domingo, 31 de agosto de 2014

CLANDESTINOS

Acabada a época de repouso activo, há quem lhe chame férias, estava por aqui a preparar a semana ao som do Manu Chao. O tema Clandestino ficou-me na cabeça e na inquietude.
Na sociedade portuguesa a condição de clandestinidade foi, há muitos anos, o refúgio de muita gente por razões conhecidas. A democracia viria, esperávamos, a acabar com esta condição. Passados muitos anos, creio que nunca como agora a clandestinidade acolheu tanta gente.
Estou a lembrar-me de miúdos em dificuldades que vivem clandestinamente nas escolas, sem ajudas e com os seus direitos atropelados por políticas incompetentes e delinquentes.
Estou a lembrar-me de miúdos que vivem em famílias de que não sentem fazer parte.
Estou a lembrar-me de miúdos, demasiados miúdos, que vivem clandestinamente em instituições que, mantendo-os assim, se justificam e eternizam.
Estou a lembrar-me de miúdos que, clandestinamente, são vítimas de abusos e maus tratos, muitos deles, por parte de gente de quem só sabiam esperar apoio e afecto.
Estou a lembrar-me da imensa minoria de jovens que vivem clandestinos num mercado de trabalho que lhes adia ou rouba o projecto de vida.
Estou a lembrar-me de gente, muita gente, que vive clandestinamente do lado de fora da vida.
Estou a lembrar-me dos milhares de portugueses que vivem clandestinamente numa pobreza que conhecem mas que não querem que se conheça.
Estou a lembrar-me de velhos que vivem clandestinamente sós numa vida que não querem largar mas que já os largou.
O Manu Chao só falou dos outros. E bem.



COMBATE À CORRUPÇÃO. NÃO É NÃO QUERER, É NÃO NÃO PODER

"PSD e PS vão tentar entender-se sobre proposta de combate à corrupção"

Ao que parece, continuando um fingimento de décadas, PS e PSD tentam estabelecer um acordo sobre uma proposta de combate à corrupção. Como diz o Velho Marrafa, “deixe lá ver”. Confesso que não estou particularmente optimista sobre o alcance de um consenso sobre uma “proposta de combate à corrupção”. Algumas notas justificativas da minha reserva.
Recordo que em Fevereiro a Comissão Europeia afirmava num relatório que em Portugal “não existe uma estratégia nacional de luta contra a corrupção em vigor”.
Segundo um estudo divulgado, creio que em 2013, realizado,  conjuntamente pela Universidade de Lisboa e pelo Movimento Transparência e Integridade, 70 % dos portugueses inquiridos consideram ineficaz o combate à corrupção, sendo que 78 % consideram que este problema se agravou nos últimos dois anos, o pior resultado da União Europeia de acordo com o trabalho da Transparency International, representada em Portugal pela TIAC -- Transparência e Integridade, Associação Cívica.
A maioria dos inquiridos, oito em dez, entende que o “o Governo está nas mãos de um conjunto restrito de grupos económicos” e 60% dos portugueses afirma que os conhecimentos pessoais são importantes para obter serviços ou acelerar processos na administração pública.
Nada de novo, infelizmente, também nestes dados. Em 2013 tornou-se público que o Conselho de Prevenção da Corrupção, estrutura criada pela Assembleia da República e a funcionar junto do Tribunal de Contas, deixou de tentar envolver as organizações partidárias na sua acção, pois estas entendem que o Conselho não tem competência sobre as suas actividades e funcionamento, designadamente na sensível questão do financiamento.
A Transparência e Integridade, Associação Cívica tem vindo recorrentemente a lamentar “a reiterada falta de progressos na luta contra a corrupção por parte das autoridades portuguesas, sublinhada mais uma vez no último relatório de avaliação do Grupo de Estados Contra a Corrupção”, do Conselho da Europa, designadamente no que respeita a alterações legislativas no âmbito da corrupção e do tráfico de influências. Também um Relatório anterior das mesmas entidades indiciava que o combate à corrupção em Portugal apresenta “resultados mais baixos do que seria de esperar num país desenvolvido”, concluindo, entre muitos outros aspectos, que a “troca de favores” e a “cunha estão institucionalizadas “entre colegas do mesmo governo” bem como identificava Portugal como dos 21 países em que existe "pouca ou nenhuma implementação" da Convenção anti-corrupção da OCDE. 
No entanto, está sempre presente nos discursos partidários, sobretudo à entrada de cada novo governo, a retórica que sustenta o fingimento da luta contra a corrupção e a promoção da transparência na vida política portuguesa e, regularmente, emergem umas tímidas propostas que mascaram essa retórica, entram na agenda e rapidamente desaparecem até ao próximo fingimento. Provavelmente, estamos agora em presença de mais um acto deste fingimento.
Do meu ponto de vista, nenhum dos partidos do chamado “arco do poder”, está verdadeiramente interessado na alteração da situação actual, o que, aliás, pode ser comprovado pelas práticas desenvolvidas, por todos, quando foram ocupando o poder. A questão, do meu ponto de vista, é mais grave. Os partidos, insisto no plural, mais do que NÃO QUERER mexer seriamente na questão da corrupção e do seu financiamento, NÃO PODEM e vejamos porque não podem.
Nas últimas décadas, temos vindo a assistir à emergência de lideranças políticas que, salvo honrosas excepções, são de uma mediocridade notável. Temos uma partidocracia instalada que determina um jogo de influências e uma gestão cuidada dos aparelhos partidários donde são, quase que exclusivamente, recrutados os dirigentes da enorme máquina da administração pública e instituições e entidades sob tutela do estado. Esta teia associa-se à intervenção privada sobretudo nos domínios, e são muitos, em que existem interesses em ligação com o estado, a banca e as obras públicas são apenas exemplos. Os últimos tempos têm sido particularmente estimulantes nesta matéria.
A manutenção deste quadro, que nenhum partido está evidentemente interessado em alterar, exige um quadro legislativo adequadamente preparado no parlamento e uma actividade reguladora e fiscalizadora pouco eficaz ou, utilizando um eufemismo, “flexível”. Assim, a sobrevivência dos partidos, tal como estão, exige a manutenção da situação existente pelo que, de facto, não podem alterá-la. Quando muito e para nos convencer de que estão interessados, introduzem algumas mudanças irrelevantes e acessórias sem, obviamente, mexer no essencial. Seria um suicídio para muita da nossa classe política e para os milhares de boys de diferentes cores que se têm alimentado, e alimentam do sistema.

O combate à corrupção, parece, assim, um problema complicado. De quem faz parte do problema, não podemos esperar a solução.

OS NEGÓCIOS DA FAMÍLIA. Enésimo episódio

"A ocasião em que o embaixador Pedro Catarino percebeu que não há almoços grátis"

O que sempre escrevo a propósito dos recorrentes episódios elucidativos desta longa narrativa, “Os Negócios da Família”.

"A roda livre de impunidade e incumprimento dos mais elementares princípios éticos quando não da lei, produziu nas últimas décadas uma família alargada que, à sombra dos aparelhos partidários e através de percursos políticos, se movimentam num tráfego intenso entre entidades e empresas públicas e entidades privadas, promovendo frequentemente em negócios que insultam os cidadãos. 

Esta família alargada envolve gente de vários quadrantes sociais e políticos com uma característica comum, os negócios obscuros de natureza multifacetada e de escala variável, desde o jeitinho para o emprego para o amigo até aos negócios de muitos milhões.
Acontece ainda e isto tem efeitos devastadores, que muitos dos negócios que esta família vai realizando envolve com frequência dinheiros públicos e com pesados encargos para os contribuintes.
Esta família conta ainda com a cooperação de um sistema de justiça talhado à sua medida pelo que raramente se assiste a alguma consequência decorrente dos negócios da família.
Curiosamente, mas sem surpresa, todos os membros desta família, quando questionados sobre os seus negócios ou envolvimento em algo, afirmam, invariavelmente que tudo é feito tudo dentro da lei, nada de incorrecto e, portanto, estão sempre de consciência tranquila.
Alguém poderia explicar a esta gente que, primeiro, não somos parvos e, segundo, o que quer dizer consciência.
Esta é a pantanosa pátria, nossa amada." 

Aguarda-se o próximo episódio desta tenebrosa narrativa, “Os negócios da Família”.

E não se pode exterminá-los?

sábado, 30 de agosto de 2014

A SABEDORIA DA MINHA AVÓ LEONOR

"Governo nomeia gestor dos swaps para fiscalizar contas das empresas públicas"

Quando eu era miúdo a minha Avó Leonor, uma mulher notável e de uma sabedoria e sensatez  sem fim, sempre me explicava que não era boa ideia pedir à raposa que tomasse conta da capoeira.
A minha Avó Leonor, que já partiu há muito, não haveria de gostar de ver um tempo em que as capoeira são mesmo entregues às raposas.

AS FÉRIAS DO CAJÓ

O meu amigo Cajó, o mecânico do Punto kitado, adorou as férias que, como sempre, passou na tenda que a sogra, a D. Gorete, tem alugada o ano inteiro no parque de campismo da Costa. É uma tenda grande com dois quartos e um avançado onde está o assador e a mesinha da televisão. As tendas estão um bocado em cima umas das outras, tanto que a D. Júlia, da tenda ao lado, vê a novela da tarde no aparelho da sogra do Cajó sentada no avançado da sua tenda. É tudo gente fixe, está-se bem.
O Cajó carregou o Punto à maneira, até lhe pôs umas barras que tinha lá na oficina para levar as cadeiras de plástico para a família e os colchões enrolados. Embora o tempo estivesse um bocado manhoso, o Cajó teve sorte com a semaninha passada na Costa.
De manhã, depois da bica, ia com a Odete e os miúdos até à praia, mas pouco tempo, que o Cajó não é menino de estar a torrar ao sol. Entretinha-se com as vistas que a praia por acaso até é muito bem frequentada, se estava maré para isso apanhava umas cadelinhas e lá pelo meio dia deixava a Odete e os miúdos e vinha adiantar o almoço. No assador tratava das sardinhas que o sogro, o Sr. Abel, tinha ido buscar à praça. O Cajó fazia questão de as assar, ele é que tem o toque que elas precisam. Bom, era um cheirinho a sardinhas naquele parque que até chegava à praia. Com uma saladinha à maneira uma garrafinha de branco bem fresquinha graças ao frigorífico pequenino muito jeitoso que a D. Gorete tinha comprado para ter no parque, estavam 5 estrelas.
Depois da sardinhada ia com O Sr. Abel tomar a bica e meio uísque ao bar do parque e ficavam na palheta com o pessoal que já conhecia dos outros anos. Entretanto, a Odete e a sogra ficavam no avançado a ver televisão e os miúdos iam brincar com os outros ou jogar playstation. Ao fim da tarde, o Cajó ia com a malta dar uns toques para o campo de futebol de salão que há lá no parque, o desporto faz bem e até abre o apetite. Para o jantar, a família abria umas conservas ou ia buscar um franguinho assado ao café do Passarinho, ali bem perto do parque que era bem bom, em conta e marchava com uma saladinha e umas "bejecas". É preciso poupar e até dizem que as conservas são boas para a saúde. À noite ia até ao bar do parque jogar uma suecada e aí estava um dia perfeito. Todas noites, quando voltava para a tenda com o Sr. Abel, o Cajó lhe dizia, “isto é que são umas férias, a porra é que prá semana já tou na oficina a vergar a mola”.
Só havia uma coisinha que chateava o Cajó. Na tenda da D. Gorete tinha que dormir com a Odete e os miúdos, a Micas e o Tólicas, no mesmo espaço e de dia estava sempre gente à volta, de maneira que, estão a ver, sente falta da Odete. É pá, mas não se pode ter tudo, pensava o Cajó antes de adormecer a sonhar com as sardinhas do almoço servidas por aquela miúda “podre de boa” que entra na novela que a D. Gorete e a Odete não perdem.

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

A NORMALIDADE EM MODO MEC

"Professores do quadro chamados a esperar pelas colocações dentro das escolas"

Ontem escrevi que se o MEC tivesse de realizar uma PACC - Prova de Avaliação de Conhecimentos e Capacidades por exemplo sobre a colocação de professores, apesar de não estar imune a tal risco o MEC, basta ler alguns materiais, talvez o MEC não cometesse muitos erros de escrita do português, em especial de acentuação, mas acentuava-se certamente a incompetência e o chumbo seria garantido.
Ainda não se sabe quando estarão colocados os docentes candidatos à mobilidade interna e os não vinculados. Não é grave, as aulas só começam lá bastante para a frente, entre 11 e 15 de Setembro e o MEC afirmou que os “procedimentos concursais (…) estão a processar-se como previsto e planeado de modo a garantir a colocação dos docentes necessários ao normal funcionamento dos agrupamentos de escolas e escolas não agrupadas”.
 Entretanto, as direcções de escolas e agrupamentos receberam instruções quarta e quinta para cumprir procedimentos cujos prazos acabam hoje. Notável.
Mas a criatividade que advém, evidentemente, da genialidade da equipa da 5 de Outubro não fica por aqui. Os professores do quadro que concorreram à mobilidade interna receberam instruções para se apresentar nas escolas a que pertencem. Presumo que alguns acharão normal mas é mais uma decisão bizarra, estes professores concorrem a uma outra escola pelo que poderão não ficar na actual. O MEC diz-lhes para aguardar nessa escola e coloca-se uma dúvida pequenina, os professores fazem o quê, não sabem se ficam, não sabem para onde vão, os directores ficam com o que costumo chamar de Síndrome do Martim Moniz, ou seja, ficam “entalados” e … mais um ruído para as escolas que é coisa que se torna dispensável no arranque do ano lectivo.
Como é evidente, a manha política assim o determina, os professores nas escolas, mesmo que seja aguardar os resultados do concurso sempre transmite uma ideia de normalidade, estão nas escolas, é normal. 
Faz parte do estranho entendimento que o MEC vem revelando do que é “normalidade”. Variadíssimas coisas a correr mal e o entendimento é que ... tudo dentro da normalidade. A esta gente não passará pela cabeça que a única forma de fazer isto de forma adequada é ter as colocações resolvidas antes de se iniciar o ano lectivo? Sim, eu sei que parece ser pedir demais mas que diabo, a génios não é pedir muito.
Mais a sério e como também ontem questionava, como é que podemos explicar esta deriva incompetente e manhosa?

Do meu ponto de vista trata-se da arrogância sem limites que se apoderou desta gente que alimentando-se de incompetência dá um resultado inquietante.

EM QUE MEDIDA A DESCIDA DO DESEMPREGO CORRESPONDE, DE FACTO, À CRIAÇÃO DE EMPREGO?

"Portugal entre os cinco países da UE com maior descida no desemprego"

O abaixamento da dramática taxa de desemprego seria sempre uma boa notícia. No entanto, importa ser cauteloso sobre o real quadro do desemprego e perceber se a descida corresponde efectivamente à criação de emprego. Algumas notas.
Julgo que é preciso considerar os muitos milhares de pessoas, jovens e desempregados de longa duração sobretudo, que já desistiram de procurar emprego e ainda ou já não contam para as estatísticas.
Por outro lado, recordo um trabalho de Julho do DN que mostrava que cerca de 90% dos empregos criados no âmbito do IEFP são subsidiados pelo estado sendo que a taxa de desemprego verificada na altura,  15.1% passaria a uns bem mais graves 18.2 % se fossem acrescentadas as pessoas em formação (estágios) ou envolvidas em programas como Contrato Emprego - Inserção e o programa Estímulo Emprego. Estavam em situações desta natureza cerca de 162 000 pessoas. Era ainda referido que nos primeiros 3 meses de 2014 tinham saído do país 61 700 jovens com menos de 34 anos.
Está assim claro que a recuperação do emprego, tão referida pela máquina de propaganda assenta também numa habilidade que, muito provavelmente, a prazo se revelará ineficaz. É sabido que muitos empregadores usam e abusam de estagiários promovendo uma altíssima rotação. Como é evidente, o "esquema" serve às empresas, acedem a mão de obra qualificada e barata, é subsidiada, e quando se esgota o tempo haverá alguém que substitui quem sai. As pessoas entre o nada e a migalha hipotecam a dignidade em nome da sobrevivência.
A formação profissional para desempregados sempre foi uma área em que se verificam situações envoltas em "habilidades". Todos conhecemos pessoas no desemprego, em particular de longa duração, que são chamadas e "obrigadas" a fazer formação que chega a ser anedótica e um desperdício mas que lhes garante um subsídio e ao mesmo tempo torna as estatísticas mais simpáticas.
Não há muito a fazer, é a política ... estúpido. Habilidosa e manipuladora como muitas vezes é.

CALMA, AINDA TEMOS OS RECURSOS ... ATÉ À PRESCRIÇÃO

"Condenação de ex-gestores do BCP confirmada pelo tribunal"

O Tribunal de Pequena Instância de Lisboa confirmou as penas que o Banco de Portugal tinha imposto a ex-gestores do BCP.
Poderia ser um sinal positivo por parte do sistema de justiça face à impunidade com que este pessoal faz a sua vida e as habilidades rentáveis em que se metem, por assim dizer.
No entanto, calma, é mais prudente não sermos tão optimistas e crentes. Ainda falta iniciar-se a longa série de recursos que os escritórios de advogados que contribuíram para os alçapões das leis tratarão de promover até ... à prescrição final.
Acho que, para não variar, a tradição irá cumprir-se.

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

SE O MEC REALIZASSE UMA PACC ... AI MEU DEUS O QUE SERIA

"As escolas ainda não sabem quando chegam os professores"

O MEC, lamentavelmente para o sistema educativo, não é obrigado a realizar uma PACC - Prova de Avaliação de Conhecimentos e Capacidades sobre alguns aspectos da sua política educativa, no caso que justifica estas notas, a colocação de professores.
Apesar de não estar imune a tal risco o MEC, basta ler alguns materiais, talvez o MEC não cometesse muitos erros de escrita do português, em especial de acentuação, mas acentuava-se certamente a incompetência.
Dentro do que o MEC considera "normalidade" ainda não se sabe quando estarão colocados os docentes candidatos à mobilidade interna e os não vinculados e as aulas iniciam-se entre 11 e 15 de Setembro e talvez não seja disparate entender que seria desejável, por variadíssimas e óbvias razões, que os docentes não se apresentassem nas escolas no dia em que iniciam as aulas.
As direcções de escolas e agrupamentos receberam instruções ontem e hoje para cumprir procedimentos cujos prazo acaba amanhã, repito, amanhã.
O MEC afirma que os “procedimentos concursais (…) estão a processar-se como previsto e planeado de modo a garantir a colocação dos docentes necessários ao normal funcionamento dos agrupamentos de escolas e escolas não agrupadas”.
Como é que se explica esta cegueira? Do meu ponto de vista trata-se da arrogância da incompetência.

OS ASSISTENTES OPERACIONAIS QUE SÃO MESMO AUXILIARES DA EDUCAÇÃO

"Pais lançam petição para aumentar número de funcionários nas escolas"

Grupos de pais desencadearam a apresentação de uma petição no sentido de que sejam revistos os rácios que determinam o número de auxiliares de educação, agora assistentes operacionais,  nas escolas e agrupamentos.
De há uns anos para cá é recorrente a referência à insuficiência deste grupo profissional nas diferentes comunidades educativas.
Acontece ainda que ao início de cada ano lectivo as necessidades elaboradas de acordo com rácio já desajustados face às mudanças na organização dos sistema são colmatadas através do recurso a desempregados inscritos nos Centros de Emprego. No entanto, ao fim de cada ano estas pessoas vão embora e não podem voltar a trabalhar no ano seguinte no local em que estiveram. Também para esta medida que afecta a continuidade e estabilidade do trabalho é solicitada revisão.
Algumas notas sobre o papel dos auxiliares de educação considerando, sobretudo, o seu importante papel educativo para além das funções de outra natureza que também desempenham. No caso mais particular de alguns alunos com necessidades educativas especiais os auxiliares serão mesmo uma figura central no seu bem estar educativo.
A excessiva concentração de alunos em centros educativos ou escolas de maiores dimensões não têm sido acompanhadas por ajustamento proporcional do número de auxiliares de educação. Aliás, é justamente, também por isto, poupança nos recursos humanos, que a reorganização da rede, ainda que necessária, tem sido feita com sobressaltos e  com a criação de problemas.
Na verdade, os auxiliares educativos cumprem um papel fundamental, nem sempre valorizado, nas comunidades educativas e por várias razões.
São quase sempre elementos da comunidade próxima das escolas o que lhes permite o desempenho informal de mediação entre famílias e escola, terem uma informação que pode ser útil nos processo educativos e uma proximidade com os alunos que pode ser capitalizada importando que a sua acção seja orientada, tenha alguma formação e que se sintam úteis, valorizados e respeitados.
Os estudos mostram também que é nos recreios e noutros espaços fora da sala de aula que se regista um número muito significativo de episódios de bullying e de outros comportamentos socialmente desadequados. Neste contexto, a existência de recursos suficientes para que a supervisão e vigilância destes espaços seja presente e eficaz. Recordo que com muita frequência temos a coexistir nos mesmos espaços educativos alunos com idades bem diferentes o que pode constituir um factor de risco que a proximidade de auxiliares de educação minimizará.
Considerando tudo isto parece muito pertinente e um contributo para a qualidade dos processos educativos a presença em número suficiente de auxiliares de educação que se mantenham nas escolas com estabilidade e que sejam orientados e valorizados na sua importante acção educativa.

A LER. "PARA QUE SERVE A UNIVERSIDADE?"

"Para que serve a universidade?"

Um texto estimulante e oportuno de Gustavo Cardoso sobre os tempos que vivemos.

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

SENSATEZ E ATENÇÃO

"Se os media nãofalassem nisso, o meet só dizia respeito aos participantes"

"Foi um meet de jornalistas"

"Riscos da securitite de Verão"

Duas opiniões sensatas, de Luís Fernandes e São José Almeida, sobre os "meets" que entraram na agenda e que, do meu ponto de vista, estão a merecer, em alguns discursos, um tratamento e uma abordagem que podem tornar-se parte do problema e não da solução.
Muitas dezenas de meets foram realizados sem problemas, são fenómenos que usam os meios de comunicação actuais, as redes sociais, para ganhar dimensão e que não têm de ser, necessariamente, uma réplica dos "rolezinhos" brasileiros que parecem conter uma mais alto e evidente grau de crispação social e potencial de conflitualidade. Existem diferentes versões para o episódio do Vasco da Gama e, como também é referido, o episódio  de Cascais não decorreu de um "meet" e o que estava anunciado para o Colombo não aconteceu.
Podemos correr o risco de que a mediatização e visibilidade possam também funcionar como rastilho e combustível potenciando a entrada em cena de outros objectivos, grupos ou ideias e então ficarmos mais perto de fenómenos que poderão ser imprevisíveis e bastante mais preocupantes.

PAIS ATENTOS. CRÓNICA DE UM SOL POENTE

Ser pai ou mãe para a esmagadora maioria das pessoas que passam por essa condição é, como sempre foi, uma experiência extraordinária ainda que, evidentemente, com alguns sobressaltos que por vezes se traduzem em inquietações.
Nos dias que correm, por várias razões, a parentalidade envolve algumas dimensões que não podemos deixar de considerar. Sem ser exaustivo temos as alterações profundas nos estilos de vida, nas condições económicas e enquadramento profissional, nas alterações de modelos culturais e sociais, nos níveis de qualificação médio das pessoas, etc.
Este conjunto de alterações repercute-se com nitidez de forma diferenciada nas famílias e nas acções dos pais.
No entanto, apesar desta complexidade e da diversidade de circunstâncias, continuo, como várias vezes tenho referido, a entender que uma condição essencial no "trabalho dos pais" é ser atento, atento aos filhos e ao que está à volta deles.
Lamentavelmente, também me parece, que estar atento, é o que mais difícil se torna de ensinar a qualquer pessoa, aos pais também, independentemente do seu grau de qualificação ou condição económica.
Deste entendimento resulta que, do meu ponto de vista, muitas das inquietações que sentimos com os filhos resultam, frequentemente, de alguma desatenção, que não será intencional, não será por incompetência mas ... acontece. Também acontece que uma atitude mais desatenta continuada acaba por produzir efeitos, primeiro mais "simples", os comportamentos dos miúdos para "chamar a atenção", como se costuma dizer e, posteriormente de formas mais "pesadas" e já de maior dificuldade. Felizmente, a maioria dos pais são, como se espera, pais atentos.
Vem tudo isto a propósito de uma pequeníssima história de ontem ao fim da tarde. Perto do sempre lindo pôr do Sol na Caparica passeávamos pelo "pontão" das praias.
Na nossa direcção caminhava ainda a tropeçar nos pés uma gaiata que teria entre os dois e os três anos. Um pouco mais atrás vinham elementos da família entre as quais, deu para perceber, a mãe que vinha ao telemóvel. Num tropeção maior a miúda acabou por cair num piso que não é nada amigável, gravilha e areia em cima de betão e o choro aflitivo foi imediato e fortíssimo.
A mãe, sem largar o telemóvel e a animada conversa, limitou-se a "içar" a gaiata do chão e a continuar a andar. Ao passar por mim ainda oiço a mão dizer para a miúda se calar pois não conseguia ouvir a pessoa com quem estava ao telefone. E lá continuou aquela família a passear tranquilamente à beira-mar ao pôr do Sol numa tarde lindíssima agora com banda sonora acrescentada, o choro da criança.
Não tenho nenhuma ideia de super-protecção dos miúdos, entendo que cair e levantar é uma aprendizagem, que a autonomia imprescindível ao crescimento saudável envolve algum risco que nos ensina os limites. Mas também entendo que os miúdos precisam de sentir ao seu lado alguém que "repare" e se interesse pelo que lhes acontece, que esteja "atento". Ser autónomo não é ser só, é ser mais capaz por si ... com os outros.

A TRADIÇÃO AINDA É O QUE ERA

"Nova gestora do regulador da aviação foi nomeada sem avaliação prévia"

"Vogal da administração do regulador da aviação, que estava até agora no Ministério da Economia, foi designada sem parecer prévio e abrindo porta à recondução, o que contraria a lei. Presidente da comissão questiona processo."
A lei, tal como a Constituição, só atrapalham.
Imaginem que se exige que os cargos de direcção na administração sejam submetidos a avaliação prévia da Cresap, ou seja, passem por uma espécie de Prova de Avaliação e de Conhecimentos e Capacidades, como os professores, por assim dizer. Uma coisita simples com umas charadas e uma pergunta de desenvolvimento para caçar erros de acentuação.
No entanto, sem surpresa, o processo não é obrigatórios para todos. Arranjam-se umas justificações habilidosas e dispensa-se a avaliação prévia.
Eu acho prudente que assim seja. Na volta, o (a) destinatário(a) do lugar ainda chumbava na PACC e lá se ia o lugarzinho de chefia.
Num país em que se cultiva a tradição, é bom saber que esta ainda é o que era.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

UM HOMEM CHAMADO ATRASADO

Era uma vez um homem chamado Atrasado. Toda a sua vida foi a de um Atrasado. Começou por nascer uns dias depois da data prevista. Andou e falou um bocadinho mais tarde que a generalidade dos miúdos. Durante a escola era sempre o último a chegar mas, para compensar, era também o último a acabar os trabalhos.
O Atrasado chegava tarde aos encontros com os amigos e à generalidade das actividades em que se envolvia. Toda a gente conhecia a música e as novidades antes dele, do Atrasado.
Do seu grupo de amigos foi o último a casar. A mulher do Atrasado até dizia que tinha casado com ele porque assim esperava em casa e não num local qualquer onde ele, invariavelmente, chegava atrasado. Quando começou a trabalhar o Atrasado teve sorte, arranjou um emprego com horário flexível.
Enfim, quem conhecia o Atrasado habituava-se a esta maneira de funcionar.
Um dia, já velho, andava o Atrasado a deambular pelos seus pensamentos, quando deparou com um grupo de pessoas que olhavam, com alguma ansiedade, para um buraco aberto no chão, no meio de uma zona verde. Aproximou-se e alguém que o reconheceu exclamou, “Finalmente, podemos então fazer o funeral”.

NOVAS POLÍTIVAS EM PERSPECTIVA

Orçamento Rectificativo

"Ordem para cortar na Educação, Saúde e Justiça"
Ao que alguma imprensa refere, na elaboração do Orçamento Rectificativo em preparação estão a ser considerados novos cortes na Educação, Saúde e Justiça.
Está, assim, aberto o caminho para mudanças significativas nas políticas seguidas nos últimos anos. Esta opção é perfeitamente justificada pelo sucesso estrondoso que que se tem verificado nas áreas em causa, Educação Saúde e Justiça.
Como é sabido e reconhecido são áreas em que os níveis de eficácia e qualidade atingiram patamares que, evidentemente, permitem libertar mais recursos para outras áreas mais carentes, o financiamento à banca para tapar a gestão fraudulenta, por exemplo.

A LER "A crise no BES e os pobres"

"A crise no BES e os pobres"

Um texto interessante de José António Pinto sobre os tempos malinos que atravessamos.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

UM SISTEMA A DUAS VELOCIDADES. PELO MENOS

"Um terço das escolas superam-se e recebem “prémio” de Crato"

A atribuição de mais meios ou recursos, no caso créditos horários, em função da melhoria de resultados das escolas terá, evidentemente, aspectos positivos.
No entanto, como tenho referido desde a introdução deste dispositivo, creio que as escolas que mais dificuldades sentem na promoção de trabalho mais eficaz de alunos e professores são justamente as que mais apoios e recursos precisariam para lidar com esse enorme conjunto de dificuldades.
Por outro lado e para além das especificidades de natureza contextual que contribuem para cenários mais complicados, vários dos aspectos da PEC - Política Educativa em Curso estarão associados a dificuldades criadas às escolas como cortes de professores e funcionários, insuficiência de dispositivos de apoio, mudanças curriculares inconsequentes, a excessiva concentração de alunos, o clima e a instabilidade nas escolas, a centralização excessiva que retira autonomia às escolas, etc.
De qualquer forma, que se sublinhe a evolução registada nas escolas que beneficiarão dos créditos horários agora atribuídos.

O PESO DAS MOCHILAS DOS MIÚDOS

"Mochilas não podem pesar mais de 10% do peso dos alunos"
Numa brochura agora divulgada pela Direcção-Geral do Consumidor com conselhos relativos ao início do ano escolar, chama-se atenção para o peso das mochilas transportadas pelos miúdos. Aconselha-se vivamente que o peso transportado não seja superior a 10% do peso da criança. Não sei se haverá algum estudo mais recente mas recordo um trabalho da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa de 2011, coordenado pelo Professor Mário Cordeiro e envolvendo umas centenas de alunos entre os seis e os 13 anos de uma escola de Lisboa que mostrava que sete em cada dez miúdos transportavam mochilas com excesso de peso, acima de 10% do seu peso corporal.
Como é óbvio esta preocupação, pelas suas implicações e riscos, imediatos e a prazo, para a saúde dos miúdos, deve merecer a atenção de pais e educadores no sentido de a minimizar, embora o seu transporte configure um exercício físico que disfarça a ausência de espaços e equipamentos adequados em muitas das nossas escolas e combata uma infância sedentarizada, a troco, é certo, de uma coluna castigada.
Aproveitando a preocupação com o peso da mochila e, já agora, com a organização dos seus conteúdos, tarefa em que, felizmente, muitos pais se envolvem ajudando sobretudo os mais pequenos, gostava de chamar a atenção para um conteúdo que muitas vezes anda nas mochilas, que pode pesar muito e que, se não estivermos atentos, poderá passar despercebido.
Estou a referir-me aos medos que os muitos gaiatos transportam.
O medo de não ser capaz de aprender, o medo de não corresponder às expectativas, por vezes demasiado altas, dos pais, o medo das comparações com os outros, o medo das brincadeiras que adultos ansiosos lhes incutem, o medo induzido por discursos ligeiros sobre os riscos e perigos que espreitam por todo lado, o medo de circunstâncias e experiências de vida que não controlam e não compreendem. O medo de um futuro que não vislumbram. Entre outros.
Parece-me, por isso, que os adultos andarão bem se estiverem atentos ao que os miúdos carregam nas suas mochilas, para além e isso é importante, do peso dos inúmeros materiais. Muitas crianças e adolescentes sentem uma enorme dificuldade em lidar com os medos, sobretudo quando se sentem sós. Por vezes, acabam por se juntar a outros tão assustados quanto eles.
Quase nunca dá bom resultado.

ABANDONAMENTO

"Trinta mil animais abandonados em 2013 e número duplicou desde 2008"

É reconhecido que um número considerável de idosos recorre aos hospitais por quadros de solidão e abandono e lá permanecem por ausência e/ou desinteresse de familiares.
Muitos miúdos e adolescentes estão abandonados em frente a um ecrã ou andam à deriva pelo mundo fechados, abandonados, nuns auriculares.
O tempo do trabalho rouba o tempo da família que fica abandonada e dizem-nos que é necessário mais tempo para o trabalho. Quando falta o trabalho, falta o sustento, falta a dignidade e as pessoas escondem-se, abandonadas.
Em Portugal o consumo de antidepressivos aumentou exponencialmente nos últimos anos, estando a sua procura frequentemente associada a situações de “tristeza, solidão e abandono”.
Segundo a Direcção-Geral de Alimentação e Veterinária as taxas de abandono de animais nunca foram tão elevadas como actualmente.
Que raio de mundo é que andamos a construir?
Condomínios fechados de uma só pessoa?

O PREÇO ELEVADO DA ESCOLARIDADE GRATUITA

Portugueses gastam 509 euros com regresso às aulas, menos que em 2013
De acordo com um estudo agora divulgado na imprensa do fim de semana, as famílias portuguesas irão gastar em média cerca de 509 euros no início das aulas sendo que a despesa prevista por filho é de 346 euros.
Este montante inclui manuais que, aliás, aumentaram de preço num valor superior à inflacção, material escolar e outro equipamento considerado necessário à vida escolar.
Como é sabido no quadro constitucional vigente, lê-se no Artº 74º (Ensino), “Na realização da política de ensino incumbe ao Estado: a) Assegurar o ensino básico universal, obrigatório e gratuito; 
Desta leitura resulta de forma que creio clara a vinculação do Estado ao providenciar a escolaridade obrigatória de forma gratuita.
Acontece que como temos já referido, o ensino obrigatório nunca foi gratuito nem universal, vejam-se as taxas de abandono e os custos incomportáveis para muitas famílias dos manuais e materiais escolares num quadro em que a acção social escolar é insuficiente e tem vindo a promover sucessivos ajustamentos nos valores e critérios de apoio disponibilizados. No universo particular das famílias com crianças com necessidades especiais os custos da escolaridade obrigatória e gratuita são ainda mais elevados, bem mais elevados.
Num tempo em que a Constituição está sob escrutínio e é vista como bloqueio a iniciativas sobretudo no âmbito dos direitos e garantias e também num tempo em que a escola pública está sob ameaça e sabendo-se que somos um dos países europeus com maior assimetria na distribuição da riqueza, importa prevenir o risco acrescido de potenciar a instalação de condições de insucesso escolar, abandono e, finalmente, da dificuldade de acesso à qualificação que alimenta a mobilidade social, discriminação nas oportunidades estando assim comprometido o direito à educação.

domingo, 24 de agosto de 2014

"O MUNDO, O MUNDO É A RUA DA TUA INFÂNCIA"

"Fechados em casa, mas expostos ao mundo"

Um trabalho interessante no Público sobre as actuais circunstâncias de vida das crianças, muito tempo em casa e o mundo espreitado através dos ecrãs, leva-me a retomar algumas notas sobre a importância do brincar e andar na rua, situação que tem vindo a desaparecer da vida de muitos miúdos.
É certo que as questões da segurança e, sobretudo, dos estilos de vida e a mudança verificada nos valores e nos equipamentos, brinquedos e actividades dos miúdos, o brincar na rua começa a ser raro. Aliás, para muitos miúdos quase que se pode dizer que brincar é mesmo uma actividade que vai ficando em desuso. A prioridade é aprender, aprender muito, aprender tudo, ser excelente em tudo e não perder tempo com inutilidades como brincar.
Embora consciente das questões como risco, segurança e estilos de vida das famílias, creio que seria possível “devolver” os miúdos a circular e brincar na rua, de formas que a peça sugere e talvez com a supervisão de velhos que estão sozinhos as comunidades e as famílias conseguissem alguns tempos e formas de ter as crianças por algum tempo fora das paredes de uma casa ou escola onde passam tempos infindos, centro comercial, automóvel, de ateliers onde desenvolvem inúmeras actividadas fantásticas que promovem competências fantásticas ou dos ecrãs, a ponte pela qual muitas crianças e adolescentes visitam o mundo que as rodeia e no qual muitas crianças e adolescentes vivem trancadas.
No imperdível “O Mundo, o mundo é a rua da tua infância”, Juan José Millás recorda-nos como a rua, a nossa rua foi o princípio do nosso mundo e nos marca. Quantas histórias e experiências muitos de nós carregam vindas do brincar e andar na rua e que contribuíram de formas diferentes para aquilo que somos e de que gostamos.
Como muitas vezes tenho escrito e afirmado, o eixo central da acção educativa, escolar ou familiar, é a autonomia, a capacidade e a competência para “tomar conta de si” como fala Almada Negreiros. A rua, a abertura, o espaço, o risco (controlado obviamente), os desafios, os limites, as experiências, são ferramentas fortíssimas de desenvolvimento e promoção dessa autonomia.
Curiosamente, se olharmos às nossas condições climatéricas, Portugal é um dos países com valores mais baixos no tempo dedicado a actividades de ar livre, situação com implicações menos positivas na qualidade de vida, nas suas várias dimensões, de miúdos e crescidos.
Talvez, devagarinho e com os riscos controlados, valesse a pena trazer os miúdos para a rua, mesmo que por pouco tempo e não todos os dias. Eles iriam gostar e far-lhes-ia bem.
Aliás, brincar é actividade mais séria que as crianças realizam.

MAS A GENTE VIVE DE QUÊ?

Há 400 mil pessoas sem emprego e sem subsídios

"Número de idosos com Complemento Solidário voltou a baixar"

"Abono de família chegou a mais de 1,1 milhões de crianças em julho"

"Rendimento Social de Inserção chega a menos 45.349 pessoas"

“Em Portugal 15 a 20% das pessoas saltam refeições por não terem dinheiro”

Segundo dados do Instituto de Segurança Social relativos a Julho, 47.2% dos desempregados inscritos nos Centro de Emprego não acedem ao subsídio de desemprego. A esta situação acresce a das mais de cem mil pessoas que já desistiram de procurar emprego e que também não têm subsídio.
Por comparação a Julho de 2013, o número de pessoas beneficiárias do Complemento Solidário para Idosos, atribuído a pessoas com mais de 65 anos no valor de 409.08 €,  baixou 23.4%.
Também no mesmo período o número de crianças com abono de família baixou 3,28 %.
Consideradas as pessoas em idade activa, os velhos e as crianças, falta referir os que estão do lado de fora, os descamisados, o Rendimento Social de Inserção também no mesmo espaço de tempo foi atribuído a menos 17.3%.
Dado que não se tem verificado qualquer subida significativa nos rendimentos familiares, antes pelo contrário, o abaixamento tão evidente do número global de pessoas a beneficiar de apoios sociais não decorre de melhoria das condições de vida das famílias mas obviamente dos cortes no universo dos apoios sociais.
Este cenário impressionante, que pode agravar-se com a sempre anunciada reforma do Estado, isto é, cortes nas suas funções sociais, coloca uma terrível e angustiante questão. Os milhares, muitos, de pessoas envolvidas vão (sobre)viver de quê?
Recordo-me a insustentável leveza da afirmação do líder parlamentar do PSD. Luís Montenegro, "A vida das pessoas não está melhor, mas a vida do país está muito melhor".
Até à solução final.

AUSTERIDADE REVISTA EM BAIXA

"Governo gasta um milhão em carros."
"Renovação da frota de 56 chefes de gabinete dos ministérios irá custar mais de um milhão de euros. Viaturas começaram a ser atribuídas em julho."

Aqui está uma medida acertada e que deve ser saudada, um incentivo à retoma no mercado automóvel.
As viagens de quem nos empobrece devem ser realizadas de forma confortável, com viaturas novas a dignidade própria das altas funções que exercem de forma muito competente e empenhada.
Os mercados agradecem, mais uma vez.

sábado, 23 de agosto de 2014

E O CARTEIRISMO FISCAL?

"Mais de dois milhões de euros furtados por carteiristas em Lisboa no ano passado"

Segundo dados da Divisão de Investigação Criminal de Lisboa a actividade dos carteiristas em 2013 terá rendido um montante superior a dois milhões de euros.
Durante 2013 Portugal terá sofrido uma das mais colossais cargas fiscais da Europa. Segundo a imprensa, depois de conhecidos no início da próxima semana os dados da execução orçamental o Governo poderá decidir por novo aumento de impostos no âmbito do orçamento rectificativo.
Estamos perante uma espécie de carteirismo fiscal com resultados evidentemente mais significativos.. Para utilizar a terminologia do mundo dos pequenos carteiristas, a todo o momento e circunstância, alguém está meter os dedinhos, os "baios" nas nossas carteiras, as "chatas", num verdadeiro assalto fiscal e legal.
No entanto, a linguagem deste carteirismo fiscal é também diferente e bem menos interessante que a dos pilha galinhas carteiristas, usa termos como, sacrifícios, défice, austeridade, recuperação, ajustamento, recessão, impostos, restrição orçamental, cortes, despesa, rigor, exigência, troika, etc., etc.
Uma outra diferença para o mundo artesanal dos carteiristas de rua e dos transportes públicos é ao nível da escala e dos recursos, o carteirismo fiscal trabalha com modelos bem mais actuais e com recursos bastante mais sofisticados. Tudo se transforma e como se sabe as actividades artesanais estão em desaparecimento e a atrair menos pessoas, são pouco rentáveis apesar de alguns ainda se dedicarem empenhadamente ao trabalho que tem uma dimensão de sazonalidade.
O carteirismo fiscal ou de outra natureza mas a uma escala maior, é na verdade muito mais rentável permitindo ainda ganhos colaterais, sempre do lado certo da lei mas nem sempre do lado certo da ética ou da moral.

A SÉRIO?!

"Segurança privada vigia quartéis das Forças Armadas"
Ao que se lê no CM, existem quartéis da Forças Armadas, repito, das Forças Armadas, que são vigiados por empresas de segurança privadas.
Como? O competentíssimo Ministro da Defesa, Aguiar Branco, entende, ao que parece, que as forças armadas portuguesas são incapazes ou não têm tempo para assegurar a vigilância das suas instalações pelo que decide dar uma ajudinha às empresas de segurança.
E não acontece nada?
Claro que não, numa terra de políticos irresponsáveis e inimputáveis.

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

O MEC EM MODO DEMAGÓGICO. Cobrir as escolas ou as necessidades das escolas

"Escolas vão contratar mais psicólogos neste ano lectivo"

Segundo MEC existem 424 psicólogos nos quadros dos estabelecimentos de ensino públicos. No ano passado foram contratados mais 181 a que se juntam 140 nos Territórios Educativos de Intervenção Prioritária e este ano o número sobe para 214, mais 33 técnicos sublinha o carismático Secretário de Estado do Ensino e da Administração Escolar, Casanova de Almeida o que corresponde às necessidades resultantes de uma avaliação da Direcção-Geral dos Estabelecimentos Escolares, claro, como no caso das necessidades dos professores em que o rigor tem imperado.
O MEC afirma que assim, 71% das escolas ou agrupamentos passam a ter um ou mais técnicos de psicologia a tempo inteiro (64% no ano anterior) e os restantes 29% tum técnico a meio tempo.
No comunicado o MEC diz ainda que fica assegurada “uma cobertura integral” dos agrupamentos e escolas não agrupadas.
Algumas notas sobre esta questão procurando resguardá-las de interesses corporativos sem discutir aqui a natureza específica, quer em termos de adequação, quer de qualidade da intervenção dos psicólogos no sistema educativo
Segundo a Ordem dos Psicólogos e o Sindicato Nacional dos Psicólogos seriam necessários mais 750 profissionais para, em conjunto com os já existentes, suprirem as carências do sistema educativo no que respeita à intervenção destes profissionais.
Esta estimativa radica na utilização de um rácio, um profissional por cada mil alunos, que está ainda acima do cenário existente em muitos países que usam rácios mais baixos. Conheço muitas situações em que existe, quando existe, um psicólogo para um agrupamento com várias escolas e que envolve um universo de mais de 3000 alunos e a deslocação permanente entre várias escolas numa espécie de psicologia em trânsito. Como em vários outros campos, é um fingimento de resposta. Nada de estranho e com muitos outros exemplos.
Das duas uma, ou se entende que os psicólogos sobretudo, mas não só, os que possuem formação na área da psicologia da educação podem ser úteis nas escolas como suporte a dificuldades de alunos, professores e pais, em diversos áreas, não substituindo ninguém, mas providenciando contributos específicos para os processos educativos e, portanto, devem fazer parte das equipas das escolas, base evidentemente necessária ao sucesso da sua intervenção, ou então, existirá quem assim pense no próprio MEC (veja-se o atraso na colocação dos poucos que o sistema tem), os psicólogos não servem para coisa nenhuma, só atrapalham e, portanto, não são necessários. Este entendimento contraria o que a experiência e o conhecimento da realidade de outros países aconselha mas como é hábito os exemplos de fora só são citados conforme os interesses.
Posso entender a existência de constrangimentos sérios mas não posso aceitar a demagogia e falta de seriedade intelectual.
O que o MEC se propõe fazer, “assegurar a cobertura integral” dos agrupamentos e escolas não agrupadas por técnicos de psicologia, é uma fraude manhosa. A questão não é, evientemente, a cobertura dos estabelecimentos é ASSEGURAR A COBERTURA DAS NECESSIDADES da comunidade educativa, alunos, professores, pais, funcionários, direcções e ainda a articulação com outros serviços. Dito de outa maneira, o critério de necessidade não é a unidade escola mas o universo que a compõe.
Com situações de agrupamentos com milhares de alunos esta afirmação é uma mentira.

Não estranho, já estou habituado, mas não gosto. 

UM AUMENTO DE IMPOSTOS CULTURAL, POR ASSIM DIZER

"Governo envia para o Parlamento proposta de lei para taxar dispositivos electrónicos"

"Deputado do CDS com reservas sobre proposta de lei que taxa telemóveis etablets"

"Taxa máxima sobre dispositivos digitais será de 20 euros"

Parece razoavelmente claro que estamos na presença de uma proposta de um aumento cultural, por assim dizer, de impostos. Pagaremos mais, mas usufruímos de música de fundo e a justificação prende-se com os direitos de autor.

O MAL-ESTAR COMO SEMENTE

"Fogos de 2013 na Covilhã terão sido causados por menor de 13 anos"

Apesar de a provocação de incêndios não ser muito vulgar, felizmente, são frequentes os episódios de comportamentos socialmente desajustados incluindo violência e abusos entre os mais novos o que nos leva a questionar os nossos valores, trabalho educativo (família, escola e comunidade), códigos e leis pela perplexidade que nos causam. Esta situação, uma série de incêndios propositadamente ateados é um exemplo.
A questão que me leva de novo a estas notas é mais no sentido de tentarmos perceber um processo que designo como "incubação do mal" que se instala nas pessoas, muitas vezes logo na adolescência, a partir de situações de mal-estar que podem passar relativamente despercebidas mas que, devagarinho, insidiosamente, começam interiormente a ganhar um peso insuportável cuja descarga apenas precisa de um gatilho, de uma oportunidade.
A fase seguinte pode passar por duas vias, uma mais optimista em que alguma actividade, socialmente positiva, possa drenar esse mal-estar, nessa altura já desregulação de valores, ódio e agressividade, ou, a outra via, aumenta exponencialmente o risco de um pico que pode ser um ataque numa escola, a bomba meticulosamente e obsessivamente preparada, incêndios provocados, como neste caso,  ou uma investida contra alguém arriscando a entrada numa espiral de violência cheia de "adrenalina", em nome de coisa nenhuma a não ser de um "mal-estar" que destrói valores e gente.
É evidente que apesar da punição e a detenção constituírem um importante sinal de combate à sensação de impunidade perigosamente presente na nossa comunidade, é minha forte convicção de que só punir e prender não basta.
Assim, sabendo que prevenção e programas comunitários e de integração têm custos, importa ponderar entre o que custa prevenir e os custos posteriores das consequências dos comportamentos, da violência, da delinquência continuada e da insegurança.
Finalmente, sublinhar a importância de uma permanente atenção às pessoas, desde pequenas,  ao seu bem-estar, tentando detectar, tanto quanto possível, sinais que indiciem o risco de enveredar por um caminho que se percebe como começa, mas nunca se sabe como acaba.

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

O BANHO PÚBLICO DE ÁGUA GELADA

Já não há saco. Não acontece um jornal televisivo que não surjam as "celebridades" e as "figuras públicas" no deprimente espectáculo de levar com um balde água gelada pela cabeça abaixo e comporem um ar de divertimento "fantástico". Chamam-lhe banho público.
Ao que parece é por uma boa causa, dizem. 
De facto, muitas "figuras públicas" e "celebridades" adoram colaborar nas boas causas, mostram o seu lado solidário e preocupado com os coitados que não são figuras públicas e celebridades e que sofrem com doenças ou circunstâncias de vida.
Assim, solidários e generosos, brincam a este jogo disparatado dos banhos e das nomeações num fingimento que embaraça e com um ar  feliz que nos deveria contagiar e fazer esperar ansiosamente que sejamos nomeados para o banho gelado. É verdade, já me esquecia, este momento mágico é só para as "figuras públicas" e celebridades", não é para qualquer um.
Como é evidente, o que quer que seja que resulte desta anedota pode ser útil a uma qualquer instituição ou causa. Justifica-se o "sofrimento" porque passam as "figuras publicas" e "celebridades".
Vão desculpar-me a gelada insensibilidade mas é um espectáculo cansativo, deprimente e de mau gosto.

ESTAMOS CONTRAFEITOS

"Aumentou seis vezes o valor dos produtos contrafeitos apreendidos pela ASAE"

A ASAE realizou apreensões num valor superior a oito milhões de euros no primeiro semestre deste ano, um aumento de 500% face a 2013.
Na verdade, nos últimos anos, as economias de muitos países, em Portugal com especial incidência, têm sofrido um ataque pesadíssimo através das práticas de contrafacção que envolvem muitos bilhões de euros em muitíssimas áreas.
Na verdade, também temos, como não podia deixar de ser, um florescente mercado de produtos contrafeitos que, através das populares "feiras" ou da mais sofisticada net, disponibilizam tudo o que se pretender, de qualquer marca, perdão "griffe". Ainda há pouco tempo me ofereceram com insistência uns óculos Armani, mesmo Armani, por 5 € que, obviamente, recusei, eram caríssimos apesar da excelência da qualidade e da marca, claro.
As organizações de defesa do consumidor, em particular a DECO, bem como a ASAE, destacam-se na forma como procuram combater a contrafacção, por vezes em acções com forte cobertura mediática, sempre no supremo interesse da “defesa do consumidor”. Assumindo, como qualquer de nós, esta condição de consumidor, não posso estar mais de acordo com esta atitude, embora possa discutir a mediatização e aparato de que se revestem muitas das acções desenvolvidas, apesar de, reconheça-se, ter aumentado a discrição.
Nesta perspectiva preocupa-me que a emergência e o alargamento destas situações em sectores tão importantes como a alimentação, possam retirar eficácia para lidar com um problema também muito sério, a presença de produtos de contrafacção na nossa vida política e na gestão dos grupos económicos o que, obviamente, compromete a sua qualidade.
Na verdade, a contrafacção no nosso cenário político e nas lideranças económicas que usam e abusam nos procedimentos e produção de produtos contrafeitos, de má qualidade ou tóxicos constitui uma enorme preocupação.
Quando analisamos e sentimos os discursos e as práticas das lideranças políticas e económicas percebe-se sem necessidade de recorrer a sofisticados dispositivos laboratoriais que se trata de produtos contrafeitos, muitos deles altamente tóxicos e ameaçadores da saúde social, económica, mental e física dos portugueses.
Seria, portanto, imprescindível que os elementos da classe política, de diferentes quadrantes, e da administração de empresas e grupos que são, obviamente, produtos contrafeitos e de uma falta de qualidade ameaçadora, sejam detectados e recolhidos por iniciativa da DECO ou da ASAE para que os eleitores e cidadãos não adquiram gato por lebre ou mesmo produtos ameaçadores do seu bem-estar.
Se assim não for ... estamos contrafeitos.

CRIANÇAS DEVOLVIDAS

"Adopção. No ano passado 11 crianças foram devolvidas às instituições"
O I retoma hoje uma matéria que poucas vezes é referenciada na imprensa, a devolução de crianças em processo de adopção que assim voltam a ser institucionalizadas. Há pouco tempo tinha sido noticiado pelo mesmo jornal a devolução de uma criança de 11 anos, adoptada há quatro anos, que alegadamente mostrava comportamentos desadequados na família adoptante mas não validados por quem o conhece. Na altura referia-se que a criança tem-se mostrado perplexa, muito inquieta e reactiva face a uma devolução que não sabe que aconteceu e a uma situação que não compreende, deixou, de novo, de ter uma família. Segundo o Relatório Casa 2013 foram devolvidas 11 crianças durante esse ano. À excepção da criança referida acima, todos as outras foram “devolvidas” ainda durante o processo de adopção.
Na verdade, os casos de “devolução" de crianças em processo de adopção são mais numerosos do que se imagina. Algumas das decisões tomadas pelos Serviços de Justiça são incompreensíveis, sobretudo se escrutinadas pelo “superior interesse da criança”.
Nos últimos anos registaram-se mais de 100 casos de crianças que foram devolvidas, isto é, viram o seu processo de adopção interrompido. Muitas destas situações deveram-se ao facto de as crianças "não corresponderem às expectativas" das famílias adoptantes.
Vejamos com mais atenção. Uma criança, por qualquer razão não tem uma família, está numa instituição, envolve-se num processo de adopção, entra numa família que entende passar a ser a SUA família, deve sentir-se num caminho bonito. Passado algum tempo é devolvida, provavelmente, sem perceber porquê e vive uma, certamente mais uma, experiência devastadora com efeitos que não podem deixar de ser significativos.
Como é evidente, admito que em circunstâncias excepcionais o processo possa ser interrompido mas, insisto, só mesmo numa situação limite depois de esgotados os dispositivos de apoio às famílias adoptantes.
A lei permite, não sei se terá sido alterada, que durante seis meses a criança possa ser devolvida, trata-se de um período de adaptação, uma espécie de contrato à experiência. O Juiz Armando Leandro presidente da Comissão Nacional de Protecção de Crianças e Jovens em Risco, reconhecia há algum tempo que a devolução não tem de ser baseada em "critérios necessariamente válidos". Também há algum tempo num trabalho sobre o mesmo tema, o DN citava um caso em que uma criança foi devolvida e trocada por outra porque não se adaptava ao cão da família. Outros casos de devolução envolvem dificuldades de adaptação a outros elementos da família ou a questões económicas.
Como é de prever, os serviços procuram na fase pré-adopção prevenir situações deste tipo, embora eles continuem a ocorrer.
Voltando ao tão apregoado "superior interesse a criança", é difícil imaginar o que se passará na cabeça de um miúdo que passa anos a construir uma ideia de família, a certa altura entra numa família a que chama sua e de repente dizem-lhe que volta a estar só, na instituição, porque ... não se dá bem com o cão ou não corresponde às expectativas. Que sentirá a criança?
Porquê? Não presta? Não a querem? ...
Mas as crianças, Senhores?

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

CRIANÇAS, VIOLÊNCIA VIRTUAL E VIOLÊNCIA REAL

"Os filhos exigiam-lhe um jogo de guerra. Ele levou-os a ver a guerra verdadeira"

Os filhos, 10 e 11 anos, de um cidadão sueco, professor niversitário e ex-jornalista, pediram-lhe que adquirisse o conhecido videojogo "Call of Duty" com conteúdos de violência significativa.
O pai combinou com eles que antes de o adquirir visitariam uma zona atingida pela guerra para que percebessem o universo real da violência.   
Visitaram a Síria, a Palestina e Israel e contactaram com várias situações resultantes da situação de guerra e violência.
Ao que parece, as crianças terão desistido da compra do jogo que, em qualquer caso, teriam de fazer a expensas suas.
Já aqui tenho escrito sobre esta questão dos videojogos e até mesmo do caso particular do "Call of Duty" que levantam reservas pelos conteúdos de alguns dos produtos e pelo risco de que fomentem uma ligação excessiva e real entre crianças e adolescentes e os ecrãs.
Para além dos custos económicos que esta abordagem terá tido para o pai, que vos parece a ideia?

PERPLEXIDADES DO MUNDO DA EDUCAÇÃO

"Ministério coloca nos quadros professores em idade de reforma"


Apesar de muitos anos por cá ainda sou atingido pela perplexidade.
Entre os professores com muitíssimos anos de experiência, sempre a contrato, que conseguiram agora a vinculação que lhes proporciona estabilidade e segurança na carreira, 16 já têm mais de 60 anos, destes, 3 estão em idade de se reformar, têm entre 66 e 68 anos e uma docente que esteve a contrato durante 25 anos, 25 anos, repito, fará em Setembro 70 anos sendo, por isso, obrigada a aposentar-se.
Parece uma notícia da "silly season" mas é uma situação elucidativa do mundo estranho e incompetente da gestão dos professores e das suas carreiras durante décadas de política educativa no nosso sistema educativo.
Não adianta justificar esta bizarrice com os procedimentos e critérios administrativos. Passar 25 anos de vida profissional, de contrato em contrato com o mesmo empregador, obter, finalmente, um lugar de carreira mesmo, mesmo a tempo de se reformar no mês seguinte por atingir o limite de idade, os 70 anos, desafia a imaginação e mostra o que não deve acontecer.

UMA HISTÓRIA DE AMOR

Num tempo tão malino em que vivemos à míngua de notícias boas surge uma história de amor, coisa importante e que merece reflexão.
O Rapaz e a Rapariga, 16 e catorze anos, vivem lá para os lados de Custóias, Matosinhos. A Rapariga foi para Braga onde mora a avó. O Rapaz não aguentou a separação e foi ver a Rapariga a Braga.
Às tantas ficaram com medo que a Rapariga ficasse a viver em Braga, um mundo de lonjura da casa do Rapaz.
“E se fugíssemos?”, pensaram o Rapaz e a Rapariga, “Assim estaremos juntos”.
“Voltamos já”, escreveram num bilhete e foram ser felizes.                    .
Fizeram-se ao mundo começando por percorrer o caminho de Braga para Vila Nova de Gaia seguindo a linha do comboio, uma decisão que acrescenta poesia à história.
Dormiram por onde calhou e sobreviveram de amor além de que “Pedíamos para comer qualquer coisa nos cafés e bebíamos água", diz a Rapariga perante o olhar silencioso do Rapaz.
A família assustou-se mas o Rapaz e a Rapariga voltaram a casa ao fim de três dias.
E escreveram esta história de amor, oxalá não saiam da história.

EMPREENDEDORISMO AMIGUISTA

"Amigo de Portas dá negócio da China"

Mais um exemplo do empreendedorismo pantanoso que floresce a coberto da teia do amiguismo político.
De facto, a roda livre de impunidade e incumprimento dos mais elementares princípios éticos quando não da lei, produziu nas últimas décadas uma família alargada que, à sombra dos aparelhos partidários e através de percursos políticos, se movimentam num tráfego intenso entre entidades e empresas públicas e entidades privadas, promovendo frequentemente em negócios que insultam os cidadãos. 
Esta família alargada envolve gente de vários quadrantes sociais e políticos com uma característica comum, os negócios obscuros de natureza multifacetada e de escala variável, desde o jeitinho para o emprego para o amigo até aos negócios de muitos milhões.
Esta família conta ainda com a cooperação de um sistema de justiça talhado à sua medida pelo que raramente se assiste a alguma consequência decorrente dos negócios da família.
Curiosamente, mas sem surpresa, todos os membros desta família, quando questionados sobre os seus negócios ou envolvimento em algo, afirmam, invariavelmente que tudo é feito tudo dentro da lei, nada de incorrecto e, portanto, estão sempre de consciência tranquila.
Alguém poderia explicar a esta gente que, primeiro, não somos parvos e, segundo, o que quer dizer consciência.

Esta é a pantanosa pátria, nossa amada.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

A INDOMESTICÁVEL VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. Enésimo episódio

"Marido ateou fogo à mulher depois de anos a fio de violência doméstica"

"Avisaram Adélia para não abrir a porta ao ex-marido. Agora está entre a vida e a morte"

Para além da gravidade e frequência com que continuam a acontecer episódios gravíssimos de violência doméstica, é ainda inquietante o facto de que alguns realizados em Portugal evidenciam um elevado índice de violência presente nas relações amorosas entre gente mais nova mesmo quando mais qualificada. Muitos dos intervenientes remetem para um perturbador entendimento de normalidade o recurso a comportamentos que claramente configuram agressividade e abuso ou mesmo violência.
Importa ainda combater de forma mais eficaz o sentimento de impunidade instalado, as condenações são bastante menos que os casos reportados e comprovados, bem como alguma “resignação” ou “tolerância” das vítimas face à percepção de eventual vazio de alternativas à separação ou a uma falsa ideia de protecção dos filhos que as mantém num espaço de tortura e sofrimento
Nesta perspectiva, torna-se fundamental a existência de dispositivos de avaliação de risco e de apoio como instituições de acolhimento acessíveis para casos mais graves e, naturalmente, um sistema de justiça eficaz e célere. 

A CULTURA DE PROTECÇÃO DE CRIANÇAS E JOVENS

"Pediatra pede a todos os cidadãos que estejam atentos a sinais de maus tratos"

De há muito e a propósito de várias questões, que afirmo que em Portugal, apesar os progressos realizados e de existirem vários dispositivos de apoio e protecção às crianças e jovens e de existir legislação no mesmo sentido, sempre assente no incontornável “supremo interesse da criança", ainda nos falta algo de muito importante, uma cultura sólida de protecção das crianças e jovens de que temos exemplos com regularidade. 
Ainda acontece que depois de alguns episódios mais graves se oiça uma expressão que me deixa particularmente incomodado, a criança estava “sinalizada” ou “referenciada” o que foi insuficiente para a adequada intervenção. Em Portugal sinalizamos e referenciamos com relativa facilidade, a grande dificuldade é minimizar ou resolver os problemas das crianças referenciadas ou sinalizadas.
Neste quadro continua a ser absolutamente necessário que as pessoas que lidam com crianças, designadamente na área da saúde e da educação, sejam capazes de “ler” os miúdos e os sinais que emitem de que algo se passa com eles.
Esta atitude de permanente, informada e intencional atenção aos comportamentos e discursos dos miúdos é, do meu ponto de vista, uma peça chave para minimizar a tragédia dos maus tratos e negligência envolvendo crianças.

EXPLIQUEM-ME DEVAGARINHO ...

"Médicos cubanos já terão custado 12 milhões de euros ao Estado"

... porque é que médicos portugueses estão a emigrar, existem 1,6 milhões de portugueses sem médico de família e o Governo contrata médicos cubanos a quem paga mais que aos médicos portugueses que desempenham as mesmas funções.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

NECESSIDADES REAIS E PERMANENTES. DURANTE 14 ANOS?!

"Professores que conseguiram entrar no quadro têm, em média, 14 anos de serviço a contrato"

"Professores excluídos têm em média 16 anos de serviço"

Os resultados do concurso extraordinário de vinculação para os professores apesar de previsíveis não deixam de causar alguma perplexidade.
De facto, a concurso apresentaram-se 26573 docentes tendo obtido a vinculação 1954, um em cada 10. O mais significativo é que a média de idade dos professores que obtiveram vínculo é de 41 anos de idade, uma excelente altura para obter alguma estabilidade na carreira profissional e apresentam em média 14 anos de serviço como contratados, repito, 14 anos de serviço como contratados. Tratando-se do valor médio importa salientar que há casos de professores com mais de 20 anos de serviço prestado e avaliado sem qualquer vínculo e mesmo um docente com 30 anos de serviço que, finalmente, consegue um lugar no quadro, é obra. Acontece ainda que os docentes não vinculados e classificados imediatamente a seguir aos que conseguiram vinculação possuem em média 16 anos de experiência docente. Só um país muito rico ou muito mal gerido desperdiça os seus recursos humanos desta forma, estando ainda por verificar o impacto do não cumprimento por parte do Governo português da directiva comunitária que não permite o abuso de contratos sucessivos e prolongados sem acesso ao quadro..
O Ministro Nuno Crato afirma recorrentemente que estas contratações correspondem a “necessidades reais e permanentes”. Só agora chegou a esta notável conclusão.
Estes professores não andaram estes anos todos a colmatar “necessidades reais e permanentes” do sistema? Haja seriedade.
Em que outra profissão pode acontecer milhares de pessoas prestarem de forma continuada durante anos, muitos anos, serviço ao mesmo empregador sem aceder a um vínculo estável que lhes permita criar uma imagem de futuro e uma perspectiva de carreira.
Como muitas vezes tenho afirmado, parece-me claro que a questão do número de professores necessário ao funcionamento do sistema é uma matéria bastante complexa que, por isso mesmo, exige serenidade, seriedade, rigor e competência na sua análise e gestão, justamente tudo o que tem faltado em todo este processo desde há muito e, incluindo a alguns discursos de representantes dos professores.
Para além da questão da demografia escolar que, aliás, o MEC sempre tratou de forma incompetente e demagógica, as necessidades ou o “excesso” de professores no sistema, como entende o MEC, deve ser também analisado à luz das medidas da PEC – Política Educativa em Curso. Vejamos alguns exemplos.
Em primeiro lugar, a mudança no número de professores necessário decorre do aumento do número de alunos por turma que, conjugado com a constituição de mega-agrupamentos e agrupamentos leva que em muitas escolas as turmas funcionem com o número máximo de alunos permitido, ou mesmo acima, com as evidentes implicações negativas que daí decorrem.
As mudanças curriculares com a eliminação das áreas não curriculares que, carecendo de alterações registe-se, também produzem um desejado e significativo “corte” no número de professores, a que acrescem outras alterações no mesmo sentido.
O Ministro “esquece-se” sempre, obviamente, destes “pormenores”, apenas se refere à demografia, em termos errados e habilidosos, e aos recursos disponíveis para, afirma, definir as necessidades “reais e permanentes”, processo obviamente incompetente.
Este conjunto de medidas, além de outras, virão a revelar-se, gostava de me enganar, muito mais caras do que aquilo que o MEC poupará na diminuição do número de docentes que ficarão no desemprego, muitos deles tendo servido o sistema durante anos.
Milhares de professores vão ficar sem trabalhar, não porque sejam incompetentes, a maioria não o é e possui uma vasta experiência, não porque não sejam necessários, a maioria é, mas “apenas” porque é preciso cortar, cortar, custe o que custar.

NA VERDADE ...

"Pai de bebé que morreu queimado com água a ferver fica detido, a mãe foi libertada"

As coisas nem sempre são o que parecem, o que pensamos que são ou mesmo o que gostávamos que fossem.
Na verdade, há pais que fazem mal aos filhos.
Na verdade, há filhos que fazem mal aos pais.
Na verdade, há professores que fazem mal aos alunos.
Na verdade, há alunos que fazem mal aos professores.
Na verdade, há velhos que fazem mal aos novos.
Na verdade, há novos que fazem mal aos velhos.
Na verdade, ...
Na verdade, há pessoas que fazem mal a pessoas.
Na verdade, ... o mundo é um lugar estranho e ... às vezes ... muito feio.