sexta-feira, 28 de setembro de 2007

OS NÓS E OS LAÇOS

(Foto de Ruben Andrade)
Os magistrados do Tribunal da Relação de Coimbra assumindo que a lei é algo superior à pessoa, cega e dogmática, manifestamente não entendem que vida se organiza em torno de nós, laços e a falta deles. Os bons, os maus, os inexistentes, os desejados, mas, sempre, os nós e os laços.

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

CORRUPÇÃO À PORTUGUESA

Segundo o relatório da organização não governamental Transparency International que analisou a situação de 180 países, Portugal surge em 28º lugar no Índice de Percepção de Corrupção política e da administração pública. Este resultado representa um retrocesso face aos dados anteriores em que nos situávamos dois lugares acima. Animadora perspectiva de evolução.

A propósito, a administração vai fiscalizar a situação de baixa por doença de cerca de 8000 funcionários. Apesar das trágicas e indefensáveis situações que nos últimos tempos têm vindo a ser publicadas registando decisões incompreensíveis em casos terminais, muitas pessoas verão certamente interrompido alguma forma de trabalho paralelo que, frequentemente, se verifica utilizando a situação de baixa, quer no serviço público, quer no privado.

É, e será sempre, uma questão de valores. Todos somos responsáveis, embora nem todos sejamos culpados.

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

O MENINO GUERREIRO AO ATAQUE

Por uma vez, acho que o menino guerreiro, o Dr. Santana Lopes fez uma birra com sentido. Hoje na SIC Notícias, ao ser escandalosamente interrompido para mostar em directo a chegada do Special One, o Mourinho, resolveu acabar com a entrevista. Está a crescer. Qando ele afirmou que ia deixar a noite e viver de forma mais tranquila eu afirmei, tal como o povo, "deitar cedo e cedo erguer, dá saúde e faz crescer". Ele cresceu e vem aí.

PORTUGAL DOS PEQUENINOS - novo episódio

Notícias do Portugal dos pequeninos. As duas inenarráveis figuras que pretendem presidir ao PSD e, se os portugueses aceitassem esse risco, gerir os nossos destinos não se enxergam. Como é possível montar este “tesourinho deprimente” e entender sentir-se em condições de governar um país. Pequeninos, pequeninos.

Pequenina também é a decisão de regulação do poder paternal do Tribunal da Relação de Coimbra que entrega a Esmeralda ao homem que a fez. Sendo da Relação, não entende manifestamente o que é uma relação. Parece mais um entendimento terrorista dos direitos de autor. Se eu a fiz ela é minha. Parece que o Acórdão aprova a primeira decisão considerando “bem fundamentada do ponto de vista jurídico”. Mas… e a criança? Com base em diversos pareceres, uma decisão “bem fundamentada do ponto de vista da criança” teria outro sentido. Prevalece o ponto de vista da lei, ainda por cima em nome do “supremo interesse da criança”. Para rir se não fosse trágico. Pequenino, pequenino.

Neste Portugal dos pequeninos uma referência ao custo da nova Basílica de Fátima, cerca de 80 milhões de euros, ou seja, o dobro do custo inicialmente previsto. Não ficou pequenino. Desta vez.

terça-feira, 25 de setembro de 2007

A REALIDADE ESTÁ ENGANADA - novo episódio

De acordo com um relatório da Inspecção Geral da Educação, variadíssimas escolas apresentam horários mal construídos, com cargas horárias mal distribuídas e excessivamente extensas em alguns dias, desrespeito de intervalos razoáveis para almoço, organização das disciplinas sem critérios de natureza pedagógica, etc.
A DECO realizou um estudo e das escolas analisadas, a maioria revelou falta de condições de trabalho para alunos, professores e funcionários. O Ministério diz não “lhe reconhecer capacidade técnica” para a realização do estudo.
Continuam a verificar-se muitas situações de conflitualidade decorrente do encerramento de escolas e consequente redistribuição dos alunos.

A Senhora Ministra, por outro lado, afirma “que há motivos para festejar a abertura do ano lectivo”.
Conclusão. Este entendimento é frequente em muitos dos nossos políticos, “a realidade está enganada, eu é que estou certo”, Olhe que não, olhe que não.

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

A DELINQUÊNCIA PORTUGUESA E O MERCADO GLOBAL

Embora não simpatize com medidas proteccionistas na regulação do mercado, nos últimos tempos algumas notícias sugerem-me alguma atenção aos seus efeitos nos profissionais portugueses. Vejamos alguns exemplos. Um grupo de cidadãos moldavos dirigia alegadamente uma rede de imigração clandestina para Portugal ainda que em cooperação com colaboradores nacionais. Um grupo de profissionais de origem corsa, ao que parece, deslocou-se a Portugal a fim de participar em alguns eventos mais conhecidos por “assaltos a bancos”. Esta actividade estava também a ser desenvolvida por um freelancer espanhol de sua graça “O Solitário”. Um grupo ainda de origem espanhola registado como “Gang do Pecas” desenvolvia a sua actividade empresarial junto a postos de gasolina e caixas multibanco do Algarve com a recolha compulsiva dos lucros diários. Um grupo de empreendedores romenos preparava a consulta e movimentação de um número avultado de contas bancárias à revelia dos seus titulares.

Estes exemplos parecem suficientes para, sem colocar em causa a livre circulação de pessoas bens e capitais em mercados abertos, pensarmos nas consequências para os nossos empreendedores nesta área de actividade. Como é habitual queixam-se da falta de recursos e formação pelo que, parece, está em preparação um conjunto de iniciativas no sentido de solicitarem a quem de direito protecção da actividade e, sobretudo, apoios, ou seja, subsídios que lhes permitam enfrentar a concorrência em condições de maior equilíbrio.

domingo, 23 de setembro de 2007

OS TACHOS E A PANELA

Algumas notas decorrentes da leitura da imprensa de hoje.

Alguns nossos concidadãos que, generosa e desinteressadamente, nos concederam o privilégio de terem sido ministros, procurando zelar pelo nosso desenvolvimento e bem-estar viram, ao regressar à actividade privada, o seu rendimento anual multiplicado várias vezes. António Vitorino e Pina Moura constituem dois bons exemplos de que o “espírito de missão”, a “entrega à causa pública”, o “serviço ao país”, o “sacrifício pelo bem comum” e outras tretas são um bom investimento. Existem algumas excepções que… confirmam a regra.

Santana Lopes vai deixar de andar por aí e parece que está interessado em liderar a bancada parlamentar do PSD. Vai primeiro opor-se a sério ao Eng. Sócrates, (é preciso que alguém o faça e só pode ser o menino guerreiro) e, posteriormente, S. Bento ou Belém terão as cadeiras pelas quais terá de optar. O menino guerreiro continua ladino.

Uma menina de quatro anos terá sido, como forma de castigo, metida numa panela enorme e “sacudida” por uma funcionária do Lar Interno de Crianças da Sta. Casa da Misericórdia de Peso da Régua. A confirmar-se a denúncia, os elementos do Supremo Tribunal de Justiça vão achar que a educação em Portugal está, finalmente, no bom caminho e os bons métodos educativos que defendem estão a ser divulgados e postos em prática.

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

MOURINHO E AS NOZES

Quando saio, ainda que por pouco tempo, faço-o sempre com a expectativa do regresso me mostrar algo melhor. Sempre me iludo, sempre me desiludo.

Nesta sexta feira, as primeiras páginas da imprensa generalista diária espelham um tema comum. No Correio da Manhã aparece “Mourinho põe Scolari em risco”. No JN, uma fotografia de uma enorme cartaz com “Mourinho simply the best”. O DN informa que “37 milhões só se não treinar até 2010” e o Público refere “25 milhões de indemnização e um ano sem poder treinar em Inglaterra”.

O país não muda mesmo. Agora vou para o meu Alentejo. Este fim-de-semana tenho que apanhar as nozes. É bem mais bonito.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

LICENCIATURA E EMPREGO, OUTRA VEZ

Hoje volto a um tema que recorrentemente aqui tenho referido e a que retorno face ao último relatório da OCDE, Education at a Glance 2007. Tal como anteriormente, deve ser sublinhado que em Portugal:
Um trabalhador licenciado ganha em média mais 80% que alguém com o ensino secundário;
Um indivíduo com a escolaridade básica recebe em média menos 57% que alguém com o Ensino Secundário;
Apenas 7.5% de pessoas com o 9º ano recebem duas vezes mais que a média nacional enquanto licenciados a receber duas vezes mais que a média são quase 60%;
Os filhos de pais licenciados têm 3,2 vezes mais probabilidades de obter uma licenciatura;
Entre os 25 e os 34 anos, 19% dos jovens tem uma licenciatura enquanto na OCDE a média é 32%. Na franja entre 35 e 44 a percentagem ainda baixa para 13%.

Face a estes números julgo imprescindível que não se alimente o discurso suicida e frequente em que se associa, mal, licenciatura e desemprego. Definitivamente, precisamos de gente qualificada mas, e isto é que é fundamental, que a oferta de formação seja diversificada, regulada face à evolução das comunidades e não dependente dos custos de funcionamento dos cursos, dos quintais do ensino superior ou de estratégias de (mau) marketing eficazes.

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

TELEMEDICINA

(Foto de Raul Coelho)
Hoje a imprensa referia-se ao incremento da utilização da telemedicina. Embora consciente de eventuais vantagens em algumas situações, fiquei preocupado.

Já repararam como as salas de espera dos Centros de Saúde se constituem como espaços de convívio para os idosos sem família. Ali se trocam memórias, dores, incómodos, notícias, anedotas, estados de alma, enfim, (sobre)vive-se. Pensem nisto antes da medicina “hightech”. Já temos os putos trancados no ecrã e queremos correr o risco de trancar os velhos. Importante mesmo é a qualidade dos serviços e do acolhimento nos Centros de Saúde.

domingo, 16 de setembro de 2007

AS PERPLEXIDADES DO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

Não sendo um especialista em questões de Justiça, limito-me como cidadão a estar atento ao que vai acontecendo. A entrada em vigor do novo Código de Processo Penal causa-me algumas perplexidades (o Presidente da República também parece que ficou surpreendido mas ele promulgou-o, eu não). Primeiro, pela unanimidade e vigor das críticas embora, nos tempos que correm, essa questão deva ser relativizada porque a regra parece ser: ”uma medida do Governo só tem apoio do Governo e tudo o resto está contra”. O que verdadeiramente não entendo é que, de acordo com a generalidade da imprensa, a entrada em vigor deste normativo leva a situações como a libertação por questões processuais de indivíduos condenados por homicídio ou violação, por exemplo e que estão a iniciar o cumprimento das respectivas penas. Não vi qualquer contestação a estes efeitos pelo que presumo seguros. Ainda como exemplo, o indivíduo de Santa Comba condenado em 2007 pelo comprovado e confessado homicídio de três mulheres pode vir a ser colocado em liberdade antes do próximo Natal também por questões processuais.

Parece que o novo Código pretende aprofundar a defesa dos direitos dos arguidos mas, e isto merece reflexão, como ficam protegidos os direitos das vítimas e ofendidos. Talvez eu ainda possa vir a ser convencido de que a coisa está bem feita, mas que parece estranho, parece.

OS CENTROS DE DIA, PERDÃO, OS CENTROS COMERCIAIS

Há efemérides que passam completamente despercebidas à maioria de nós. Hoje o Público recordava que se cumprem 10 anos desde que foi inaugurado o Colombo, o maior Centro Comercial em Portugal. Nestes 10 anos muitos mais Centros apareceram e existem projectos já licenciados para mais 27. Tendo começado, naturalmente, pelas cidades de maior dimensão estendem-se agora para cidades mais pequenas, sobretudo no interior.

Creio que é de louvar esta política facilitadora da instalação de Centros Comerciais de grande dimensão pois, para além da sua óbvia função, constituem a meu ver uma peça chave em áreas de política social de verdadeira necessidade. Senão vejam.

Os Centros Comerciais funcionam de forma excelente e razoavelmente económica para a administração como eficazes Centros de Dia para idosos ou seniores, como agora se diz. De facto, com excepção de alguns com mais problemas de mobilidade, passar uma parte do dia a ver tão diversificada paisagem e sempre com tanta gente à volta será uma boa alternativa à solidão em que vivem e certamente mais barata e diversificada que os centros de dia que lhes são dedicados. Os Centros Comerciais funcionam também como excelente alternativa e com algum equipamento às insuficientes estruturas de Ocupação de Tempos Livres para adolescentes, quer em tempo escolar, quer em tempo de férias.

Para além disto, os Centros Comerciais são relativamente seguros pois possuem dispositivos próprios de segurança, oferecem climatização protectora para os dias dos famosos alerta laranja, quer para o calor, quer para o frio, e são, normalmente bem servidos de transportes e com facilidades de parqueamento. Que mais desejar?

A efeméride merece o registo. Sem dúvida.

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

O ALARGAMENTO DA ESCOLARIDADE OBRIGATÓRIA

O alargamento da escolaridade obrigatória para os 12 anos agora presente no discurso do Governo e constante do seu programa é uma exigência decorrente do nível de qualificação requerido pelas sociedades mais desenvolvidas. Trata-se, pois, de algo absolutamente necessário considerando também os níveis baixíssimos de escolarização pós-básico da população portuguesa quando comparados com os restantes membros da UE.
Neste processo de alargamento gostava de referir dois aspectos interligados que me parecem essenciais no sentido de conseguir melhores patamares de eficácia e qualidade.
Em primeiro lugar a oferta educativa pós-básica tem ser diferenciada. O sistema educativo português esteve demasiado tempo orientado para o prosseguimento de estudos, ou seja, o processo de escolarização obrigatória apenas preparava para…continuar na escola. Face à falência deste modelo com taxas de abandono e insucesso insustentáveis e numa atitude reactiva típica da ausência de projectos políticos consistentes e estáveis, assistimos a uma série de iniciativas que, apesar de bem-intencionadas, estariam condenadas pois foram socialmente (famílias e jovens) mal percebidas e operacionalizadas deficientemente. O ensino recorrente foi um bom exemplo. Tínhamos assim e simplificando, “o sistema quer que todos estudem o mesmo durante o mesmo tempo e para os que não conseguirem temos aqui uma saída que também não é má”. O programa Novas Oportunidades apesar dos seus méritos assenta na mesma ideia, isto é, como “as primeiras oportunidades não correram bem temos aqui umas novas, pode ser que agora resultem”.
A questão central é estruturar diversas vias de qualificação que possam conduzir os jovens à formação de nível superior (universitária ou politécnica) ou, de acordo com os seus projectos de vida, à entrada mais precoce no mercado de trabalho com um conjunto de competências profissionais. Esta diversificação está a acontecer com o alargamento dos cursos profissionais mas, e isto é que me parece importante, torna-se necessário um trabalho sólido de informação e esclarecimento no 3º ciclo envolvendo alunos e famílias para que as escolhas sejam informadas e proactivas, esbatendo a ideia, ainda frequente, de que “vai para cursos profissionais quem não tem jeito para estudar”.

PS – Hoje ouvi o Dr. Marques Mendes perorar sobre os males da educação nos últimos 30 anos. É bom lembrar que em bem mais de metade deste período o PSD tutelou directa ou indirectamente a pasta. Mas em política, memória, seriedade intelectual e auto-crítica são traços em vias de extinção.

VERGONHA

Finalmente percebi o que essa figura maior, o Sr. Scolari queria dizer como a sua expressão “não podemos ser passarinhos”. Valha-nos Nossa Senhora do Caravaggio que não nos livra desta gente. Já agora, que terá o incontornável Madail a dizer sobre isto? Mais um excesso de juventude?

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

POLÍTICOS NA ESCOLA

A marcar o início do ano lectivo o Primeiro-ministro, sete Ministros e treze Secretários de Estado estiveram hoje em diferentes escolas, dando continuidade à distribuição de computadores. Alguns, os do costume, consideram esta maciça presença de membros do governo como propaganda. Calúnias. O Primeiro-ministro assegura que se trata apenas de sublinhar que “é importante que membros do governo estejam na escola para transmitir uma mensagem de estímulo e confiança” e no âmbito do Plano Tecnológico embrulha a mensagem nos computadores. Algumas notas.
É sempre interessante o regresso à escola pois nunca é tarde para aprender, já se afirma no Programa Novas Oportunidades pelo que mais membros do governo desejaríamos presentes nesta estadia escolar. Por outro lado, há sempre um outro lado, esta overdose política na escola tem sido justamente um dos principais problemas do nosso sistema educativo, ou seja, políticos(as) a mais e competências técnico-científicas a menos. É a estabilidade das políticas, a competência e conhecimento sobre as matérias que promovem mudança e qualidade e não uma agitação improdutiva de reformas/medidas avulsas nunca avaliadas e assentes numa diarreia legislativa tóxica e paralisante.
Apesar de tudo mantenho-me com algum optimismo. Quanto à propaganda de natureza política, sinais dos tempos e como diz um ditado da minha terra “um Jardim é quando um homem quiser”.

PS – O Dr. Portas, o Paulo também foi a uma escola mas, parece, que “em trabalho”. É bonito e insisto, nunca é tarde para aprender.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

PORQUÊ?


(Foto de Tiago Barata)

Porque é que se faz tanto mal aos putos?

NOTÍCIAS DO PORTUGAL DOS PEQUENINOS

Em mais um exercício de uma subserviência travestida de realpolitik o Governo português entende por bem não receber oficialmente o Dalai Lama. O Ministro dos Estrangeiros justifica a decisão “pelas razões que são conhecidas”. Falta de verticalidade e independência? Submissão às economias emergentes? Medo do tigre asiático? O peso da “democracia” chinesa?

Mais um episódio do Portugal dos pequeninos mesmo quando presidem (eles acham que presidem) à União Europeia. Faltará ao Ministro cumprimentar o democrata Mugabe (José Eduardo dos Santos já é da família) na próxima cimeira com África.

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

A LIBERDADE DE EDUCAÇÃO, ALGUNS EQUÍVOCOS

Há algum tempo que tem vindo a emergir a questão da liberdade de educação, isto é, a possibilidade dos pais poderem escolher a escola dos filhos. Esta discussão é, quase sempre, centrada na questão ensino público vs ensino privado. No entanto, é bom não esquecer que mesmo entre escolas públicas, as crianças devem frequentar a escola da sua área de residência pelo que a escolha é também limitada. Mas consideremos a questão do acesso a escolas privadas que remete obviamente para os custos. Dizem os defensores do que consideram “liberdade de educação” que as famílias poderiam aceder a um “cheque-educação” e, assim, suportar a frequência de escolas privadas.
Sabendo todos como muitas escolas privadas são altamente selectivas na população que servem, só por ingenuidade ou demagogia poderemos acreditar que a filha da D. Maria, funcionária da limpeza no Centro Comercial, entra no colégio que escolher só porque no fim do mês o “cheque-educação” pagará o custo da mensalidade. Não, sejamos sérios. A melhor forma de proteger a liberdade de educação é uma fortíssima cultura de qualidade e exigência na escola pública e uma acção social escolar eficaz e oportuna. Assim teremos mais facilmente boas escolas, públicas ou privadas.
A este propósito, ontem num trabalho do Público sobre o início do ano lectivo, foi referida uma família, bastante numerosa, oito filhos o que em tempos de crise demográfica é de saudar, que optando por escolas privadas, desembolsou 26 000 € pela anuidade de todos os filhos obtendo, no entanto, algum apoio da acção social escolar. O que eu acho verdadeiramente notável é que os pais afirmaram preferir escolas privadas, uma masculina para os filhos e outra feminina para as filhas “para dar continuidade ao ambiente familiar”. Um ambiente familiar organizado por género?

domingo, 9 de setembro de 2007

PRIMEIRO OS TUDÓLOGOS, AGORA OS PALPITÓLOGOS

O meu Alentejo permite-me ter uma boa parte do fim-de-semana em que os jornais e tv/net não marcam presença. Quando chego e dando seguimento a uma forma de dependência, ponho a “escrita em dia” olhando para jornais e televisão. Do que eu me livrei durante os últimos dias. É certo que o que vi e li depois me deixou mais preocupado do que é costume.

Então não é que para além dos já habituais “tudólogos” que falam sobre qualquer assunto como uma desenvoltura que me põe a auto-estima de rastos, emergiu outra espécie que completa a primeira e nos alarga os horizontes a qual vou designar por “palpitólogos”, ou seja, uma sub-espécie de “tudólogos que se especializa em “palpites” sobre tudo. Esta sua extraordinária capacidade permite-lhes com a maior das facilidades criar cenários, antecipar acontecimentos ou situações, interpretar sem qualquer ponta de hesitação o mais complexo quadro, imaginar o inimaginável, tudo isto recorrendo a palpitantes discursos. Trata-se de uma questão de coerência, para suportar uns “palpites” nada melhor que um discurso palpitante.

Deixou-me agoniado.

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

ANTI-INFLAMATÓRIOS EM EXCESSO. COMO NÃO?

Há pouco tempo soubemos que temos um altíssimo nível de consumo de antidepressivos. Agora informam-nos que consumimos anti-inflamatórios em excesso. Tentemos perceber algumas razões.

Uma análise do que temos à nossa volta permite constatar, entre muitíssimos outros aspectos, que temos taxas de juro inflamadas que não param de subir, uma inflamação no nível de desemprego que teima em não baixar, uma inflamação nos salários que lhes não permite subirem, uma inflamação na economia que teima em não se curar, um inflamado discurso do Dr. Menezes sempre que fala do Dr. Mendes, uma expressão inflamada do Primeiro-ministro sempre que lhe dirigem críticas, o Dr. Portas, ele próprio um inflamado, o Sr. Scolari que pede que o país se inflame com a selecção, o Sr. Camacho que regressou e inflamou os benfiquistas, os professores inflamados com a Senhora Ministra da Educação, os polícias inflamados com as chefias, uma relação inflamada dos militares com a tutela, o Dr. Jorge Coelho que se inflama com o Dr. Pacheco Pereira que não percebe o oásis, a inflamação mediática da tragédia de Madeleine, as manas Salgado que inflamaram o apito, as chamas que felizmente menos inflamadas sempre vão aparecendo e, finalmente, uma fortíssima inflamação na nossa paciência face a uma boa parte do panorama que nos rodeia. Valha-nos que o Dr. Santana Lopes, o Pedro, anda bastante menos inflamado.

Nesta situação, creio que o recurso aos anti-inflamatórios se percebe. Parece-me ainda que este recurso é, apenas, um primeiro passo em direcção aos antidepressivos.

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

A SOMAGUE E O AVIÃO OU MADRE TERESA E BADEN-POWELL

Caso primeiro. O Ministério Público não encontrou, neste momento, matéria que configurasse “acto de favor” ou corrupção no caso do financiamento da Somague ao PSD. Este financiamento já tinha sido considerado ilegal pelo Tribunal Constitucional. O Dr. Marques Mendes imediatamente saudou a “boa notícia”, pois já era sua convicção pessoal que nada de errado se apuraria, uff!!. Resta ouvir a administração da Somague também conhecida por "Madre Teresa de Calcutá" para se entender como, no seu importante desígnio de ajudar os deserdados da vida, se lembrou de pagar as dívidas do PSD e não as minhas, por exemplo.

Caso segundo. Na viagem realizada ao arquipélago dos Açores pelo inenarrável Dr. Menezes para tentar convencer os açorianos social-democratas que de que é uma boa escolha para presidir ao PSD, (ai de mim se não for eu, como se diz na minha terra), foi utilizado um jacto privado providenciado por um senhor empresário, Carlos Saraiva, que, só por mera coincidência, tem interesses de dezenas de milhões de euros em Gaia e que é considerado um autêntico “Baden-Powell” devido à sua disponibilidade para ajudar os necessitados por todos meios, até com aviões. O Dr. Menezes diz em comentário, “estou aberto a que coloquem à minha disposição os meios, porque isso significa que confiam em mim”. O Dr. Menezes não referiu, no entanto, a que se destina a confiança que nele depositam.

E assim se cumpre Portugal.

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

PRODUTORES, DISTRIBUIDORES E CONSUMIDORES

Num estudo realizado pelo Observatório dos Mercados Agrícolas e das Importações Agro-alimentares refere-se que, do custo dos produtos hortícolas e frutícolas pagos pelo consumidor, apenas cerca de 30% se destinam ao produtor sendo os restantes 70% absorvidos pelo sistema de distribuição.

É também por isto que sou um privilegiado. No meu Alentejo, com o meu amigo o velho Zé Marrafa, fabricamos a terra, plantamos, colhemos, levamos e comemos. Sorte a minha.

ABANDONO ESCOLAR, EM QUE FICAMOS?

Segundo o Eurostat, o abandono escolar em Portugal registou uma subida ligeira no ano de 2006. A senhora Ministra da Educação, argumentando com diferenças na fórmula de cálculo, defende que taxa baixou 3%. Não tenho aquele organismo da Comissão Europeia como “força de bloqueio”, agência de contra-informação ou elemento mais ou menos encapotado ao serviço da oposição.

Senhora Ministra, como eu queria acreditar que o abandono escolar está a baixar, como o país precisa de acreditar e como o futuro exige que seja verdade.

terça-feira, 4 de setembro de 2007

A SAÚDE MENTAL DOS PORTUGUESES

De acordo com o último Inquérito Nacional de Saúde de 2005/2006, cerca de 28 % da população portuguesa é afectada por problemas do foro da saúde mental.

Este número, muito elevado mas dentro dos indicadores internacionalmente aceites, traduz-se, creio, num quotidiano cheio de sinais relativos à nossa saúde mental. É o caso da linguagem utilizada. Vejamos alguns exemplos.

O cidadão, o Zé, refere por exemplo que “o mundo tá maluco”, “o tempo anda doido”, “o gajo passou-se, meu”, “o trabalho põe-me doido”, “aquilo é bué da louco”, "tou-me a passar", etc.

O discurso político, sempre presente, diz-nos que o governo é “autista” e/ou "esquizofrénico” (são utilizadas as duas formulações) para além de que faz “discursos delirantes”, que certas análises reflectem alguma “histeria”, que alguns políticos têm “problemas de carácter” ou que “mentem compulsivamente” e, esta é notável, que em Portugal até existem “regiões deprimidas”. Como último exemplo, temos um Presidente de Governo Regional, o famoso Alberto João, que frequentemente é referido como “inimputável” que, por sua vez, afirma que o Primeiro-ministro tem uma “obsessão” que precisa de tratar.

Só 28 %? É extraordinário.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

EXAME DE INGRESSO PARA POLÍTICO

Dando seguimento à excelente ideia do Ministério da Educação de realizar um exame de ingresso na profissão professor com o objectivo de garantir que, efectivamente, apenas os melhores lhe tenham acesso, proponho que a medida, exactamente com o mesmo objectivo, seja extensiva ao ingresso na carreira política.
Assim, os candidatos a políticos devem também ser submetidos a três provas com a estrutura seguinte, paralela à definida para os professores.
Exame escrito de Língua Portuguesa avaliando o “domínio escrito da L.P. tanto do ponto de vista da morfologia e da sintaxe, como da clareza de exposição” e organização de ideias, além da “capacidade de raciocínio lógico”.
Exame escrito de competências técnicas e científicas envolvendo, entre outros conteúdos: capacidade de elaboração de promessas a partir de um tema, capacidade de comentar demagogicamente um texto, elaborar cinco opiniões diferentes a partir de um facto, citar, de forma organizada, dois nomes reconhecidos na área económica, cultural e política, etc.
Exame oral envolvendo o domínio de uma língua estrangeira para além do “portunhol”, elaboração de uma apresentação em “powerpoint” em três versões sobre um tema e, finalmente, defender uma ideia e o seu contrário no tempo limite de cinco minutos com "pose de estado", seja lá isso o que for.

Creio que teríamos basicamente a mesma classe política mas, dado fundamental, com certificado de qualidade. A sério.

domingo, 2 de setembro de 2007

AGORA É A SÉRIO

Pronto. Acabou-se a “silly season” e a prova aérea da Red Bull realizada no Porto e escandalosamente publicitada pela RTP, como se o país se resumisse aos aviões às curvas e povo a olhar pró ar. Circo de alto nível.

Agora é a sério. As famílias portuguesas confrontam-se com cada vez mais graves situações de endividamento. Uma das principais razões para esta situação, sempre relacionada com as subidas nas taxas de juro, remete para situações de desemprego que muitos agregados conhecem. Ao falarmos de desemprego, ficámos a saber que, segundo a OCDE, apenas 3.9% dos desempregados portugueses, repito 3.9%, voltam a encontrar emprego em cada mês que passa. Para termos uma ideia do que significa este valor, nos EUA a percentagem é de 56%.

Trata-se de um quadro deveras preocupante.

PS – No concurso para professor titular e segundo o Ministério da Educação, verificaram-se, algumas injustiças. Esta situação, óbvia desde o início do processo, foi como é sabido referida com preocupação pelo Provedor de Justiça. O ME reconhece as injustiças e já prometeu que para a próxima vai correr bem. FANTÁSTICO! E não acontece nada?