discursos mais ou menos conservadores, mais ou menos liberais, mais ou menos demagógicos, mais ou menos paternalistas e desculpabilizantes, mais ou menos etc. É o tempo urgente da educação assente na auto-determinação, cujas bases são a formação e a informação.

terça-feira, 22 de maio de 2007

PROVAS DE AFERIÇÃO

Voltaram as provas de aferição. Desta vez envolvendo todos os alunos dos 4º e 6º anos do Ensino Básico e com os resultados devolvidos a cada escola e a cada professor.

Levantam-se as vozes. As estruturas representativas dos professores entendem que as provas, ainda que destinadas a avaliar o sistema, são, isso sim, uma forma encapotada de avaliar os professores. O ME, pela voz do Secretário de Estado, Jorge Pedreira, afirma que não se trata de avaliar os professores porque se fosse essa a intenção, afirmá-lo-ia. Nada de novo, uma vez que em qualquer área de funcionamento das comunidades, se estabelece uma natural conflitualidade de interesses que, umas vezes será base de desenvolvimento e, outras tantas, um retrato do lado mais negativo dos corporativismos e um inibidor de mudança. A existência de provas aferidas não parece, de momento, merecer grande contestação ganhando até maior pertinência se considerarmos o desejável avanço da autonomia das escolas. Por outro lado, parece também consensual que qualquer dispositivo de avaliação no interior de um sistema, implica de alguma forma os diferentes elementos desse sistema porque…é um sistema. Concordarão que, tanto a administração educativa como os professores, fazendo parte do sistema educativo estarão, naturalmente, sob escrutínio quando esse sistema está em avaliação.

Do meu ponto de vista a questão mais interessante passa por clarificar aspectos como: As provas avaliam exactamente o quê? A administração educativa crê que são “os objectivos e as competências essenciais de cada ciclo”. Será? Tratando-se de anos de transição, 4º e 6º, e de resultados individuais, o que fará cada professor, cada escola com os resultados de alunos que já não acompanham? Certamente, se o entender, poderá reajustar processos, mas em que direcção se a prova evidencia produtos? Será que alguma escola ou professor se surpreenderá com os resultados, bons ou maus, dos seus alunos? Se acontecer é porque não os conhece e, então, não há prova de aferição que lhes valha. Que farão pois com os dados?

Daqui a algum tempo, quando os resultados chegarem às escolas, veremos se encontramos algo que nos ajude nestas, e noutras, dúvidas. Sem equívocos.

domingo, 20 de maio de 2007

HIS MASTER'S VOICE - O caso da Directora Regional de Educação do Norte

Apesar de já muita coisa ter sido dita sobre este episódio creio que ainda merece comentário. A Directora Regional de Educação do Norte, Dra. Margarida Moreira, desencadeou um processo disciplinar a um professor em serviço na Direcção Regional. O funcionário terá produzido “um insulto no interior do serviço em horário de trabalho” tendo como alvo o Eng. (reparou Sra. Dra. que não coloquei aspas) José Sócrates. Na versão do funcionário, ter-se-á tratado de um comentário jocoso dirigido a um colega dentro de um gabinete. Independentemente (o "independente" aqui referido, não foi piada) da versão, a coisa é grave.

O Governo já tinha avançado com a ideia de que os funcionários públicos poderiam agir como delatores relativamente a casos de corrupção. Mas a diligente funcionária, como todos os caninos seguidores do chefe (este é um comentário um bocadinho insultuoso, o meu cão não faz tudo o que lhe digo), alarga esta ideia e denuncia tudo o que lhe cheire (não é insulto) não ser favorável ao chefe. Distraiu-se com o comentário do Ministro Mário Lino. Poder-se-ia afirmar que a Dra. Margarida revela uma atitude de comissária de costumes que faz queixinhas ao chefe. Poder-se-ia pensar que esperará a recompensa de mais uma comissãozinha. Poder-se-ia achar que o facto de o funcionário ser de outro partido é irrelevante e não mais do que uma coincidência. Não vale a pena. A atitude da senhora parece mesmo um insulto.

Os tempos vão feios.

sábado, 19 de maio de 2007

ESCOLAS DE REFERÊNCIA, DIZ VALTER LEMOS

Segundo a imprensa de hoje, o Ministério da Educação tem em preparação a reorganização da resposta aos alunos com necessidades educativas especiais (NEE). O Secretário de Estado da Educação, Valter Lemos, afirma, citado pelo JN, “não é possível ter um discurso sobre inclusão e uma prática de exclusão”. Certo, não podemos estar mais de acordo. Mas…

O ME com este Secretário de Estado, criou um quadro para professores de educação especial com 2155 lugares para apoiar 44 640 alunos com NEE (números do ME em 04/05 e que, no mínimo, não se alteraram pois trata-se de necessidades de carácter prolongado), o que estabelece um ratio de 1 docente para mais de 20 alunos. Inclusão?

A aplicação à população escolar portuguesa das taxas internacionalmente aceites relativas à incidência de necessidades educativas especiais, porá em evidência a situação de milhares de crianças e jovens sem apoio adequado às suas necessidades educativas. Aliás, ao longo do ano apareceram na comunicação social muitas referências a este quadro. Tem razão o Secretário de Estado. São práticas de exclusão desenvolvidas sob a sua responsabilidade.

A partir deste ano lectivo, o ME determinou que fosse utilizada a Classificação Internacional de Funcionalidade elaborada pela Organização Mundial de Saúde para escolher os alunos que beneficiam de apoio educativo. Esta utilização, que nem a OMS aconselha (para este efeito), foi contestada por especialistas em Educação Especial ligados a 18 instituições de ensino superior, pois “a CIF é uma classificação da funcionalidade e da incapacidade do Homem. Ela agrupa, de maneira sistemática, os domínios da saúde e os domínios relacionados com a saúde”, p.22. A generalidade dos países utiliza avaliações de natureza educativa para aferir das necessidades educativas o que não parece estranho. A utilização inadequada e gravosa em termos educativos da CIF é também, naturalmente, da responsabilidade do Secretário de Estado, Valter Lemos.

Num aspecto concordamos. É preciso criar escolas de referência, mas com um pequeno ajustamento. Que todas as escolas sejam de referência, para todos os alunos e não só para os que passarem pelo errado filtro da CIF. Trata-se de um direito que lhes assiste. A todos.

quinta-feira, 17 de maio de 2007

PRAXES. E NÃO SE PODE EXTERMINÁ-LAS?

Nos últimos dias apareceu na comunicação social a referência a mais um episódio da triste realidade designada por praxe académica. Agora foi na Universidade de Coimbra. Ao que parece, durante um “tribunal de praxe”, estudantes de Medicina terão provocado algumas lesões em dois caloiros do mesmo curso.

Parece também que o Conselho de Veteranos (gente que se arrasta pela universidade à custa dos nossos impostos), ficou de “apurar os factos” e, de acordo com o seu mais destacado membro, o dux veteranorum, o senhor João Luís de Jesus, caso se confirmem abusos, os senhores prevaricadores correm o risco de “perda de graus hierárquicos” ou, até, pena das penas, castigo dos castigos, tortura das torturas, apanhar com “suspensão do exercício da praxe”, o que representará, seguramente, o fim trágico de uma brilhante carreira académica. No entanto, apurados os factos, podem concluir que este incidente não passou de um trabalho de grupo sobre traumatologia e nível de sensibilidade à dor. Terá corrido mal por falta de colaboração e qualidade do “material didáctico” (os caloiros) e os pobres e esforçados estudantes ainda podem ser prejudicados na avaliação, injustamente.

Numa altura em que, pelas piores (ou melhores) das razões, o ensino superior está sob escrutínio, não seria tempo das academias reflectirem sobre comportamentos e culturas que, de integração e valores académicos, têm nada. Além disso, as “tradições” não têm que ser boas só por serem, dizem, “tradições”.

COMPRO O QUE É NOSSO

Hoje no JN aparecia uma referência à campanha “COMPRO O QUE É NOSSO”, iniciada há alguns meses no âmbito das actividades da Associação Empresarial de Portugal. De acordo com a peça, admite-se que a campanha possa ter um impacto de 800 milhões de euros na nossa balança comercial, levando a que o défice comercial possa baixar 4.32%.

Gosto da ideia. Num tempo de liberalismo mais “neo” e mais “ultra” do que alguns nos querem fazer crer, com uma fortíssima pressão globalizante em todas as áreas, que procura “normalizar” e “calibrar” tudo e, já agora e se possível, todos, creio que faz sentido direccionar o nosso consumo para aquilo que produzimos, muitas vezes, em condições vantajosas em termos de qualidade e preço. Haverá certamente quem entenda como proteccionismo este tipo de iniciativa. Não concordo pois o proteccionismo esconde-se em quadros normativos, muitas vezes injustos e discriminatórios. Nesta situação procura-se sensibilizar o cidadão para que, num acto soberano de auto-determinação, decida consumir preferencialmente aquilo que produzimos. Acho bem, sempre recusei comer laranjas com ar engraxado e de estufas estrangeiras, enquanto os produtores algarvios deitam fora laranja de excelente qualidade e sabor mas “descalibrada”, seja lá isso o que for.

quarta-feira, 16 de maio de 2007

OS NÚMEROS DA EDUCAÇÃO À PROVA DE PROTESTOS

Excerto do Editorial de hoje do Diário de Notícias intitulado “Os números da educação à prova de protestos”.

“No ano passado, a população escolar cresceu pela primeira vez em quase uma década: ganhou mais de 21 mil alunos, o equivalente a 1,3%. O funcionamento das escolas públicas até às 17.30 generalizou-se: é uma realidade em 78% dos jardins-de-infância e em 89% das escolas do 1.º ciclo. As escolas com menos de dez alunos foram reduzidas a um quinto: os alunos estão reagrupados em menos 2463 estabelecimentos. Os chamados "furos" praticamente deixaram de existir: as aulas de substituição preenchem os tempos livres dos estudantes causados pelas faltas dos professores. E tudo isto foi feito com menos 8329 professores.

… foi a primeira a dar resposta a Cavaco Silva, que pediu ao Governo resultados nas reformas em curso. Mais do que um caso raro em política, a ministra da Educação pode ser um case study de eficácia”.

Este excerto do editorial do DN de hoje ilustra, creio, o fenómeno dos “tudólogos” a que já me tenho referido neste espaço. Com efeito, a partir de um conjunto de números, certamente merecedores de análise, e com dimensões positivas, o iluminado editorialista retira conclusões que os números não permitem. Vejamos. Dizer que 78% de Jardins de Infância e 69% das escolas do 1º ciclo estão abertos até às 17.30 apenas permite afirmar que um problema social, a guarda das crianças em horários laborais está mais acautelado, mas NÃO PERMITE AFIRMAR QUE OS RESULTADOS ESCOLARES (EDUCATIVOS) SEJAM MELHORES, ou seja, é preciso verificar se a uma resposta positiva em termos de logística familiar e social, corresponde, de facto, melhor educação. Aliás, o editorialista poderia ter verificado na mesma fonte, o relatório da Inspecção-Geral da Educação, que, por exemplo, apenas 37% das crianças de 3 anos tem acesso à rede pública de educação pré-escolar na Direcção Regional de Educação do Algarve ou que, de 2004 até agora a taxa de cobertura nacional subiu de 74% para 76% em toda a educação pré-escolar. Estes dados elucidam, sem ambiguidades interpretativas, sobre a eficácia da prestação de serviços educativos e não são à prova de protestos.

Quanto à redução de escolas e de professores, parece importante diferenciar dois aspectos. Em primeiro lugar, é óbvio que racionalizar custos e optimizar a gestão de recursos constitui um aspecto positivo. No entanto, lamentavelmente meu caro editorialista, não é suficiente para se dizer, eis “os resultados das reformas em curso” porque em educação os grandes indicadores de sucesso assentam fundamentalmente no nível atingido pelos alunos em avaliações rigorosas, credíveis e consistentes no tempo. De resto, o que temos são factores contributivos obviamente importantes mas, qualquer manual de gestão o dirá, gerir bem não é só poupar muito, é, também e sobretudo, melhor qualidade no serviço prestado. E nisso o editorialista tem razão, se esta Ministra é um “case study” os resultados (não indicadores de gestão) terão, esses sim, de ser objecto de “study” e em muitas áreas. Para se saber do que se fala. No entanto, compreendo que um editorial não seja um editorial e seja uma declaração de fervor político. Sinais dos tempos.

terça-feira, 15 de maio de 2007

A ASAE

Nos últimos tempos, sobretudo durante a presidência de António Nunes, a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica, ASAE, tem-se destacado na forma como, em acções com forte cobertura mediática, tem procurado combater a contrafacção nas mais diversas áreas, sempre no supremo interesse da “defesa do consumidor”. Assumindo, como qualquer de nós, esta condição, não posso estar mais de acordo com esta atitude, embora possa discutir a mediatização e aparato de que se revestem muitas das acções desenvolvidas.

Considerando fundamental este objectivo, “defesa do consumidor”, solicito que a ASAE se debruce sobre a óbvia presença de produtos de contrafacção na nossa vida política o que, obviamente, compromete a sua qualidade. Assim, espero que os inúmeros políticos, de diferentes quadrantes, que são obviamente produtos contrafeitos e de uma falta de qualidade ameaçadora, sejam detectados e recolhidos pela ASAE para que os eleitores, quando procuram “adquirir”, através do voto, representantes de qualidade certificada e de boas marcas, não tomem gato por lebre. Peço.

segunda-feira, 14 de maio de 2007

FÁTIMA, FUTEBOL E FADO


É reconfortante um fim-de-semana que se passou de acordo com a tradição que, de vez em quando, volta a ser o que era.

Durante estes dois dias foi-nos oferecida uma forte dose de Fátima, Futebol e Fado, o da menina desaparecida.

Certamente inspirados por este clima, amanhã acordaremos com a esperança num Milagre, que nos permita dar um Pontapé no Destino que carregamos.
(Foto de Leonardo Pinheiro)

quinta-feira, 10 de maio de 2007

POR UM MINISTÉRIO DA ATURAÇÃO

A experiência quotidiana mostra que uma das constantes no discurso dos portugueses remete para o problema do “aturar” ou, inventando, a “aturação”. De facto, a referência ao aturar e à dificuldade ou falta de paciência para aturar, constituem uma das mais recorrentes fórmulas de descrição ou retrato da realidade diária. Vejamos alguns exemplos.

“Ando com uma falta de paciência para aturar os miúdos, que eu sei lá!”. D. Esmeralda, empregada administrativa e mãe, entre o jantar, a novela e a cama, de duas adoráveis crianças que só se acalmam quando dormem, à pressa.
“Quem devia aturá-los era a Ministra!”. Setôra Lina, tenta ser professora de inglês numa escola do 2º ciclo.
“Então uma pessoa tem que aturar esta bicha de 5 horas para marcar uma consulta só para pedir os remédios?!” – D. Maria, reformada e “graças a Deus vou andando” em part-time.
“Meu, a cena é secante bué, não dá p’aturar tás a ver!”. Tójó, escolante, isto é, aluno de 8º ano que só vai à escola mas não vai às aulas.
“Quando aparecem os políticos, mudo logo de canal. Um gajo já não pode aturá-los!”. Sr. Santos, empregado de café, usa o comando da TV na bandeja.
“Ainda tenho que aturar mais 2!” Dr. Marques Cansado, médico de um Centro de Saúde suburbano, ao fim da 37ª consulta.
“Já não os posso aturar com esta coisa da Ota, não acha?!”. D. Celeste, cabeleireira de bairro, admiradora do Sr. Manuel Luís Goucha.
“Agora ainda tenho que aturar o chefe com mais calminha por causa da avaliação!” Sr. Silva, funcionário da repartição onde se compra o papel e se põe o selo.
“Tou farta de os aturar, agora o meu pai quer que eu esteja em casa antes das 9 da matina!”. Geninha, 14 anos, amiga do Tójó e da Kátia. Também é escolante.
“Estas medidas põem em causa os objectivos da empresa, não é possível aturar tanta falta de visão estratégica! Assim, dificultam-nos o acesso aos prémios de gestão”. Eng. Tranquilo da Cunha, gestor de uma empresa pública deficitária.
“Não dá para aturar. Estes gajos agora querem que passe facturas!” Zé Manel, mecânico de biscates na oficina de tunning do Licas.
E os exemplos poderiam multiplicar-se infinitamente.

Neste quadro e porque entendo que o modelo de organização administrativa deve estar ao serviço dos cidadãos, proponho que, numa próxima reorganização do Estado, seja criado o Ministério da Aturação com o objectivo central de implementar (tinha que ser) medidas de combate à falta de paciência e que estimulem e desenvolvam a nossa capacidade de aturar, seja o que for.

quarta-feira, 9 de maio de 2007

MADELEINE E ROSETA - sinais dos tempos

Breve comentário a dois dos mais impressivos pontos da agenda de hoje.

No Algarve, no país, no Reino Unido, como a totalidade da imprensa sublinha, agitam-se as pessoas, as instituições de todas as áreas e as consciências a propósito do desaparecimento da pequena Madeleine. Desejamos todos que a situação se resolva de uma forma não mais devastadora para a criança e para os pais do que já está a ser. No entanto, creio que, para além das reacções emocionadas, do exaustivo acompanhamento mediático e do empenho em solucionar positivamente o problema, os problemas, importaria promover de forma também empenhada, persistente e com meios adequados, uma cultura de protecção da criança, a que aqui já me tenho referido. As sociedades e os valores mudam, as circunstâncias de vida das famílias e das crianças e os riscos potencialmente existentes alteram-se, pelo que, para problemas diferentes exigem-se atitudes e respostas diferentes. Mais atenção e prevenção antes da reacção.

A arquitecta Helena Roseta veio a público anunciar a sua disponibilidade para se candidatar, como independente, à presidência da Câmara de Lisboa. Não sendo eleitor em Lisboa e, portanto, não envolvido neste processo eleitoral, parece-me positiva uma candidatura fora do âmbito partidário, e não sustentada em razões como as envolvidas nas situações de Fátima Felgueiras, Valentim Loureiro e Isaltino Morais. Os partidos constituem-se como um dos pilares da democracia, não como os donos da democracia, ou seja, uma democracia assente numa encapotada partidocracia, é uma democracia mais frágil e com menos qualidade na cidadania.

PROGRAMAS E MANUAIS ESCOLARES



Segundo o DN a ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, admite que “pode acontecer que nem sempre a qualidade dos programas e dos instrumentos de ensino esteja assegurada e pode acontecer também que alguns programas não tenham a dimensão adequada”. A esta afirmação, proferida durante a Conferência Internacional sobre o Ensino do Português, a ministra acrescentou estar em curso a revisão dos programas, designadamente de Português e de Matemática. Mais informou estar em preparação legislação sobre o processo de certificação dos manuais escolares, já contemplando as eventuais alterações de conteúdo e/ou de estrutura dos programas.

Para quem conhece a realidade do sistema educativo português no que respeita a programas e manuais, esta parece ser uma boa notícia. No entanto, considerando que esta equipa nos tem habituado à produção de mudanças a um ritmo inimigo da qualidade e da ponderação, frequentemente de forma avulsa e desarticulada, definidas sem que se vislumbre solidez ou sustentação científica e, ao que parece, obsessivamente orientadas para resultados, sem que tenhamos ideias claras sobre o seu entendimento sobre o que serão os resultados, é bom estar atento.

segunda-feira, 7 de maio de 2007

DIA DA MÃE, DIA DE MÃE

DIA DA MÃE
(excerto de “Deolinda de Jesus” de António Rodrigues Ribeiro, António Variações)

A minha mãe.
É a mãe mais bonita,
Desculpem, mas é a maior,
Não admira, foi por mim escolhida,
E o meu gosto, é o melhor,
E esta é a canção mais feliz,
Feliz eu que a posso cantar,
É o meu maior grito de vida
Foi o seu grito, o meu despertar
Canção de mãe é sorrir,
Canção de berço de embalar,
Melodia de dormir,
Mãe ternura a aconchegar,
Canção de mãe é sorrir,
Gosto de ver e ouvir,
Voz imagem de sonhar
Imagem viva lembrança,
Que faz de mim a criança,
Que gosta de recordar

DIA DE MÃE
(excerto de “Calçada de Carriche” de António Gedeão)

Chegou a casa
não disse nada.
Pegou na filha
deu-lhe a mamada;
bebeu da sopa
numa golada;
lavou a loiça,
varreu a escada;
deu jeito à casa
desarranjada;
coseu a roupa
já remendada;
despiu-se à pressa,
desinteressada;
caiu na cama
de uma assentada;
chegou o homem,
viu-a deitada;
serviu-se dela,
não deu por nada.
(Foto de Artur Franco)

sexta-feira, 4 de maio de 2007

O BOM EXEMPLO DA MADEIRA


Com a prepotência e arrogância que por aí vai, nunca o “já chegámos à Madeira, ou quê?” esteve tão perto!!!
A inimputabilidade política, o populismo demagogo e uma elasticidade ética verdadeiramente assombrosa parecem querer fazer escola.
Esta escola tem bons mestres e bons alunos. Temos que promover melhor cidadania.

quinta-feira, 3 de maio de 2007

CEDE-SE EXPLORAÇÃO DE CIDADE - LISBOA

Pelos motivos do costume, retirada (de confiança em quem a tem governado), cede-se exploração de cidade.
Urbe muito bem situada, apenas a 200 km da Europa, com “espectaculares vistas” de rio, mar e serra e com excelente clima. É, aliás hábito ouvir-se: “o que existe é Lisboa, o resto é paisagem”.
Com história e muitas histórias.
Bem equipada mas a precisar de restauro.
Com sete colinas, zonas verdes, muitas cinzentas e algumas bem negras, embora seja conhecida pela cidade branca.
Possui um casino rentável, um castelo, um oceanário, um túnel do Marquês, três grandes estádios de futebol e o Eusébio.
Bem servida de museus que, por vezes, encerram por falta de pessoal.
Sólida experiência como capital.
Possibilidade de especulação imobiliária.
Com música própria, o fado, e uma festa popular, muito bonita, onde nas ruas se come peixe cru com cheiro a carvão e em que um grupo de casais se casa ao mesmo tempo com um ar de “tu e eu, felizes para sempre”.
Muito visitada por estrangeiros, que parecem apreciá-la mais do que muitos dos seus habitantes.
É possível chegar de automóvel praticamente a todos os cantos, incluindo passeios e calçadas.
Estacionamento facilitado e alargado, desde que caiba.
Servida em breve por um novo Aeroporto Internacional apenas a 55 km e por linha de TGV.
Cede-se com os seus habitantes, os carros dos seus habitantes e os cães que os seus habitantes passeiam, aproveitando para adubar os espaços urbanos.
Propostas de exploração a enviar, em envelope fechado, para Praça do Município, Lisboa.

Post Scriptum - Possibilidade de condições especiais a quem prometa não a deslocalizar.

quarta-feira, 2 de maio de 2007

O OPTIMISMO DO PROFESSOR MARÇAL GRILO

O Professor Marçal Grilo, num interessante trabalho apresentado hoje no Público, vem reclamar um maior optimismo no olhar que com que apreciamos o nosso país. Para sustentar essa atitude positiva e optimista, enuncia um exaustivo conjunto de aspectos que, em sua opinião, serão ilustrativos da nossa qualidade de vida, do desenvolvimento económico, social, cultural, científico, desportivo, etc. Parece-me importante a afirmação de uma atitude positiva e optimista, ingrediente imprescindível ao investimento e à vontade de ser e de fazer. Esta atitude opõe-se a uma visão hipercrítica, pessimista e descrente, mãe do conformismo resignado ou, pelo contrário, da agitação improdutiva, tão inúteis, uma como outra. Também me parece relevante que essa atitude seja subscrita por figuras que, como o Professor Marçal Grilo, nos merecem respeito e atenção.

Mas Professor, num País onde a distância entre o rendimento dos 20 % mais ricos e o rendimento dos 20% mais pobres é das maiores, senão a maior, da União Europeia haverá muita gente, demasiada gente, a achar que o copo está meio vazio e muito pouca gente, demasiado pouca gente, a achar que o copo está meio cheio. Justamente.

terça-feira, 1 de maio de 2007

CRIANÇAS, JOVENS E ECRÃS

Duas notícias da imprensa de hoje referem-se a aspectos que, sendo de natureza diferente, têm um denominador comum.

O primeiro trabalho, no DN, enuncia os potenciais efeitos negativos que a exposição excessiva à televisão de crianças com menos de três anos pode provocar. A peça, citando os estudos de um psicólogo britânico, refere que uma hora e meia de televisão diária, compromete o desenvolvimento saudável envolvendo sérios riscos, por exemplo, de “défice de concentração, autismo e obesidade”. De acordo com o mesmo autor a tabela ajustada seria: sem televisão até aos três anos, meia hora até aos sete, uma hora até aos doze, hora e meia até aos quinze e nunca mais de duas horas por dia.

Variadíssimos estudos em Portugal e noutros países, mostram que estes indicadores são substantivamente ultrapassados pelas crianças e jovens, sobretudo nos países mais desenvolvidos.

A outra notícia, no Público, refere que, nos últimos dois anos, se registaram em Portugal 50 explosões provocadas por adolescentes com base em receitas retiradas da net. Destes incidentes não têm resultado, parece, consequências de maior.

O denominador comum é o ecrã, os vários ecrãs (tv, computador, consola, etc) presentes na vida das crianças e jovens. Creio que diabolizar, como é frequente, este tipo de dispositivos não ajudará a equilibrar o seu “consumo”. A questão central, creio, remete para a situação de solidão, por vezes acompanhada, em que muitas crianças e jovens vivem, facilitando a sua ligação excessiva ao tal ecrã que funciona como “baby-sitter”. Não é raro ouvir pais afirmando que, enquanto estão ao computador, os filhos não andam em ”más companhias”. É neste quadro que me parece residir o verdadeiro problema, isto é, como é que nas sociedades actuais, com os estilos de vida actuais, poderemos estruturar mecanismos de apoio e supervisão aos tempos não escolares da crianças e jovens que promovam uma sã concorrência com algo que sendo muito importante e útil, não pode ser o tudo da vida delas.