"O meu filho acabou o secundário mas não vai para a universidade"
Umas notas sobre o universo em
abordagem no Público sobre os jovens que não prosseguem estudos no ensino
superior.
No início do ano um estudo
patrocinado pela Comissão Europeia em oito países da Europa revelava, sem
surpresa, que Portugal apresenta uma das mais altas percentagens, 38%, de
jovens que gostava de prosseguir estudos mas não tem meios para os
pagar. É também preocupante que apenas 56% dos estudantes que realizaram os
últimos exames nacionais do Secundário revelaram a intenção de continuar
estudos no ensino superior. O número tem vindo a baixar ao longo dos últimos
anos sendo que as dificuldades económicas são a principal razão para não
continuar.
É ainda de relembrar que de
acordo com o Relatório da OCDE, Education at a glance 2013, Portugal
é um dos países europeus em que a frequência de ensino superior mais depende do
financiamento das famílias, cerca de 31% dos gastos de universidades e
politécnicos. A média da OCDE é 32% e a da União Europeia, 23,6%.
Esta informação não é nova. Na
verdade e como é do conhecimento das pessoas mais perto deste universo, o
ensino superior em Portugal, contrariamente ao que muita gente afirma de forma
leviana, tem um dos mais altos custos de propinas da Europa. Conforme dados de
2011/2012 da rede Eurydice, Portugal tem o 10º valor mais alto de propinas na
Europa, mas se se considerarem as excepções criadas em cada país, tem
efectivamente o terceiro custo mais alto no valor das propinas.
Em 2012 foi divulgado um estudo
realizado pelo Instituto de Educação da Universidade de Lisboa que contribui
para desmontar um equívoco que creio instalado na sociedade portuguesa.
Comparativamente a muitos outros países da Europa, Portugal tem um dos mais
altos custos para as famílias para um filho a estudar no ensino superior, ou
seja, as famílias portuguesas fazem um esforço bem maior, em termos de
orçamento familiar, para que os seus filhos acedam a formação superior. Se
considerarmos a frequência de ensino superior particular o esforço é ainda
maior. Percebe-se assim a taxa altíssima de jovens que exprimem a dificuldade
de prosseguir estudos.
Tem vindo a ser regularmente
noticiada a desistência da frequência dos cursos por muitos alunos que, por si,
ou os respectivos agregados familiares não suportam os encargos com o estudo.
As dificuldades pelas quais
passam muitos estudantes do ensino superior e respectivas famílias, quer no
sistema público, quer no sistema privado, são, do meu ponto de vista,
considerados frequentemente de forma ligeira ou mesmo desvalorizadas. Tal
entendimento parece assentar na ideia de que a formação de nível superior é um
luxo, um bem supérfluo pelo que ... quem não tem dinheiro não tem vícios.
Neste quadro, a redução
significativa das bolsas e apoios, as dificuldades enormes que muitas famílias
atravessam e o desemprego mais elevado entre os jovens, que poderia constituir
uma pressão para continuar os estudos, as elevadas propinas, designadamente no
2º ciclo, tornam ainda mais difícil a realização de percursos escolares que
promovam mobilidade social e que se traduzem, por exemplo, no aumento das
desistências.
Considerando, tal como Relatório
da OCDE refere, o ainda baixo nível de qualificação da população portuguesa e
quando se sabe que a minimização das assimetrias depende, também, da educação e qualificação, o seu preço e as dificuldades actuais,
longe de as combater, alimenta-as. Portugal é um dos países em que a qualificação de nivel superior é mais compensadora. Nós não temos qualificação a mais, temos desenvolvimento a menos.
Também o objectivo estabelecido
pela UE de que em 2020 se atingisse 40% de licenciados entre os 30 e os 34 anos
parece cada vez mais inatingível.
Boas férias se e quando for caso
disso.
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