"Professores que conseguiram entrar no quadro têm, em média, 14 anos de serviço a contrato"
"Professores excluídos têm em média 16 anos de serviço"
Os resultados do concurso extraordinário de vinculação para os professores apesar de previsíveis não deixam de causar alguma perplexidade.
De facto, a concurso apresentaram-se 26573 docentes tendo
obtido a vinculação 1954, um em cada 10. O mais significativo é que a média de
idade dos professores que obtiveram vínculo é de 41 anos de idade, uma
excelente altura para obter alguma estabilidade na carreira profissional e
apresentam em média 14 anos de serviço como contratados, repito, 14 anos de
serviço como contratados. Tratando-se do valor médio importa salientar que há
casos de professores com mais de 20 anos de serviço prestado e avaliado sem
qualquer vínculo e mesmo um docente com 30 anos de serviço que, finalmente, consegue um lugar no quadro, é obra. Acontece ainda que os docentes não vinculados e classificados imediatamente a seguir aos que conseguiram vinculação possuem em média 16 anos de experiência docente. Só um país muito rico ou muito mal gerido desperdiça os seus recursos humanos desta forma, estando ainda por verificar o impacto do não cumprimento por parte do Governo português da directiva comunitária que não permite o abuso de contratos sucessivos e prolongados sem acesso ao quadro..
O Ministro Nuno Crato afirma recorrentemente que estas
contratações correspondem a “necessidades reais e permanentes”. Só agora chegou
a esta notável conclusão.
Estes professores não andaram estes anos todos a colmatar “necessidades
reais e permanentes” do sistema? Haja seriedade.
Em que outra profissão pode acontecer milhares de pessoas
prestarem de forma continuada durante anos, muitos anos, serviço ao mesmo
empregador sem aceder a um vínculo estável que lhes permita criar uma imagem de
futuro e uma perspectiva de carreira.
Como muitas vezes tenho afirmado, parece-me claro que a
questão do número de professores necessário ao funcionamento
do sistema é uma matéria bastante complexa que, por isso mesmo, exige
serenidade, seriedade, rigor e competência na sua análise e gestão, justamente
tudo o que tem faltado em todo este processo desde há muito e, incluindo a
alguns discursos de representantes dos professores.
Para além da questão da demografia escolar que, aliás, o MEC
sempre tratou de forma incompetente e demagógica, as necessidades ou o
“excesso” de professores no sistema, como entende o MEC, deve ser também analisado
à luz das medidas da PEC – Política Educativa em Curso. Vejamos alguns
exemplos.
Em primeiro lugar, a mudança no número de professores
necessário decorre do aumento do número de alunos por turma que, conjugado com
a constituição de mega-agrupamentos e agrupamentos leva que em muitas escolas
as turmas funcionem com o número máximo de alunos permitido, ou mesmo acima,
com as evidentes implicações negativas que daí decorrem.
As mudanças curriculares com a eliminação das áreas não
curriculares que, carecendo de alterações registe-se, também produzem um
desejado e significativo “corte” no número de professores, a que acrescem
outras alterações no mesmo sentido.
O Ministro “esquece-se” sempre, obviamente, destes
“pormenores”, apenas se refere à demografia, em termos errados e habilidosos, e
aos recursos disponíveis para, afirma, definir as necessidades “reais e
permanentes”, processo obviamente incompetente.
Este conjunto de medidas, além de outras, virão a
revelar-se, gostava de me enganar, muito mais caras do que aquilo que o MEC
poupará na diminuição do número de docentes que ficarão no desemprego, muitos
deles tendo servido o sistema durante anos.
Milhares de professores vão ficar sem trabalhar, não porque
sejam incompetentes, a maioria não o é e possui uma vasta experiência, não porque não sejam necessários, a
maioria é, mas “apenas” porque é preciso cortar, cortar, custe o que custar.
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