segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

BALANCEMOS POIS

Os balanços em final de ano não são coisa que me entusiasme particularmente mas fazem parte da liturgia da época. Sem a preocupação de ordenar pela importância que lhes atribuo, aqui ficam algumas notas sobre o ano da graça de 2007.
Numa época de descrença creio que merecem registo dois, pelo menos, milagres realizados pelo Governo do Grande Engenheiro. Milagre primeiro, a taxa de desemprego continuou a subir mas o Governo criou milhares de empregos. Milagre segundo, os aumentos salariais definidos são abaixo da inflação prevista mas os cidadãos vão recuperar poder de compra. Obrigado Senhor. Queria ainda agradecer a forma como o Governo conseguiu colocar o Verão em Julho e Agosto, o que me possibilitou umas idas à praia nas férias e ainda o feito de, pela sua competência e ímpeto reformista, realizar o Natal em finais de Dezembro permitindo mais um descansozinho ao cidadão. Merece ainda registo a extraordinária e prestigiante presidência da UE, que bem dificultará a vida à Eslovénia e seguintes, pois apenas o Kosovo ficou por resolver e ainda assim, já todos os interessados foram avisados de que, ou se entendem, ou o Engenheiro leva lá o menino guerreiro Santana Lopes e dá-lhes com a Dulce Pontes.
O cidadão, burro e desqualificado, não parece entender as reformas e tudo o que de bom está a ser feito. Vai daí, passa o tempo a protestar. O meu prémio, só pelo nome, vai para esse inesperado e estimulante problema chamado de linhas de muito alta tensão. Uns dizem que deve andar no ar e depois queixam-se de que anda tensão no ar. Outros querem enterrá-la, coisa que também não me parece assim muito bonita. São pobres e mal agradecidos. Não lhes ligue Senhor Primeiro-ministro. Não o entendem e não o merecem.
O País emocionou-se com a desgraça de duas crianças, Maddie e Esmeralda. Esqueceu-se de milhares de outras mas, em certas alturas, até parecia que nos preocupávamos a sério com os putos.
Um país ainda marcado pela matriz judaico-cristã no que diz respeito à família, entristeceu-se com as desavenças entre o Sr. Pinto da Costa e a D. Carolina contadas numa obra de fino recorte literário. Também é de referir um dos momentos altos do ano e que decorreu da estruturante dúvida, afinal, o homem é Engenheiro ou não?
Vamos ser qualificados à força e ainda bem. Em qualquer freguesia em que o Sr. Zé quis ter uma Nova Oportunidade para tirar o curso de padeiro, apareceu um Senhor Ministro, qualquer um, a oferecer um computador. Foi bonito e vai ser útil. Estatisticamente.
O processo Casa Pia continuou na suave vergonha em que se transformou. Continuo a pensar que os putos acabarão condenados por assédio. Em matéria de justiça, continuamos à espera. De justiça.
O meu reconhecimento aos cavaleiros da ASAE pela sua fundamentalista preocupação com o meu bem-estar. Em todo o caso não esqueçam que o povo afirma “tudo o que sabe bem, ou faz mal, ou é pecado”. Agradeço o cuidado, mas sejam sensatos e não se escondam em leis de burocratas assépticos que nos desconhecem e não sabem que a vida nem sempre cabe num tubo de ensaio ou numa norma europeia.
Na vida político-partidária, não posso deixar de registar o regresso do Menino Guerreiro, o Dr. Santana Lopes, que não começou muito bem mas espera melhorar. Os primeiros 50 anos é que são difíceis, depois aprende-se. O Dr. Menezes correu com o Dr. Marques Mendes e depois de desmantelar o PSD ameaça desmantelar o país em seis meses, se o deixarem. Foi bonito também assistir ao regresso de duas das maiores figuras do Portugal dos Pequeninos, o Dr. Bota, o poeta pimba e o Dr. Gomes da Silva mais conhecido pelo Pavlov pois sempre que ouve o menino guerreiro saliva e abana o rabo para receber umas festinhas na cabeça. O Dr. Portas parece que se esqueceu da lavoura e agora é guarda-fiscal. O Dr. Louçã e o Sr. Jerónimo continuam no contrismo, isto é, seja o que for, estou contra. É uma questão de princípio. O Dr. Jardim ainda existe mas parece estar à espera de alta.
O tratado de Lisboa não fez esquecer o tratamento que as sucessivas administrações autárquicas têm dado a Lisboa. Lisboa não merece.
O clown de serviço no Governo, o Ministro Mário Lino, teve os 15 segundos de glória com o discurso do “jamais” e do deserto sobre a questão do aeroporto que continua isso mesmo, uma questão.
Num país em séria crise económica, com o fosso entre ricos e pobres a aumentar, a Banca continuou com lucros a subir o que prova a excelência da sua gestão. A recente turbulência no BCP ajuda a perceber como.
Os seguranças da noite no Porto estão finalmente a cumprir a sua missão. Matam-se uns aos outros e a noite portuense ficará mais segura, mais Branca chamam-lhe.
Finalmente queria sublinhar o meu espectáculo político preferido. O Dr. Menezes ao ataque ao governo e o Dr. Jorge Coelho à defesa do Governo. Vão longe.
Até para o ano.

domingo, 30 de dezembro de 2007

JUSTIÇA

Parece consensual que o nível de confiança dos cidadãos no sistema de Justiça é um bom indicador de desenvolvimento de uma comunidade. É também conhecida e preocupante a má conta em que os portugueses têm a justiça o que assume consequências sociais graves, designadamente na instalação e manutenção de um sentimento geral de impunidade de efeitos devastadores. A entrevista do Procurador-geral da República ao CM de hoje tenta, por um lado, identificar alguns constrangimentos e, por outro, transmitir alguma confiança no funcionamento da máquina da justiça anunciando o fim de processos como Casa Pia, Operação Furacão e Apito Dourado. Se interrogarmos o cidadão anónimo sobre isto, a resposta provável será do tipo “não vai acontecer nada, os tipos safam-se sempre, e quanto maiores melhor se safam”. Será difícil reverter esta ideia. As manobras dilatórias e incidentes processuais explorando os alçapões de leis complexas em que mais do que provar eventual inocência, se procura impedir a acusação e levar à prescrição, alimentarão a ideia de que um bom e bem pago advogado é suficiente para garantir a impunidade. A ver vamos como acabarão estes processos e outros como os que envolvem câmaras e autarcas.
A propósito, não estou muito convencido de que se as comadres no BCP não se tivessem zangado e algumas informações fossem “sopradas” para o exterior, o Banco de Portugal e a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, ou CVM como diz o Comendador, mecenas e filantropo Berardo, não estariam agora a investigar uma série de operações desenvolvidas pelo banco com contornos legais no mínimo duvidosos. Veremos o resultado.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

À VARA LARGA

O frio da noite no meu Alentejo exige um bom lume de chão que dá uma quentura branda pouco inspiradora. Nestes últimos dias tenho-me lembrado de uma expressão usada pelo meu pai quando achava que eu fugia a limites ou regras, “pensas q’isto anda à vara larga ou quê”. É verdade. Passados 40 anos andamos à “vara larga”, isto é, Vara larga a CGD e corre largado para o BCP. O Dr. Vara é daquelas pessoas cuja vida é um exaltante paradigma. Tem sido um dos mais sólidos praticantes de alpinismo político. Desde que entrou no PS foi sempre a subir, no aparelho e nos jobs. O João Garcia que se cuide. É também excelente no surf. Qualquer que seja a onda sai sempre por cima e bem, ou não estivesse tão ligado a uma famosa Fundação para a Prevenção e Segurança. Licenciou-se em Relações Internacionais uns dias antes de ser nomeado, em 2005, administrador da CGD. Ficou com o pelouro do crédito e das participações financeiras do banco embora já fosse director adjunto da área de Obras e Património que é mais ou menos a mesma coisa e ligado à sua formação académica. Tal pelouro parece não requerer conhecimento e experiência que, aliás, lhe não faltariam obviamente. Por fim, por agora, o Dr. Vara, um apoiante do Programa Novas Oportunidades do amigo Engenheiro, vai agora aplicar no BCP a larguíssima experiência de administração que adquiriu em dois anos.
O meu pai tinha razão. Isto anda mesmo à vara larga.

Notinha – O Sr. Pinto da Costa, pecador, perdão, fumador arrependido apresenta hoje no Público uma comovente ladainha sobre a nova Lei do Tabaco. Diz a personagem, “A Lei do Tabaco é a melhor lei que este Governo implementou nos últimos tempos”. A quentura do lume certamente que me amolece o intelecto, mas isto é um elogio?

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

918 MILHÕES DE MENSAGENS

Neste Natal os portugueses trocaram 918 milhões de SMS, o dobro do verificado o ano passado, apenas 459 milhões.
Rendo-me. Afinal não somos uma comunidade fechada, com baixos níveis de comunicação, 918 milhões de mensagens é obra. Afinal não somos uma comunidade com pouca apetência para a leitura e escrita, 918 milhões de mensagens é obra. Afinal não somos uma comunidade pouco dada ao exercício, teclar 918 milhões de mensagens é obra. Afinal não somos uma comunidade de distraídos, concentrarmo-nos em 918 milhões de mensagens é obra. Afinal já somos uma comunidade “high tech”, equipamento electrónico suficiente para 918 milhões de mensagens em 5 dias é obra.
Só me admiro pelo facto de o Eng. Sócrates não ter promovido uma conferência de imprensa para sublinhar o importante contributo do governo, obviamente, o grande responsável por este fantástico aumento de produtividade. Um grande bem-haja.

ARRANJA-ME UM EMPREGO

“Arranja-me um emprego
Pode ser na tua empresa
Concerteza.
Que eu dava conta do recado
E para ti era um sossego.”


Não, não é. É certo que parece uma conferência de imprensa do Dr. Menezes a reclamar pública e despudoradamente a sua parte junto do Presidente do Conselho de Administração da JOB FOR THE BOYS - BLOCO CENTRAL COMP. SA., mas trata-se apenas de um excerto de uma canção de Sérgio Godinho do álbum Campolide, publicado em 1978.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

SMS - Sossega, Medo Sentido

Sossega, medo sentido.
Vêem-me só e avisam,
cuidado com as companhias.
Porquê
são as companhias que me cuidam.
Não entendem.
Queixam-se do meu silêncio.
Porquê
todos falam de mim e ninguém fala comigo.
Não entendem.
Parecem com medo de mim.
Porquê
o meu medo é ainda maior.
Escondo-me com os fones
no máximo para não o ouvir,
o medo sentido.
Não entendem.
Dizem que me porto mal.
Porquê
só procuro um porto bom.
Não entendem.
É preciso pensar no futuro, dizem.
Porquê
o meu amanhã,
vai ser igual ao hoje,
igual ao nada.
Não entendem.
Sossega, medo sentido.

DO DESERTO AO OÁSIS

Sou dos que entendo como necessário um discurso positivo e optimista por parte dos líderes políticos de forma a promover segurança e confiança nos cidadãos. Sei também que num mundo cada vez mais globalizado e interdependente, a resolução ou minimização dos problemas de cada país, designadamente nos de menor dimensão e influência, estão para lá da capacidade de gestão imediata dos respectivos governos. Dito isto, parece-me que o discurso de Natal do Primeiro-ministro foi isso mesmo, um discurso natalício. A quadra manda-nos esquecer problemas, ser generosos, pessoas de boa-vontade, apoiar criancinhas e sem-abrigo, velhinhos e outros excluídos. É certo senhor Primeiro-ministro que tudo o que de positivo se tem conseguido deve ser afirmado, mas o fosso que se tem acentuado entre mais “favorecidos” e menos “favorecidos”, o desemprego, os baixos níveis de confiança, os fenómenos de exclusão, a quantidade de famílias a (sobre)viver no limiar de pobreza, o mal-estar ético dos níveis de corrupção, etc. não autorizam o seu discurso que nos coloca, outra vez, à beira do oásis. Mesmo que seja Natal, sobretudo por ser Natal. Não é justo para todos, e são muitos, os que não sentem os efeitos de tanta obra.
PS – Uma boa notícia do DN refere-se ao notável aumento da taxa de mulheres licenciadas, 9.3%, um dos valores mais altos da UE. Em alguns casos a tradição começa a não ser o que era. Felizmente.

terça-feira, 25 de dezembro de 2007

ACABOU O NATAL, A VIDA SEGUE DENTRO DE MOMENTOS

(Foto de Honey)
A vida segue dentro de momentos,
porque amanhã já não é Natal.
Voltaremos a ser os putos da atenção pequena.
Pode parecer grande,
de tão presente nos presentes.
Ficará pequenina,
de tão ausente do futuro.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

INVENTAR PALAVRAS JÁ INVENTADAS

De vez em quando lembro-me de Almada Negreiros. Em várias circunstâncias e por diferentes razões. O Mestre dizia, “Nós não somos do século de inventar as palavras. As palavras já foram inventadas. Nós somos do século de inventar outra vez as palavras que já foram inventadas.”
A D. Gracinda, da aldeia de Pitões, nas Terras do Barroso e hoje referida no Público, mostra uma forma muito bonita de inventar palavras já inventadas.
“O meu marido e os seus irmãos tinham a arte de carpinteiros. Faziam obras finas. As mãos deles não haviam de ser comidas pela terra.”

FARINHA DO MESMO SACO

É tudo farinha do mesmo saco. O Dr. Menezes tem-se mostrado ofendidíssimo com a ideia de que o Estado, ou seja, o PS possa estar a interferir na crise instalada na Banca devido ao BCP. Em particular, refere-se à eventual passagem de administradores da CGD conotados com o PS para a administração do BCP, designadamente, Santos Ferreira e Armando Vara. É óbvio que este tipo de procedimentos é um péssimo serviço prestado à saúde ética e cívica da nossa comunidade. O Sr. Vara, que da banca possuía a experiência de um balcão foi colocado na Administração da CGD e agora, já conhecedor e especialista, passará para o BCP. Fantástico e bonito percurso que ainda envolveu uma obscura passagem pelo governo e o escândalo da Fundação para a Prevenção e Segurança. O que acho curioso é a virgem ofendida, o Dr. Menezes, pertencer ao PSD que teve um chefe de Governo, Santana Lopes (brrrrr!!!!), que após uma brilhante e inesquecível passagem pelo governo da D. Celeste Cardona, a nomeou para a administração da CGD, também atendendo, obviamente, ao seu sólido currículo na banca. Haja vergonha. É tudo farinha do mesmo saco.

domingo, 23 de dezembro de 2007

POSTAL DE NATAL

Fui ao Natal ao Almada Fórum. Nós temos um Centro Comercial cá no deserto. É um dos maiores. Fui a pé porque, disseram-me, é muito difícil estacionar no Natal do Fórum. Parece que está sempre cheio. Logo nas entradas dos parques se via o Natal. Os carros com as luzes e piscas ligados e a apitar pareciam um enfeite. Muito bonito e as pessoas estavam com um ar contente de espírito natalício. Lá dentro havia gente que vou-vos contar. Mas cria-se um ambiente tão simpático e aconchegante com o aquecimento no máximo e as pessoas ao colo umas das outras, que se deseja que o Natal não acabe. Foi uma experiência fantástica. Para terem uma ideia do meu Natal no Fórum, deixo-vos uns fragmentos do que fui captando.
“Ó Cajó não tesqueças que temos que ir ao JUMBO buscar os camarões que são mais baratos que no LIDL. Tá bem Micas, aproveita-se e levamos as bejecas.”
“Crise? Qual crise? Crise é para mim que não me sai o Euromilhões.”
“Vanessa não insistas. Inda em Agosto, pelos anos, te comprei um telemóvel, não te vou já comprar outro. Na tua idade não precisas de uma banda muito larga, essa chega muito bem.”
“É sempre a mesma coisa e eu não aprendo. A tua mãe está lá dentro da loja há uma hora, na volta não compra nada nesta e temos que apanhar outra seca.”
“Crise? Qual crise? Crise é para mim que não me sai o Euromilhões.”
“Não me chateies com os livros. Ainda não leste todos os que estão lá em casa.”
“Tatiana, por amor de Deus, 12 prendas chega. Queres mais alguma coisa pede à tua avó.”
“Não Miguel, é ao contrário, o Natal é que passas com a mãe e na passagem de ano é que vais com o teu pai.”
“Crise? Qual crise? Crise é para mim que não me sai o Euromilhões.”
“Ó mãe deixa-me pôr outra moeda na máquina. Ainda só andei seis vezes. Vá lá.”
“Vou ali à FNAC comprar aquela cena do GPS. Fica fixe no carro. O people tem todo.”
“Eu bem te disse que não era boa ideia trazer a velhota. Nunca mais vamos sair daqui.”

Aproveitando, espero que quando forem ao vosso Natal se sintam felizes. Mais do que eu.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

LÍDERES OU REPRESENTANTES

Líder é um dirigente político que pode antecipar o seu tempo e é capaz de pôr em risco a sua liderança por objectivos que não são necessariamente populares…Representantes, pelo contrário, conduzem os países por sondagens, não antecipam o seu tempo, governam cada dia como se as eleições fossem para a semana.”
(Luís Campos e Cunha, Público, 21/12/2007)

Bem pensado, digo eu.

PORTUGUESES E ESPANHÓIS

Os dados constantes no Relatório A Península Ibérica em Números 2007 produzido pelo INE são deveras interessantes. Vejamos alguns.
Casamo-nos menos que os espanhóis. A tradição já não é o que era e, é sabido, de lá nem bons ventos, nem bons casamentos.
Temos menos filhos que os espanhóis. O tão falado e sério problema da produtividade.
Bebemos mais vinho mas, compensamos, bebemos menos leite. Pensam que somos alguns meninos ou quê?
Temos mais telemóveis (mais aparelhos que habitantes) e mais automóveis que os espanhóis. E depois ainda vêm p’ra cá dizer que estão mais à frente. Aguentem-se seus invejosos subdesenvolvidos.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

NÃO, NESTA ESCOLA NÃO PODES ANDAR

De Pessoa, a estranheza e a perplexidade. Um trabalho do JN refere que uma equipa do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do ISCTE encontrou escolas públicas que seleccionam os seus alunos por rendimento escolar e origem social, o que parece inconstitucional. Sobre esta matéria a Confederação Nacional das Associações de Pais afirma, “é uma questão que estamos agora a analisar com as administrações regionais e ME”. Não sei se chore, se ria. Então esta gente tem estado emigrada? Há muito tempo que esta situação ocorre e é conhecida. Aliás, se não se verificasse o abaixamento da população em idade escolar, o fenómeno seria, como já foi, bem mais evidente. Com muitos alunos as escolas escolhem (discriminam) mais, com menos alunos, as escolas ficam mais “tolerantes” para justificar a manutenção (ou aumento) do corpo docente.
É também por estas razões que, defender uma educação de qualidade e para TODOS, isto é assente numa perspectiva inclusiva, não é retórica, não é uma ficção, é apenas, uma questão de direitos.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

A SALTO

(Foto de Sofy Sá)
Agora chegaram a Portugal. Pelo acaso do clima e correntes ou pela acção criminosa de alguma rede traficante, 23 marroquinos descobrem o caminho marítimo para Portugal numa estranha reviravolta da história.
Num mundo cada vez mais assimétrico e com um inaceitável fosso entre os mais ricos e desenvolvidos e todos os outros, não será de estranhar a tentativa de fuga a um destino marcado. Os portugueses têm a noção exacta do que isto é. Centenas de milhar dos nossos compatriotas também deram o salto na busca do futuro, Também clandestinamente, também vítimas de traficantes criminosos, também arriscando a vida e a expulsão à chegada, também enfrentando, por vezes, comunidades hostis e discriminatórias. Insistiram e resistiram. Acabaram por se tornar imprescindíveis ao desenvolvimento dos países de acolhimento e as suas remessas têm sido um fortíssimo contributo para a nossa economia.
Estranho pois algumas reacções que parecem esquecer a história. Torna-se necessária uma política de emigração para a UE que contemple, naturalmente, questões de economia e segurança mas também direitos humanos e solidariedade. Ou a cimeira EU – África não passará de um evento social destinado a aquietar consciências europeias e a legitimar governos africanos cleptocratas e ditadores.

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

O INSUCESSO ESCOLAR, O DR. LEMOS E A FINLÂNDIA

De novo o insucesso escolar. Em 2005/2006 chumbaram 120 000 (sim 120 000) alunos no Ensino Básico, ou seja, 10% da população escolar deste nível. Como termo de comparação a média da OCDE é de 3% e na Finlândia, o país emblemático, a taxa é de .005% (sim, .005%). Mais do que nas razões pensemos nas soluções. O Secretário de Estado, Dr. Lemos, em entrevista ao Público sublinha a obrigação legal das escolas definirem planos de recuperação para os alunos que começam a experimentar dificuldades e afirma a existência de escolas que realizam bom trabalho e outras que nem por isso. Deixando de lado o papel que nesta matéria também desempenha a gestão, responsabilidade e avaliação das escolas e daí a urgência da reforma, o Dr. Lemos, num excelente exercício de retórica desconhecedora ou fingidora sobre o real, defende as escolas que resolvam. Ora as práticas das escolas, de muitas escolas, são parte do problema. Como podem então ser parte da solução? O Público esclarecer-nos-ia se verificasse o que em muitas escolas se entende por planos de recuperação. Ficaríamos esclarecidos e perceber-se-ia melhor os números do insucesso.
O Público foi ouvir um elemento da Embaixada da Finlândia sobre as eventuais razões para o seu baixíssimo insucesso que não parece explicável por razões genéticas ou climáticas. Referiu a senhora como bases do sucesso, “diagnóstico precoce de problemas e dispositivos de apoio a todos os alunos”, “orientação e aconselhamento a todos os alunos ao longo do ensino básico” assegurando “bem-estar físico, psicológico e social”. A diferença. Em Portugal, frequentemente, não se procede ao “diagnóstico de dificuldades”, estabelece-se a impressão de que “se não aprende é porque não tem capacidades ou a família não funciona” pois não existem, na maioria das escolas, recursos qualificados para este diagnóstico e consequente intervenção. Daí os planos de recuperação serem muitas vezes um ineficaz enunciado de lugares comuns do tipo “deve ser assíduo” ou “deve fazer os trabalhos de casa”. Em Portugal, em 2006 e segundo a DGIDC existiam 519 serviços de psicologia e orientação no subsistema oficial. Este número significa 640 técnicos, um serviço por cada 26 escolas !!!, um técnico por cada 2317 alunos !!!. Elucidativo e animador, o apoio e orientação disponíveis para os alunos. Será parecido com a Finlândia? Esta matéria é da responsabilidade do Dr. Lemos, um fingidor.

domingo, 16 de dezembro de 2007

PORTUGAL DOS PEQUENINOS

Não entendo muito bem porquê, mas o fim-de-semana deixa-me mais atento ao Portugal dos Pequeninos. Duas notas de humor e uma de preocupação com os pequeninos.
Ouvi um excerto de um discurso do Dr. Portas, o Paulo, proferido não me lembro onde, em que, com o seu ar habitual, recomendava “humildade” ao Engenheiro, o Primeiro-ministro. É certo que ao Engenheiro Sócrates falta em humildade o que sobra em arrogância, mas ouvir o Dr. Portas, um dos maiores umbigos da política portuguesa, recomendar humildade é de um sentido de humor “very british”. Ouvi também o Dr. Jardim afirmar que na Madeira não se assiste a falta de democracia, penalizações por delitos de opinião e outros males que só os cubanos do Continente sofrem. É certo que se pode sempre dizer que o homem está senil e inimputável mas o que me espanta é que o povo aplaude. Tanta generosidade só pode mesmo vir de ser um povo superior.
Nota de preocupação. Exigir nesta altura que todos os partidos provem ter 5000 filiados é bater na democracia. Ela já está doente, tratem-na, não lhe batam, logo o Tribunal Constitucional. Qualquer grupo de eleitores com ideias próximas pode, num exercício de cidadania, organizar-se em movimentos que, de acordo com as regras, procurarão difundir essas ideias. Se a comunidade adere o movimento alarga, caso contrário definha. Esses movimentos podem ser partidos que, apesar de pequenos, são imprescindíveis à inovação e mudança. Nenhuma ideia dominante, nasceu dominante, mas sempre as ideias dominantes se defenderam das que, apesar de pequenas, eram diferentes. A história repete-se.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

COMO SEMPRE

(Foto de António Bastos)


O sol está a pôr-se. Vai ficar frio.
Como sempre.
Prometeram que vinham.
Como sempre.
Como sempre,
sinto-me só.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

APLAUSO A UMA APOSTA NOS LIVROS e um post scriptum

Uma excelente notícia. Num país com níveis de leitura e compra de livros preocupantemente baixa, apesar dos planos e campanhas ciclicamente destinadas à sua promoção, ainda aparece alguém com a coragem de abrir a que será a maior livraria portuguesa, a BYBLOS. O empresário, Américo Areal, merece ser bem-sucedido na iniciativa numa altura em que as livrarias de referência e com preocupações de catálogo vão desaparecendo. Há quem diga que vender livros no meio dos sabonetes do hipermercado ou entre os refrigerantes das gasolineiras, generaliza e promove a sua aquisição. Acredito que sim. Mas sei também que procurar e encontrar "aquele livro" e não best-sellers, acompanhado por quem os conhece e de quem deles gosta é um privilégio que nenhuma grande superfície comercial oferecerá.

PS – Não, PS quer dizer post scriptum e serve para deixar uma pequena nota do Portugal dos Pequeninos. A Câmara de Loures gasta mais de 2.5 milhões €/ano em avenças. Deve obviamente ser fruto do acaso, mas um bom número dos avençados tem relações familiares e/ou políticas com os responsáveis pelos gabinetes camarários. É só mais um exemplo. Viva o poder autárquico tão atento aos problemas e necessidades do cidadão.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

SALA DE AULA

(Foto de Honey)

CORRUPÇÃO? NÃO, É IMPRESSÃO

Segundo notícias de hoje, encontram-se detidos por corrupção 22 indivíduos. Este número corresponde a 6% dos 370 inquéritos registados pela PJ nos últimos dois anos. Diz-se também que estes 22 casos de detenção apenas se verificam por cometimento de outros crimes pois “só” a corrupção seria insuficiente. Em vários estudos, os portugueses identificam a corrupção como uma preocupação o que significa a percepção de que o fenómeno está suficientemente presente no nosso quotidiano para nos tornar apreensivos. Sabemos também que muitos fenómenos de “pequena” corrupção passam sem denúncia ou inquérito pois fazem parte da rotina e da cultura do “e não se pode dar um jeitinho?”. Este quadro, a percepção de uma quase impunidade, uma cultura favorável aos comportamentos de corruptores e corruptos, um quadro normativo “envergonhado” face a este tipo de crimes e com um órgão legislativo, a Assembleia da República, aparentemente desinteressado em alterá-lo, tem efeitos severos sobre a qualidade da nossa vivência cívica. Mas o mais inquietante, é que, para lá da retórica dos discursos, a manutenção desta situação parece servir a todos. Para quê alterá-la?

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

MUDANÇAS NA GESTÃO DAS ESCOLAS. SERÁ DESTA?

Numa rápida consulta à net durante um dia cheiíssimo fiquei a saber que o Governo afirmou na Assembleia da República a intenção de introduzir mudanças no modelo de gestão das nossas escolas. Com a natural reserva decorrente de desconhecermos conteúdos e alcance das mudanças, parece-me uma boa notícia. Não existe hoje a menor dúvida de que, numa qualquer organização ou instituição, a qualidade e modelo de liderança é um factor fortemente contributivo para a qualidade dessa estrutura. Torna-se pois necessário um modelo de gestão, cuja qualidade não fique exclusivamente dependente do jeito ou vocação que um docente ou grupo de docentes tenha para tarefas dessa natureza e que equilibre adequadamente responsabilidade e autonomia. Um bom professor não é necessariamente um bom gestor e, obviamente, pode-se ser um bom gestor sem necessariamente se ser bom professor. Vamos em todo o caso aguardar por mais informação.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

BOAS E MÁS NOTÍCIAS

Creio que é mais interessante começar pelas boas notícias. Em 2006, a taxa de mortalidade infantil em Portugal foi a mais baixa de sempre, 3,3 óbitos por mil nascimentos. Para termo de comparação é interessante saber que o melhor registo foi atingido pela Suécia em 2004, 3,1 óbitos por mil nascimentos. Uma excelente notícia. Importante é que, assegurando a vida dos putos, saibamos cuidar deles. Mas isso, é uma outra questão que não refiro para não estragar a boa nova. Segunda boa notícia. O Tribunal Central de Instrução Criminal decidiu levar Isaltino Morais a julgamento com a acusação de corrupção e abuso de poder. Não esqueço que, até à decisão final, deve admitir-se a presunção de inocência, mas é um sinal positivo face à sensação de impunidade em torno deste tipo de crimes e deste tipo de arguidos. Terceira boa notícia. A vacina contra o vírus causador do cancro do colo do útero foi incluída no Plano Nacional de Vacinação. Assim, ainda vou mantendo a esperança no Serviço Nacional de Saúde.
Mas o princípio da realidade obriga também às más notícias. No ensino superior público, 35% dos alunos não termina o curso no tempo previsto. Será interessante avaliar o impacto económico desta situação e considerar que ao superior chegam, em princípio, os alunos mais preparados e que resistiram aos elevadíssimos níveis de insucesso e abandono nos Ensinos Básico e Secundário. Paralelamente, é ainda relevante a informação de que 70% dos licenciados em engenharia civil por cursos não acreditados pela Ordem dos Engenheiros, chumbou no exame de admissão à Ordem. Das duas uma, ou o exame é particularmente difícil ou, mais preocupante, a qualidade da formação destes profissionais dá razão ao facto de a Ordem não acreditar os cursos. O Ministro Mariano Gago deve ter alguma coisa a dizer.

domingo, 9 de dezembro de 2007

RECONHECIMENTO AOS POLÍTICOS

O meu companheiro de corrida, Zé Oliveira, comentava hoje que neste espaço não uso um discurso muito positivo quando me refiro à classe política, àqueles a que me refiro, naturalmente. Sendo o meu amigo um homem ponderado e de bom senso, fiquei a pensar. É capaz de ter razão e eu, imponderado e desajeitado, estarei a ser injusto. Para reparar tal risco, aqui fica o meu reconhecimento a todos aqueles que:
. Depois de carreiras profissionais de sucesso e reconhecidas, entendem colocar essa experiência ao serviço do bem comum como, por exemplo...
. Não ascenderam a lugares políticos tendo uma carreira exclusivamente dentro do aparelho dos partidos, começando logo nas jotas como, por exemplo...
. Não utilizaram o desempenho de cargos políticos para acederem a colocações profissionais, às quais nunca teriam acesso se não tivessem passado político como, por exemplo...
. Fazem do desempenho político uma prova de seriedade sem demagogias ou falsas promessas como, por exemplo...
. Reconhecem tanto o seu erro como a virtude de outra opinião ou ideia como, por exemplo...
. Recusam utilizar o peso político para benefício pessoal ou dos que lhe são próximos, sem a utilização de critérios transparentes assentes no mérito como, por exemplo...
. Os que entendem que na história fica a obra e não o autor como, por exemplo...
. Os que nunca se esquecem que os eleitores são pessoas como, por exemplo...
. Os que resistem à pressão dos sindicatos de interesses que conflituam com o bem comum como, por exemplo...

Este reparo fica completo se acrescentarem com critérios vossos os exemplos que eu não referi.

INSENSATEZ E IGNORÂNCIA

Já me referi algumas vezes à reserva que me causa a actuação dos cavaleiros da ASAE no seguimento de normas paridas em Bruxelas, assentes num fundamentalismo normalizador justificado por uma defesa do consumidor, que, qualquer dia, pede para não ser defendido, assim. Lembra-me a velha história que se refere à necessidade de seis escuteiros para ajudar a velhinha a atravessar a rua porque ela... não a queria atravessar. As normas não podem ser definidas em abstracto, dirigem-se a pessoas e realidades concretas, e ignorando tradições, cultura e identidade. Por isso, chamo a vossa atenção para o texto de Francisco José Viegas no JN de hoje.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

A PRODUTIVIDADE DO MENINO GUERREIRO

Hoje passei por uma experiência um pouco atribulada. Aconteceu no meu Alentejo, quando ao almoço, com uma tranquilidade de fazer inveja ao Paulo Bento, estava de volta de umas caras de bacalhau e couves criadas aqui no monte. Como sabem, é um petisco que requer vagar e paciência devido às espinhas. Então não é que de repente me aparece o menino guerreiro, o Dr. Santana Lopes, com o ar mais sério que possam imaginar, acho que é aquilo a que estes políticos de aviário chamam de pose de estado, a afirmar que o problema do País é produtividade e, blá, blá, blá e, produtividade e blá, blá, blá. Engasguei-me a sério e vi as caras mal paradas. Este pessoal não se enxerga. Então o rapaz, um dos maiores bluffs das últimas décadas da política à portuguesa, sem especial obra política ou carreira profissional que o recomende para além da animação de comícios e da frequência de eventos sociais, atreve-se a falar de produtividade? O menino guerreiro está a chegar a uma idade em que se espera algum decoro, embora haja sempre a possibilidade de enveredar por uma postura à la Alberto João e então percebe-se o estilo. A ver vamos.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

PORTAS DA DIREITA

O Dr. Portas, o Paulo, dedicou-se hoje à educação com o conhecimento que se lhe reconhece. Entre outras afirmações ilustrativas do que é um pensamento de direita, no sentido mais retrógrado e reaccionário, postulou que “a escola inclusiva é um erro intelectual de primeira grandeza” e que “a escola é para quem aproveita, para quem estuda, para quem se esforça”. Entusiasmado, parou à beirinha de afirmar que “arbeit macht frei” (o trabalho liberta) com o dentinho branco à vista e o olhinho a piscar de frémito. Insistiu ainda no que chama de liberdade de escolha “para que quem é pobre possa ter acesso à escola que entende”. Algumas notas. A ignorância e uma visão de direita elitista e ultraliberal, não o deixam entender que “escola inclusiva” é algo que não existe. Defende-se sim, que numa sociedade desenvolvida e com princípios de solidariedade, se exija à escola pública esforço e qualidade destinada a TODOS os alunos, ou seja, que subscreva princípios de educação que não excluam porque, sabe-se, a exclusão escolar é a primeira etapa da exclusão social. Chama-se princípio de equidade e exige qualidade, avaliação e rigor. Este entendimento não tem nada a ver com facilitismo ou laxismo e a PEC – política educativa em curso, tem pouco de inclusiva. Já aqui o tenho afirmado repetidamente. Quanto à liberdade de escolha, a demagogia populista, reaccionária e ignorante do Dr. Portas não chegam para convencer ninguém de que a D. Alzira da mercearia, pega num cheque dado pelo estado, bate à porta de um colégio particular bem cotado na praça e recebem-lhe o filho só porque ela pode pagar. Seja sério Dr. Portas, você sabe que isto é uma ficção. Já agora, que solução preconiza para os alunos que “não aproveitam, não estudam, não se esforçam”, ou não são tão dotados intelectualmente como o senhor? Prende-os? A partir de que idade? Deporta-os? Instala uns campos de reeducação? Põe-nos a trabalhar na lavoura?

CONTA-CORRENTE ECOLÓGICA

Ontem verificou-se alguma agitação face a uma noticiada intenção do Governo taxar a utilização dos sacos de plástico, designadamente os fornecidos nas grandes superfícies comerciais (abrir parêntesis – adoro esta expressão, como se o mundo em que vivemos não fosse todo ele uma grande superfície comercial – fechar parêntesis). Embora se tenha depois verificado um aparente recuo na intenção do Governo, a justificação desta taxa ecológica assenta no princípio do “poluidor, pagador”. Não posso estar mais de acordo e defendo a sua operacionalização. Assim, num exercício de cidadania, proponho um estabelecimento de uma conta-corrente ecológica entre o cidadão e a administração que, à semelhança do que acontece como os impostos, seria saldada anualmente. Como sabem, o cidadão, quando poluidor, paga já na aquisição de variadíssimos bens e serviços uma taxa destinada a suportar os custos ecológicos desses bens ou serviços, como por exemplo, pneus, combustíveis, aparelhos, recolha dos resíduos domésticos, etc. Tudo bem. Poluímos, pagamos. Mas o estado, enquanto poluidor, paga o quê ao cidadão? É aqui que entra a minha conta-corrente. O estado deve indemnizar-nos pelos custos ambientais e ecológicos dos disparates do Ministro Lino, pela poluição intelectual de alguns discursos políticos, pelo impacto na qualidade de vida dos cidadãos de algumas decisões políticas, pelo impacto ecológico da trágica política urbanística de muitas autarquias, pelo custo ético e ecológico dos níveis de corrupção, pelos custos ecológicos e de qualidade de vida decorrentes da excessiva burocracia, pelo telelixo que o serviço público de radiotelevisão produz, etc, etc. Acho que era justa esta conta-corrente.
Tenho ideia é que lá se ia a recuperação do défice nas contas públicas.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

RESULTADOS ESCOLARES, BIFANAS E ISCAS

Vou resistir. Não vou falar dos resultados do estudo PISA – 2006 que, na linha dos anteriores, continuam a posicionar os nossos alunos significativamente abaixo da média dos 57 países envolvidos e, coerentemente, nas três áreas de competências analisadas, Leitura, Ciências e Matemática. Também vou resistir a falar das declarações do Secretário de Estado Adjunto e da Educação, Jorge Pedreira, responsabilizando as elevadas taxas de retenção por estes resultados. Por isso, não digo que as elevadas taxas de retenção, tal como os resultados do PISA, não são culpadas, são a consequência da falta de qualidade que informa muito do que se faz no Sistema Educativo. Os alunos são retidos porque os professores, em resultado das avaliações, constatam as suas (in)competências. Pode, e deve, discutir-se, como aqui já o referi, se a retenção e consequente repetição, só por si, transformarão o insucesso em sucesso, mas afirmar que o chumbo é a causa da falta de saber, é uma sofisticada, inovadora e estranhíssima tese que merecia investigação. É fácil. Os alunos passam todos, medem-se os seus conhecimentos e constataremos, seguramente, a excelência dos resultados. Mas eu não vou falar disto.
Vou antes aproveitar a greve às horas extraordinárias dos cavaleiros da ASAE para ir a uma tasca que eu conheço, não vos posso dizer qual, onde se comem umas bifanas e umas iscas à antiga, feitas naquelas frigideiras grandes com a “patine” de muito fogão e de muitos molhos, acompanhadas por um jarrinho de tinto da casa e no fim, como digestivo, arrumar um bagacinho caseiro que nestes dias frios é um conforto. Pronto, está bem. Se prometerem não informar a ASAE, um dia destes digo-vos onde é a tasca.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

DIA INTERNACIONAL DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA

Hoje, 3 de Dezembro, compete-nos dedicar um segundo às pessoas com deficiência pois, seguindo a agenda das consciências, é o Dia Internacional do Deficiente. Já aqui afirmei a minha convicção de que a forma como as comunidades lidam com as suas minorias é um excelente indicador do desenvolvimento dessas comunidades. Entre nós a coisa não vai bem. Numa sociedade altamente competitiva, gerida por princípios económicos ultra liberais, não cabem aqueles que podem não render o máximo (às vezes podem, se tiverem oportunidades). Numa sociedade cada vez mais normalizada, os diferentes não encaixam. Na acessibilidade a recursos e equipamentos sociais, as pessoas com deficiência enfrentam barreiras por vezes intransponíveis apesar da legislação favorável há muito existente. O mercado de trabalho é um sonho impossível para muitas das pessoas com deficiência. A PEC – política educativa em curso, apesar dos malabarismos justificativos e da negação do Dr. Lemos, destrata muitos alunos com necessidades especiais. É, a situação está difícil.
É certo que as pessoas com deficiência também não colaboram. Podiam ser como nós, normais. Ficava tudo bem mais fácil. O que não quer dizer melhor.

domingo, 2 de dezembro de 2007

EU TAMBÉM QUERO UM ESTUDO

Agora foi o Ministro do Ambiente a considerar a hipótese Alcochete, como de “grande credibilidade” para receber o novo Aeroporto de Lisboa. Depois do famoso “jamais, jamais” do Ministro Mário Lino face à mesma ideia, esta posição de um membro do Governo, em plena fase da realização do estudo por parte do LNEC, garante a continuidade do folclore sobre o local da construção. Já foi a Ota, suportada por imensos estudos e pelo “empenho pessoal” do Ministro Lino, é a hipótese Alcochete resultante do estudo encomendado pela CIP, é a hipótese Portela + 1 pela qual conclui o estudo encomendado pela ACP e, enfim, todas as hipóteses que decorrem do velho ditado “cada cabeça, sua localização”. Deve sublinhar-se que todas as hipóteses foram sempre avançadas com base em “rigorosos estudos”, realizados sempre por figuras ou instituições de “intocável prestígio” e também com elevados custos de elaboração que o país ou desinteressadas entidades vão pagando.
Chegou a minha vez. Também quero um estudo. Cada vez mais entendo que se justifica um estudo que inventarie tudo o que já foi gasto neste processo, quem pagou, quem encomendou, quem realizou os diferentes estudos, que conclusões e que eventuais relações entre as conclusões e os sindicatos de interesses envolvidos, etc. Realizado este estudo, o meu estudo, e devidamente publicitado, então decidam-se mas … a sério.
Se não se realizar a análise que proponho, a velha máxima "cada povo tem a Ota que merece" ganhará nova actualidade.

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

NÃO ENTENDO. O BURRO SOU EU

Volto a estar de acordo com Scolari, por mais esta vez. O burro sou eu. Para não variar, a propósito da Greve Geral da Administração Pública, verificámos uma ligeiríssima diferença entre a informação sobre a adesão dos funcionários prestada pelo Governo e a que foi adiantada pelos Sindicatos. Com efeito, o Senhor Secretário de Estado referiu que apenas 21.81% (que precisão!) dos funcionários aderiram à greve, enquanto os Sindicatos apresentaram um valor ligeiramente acima, 80 %. É certo que a diferença é mínima, mas ainda assim gostava de perceber como a mesma realidade pode merecer leituras tão elásticas. No entanto, acho que não sou mesmo capaz de entender.

Já agora, também preciso da vossa ajuda para entender como é que a Câmara de Felgueiras já desembolsou 200 000 euros (sim, 200 000) para custear a defesa jurídica da D. Fátima, incluindo o advogado brasileiro que a ajudou a lidar com as agruras da estadia em terras de Santa Cruz onde passou largos meses fugida à justiça, dizem as más-línguas, e a aprofundar as relações com o país irmão, digo eu. Mas o burro sou eu.

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

AS ESPADAS E OS ESPADINS NÃO

Estou decepcionado. Fiquei a saber que foi proibido aos militares o uso e a posse de espadas e espadins(!) fora do seu estrito uso no âmbito das suas funções. Não quero acreditar. Nem a reserva moral e ética da República, as suas nobilíssimas Forças Armadas, podem ter em casa a espada e o espadim. Erguei-vos militares, as espadas e os espadins fazem parte da farda e da cultura, não são uma qualquer G3, que se substitui quando envelhece. A espada e o espadim não envelhecem.
Eu, ainda numa de romantismo incorrigível, confesso que esperava um outro movimento de solidariedade e apoio encabeçado por novos Robin Hood. Imaginava-os de espada e espadim em riste, a ajudarem-nos no combate à tirania fiscal dos Príncipe João que nos governam e dos sheriffs de Nottingham, acolitados pelos novos Gisbornes, que enxameiam muitas das nossas autarquias como no condado de Felgueiras ou no de Marco de Canaveses. O nosso rei Ricardo, chamado Sebastião, se ainda não voltou, ao ver o estado a que isto chegou, dá meia volta e some-se de vez no nevoeiro. Militares não abdiquem da espada e do espadim. A Pátria chama-vos.
PS – Não faço a mínima ideia do que será um espadim mas o nome é giro.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

A DEMOCRACIA CONSTIPOU-SE

Como é sabido, existem muitíssimas queixas sobre o funcionamento do Sistema Nacional de Saúde. Tal situação não pode deixar de afectar a qualidade de vida dos cidadãos, designadamente no que à saúde respeita. Se acrescentarmos o tempo frio o risco de complicações aumenta e aconselha-se a vacinação sobretudo aos mais velhos e aqui está o problema. A democracia em Portugal é uma jovem com pouco mais de trinta anos, logo não se vacina e depois … pumba, constipa-se facilmente.
O PCP quando escolhe os seus candidatos para lugares políticos sujeitos a eleição, obriga-os à assumpção escrita de um compromisso no sentido de manter sempre o seu lugar à disposição do partido. Nesta conformidade um deputado, que eu pensava da nação, é do partido, ou seja, o partido é dono do deputado. Bonito. Por outro lado, quando os candidatos subscrevem a tal declaração, presume-se que entendam estar a aceitar um compromisso por sua escolha. Pois é. A deputada Luísa Mesquita não acha que deva cumprir o que, parece, ter assumido livremente, o PCP entende que ela deve sair conforme previsto na declaração assinada, instala-se a birra, zangam-se as comadres e temos mais um edificante episódio da nossa vida política. E depois admiram-se com os níveis de abstenção. O pessoal maior está farto de uma política menor.

CUIDADO, O NATAL ESTÁ A CHEGAR

O meu compridíssimo dia de 3ª feira quase sempre inviabiliza a passagem por este espaço. Mas cá estamos. Na 2ª feira o Público titulava, “Os brinquedos mais procurados são os que as crianças viram nos ecrãs”. Claro. O Natal está aí e, portanto, está aberta a época de caça. A publicidade nos “ecrãs” vai direccionar-se em força para os putos estimulando o consumo a que os pais dificilmente resistem. Será ingénuo pensar que quem produz e promove produtos para crianças e quem gere os “ecrãs”, assuma uma preocupação com o equilíbrio entre o natural interesse dos putos por brinquedos e a natural vontade dos pais de proporcionarem prendas aos filhos, sobretudo numa época, o Natal, que está transformada num centro comercial decorado a vermelho e com barbas e num tempo em que cada vez mais “só se é o que se tem” e “ter mais é ser mais”. No entanto, acredito que podemos fazer alguma coisa junto dos pais e dos putos para tentar atenuar os efeitos deste cenário. As escolas poderiam ter um trabalho interessante debatendo com os miúdos, de todas as idades e de forma adequada, o papel da publicidade nas escolhas e nos gostos deles promovendo uma atitude mais consciente e crítica destes processos. Poderia também ser interessante conversar com os pais sobre o papel dos “presentes” nas relações familiares, isto é, mais prendas não é igual a gostar mais, sobre o papel da publicidade e a forma de lidar com a pressão desencadeada pelos filhos depois de verem “os ecrãs”. Pode não ser claro, mas a minha ideia não é estragar o Natal, é ter um Natal por medida em vez de um Natal pronto a consumir.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

A PEC, POLÍTICA EDUCATIVA EM CURSO, DE NOVO

O JN refere-se hoje aos preocupantes níveis de insucesso escolar verificados no Ensino Básico, designadamente no 3º ciclo. Sublinha que, considerando os últimos dados conhecidos, correspondentes a 2004/2005, o insucesso é superior ao verificado em 1995/1996, isto é, passou de 18.4 para 19.7. Estes dados, aos quais já aqui me tinha referido, são especialmente preocupantes pois estamos a falar de um período dentro da escolaridade obrigatória e com implicações severas no trajecto futuro destes alunos para quem as Novas Oportunidades poderão não chegar. Preocupa-me ainda que a PEC, política educativa em curso, não pareça direccionada para o combate eficaz a este quadro. Apesar de alguns não gostarem, é verdade que o insucesso é socialmente selectivo, que as escolas recebem populações muito diversas, que a gestão das escolas é um factor determinante na sua qualidade e onde não se mexe significativamente há décadas, que tanto quanto remediar com novas oportunidades é preciso não falhar as “velhas oportunidades”, que os anos de transição de ciclo são especialmente vulneráveis, que a reprovação não pode ser apenas um acto administrativo mas uma decisão de natureza pedagógica, etc, etc.
É urgente ajustar os modelos de organização curricular e pedagógica dos 2º e 3º ciclos do Ensino Básico diminuindo o número insustentável de disciplinas, facilitando a articulação vertical e retomando o espírito da Lei de Bases de Área Curricular. É urgente definir de forma séria, diferenciada por escola, dispositivos de apoio às dificuldades dos alunos, designadamente aos que não podem “comprar” apoios exteriores à escola e que são a maioria. É urgente reformar o modelo de gestão das escolas/agrupamentos, condição imprescindível a uma verdadeira autonomia, responsável por recursos, programas e resultados e que esta autonomia seja regra no sistema e não excepção “contratualizada”. É urgente a definição de Observatórios de Qualidade nas escolas que agilizem a avaliação e ajustamento de processos e resultados. É urgente…

OS MIÚDOS DO DR. PORTAS, O PAULO

O Portugal dos pequeninos, por vezes, diverte. Então quando os meninos do Dr. Portas, o Paulo, abrem a boca é humor do sério. Depois do inenarrável João Almeida que dirigiu a Juventude Centrista e já está nos seniores com assinalável sucesso a avaliar pela qualidade das suas ideias e a excelência do seu desempenho político, agora temos outro menino, o Pedro Moutinho que dirige, bem, a JC. O rapaz é um génio de análise política, que se cuide o Professor, o Marcelo. Então o Pedrinho consegue vislumbrar que entre os responsáveis e operacionais dos inqualificáveis desmandos da esquerda no Verão Quente de 1975, se encontrava Bernardino Soares, o líder parlamentar do PCP que há altura teria 4 (quatro anos). Miúdo precoce este. De tal forma que cedinho chegou aos seniores do partido e por lá continua. Mas já lhe chegou, logo aos 28 anos ter afirmado, num genial rasgo de lucidez política, “tenho dúvidas que a Coreia do Norte não seja uma democracia”. Isto ainda vá que não vá. Mas incendiar sedes partidárias aos 4 anos?
Ó Dr. Portas, explique lá aos putos que pensar e saber alguma coisinha de história, faz bem e poupa a asneira.

domingo, 25 de novembro de 2007

NOTAS DE FIM-DE-SEMANA, O ENCANTO E O DESENCANTO

Algumas notas de um fim-de-semana que começou no meu Alentejo, passou por Lisboa e está a acabar junto de uma lareira algures no deserto, a Margem Sul, exactamente onde começa o além Tejo.
Ontem tive o privilégio do encanto. Encantei-me com uma conversa falada pelo Professor Manuel Patrício em torno da “sua” escola cultural e que eu chamo de ESCOLA porque, se não acolher e promover as culturas, não é … escola. Ouvir o Professor Manuel Patrício faz-me sentir melhor com o mundo, perceber que, às vezes, a existência é, só por si, a mestria. Na mesma circunstância apareceu um apaixonado lúcido, o Mário Augusto, jornalista especializado em cinema, que partilhou com o grupo algumas ideias a propósito da presença do tema “educação” na produção fílmica. Como todos os apaixonados lúcidos, fala da sua paixão com o secreto desejo de que a gente também se apaixone. E a gente apaixona-se. Tudo junto, um encantamento.
Nota menos positiva, de desencanto. A solidão é a segunda maior preocupação dos velhos depois dos problemas económicos. Se minimizar os problemas materiais pode transcender a capacidade individual de cada um de nós, a forma como (des)tratamos e isolamos os velhos é uma questão de cultura e aí, somos todos responsáveis.

A BIRRA DO VASQUINHO COM O MIGUELITO

Alguém é capaz de me explicar o que é que eu tenho a ver com a birra entre dois putos betinhos, mal-educados, mimados e arrogantes. Porque é que eu pego num jornal sério, chamado “de referência” e tenho que levar com o Vasquinho (Pulido Valente) e com o Miguelito (Sousa Tavares). Não há saco. O Miguelito acha que vende mais livros, o Vasquinho acha que sabe mais, o Miguelito diz que fuma mais e por isso é mais personalizado, o Vasquinho diz que escreve melhor e que o Miguelito só diz asneiras, o Miguelito diz que o Vasquinho é invejoso, o Vasquinho acha que é mais intelectual e o Miguelito acha que é mais conhecido. Eu acho que se estes putos trocassem uns estalos isto passava. Mas por favor, poupem o pessoal a estas cenas.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

DEIXEM O BRUNO JOGAR À BOLA

O Bruno tem oito anos, adora jogar futebol e, ao que parece, fá-lo muito bem, na sua terra em Braga. Os pais terão prometido o Bruno, isso, leram bem, prometeram o Bruno ao Sporting quando ele chegar aos doze anos. Entretanto aparece um contrato, sim leram bem, um contrato assinado pelo pai do Bruno no sentido de ele jogar pelo Benfica, coisa fácil porque são perto de 350 km e o puto já tem oito anos. Vai daí, o pai do Bruno diz que só assinou com o Benfica uma autorização para a participação num torneio e não um contrato duradouro. Resultado. O puto não joga em Braga, não joga no Benfica e, naturalmente, também não está a jogar no Sporting. Consta que anda triste.
Eu também fico triste. Os pais não são donos dos filhos. Os clubes não podem comprar miúdos. Este é um bom exemplo da cultura de interesse pelos putos que predomina num país que fica histérico por causa da Esmeralda e da Maddie, mas que, no fundo, todos os dias atropela os direitos dos mais pequenos. Deixem o Bruno jogar à bola.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

MAIS PORTUGAL DOS PEQUENINOS - SCOLARI E POLÍTICOS

Eu bem que gostava de falar menos vezes do Portugal dos pequeninos, mas não é possível. Para hoje duas referências breves.
Primeira. Era uma vez um país europeu pequeno e democrata em que se discutia na Assembleia da República o Orçamento de Estado para o ano seguinte. Nos termos institucionais o Governo apresentou, como é dever e direito, uma proposta, sublinho uma proposta, para discussão. Como seria de esperar, considerando as saudáveis diferenças em democracia, os partidos na oposição apresentaram variadíssimas propostas de alteração. Não cuido de saber, porque não consigo acompanhar, o mérito, ou a falta dele, de todas as propostas da oposição, o que eu não consigo perceber é como o partido que suporta o Governo desse país entende não aceitar nenhuma, sublinho nenhuma, das propostas. Genialidade governativa ou arrogância? De pequenino me diziam, “Perfeito só Deus”, e eu sou agnóstico. Depois acham estranho que nesse país a classe política, de forma geral, não tenha uma imagem de credibilidade.

Segunda. Excelência, Mestre, Salvador, Milagreiro, Grande Farol, Madre Teresa, Pai de Todos, Grande Irmão, Génio, Santo, Querido Líder, Mister, Senhor Luís Felipe Scolari, com toda a humildade e um pedido de desculpa por tanta ousadia, acho que o Senhor não tem razão. O senhor não é burro. De jeito maneira, como se diz no paraíso donde vem. O burro sou eu, repito, o burro sou eu. E sou burro, muito burro, porque de minino aprendi a gostar de futebol. Ainda não perdi esse gosto e, por isso, ando desde 2003 a levar com a sua arrogância e má educação. Deixe-me continuar a gostar de futebol, pegue nos seu adjuntos Murtosa & Madail e vá conquistar novas glórias por esse mundão de Deus, ou de Nossa Senhora do Caravaggio. Já não há saco, Mestre.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

À ATENÇÃO DOS CAVALEIROS DOS RANKINGS

Voltando à recorrente questão dos rankings, sugiro a consideração atenta das propostas subscritas hoje no Público por Joaquim Azevedo que, em minha opinião, se constituem um importante contributo para o tratamento sério e adequado dos dados publicitados pelo Ministério da Educação. Da forma sugerida pelo Professor Joaquim Azevedo, a elaboração de rankings pode contribuir para a análise e estudo do sistema educativo e, portanto, tornar-se uma, mais uma, ferramenta útil para a promoção da qualidade. Leia com atenção Dr. José Manuel Fernandes. Está pertinho, está no seu jornal.

DE E PARA QUEM GOSTA DE LISBOA

(Foto de João Morgado)

PORTUGAL DOS PEQUENINOS - JUÍZES E FISCO

A Administração Fiscal deixou prescrever 78 436 processos no valor de 531 milhões de euros. Acresce que, em 134 750 processos de dívidas não existem bens passíveis de penhora, sendo que em muitos é utilizado o expediente do devedor passar a titularidade de bens para terceiros. Tudo junto, evaporam-se mil milhões de euros. E não acontece nada, ninguém é responsável por tanto desperdício e ineficácia.
O Tribunal da Relação de Coimbra clarificou decisão anterior relativa ao “caso Esmeralda”, levando a que a criança, parece, deva ser entregue ao pai, isto é, ao indivíduo que a fez, a 26 de Dezembro. Não será possível explicar a alguns juízes que administrar a lei não é aplicá-la? Se fosse uma mera aplicação um funcionário administrativo conhecedor dos códigos fá-lo-ia a contento. Será que alguns juízes não percebem que as leis se dirigem para as pessoas e para os seus direitos e não contra as pessoas e contra os seus direitos? Será que não é possível explicar a alguns juízes que o bem-estar e o, já cansa, SUPREMO INTERESSE DA CRIANÇA, podem não ser formatados e compatíveis com uma aplicação cega e administrativa da lei? Tenham vergonha.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

ACIDENTES COM CRIANÇAS E JOVENS

De acordo com um relatório apresentado em Bruxelas pela Aliança Europeia para a Segurança Infantil, Portugal apresenta o pior resultado dos 18 países analisados em matéria de prevenção de acidentes com crianças e jovens. Considerando os dados de 2001, poder-se-iam ter salvo 560 crianças e jovens das 731 que morreram acidentalmente (77%) se utilizássemos os padrões de segurança da Suécia.

Considero que nesta matéria, tal como noutras, o nosso problema é mais de cultura do que falta de dispositivos legais que, quando existem, são encarados mais como indicativos do que imperativos. Precisamos fundamentalmente de construir uma cultura de protecção das crianças e jovens. Olhem para a forma como muitas crianças estão no parque infantil mais usado actualmente, o banco de trás do carro dos pais.

Ainda neste âmbito, registo o aparecimento de um telemóvel para crianças pequenas concebido com a nobilíssima intenção de lhes proporcionar segurança através do permanente contacto com os pais. Tem ainda a evidente vantagem de proporcionar comunicação hightech na família. Por estranha coincidência, este dispositivo chega ao mercado em cima do Natal. Um velho ditado diz que “de pequenino é que se lança o consumo”. Ele há coisas.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

BAIXA NATALIDADE. QUE FAZER? TALVEZ ...

A baixa taxa de natalidade é um problema bastante sério em Portugal. Mais um. Para renovar as gerações, torna-se necessária uma taxa de nascimentos de 2.1 filhos por cada mulher em idade fértil e a taxa actual é de 1.36. Manifestamente baixa.
Entre os factores contributivos para esta situação é frequente a referência a que o entendimento da maternidade e paternidade como grande desígnio dos casais está a ser substituído pelo investimento nas carreiras o que retarda e/ou impede a prole. Também sabemos que as mulheres portuguesas são as que, na Europa, mais estão no mercado de trabalho o que não é um facilitador da vida familiar. É também verdade que, em termos económicos e na conjuntura actual, a maternidade e paternidade têm custos elevadíssimos pese os, baixos e desajustados, incentivos já disponíveis. Tudo isto é real, mas creio que um factor a considerar também seriamente será o baixo nível de confiança no futuro e o fraco optimismo daí decorrente. De facto, nesta fase, seremos uma comunidade algo descrente, pessimista e sem confiança na melhoria a curto prazo. Precisamos de “dar a volta”. Então que fazer? Oiçam o Pedro Abrunhosa ... isso ... talvez ….

Mas por favor, depois, tratem bem os putos.

TERRA MOLHADA

Acho mais sinceros os dias de chuva. Nos dias que em chove ponho-me a pensar que não sou eu só que vivo arreliado. Depois, o cheiro da terra molhada é que me faz de novo animar.
(Almada Negreiros)

domingo, 18 de novembro de 2007

O PECADO DO DR. LEMOS, O VALTER

Na Comissão Parlamentar da Educação, durante a discussão do orçamento para o sector, uma das questões discutidas foi o apoio (falta dele) educativo a alunos com necessidades educativas especiais, designadamente, o facto de, em muitíssimas situações, os apoios serem providenciados por professores manifestamente não preparados. O inenarrável Dr. Lemos sustentou que este Governo criou um quadro de professores de educação especial e que, de facto, na falta de recursos foram colocados outros professores, “tal como aconteceu no passado”. Afirmou ainda não ter recebido uma única queixa sobre a situação. Já me tenho referido a esta questão neste espaço e, mais uma vez, a ela volto.
O número de lugares definido no quadro do Dr. Lemos foi muito abaixo do número de professores a desempenhar funções de apoio. Em consequência, muitos alunos ficaram sem apoio e foi necessário definir critérios apertados para definir que alunos o teriam pois teríamos menos professores. O Dr. Lemos implantou uma coisa terrorista e totalmente inadequada na educação, chamada Classificação Internacional de Funcionalidade com base na qual se decide quem tem apoio. Acresce que, em consequência da forma desajustada como foi criado o quadro e de alterações surrealistas na carreira, muitos professores especializados e altamente experientes em apoio educativo, viram-se obrigados a abandonar essa função sob pena de prejuízo profissional. O Dr. Lemos e o seu competente staff devem saber disto. Também devem saber que educadoras de infância com experiência e formação em intervenção precoce estão a apoiar escolas secundárias!!!, que professores sem experiência lectiva estão a apoiar!!! alunos com dificuldades, que professores do 2º e 3º ciclo a apoiar!!! alunos no 1º ciclo, etc, etc. A imprensa, recorrentemente, refere situações de alunos sem o apoio de que necessitam e que, face à mediatização, logo têm a promessa da solução. O Dr. Lemos diz que não conhece nada disto e, bem temos dado por isso, não tem estado emigrado.
Um governante, deseja-se, deve ser competente. Um governante, exige-se, deve ser sério.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

NET E AZEITONAS

Estou a cumprir neste preciso momento mais um passo no meu choque tecnológico. Estou no meu Alentejo e com net no monte. Maravilha das capacidades de um brinquedo novo.
Mas hoje já tinha sofrido mais uma actualização. Como sempre nesta altura, fui entregar a azeitona no lagar da vila. Na entrada leio que "este lagar não aceita azeitona em sacos e caixas de madeira". Mau, levo 15 sacas de azeitona, ter de voltar com ela para o monte e transportá-la de novo aos baldinhos não me vai dar jeito nenhum. O encarregado do lagar, o Luís, diz que "é por causa dos gajos da CEE" que "cada ano inventam uma molenga" até "acabarem com isto tudo". Mas como não podemos fazer tudo o que a CEE quer, e como as minhas sacas não eram de adubo, mas de rações, lá pude deixar a azeitona de hoje e amanhã, com umas sacas novas, vai o resto, espero. Só para me vingar, os gajos da CEE que inventam estas molengas, nunca irão provar o azeite da minha terra. Usam margarina asséptica, de plástico e à prova de sabor. Não sabem o que perdem.

OS MENORES COM ATENÇÃO MAIOR

O Procurador-geral da República determinou a constituição de uma equipa especialmente dedicada à investigação de todas as denúncias de abusos e maus-tratos a crianças ocorridos em instituições públicas ou com tutela do Estado. Uma boa notícia. Apesar de tarde e de muitos casos ocorridos eventualmente evitáveis, os menores começam a ter atenção maior. Faltará ainda uma administração da justiça que seja célere, que se não deixe enredar em expedientes de natureza processual com intuito dilatório que protegem a culpa e não servem para provar a inocência. É preciso ainda que os juízes entendam definitivamente o que é o tão referido supremo interesse da criança, tantas vezes esquecido.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

MÉDICOS E PATOS

Rendo-me. Há coisas que não sou mesmo capaz de entender. Dois exemplos.
Primeiro. O Código Deontológico dos médicos define a prática de aborto como “falha grave”. Se entendermos o papel de um código deontológico, um médico que realize aborto cairá necessariamente num comportamento sancionável. Uma vez que a lei em vigor permite, dentro dos limites estabelecidos, a sua realização, cria-se uma situação estranha. Como este acto clínico precisa de acompanhamento médico, está a obrigar-se um profissional a cometer um “falha grave”. Como a lei também prevê a objecção de consciência, parecia então razoável que o Código Deontológico fosse ajustado a um novo quadro legal tal como é entendimento da Procuradoria-Geral da República. Mas não, o Bastonário da OM, Dr. Pedro Nunes, acha que em princípios e valores não se toca pelo que o Código não deve ser alterado e afirma que o médico que realizar um aborto não será sancionado. Não dá para entender. O Código proíbe algo que é legal, mas se alguém praticar, não acontece nada. Então para que raio serve um Código se não é para cumprir. Saberá certamente o Bastonário que a escravatura e o racismo, por exemplo, já foram “valores” e agora são crimes. É Senhor Bastonário, por estranho que lhe pareça, o mundo move-se.
Segundo. Foram importados patos de Inglaterra oriundos de locais onde foi detectado o vírus da gripe das aves. Também não entendo. Fomos importar patos de “patário” com risco de doença, quando temos em Portugal uma fortíssima reserva de “patos-bravos”. Não vale a pena importar patos de plástico quando os temos bravos. Estão acessíveis no país inteiro com predomínio das cidades e do litoral onde também reside a maioria das pessoas. São patos-bravos normalmente com um ar robusto e saudável e podem apanhar-se com armadilhas preparadas com notas de euro junto a Câmaras Municipais. No entanto, devem usar-se com parcimónia porque são ambientalmente devastadores. Expliquem-me a necessidade de importar patos. E logo de Inglaterra.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

UMA ESFOLADELA NOS JOELHOS SÓ FAZ É BEM

Numa discreta posição aparece no Público de hoje uma referência a um interessante comunicado da Royal Society for the Prevention of Accidents (RoSPA) de Inglaterra. Refere-se o comunicado a algo que, frequentemente, abordo em muitas conversas com pais e que consiste numa procupação fundamentalista com a segurança e riscos na vida dos miúdos que, por vezes, é excessivamente zelosa inibindo experiências e actividades contributivas para a capacidade de gestão de limites e riscos e para o aumento da autonomia dos miúdos, factor nuclear no seu desenvolvimento e educação. Diz o comunicado da RoSPA que as actividades disponibilizadas aos mais novos “devem ser tão seguras quanto necessário e não tão seguras quanto possível”. Refere ainda que a esfoladela ou o arranhão resultantes do jogo não têm que ser entendidas como experiências negativas, pelo contrário, ajudarão os miúdos a conhecerem riscos, limites e estratégias de protecção e superação de dificuldades ou incidentes. Num mundo, que à luz de uma quase paranóia securitária, que se pode entender mas não tem que se aceitar, procura o risco zero da gaiola dourada, parece importante que pais e educadores assumam uma atitude mais flexível e aberta e, sobretudo, que o façam com a convicção de que continuam a zelar pela segurança dos mais pequenos.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

A JUSTIÇA DE CARRO

Hoje, em alguns serviços noticiosos referia-se a aquisição por parte do Ministério da Justiça de cinco carros de gama alta, em ajuste directo e sem a requerida autorização do Ministério das Finanças. As referências continham alguma crítica à operação considerando sobretudo a época de contenção que se atravessa. O país não pára de me surpreender e a injustiça destas críticas é enorme. Entendo, pelo contrário, que finalmente o Ministério da Justiça ficou sensível aos problemas que, recorrentemente, são inventariados no sistema português. Vejamos.
Aquisição por ajuste directo e sem a exigida autorização prévia das Finanças. Então e o Simplex? E o combate à burocracia? Está certo. Há que agilizar processos.
Cinco carros de gama alta com potência significativa. Então a tão falada lentidão da Justiça? 140 cavalos têm uma enorme capacidade de aceleração. Com um bocadinho de sorte chegaremos ao grande desígnio “sentença na hora”.
Equipamentos extra. Então e a degradação do parque da Justiça? E a falta condições de trabalho? Está certo.
Computador de bordo. Hoje em dia e como tanto se reclama há que informatizar procedimentos.
Sistema de navegação Plus. Óptimo. Então não se afirma tantas vezes que a Justiça anda sem rumo? Um sistema de navegação parece-me imprescindível.
Alarme. Então não é fundamental que se algo não está bem soem avisos que permitam prevenir danos? Parece-me óbvio.
Sistema de ajuda ao parqueamento. Ao que se ouve, um dos grandes problemas da justiça parece ser a arrumação de processos. Um sistema de ajuda à arrumação é genial.
Finalmente um Ministro da Justiça com vontade de mudar. É um incompreendido.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

UM BOM NEGÓCIO, EMPRESAS DE CORRECÇÃO

No JN de hoje apareceu uma referência a uma área de negócio que me pareceu francamente interessante. Constituiu-se, ao que parece com sucesso, uma empresa de prestação de serviços visando a utilização correcta da Língua Portuguesa. Genial. Com a capacidade empreendedora dos portugueses estou a imaginar a rápida definição de um “cluster” da correcção. Existem excelentes perspectivas e numa breve reflexão sobre mercados potenciais ocorreram-me algumas hipóteses para “empresas na hora”.
Utilização correcta do Código de Estrada e do automóvel, tentando, por exemplo, evitar a circulação superior a 180 Km/h e o atropelamento de peões nas respectivas passadeiras;
Uso correcto das “beatas” e lixo menor, promovendo a adequada utilização dos respectivos recipientes e sacos, em vez de uma desordenada decoração dos espaços públicos;
Uso correcto da produção salivar, muita da qual se estatela nos passeios ou sai pelas janelas dos automóveis num enorme desperdício de biomassa;
Utilização correcta da canina capacidade de fazer merda, uma vez que os passeios e sapatos não precisam de adubo;
Utilização correcta dos já referidos passeios, pois são demasiado estreitos para acomodar carros e peões o que acaba por deixar alguns, poucos, condutores com problemas de consciência;
Utilização correcta do dedo do meio, evitando que muitas pessoas o usem como único recurso argumentativo;
Utilização correcta dos velhos, capitalizando saberes e experiência;
Utilização correcta dos putos, ajudando-os a crescer e a ser gente e não mais do que isso.

domingo, 11 de novembro de 2007

DE REGRESSO

O regresso depois de quatro dias no meu Alentejo. Lindo como sempre, mas preocupado com a água que tarda em chegar. Algum frio também seria bem-vindo. Deu para começar a preparar alguma terra para favas e ervilhas, desmoitar algumas oliveiras para facilitar a apanha da azeitona que bem precisava de chuva e frio para evitar a gafa. Permitiu também distanciar-me um pouco, só um pouco, do Portugal dos pequeninos. Tendo a leitura da imprensa em atraso, uma revista rápida foi estimulante.
O Papa terá repreendido os bispos portugueses por mau desempenho da igreja cá no burgo. A Ministra da Educação terá prometido um programa de apoio ao sucesso profissional dos bispos integrado no Novas Oportunidades. Devido às agruras da fortuna a D. Fátima (de Felgueiras) terá perdido todo o seu vasto património, sendo a Câmara que assegura os custos da defesa da senhora nessa vergonha nacional chamada “processo Fátima Felgueiras”. Ainda se analisa o jogo entre o menino guerreiro e o engenheiro que, parece, acabou com uma cabazada das antigas para o lado do engenheiro. Dizem que se esqueceram do OGE, mas ninguém consegue fazer tudo bem, ou brincam ao “sou melhor que tu” ou discutem coisas sérias, se ambos quisessem e soubessem. Um deputado do PSD na Madeira defende a independência do Arquipélago. Se me prometer que não volto a levar com o Alberto João e quadrilha tem o meu voto. Numa sala de aula onde se brincava aos políticos, um puto muita reguila chamado Chávez que nunca se cala e diz e faz, muita asneira, foi mandado calar por um betinho chamado Juan Carlos porque tava a chamar nomes a um amigo do betinho, o Aznar. Uns estalos no recreio (não, não é bullying) e isto resolvia-se.
Finalmente, e acabando na escola, uma professora do 1º ciclo na Guarda foi afastada das aulas por alegada violência e humilhação aos alunos. Compreende-se, tanto os professores se sentem maltratados pela PEC (Política Educativa em Curso) que, por uma vez, só desta vez, a mal tratada passou a mal tratante. Teve azar, os putos queixaram-se. A tradição já não é o que era. Parece que a senhora professora foi colocada a dar apoio educativo. Apoio educativo? Por parte de alguém que, alegadamente, bate e humilha os putos? E pode?

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

OUTONO EM PRAGA

(Foto de João Morgado)

VÁRIAS LÍNGUAS FAZEM BEM ÀS CRIANÇAS

O investigador português na área da Neuropsicologia da Linguagem, Alberto Sousa, baseado em estudos desenvolvidos, vem mostrar as vantagens potenciais da utilização simultânea de várias línguas no processo de iniciação das crianças ao domínio da leitura e da escrita. Este trabalho vem ao encontro de outras investigações nacionais e internacionais que evidenciam resultados no mesmo sentido.
A partir deste conhecimento, alguns professores vão ter que encontrar outra justificação para antecipar dificuldades de aprendizagem a crianças pela exclusiva razão de utilizarem duas línguas, sobretudo quando uma delas é um crioulo.
Talvez se chegue à conclusão que, por exemplo, o inglês e português “fazem bem” e o português e o crioulo “fazem mal”. O problema é que, neste mundo, até as línguas têm estatuto e o crioulo não estará muito bem colocado.

UMA DE MUITAS BARREIRAS

(Foto de Joãocarlo)

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

SANTANA FUTEBOL CLUBE CONTRA SÓCRATES FUTEBOL CLUBE

Mais uma vez a perplexidade. Acabei da assistir na RTP ao lançamento do grande derbi de amanhã no Estádio AR (Assembleia da República) entre Santana Lopes Futebol Clube e Sócrates Futebol Clube. Os analistas convergem. Face aos resultados dos jogos já disputados entre ambos os clubes em épocas anteriores, não é clara a tendência. É certo que não ouvi as maiores sumidades, os grandes futebolólogos Rui Santos, Gabriel Alves, Fernando Seara, Dias da Cunha e Guilherme Aguiar, mas parece que temos um grande jogo em perspectiva. De acordo com os especialistas, ambos evidenciam um futebol agressivo e viril, uma táctica de ataque permanente assente no losango, alternando com o 4-3-3 e com uma boa ocupação dos espaços no último terço do terreno. São também razoáveis nos lances de bola parada, com boa leitura de jogo e sólida cultura táctica sobretudo na utilização do fora de jogo. Revelam também alguma tendência para as “fitas” não sendo, por vezes, bons exemplos de “fair-play”. Especialistas em pressão alta, são fortes no futebol aéreo e também apresentam bom jogo de pés, Santana mais nas fintas e passe curto e Sócrates mais no jogo corrido e na resistência. É desejado por todos um bom desempenho da equipa de arbitragem chefiada por Jaime Gama que vem dos Açores. Enfim, o estádio terá as bancadas esgotadas e estão reunidas as condições para mais uma grande e equilibrada partida do futebol nacional. Assim, prognósticos… só no fim do jogo.

Só depois é que percebi que estavam a falar do início da discussão do Orçamento de Estado na Assembleia da República. Ele há coisas.

NÃO FAZ SENTIDO

Numa apressada revista da agenda, registei algumas notas do nosso quotidiano que, às tantas, me interrogaram sobre o seu sentido. Não encontrei resposta, ou seja, não fazem sentido. Ajudem-me a encontrá-lo.
A proposta de Orçamento Geral do Estado para 2008 prevê uma verba de 61.6 milhões de euros para viagens e alojamentos o que representa 18.8% de aumento relativamente a 2007. Considerando que, contrariamente ao afirmado há algum tempo, a retoma ainda não chegou, continuam tempos de contenção e já não teremos o peso da presidência da UE, isto faz sentido?
Um estudo do Instituto da Droga e Toxicodependência, revela que cerca de 40% dos toxicodependentes que consomem há mais de 10 anos, nunca fizeram tratamento. Os custos sociais e económicos deste tipo de exclusão são enormes. Em 2007 faz sentido apresentar esta ineficácia?
Segundo a Lusa, o Presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Rio, ofereceu à cidade da Beira, Moçambique, um camião de recolha de lixo com 25 anos de uso e considerado sem préstimo pelos responsáveis da cidade moçambicana. Em situações de carência a disponibilidade para coleccionar antiguidades será pouca. Faz sentido esta oferta?
Em Portugal, a venda de automóveis de luxo subiu 7.5% enquanto a média da subida na UE, como sabem constituída por países bem mais pobres que nós, foi de cerca de 2%. Faz sentido?
Uma funcionária seriamente dependente, ao que parece de forma clinicamente comprovada, teve de regressar ao trabalho com ajuda de familiares devido à recusa de reforma por invalidez por parte, adivinhem, da Caixa Geral de Aposentações. Só a intervenção do Ministro das Finanças terá desencadeado a reapreciação da situação. Faz sentido?

domingo, 4 de novembro de 2007

ALUNOS SEM APOIO, OS EFEITOS DA PEC - POLÍTICA EDUCATIVA EM CURSO

Mais uma das frequentes notícias referindo a situação de alunos com algum tipo de dificuldades, designadamente necessidades educativas especiais, que a PEC – Política Educativa em Curso deixa sem apoio. Desta vez em Viseu, seis crianças com problemas severos estão impossibilitadas de frequentar a escola devido, parece, à inexistência de funcionários de apoio às situações de dependência que as afectam. Curiosamente este episódio coincide com uma ruidosa semana em que a Ministra justificou alguns discutíveis conteúdos do Estatuto do Aluno com a defesa intransigente dos princípios da Escola Inclusiva. Inclusiva? Tenham vergonha.

Ainda a propósito do novo Estatuto do Aluno, consta que de Belém se sentiu alguma inquietação com este normativo e que essa inquietação vinha da parte do Prof. David Justino, um dos assessores da Presidência para assuntos de educação. Para quem não se lembre, o Prof. David Justino foi “só” o Ministro da Educação no XV Governo e o responsável pelo Estatuto do Aluno que está em vigor., reconhecidamente inadequado e, por isso, a carecer de revisão. É assim, os PQT – Políticos Que Temos, habituam-nos a esta ligeireza de comportamento e o povo perguntará, “então esteve lá porque é que não fez?”

sábado, 3 de novembro de 2007

UM PAÍS À ESPERA

Segundo o Público, existem cerca de 380 000 cidadãos portugueses em lista de espera para uma primeira consulta. É grave, mas nada de novo, no que ao português viver respeita.
Desde 1143 que se espera um País.
Desde o Séc. XVI que se espera um salvador, ao que parece, chamado Sebastião.
Hoje toda gente espera um milagre.
Alguns, muitos, políticos esperam que o povo se distraia.
Quando chove muito espera-se um subsídio.
Quando faz calor… espera-se um subsídio.
Os putos ficam sempre à espera.
Os velhos já nem esperam.
Espera-se que o dinheiro da EU não se acabe.
Espera-se que alguém faça alguma coisa.
Espera-se que o Estado tudo resolva.
Espera-se que o Estado não trate de tudo.
Espera-se por uma justiça que tarda em justificar o nome.
Nem sei bem de quê mas… estou à espera.
O povo entretanto desespera.
PS - Os benfiquistas, como eu, continuam à espera de um título.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

EDUCAÇÃO MUSICAL

(Foto de Zé Pedro)

A NÃO ENTREVISTA À MINISTRA

A entrevista da Ministra da Educação na RTP esta noite foi um bom exemplo do mau jornalismo no que respeita a matérias específicas. A Dra. Judite Sousa que me parece boa jornalista e entrevistadora em matérias generalistas, mas obviamente desconhecedora do universo da educação, transformou os títulos da opinião publicada e os soundbytes do Dr. Portas, o Paulo, em perguntas à Ministra. Naturalmente que os soundbytes e a opinião publicada, na maioria das vezes, correspondem mais aos interesses da política mesquinha do Portugal dos pequeninos que à análise séria da política educativa numa perspectiva de defesa da qualidade da educação. Mas a quase inexistência de jornalismo especializado leva a isto mesmo.
Assim, a Ministra esteve bem na fácil desmontagem da ignorância e demagogia populista do tipo “não acha que se deve demitir?” ou “ficou incomodada com o Procurador-geral da República?”, e nós ficámos sem ouvir a Ministra sobre aspectos como, a qualidade na formação de professores, os potenciais efeitos da avaliação dos professores e das mudanças no seu Estatuto bem como o entendimento do Provedor de Justiça sobre injustiças contempladas, as mudanças nos apoios educativos que, com os critérios de elegibilidade definidos pelo Ministério, deixam sem apoio milhares de alunos, como incrementar o envolvimento e participação dos pais na vida da escola com um quadro normativo e uma organização do trabalho pouco facilitadores, a gestão dos agrupamentos/escolas, etc, etc. ou seja, o essencial.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

ANDAM DANADOS PRÁ BRINCADEIRA

Muitos jovens andam dados à brincadeira, ou como alguns preferem, a excessos próprios da juventude. Como é sabido, os meninos pequenos brincam cada vez menos uns com os outros, pois vivem no banco de trás do carro ou pulam freneticamente de actividade em actividade para ficarem “óptimos” e “excelentes” e na escola onde passam horas infindas também não brincam porque, ao que dizem, A ESCOLA NÃO É PARA BRINCAR, É PARA TRABALHAR. Por outro lado, muitos pais também não encontram tempo e/ou disponibilidade para brincar com os filhos e arranjam como baby-sitter um ecrã qualquer onde, frequentemente, se mostram umas brincadeiras muito interessantes como matar pessoas, simular atropelamentos, fazer funcionar um gang, etc. tudo altamente estimulante e inspirador.
Entretanto, os meninos vão crescendo e como já gerem o seu tempo começam a brincar utilizando todo a experiência riquíssima que foram acumulando. É vê-los a atar pessoas “fracas” a grades de janelas e como às vezes as coisas correm mal, até o brinquedo morre. É vê-los preparar carros de forma a poderem fazer na rua as corridas que durante anos ensaiaram nos ecrãs. É vê-los a bater em pessoas mais fracas e diferentes porque em grupo são muito fortes e atentos à diferença. É vê-los a inventar, usar e abusar de umas bebidas preparadas em copos pequeninos (fazem menos mal) a que chamam “shots” e que é muito giro bebê-los às dezenas, até porque "essa cena dos sumos é pa meninos". É vê-los junto a uns jardins-de-infância chamados discotecas a brincarem “à porrada” para aquecer a noite. É vê-los a brincar (recuperando e velho Monopoly) aos empresários com dinheiro a sério e esperar, como alguns, que quando correr mal o papá pague.

São uns curtidos, danados para a brincadeira. Mas olhem, são jovens, deixem-nos brincar em grandes porque em pequeninos não tiveram oportunidade e a vida não está para coisas sérias.

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

POUPADINHOS

O Governador do Banco de Portugal, Vítor Constâncio alertou para a preocupante baixa taxa de poupança evidenciada pelas famílias portuguesas. No entanto, com algum optimismo, admite que nos próximos anos a situação possa melhorar.
Creio que o Senhor Governador já estava a levar em conta o crescente espírito de poupança que os portugueses revelam no abastecimento dos seus carros. De facto, segundo dados da Associação Nacional de Revendedores de Combustíveis, cerca de 40 500 cidadãos abastecerão os seus veículos sem pagar durante 2007. Tal procedimento leva a uma poupança de 1.5 milhões de euros. Depois de começarmos a poupar não pagando os empréstimos bancários, poupamos não pagando o combustível e a seguir veremos. Gente empreendedora e poupadinha. É certo que os vencimentos e pensões também são poupadinhos.

ESCUTAS A MAIS OU ESCUTAS A MENOS?

Nos últimos tempos o tema “escutas” tem sido objecto de exaustivas e diversificadas notícias e análises na imprensa. De uma maneira geral, os opinantes tendem a entender que temos “escutas” a mais sugerindo a ideia de que, parece, “toda a gente” é escutada.

Lamento mas estou em completo desacordo com este entendimento. Uma das características das sociedades actuais, da portuguesa também, é justamente a pouca escuta que as pessoas merecem. Os pais não escutam os filhos que, por sua vez, não escutam os pais. Os alunos não escutam os professores que, por sua vez, não escutam os alunos. Os políticos não escutam os cidadãos que, por sua vez, não escutam os políticos. Os novos não escutam os velhos que, por sua vez, não escutam nada. As famílias não escutam os familiares que, por sua vez, não escutam as famílias. Finalmente, eu não escuto ninguém e, por sua vez, ninguém me escuta a mim. Escutas a mais?

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

O MAU ESTADO DO ESTADO

Um estudo realizado pela Universidade Católica conclui que 74%, 3 em cada 4, dos cidadãos inquiridos entende que o Estado, a Administração, funciona pior ou muito pior que o sector privado.

Num país completamente “subsídiodependente”, com um Estado muito gordo e com presença a mais que tudo tutela ou quer tutelar, parece-me profundamente injusta e ingrata a apreciação. Como diz o povo “não se morde a mão que nos dá o pão”. Provavelmente, o cidadão em cada quatro que foge à apreciação negativa ainda não obteve um qualquer subsídio ou apoio. Deve manter a esperança e quando for contemplado não andar a defender que “isto do Estado anda muita mal derivado à falta de dinheiro prá ajudar a gente”.

domingo, 28 de outubro de 2007

FALTAS, EXAMES, CHUMBOS E ... RUÍDO

Algumas notas (breves) sobre faltas, exames, chumbos e … ruído.
1 – Não me parece adequado tratar da mesma forma o absentismo justificado e injustificado na escolaridade obrigatória e no pós-obrigatório (secundário por exemplo). A relação dos alunos com a escola e com os pais, a relação da escola como os alunos e com os pais e a relação dos pais com os alunos e com a escola não é semelhante em todas as idades. Pensemos nesta questão considerando um aluno de 8 anos e um de 17. A idade é indiferente?
2 - Durante o período de escolaridade que a comunidade entende em cada tempo que TODOS devem ter, e por isso lhe chama obrigatória, todas as medidas devem ter um carácter de inclusão na comunidade escolar e não se constituírem como medidas potenciadoras de exclusão, que comprometem o próprio desígnio de cumprimento com sucesso da escolaridade obrigatória.
3 – Não parece um bom sinal admitir que faltas justificadas ou injustificadas têm exactamente o mesmo efeito, a realização de uma prova que a escola, cada escola, decidirá que consequência pode ter para o aluno. Fenómenos educativos com causas diferentes não parecem solicitar respostas semelhantes. Só por acaso é que podem acertar.
4 – Contrariamente ao que uma visão conservadora faz crer, nenhum estudo sério prova que os alunos só porque chumbam passam a ter sucesso. Isto não equivale a dizer que não entenda o chumbo em algumas circunstâncias e ponderando factores individuais como idade e recursos.
5 – O chumbo, com demasiada frequência, não passa de uma medida de natureza administrativa que, como referi no ponto anterior, assenta na errada convicção de que basta repetir para ser bem-sucedido. O chumbo, a acontecer, deve obrigatoriamente contemplar uma perspectiva de natureza pedagógica, ou seja, “vamos chumbar o aluno por este conjunto de razões e no próximo ano vamos estruturar este dispositivo de apoio visando o seu progresso”.
6 – Algumas perspectivas mais conservadoras e/ou ignorantes estrebucham lutando por mais exames. Parecem ter o estranho entendimento de que “se medirem muitas vezes a febre, esta acabará por baixar”. A questão central é a qualidade dos processos educativos (escolares e familiares), avaliação regular e exigente e formas de apoio de natureza técnica e pedagógica a alunos, professores e pais e não exclusivamente exames pontuais sem efeito positivo óbvio e/ou medidas de natureza administrativa como muitas vezes é o “chumbo”, sem verdadeiro impacto na qualidade.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

NADA DE MAIS SÉRIO NA VIDA DOS PUTOS DO QUE BRINCAR

Hoje, num evento ligado à minha actividade profissional, discutia-se a questão das brincadeiras das crianças, da sua importância e da forma como as famílias e a comunidade em geral tendem a encará-las. Parece evidente que para muitas crianças a brincadeira é uma actividade em vias de extinção. Na vida de algumas porque, transformadas em “crianças agenda”, saltam, muitas vezes a contragosto, de actividade em actividade, sem tempo para si mas enchendo o tempo e usando o banco de trás do carro como parque infantil. Outras, são convidados pelos adultos (pais e educadores) a envolverem-se actividades e “jogos” que fazem bem a “imensa coisa” e, no fundo, ajudam (crê-se) a prepará-las para a excelência. Finalmente, um outro grupo que, abandonado, se cola a um ecrã. Nestes contextos, as crianças dificilmente acedem a um espaço e a um tempo seus, com actividades suas e com materiais seus. Muitos entendem, mal, que isto é um desperdício de tempo e de oportunidades para aprender (fazer) coisas "úteis".

Oiçam os putos. Nada de mais sério existe na vida deles do que brincar.

PS – Volto Domingo, brinquem à vontade. A sério.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

ELES AÍ ESTÃO, OS RANKINGS, DE NOVO

O Outono, entre outras coisas bem mais interessantes, traz-nos a sazonal divulgação das classificações das escolas conhecida pela questão dos “rankings”. Depois de uma acesa batalha em muitos aspectos liderada por “neocons” ultraliberais pouco conhecedores, como por exemplo José Manuel Fernandes, temos a rotina, o Ministério divulga os resultados e dados relativos às escolas, alguma imprensa entretém-se a olhar para esses dados e produzem-se umas classificações “criteriosas”, com “indicadores ponderados”, utilizando “diferentes critérios”, etc. etc. Curiosamente, os estudos publicados concluem invariavelmente por: “supremacia das escolas privadas face às públicas”, por exemplo, nas diferentes listas produzidas entre as 10 primeiras escolas figura apenas uma pública; as escolas do litoral apresentam genericamente melhores indicadores que as do interior, como seria de esperar num país assimétrico e litoralizado, sendo ainda que os pólos de Lisboa, Coimbra e Porto acolhem as escolas que genericamente melhores resultados evidenciam; as escolas das regiões autónomas mostram globalmente piores indicadores, etc. Parece-me claro que, para quem conhece minimamente o país, em particular o país educativo, estes dados são obviamente previsíveis. A minha questão é “QUAL O CONTRIBUTO SIGNIFICATIVO QUE A ORGANIZAÇÃO E DIVULGAÇÃO DESTES RANKINGS OFERECE PARA A MELHORIA DA QUALIDADE DO SISTEMA?”. No meu entendimento a resposta é: “pouco relevante”. E tanto mais o será quanto menor é a qualidade de vida social, económica e cultural das populações, comprometendo de forma inaceitável princípios de equidade. A este propósito, vale a pena recordar o recente relatório do Instituto de Segurança Social referindo a existência de 2,1 milhões pessoas em situação de pobreza. Rankings? Uma treta ultraliberal.

Sendo um defensor intransigente de uma cultura e prática de exigência, avaliação e qualidade, parece-me bem mais importante o aprofundamento dos mecanismos de autonomia e responsabilização e a constituição obrigatória em todos os agrupamentos ou escolas de Observatórios de Qualidade que integrem também elementos exteriores à escola. Existem capacidade técnica e recursos suficientes. O trabalho realizado por esse Observatório, este sim, deveria ser divulgado e discutido em cada comunidade.

PLANO NACIONAL DE LEITURA

Um dia de terça-feira sempre muito comprido, dificulta o contacto com este espaço e impediu-me de ter oportunamente sublinhado alguns resultados positivos que o Plano Nacional de Leitura parece evidenciar, pese algumas dificuldades referidas por escolas envolvidas no processo de avaliação realizado pelo Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do ISCTE.

Entre os aspectos encorajadores dos estudos recentes sobre hábitos de leitura, é importante registar que os alunos de 5º e 6º anos , 10 – 12 anos de idade, parecem ser os leitores mais entusiasmados o que será um bom prognóstico sobre o incremento de hábitos de leitura, minimizando um outro indicador segundo o qual 97.5% dos portugueses destina a “ver televisão” os seus tempos livres.

É também importante tentar contrariar uma tendência evidenciada no sentido de, ao longo da escolaridade, se verificar um abaixamento nos hábitos de leitura exceptuando os alunos que pretendem continuar a estudar. Este facto sugere algo de natural, a ligação entre a qualificação e a leitura, e reforça a importância de contrariar fenómenos de abandono e insucesso escolar.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

MINORIAS E DESENVOLVIMENTO


As conclusões do 9º Congresso Nacional de Deficientes apontam para a situação complicada em que muitas pessoas com deficiência (sobre)vivem. Sublinham as políticas ineficazes e desatentas de sucessivos governos e identificam a Saúde, Emprego e Reabilitação, Acessibilidades e Barreiras e ainda a Educação como as áreas de maiores dificuldades e em que mais frequentemente os deficientes se sentem discriminados.
Há muito tempo que entendo, como muitas outras pessoas, que um dos bons indicadores de desenvolvimento de uma comunidade, é a forma como cuida das suas minorias. Logo, o caminho é longo, não é fácil, mas torna-se necessária vontade política e uma mais sólida cultura de solidariedade e exigência.

domingo, 21 de outubro de 2007

O MEU PAI NÃO BRINCA COMIGO

O Expresso noticia de forma discreta, como o tema justifica, que, de acordo com um estudo internacional apresentado este sábado em Lisboa, as crianças portuguesas são as que brincam menos tempo com os pais, isto é, 6% das crianças afirmam brincar diariamente com os pais enquanto nos outros oito países temos cerca de 20%. De forma coerente, também se constatou que o tempo destinado a ver TV pelas crianças portuguesas é cerca do dobro do que se verifica nos outros países.
Estou a lembrar-me de uma velha estorinha que já aqui citei.
- Pai…
- Sim.
- Pai… Quanto ganhas por uma hora de trabalho?
- Que pergunta!
- Responde.
- Cerca de 30 €.
(algum tempo depois)
- Pai…
- Sim.
- Tenho aqui 30 € que juntei. Podes vir brincar comigo uma hora?
Mais do que constatar o que já sabemos, importa que possamos perceber como, no mundo actual, real e não ideal, podemos ter gente mais disponível para os filhos, e filhos menos dependentes de ecrã para estarem acompanhados.

PS – Nesta perspectiva foi comovente ver o Dr. Menezes acompanhado por um dos filhos a visitar o Bairro da Cova da Moura e justificar a presença do gaiato pelo facto de, trabalhando tantos dias a forma de estar com os filhos é trazê-los para o trabalho. Notável.