"Se as consultas demorassem só 15 minutos, não havia falta de médicos de família"
Uma auditoria do Tribunal de
Contas aos serviços de saúde sugere duas orientações que pretendem a melhoria
do Serviço Nacional de Saúde e que merecem umas notas breves.
A primeira orientação é aligeirar
a carga de funções administrativas imputadas aos médicos libertando-os para a
prática clínica. Habituados que estamos a esta excessiva burocracia nos
serviços da administração e nos custos em desperdício de tempo e esforço e
perda de eficácia poderá fazer sentido.
A segunda orientação e que
suscita alguma inquietação envolve encurtar o tempo médio de consulta de 21
minutos, a duração média em 2013 para 15 minutos, se for "razoável" acautelam os
auditores. Tal medida, afirmam, eliminaria a falta de médicos de família que
afectava, em 2013, 21,4% da população utente, 1,6 milhões de portugueses que
sofrem a degradante e indigna situação que as frequentes notícias reportam, a
luta por uma consulta, sem garantia de a conseguir, indo a meio da noite para a
porta do centro de saúde.
Aqui está uma espécie de ovo de
Colombo, levando à letra a conhecida "visita de médico" haveria
médicos para todos. Com um pouco mais de ambição, porque não 5 minutos ou ainda menos?
Oxalá Nuno Crato não se lembre de
diminuir mais as horas de aulas para precisar de menos professores que se juntariam aos
30 000 que saíram nos últimos três anos.
Parece razoavelmente claro que
para realização de uma consulta médica, não apenas o preenchimento de receituários ou da
requisição de exames complementares, 15 minutos são insuficientes para um
trabalho de qualidade.
Como é sabido, muitas das pessoas
que recorrem às consultas são idosas que frequentemente sofrem de
“sozinhismo”,a doença de quem vive só, que se minimiza no convívio com outros
sós na sala de espera e na atenção de um médico que escuta, por vezes, mais a
dor da alma que as dores do corpo.
Já estive envolvido em
circunstâncias, pessoais ou acompanhando familiares, em que o médico claramente
estava pressionado pelo tempo que (não) podia dedicar, a atitude que (não)
podia demonstrar, a comunicação que (não) podia estabelecer. As muitas pessoas
com horas de espera na sala inibem-no na disponibilidade e tempo necessário a
uma consulta que, de facto, o seja, e não um acto administrativo realizado sob
pressão da "produtividade".
Ainda assim nada que se estranhe
num tempo em que os números se sobrepõem às pessoas.
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