"Salgado culpa crise e gestores da família"
Ao que parece, um antigo Espírito
Santo e actual Ricardo Salgado vai assentar a sua estratégia de defesa na cena
canalha em que está envolvido, responsabilizando a crise e todos os outros que
andavam à sua volta.
Confesso que esperava um pouco
mais de um Espírito Santo. Culpar a crise e os outros parece pouca coisa. O enxame
de advogados muito bem pagos que se responsabilizarão pela parte operacional
terão de ser mais criativos e eficientes. Estou, aliás, convencido de que o
serão e farão uso de todas os buracos e alçapões que as leis que esses
escritórios de advogados também produziram contêm para que finalmente um
espírito Santo passe a ser um Espírito Livre, provavelmente, à nossa custa.
No entanto a ideia de Ricardo
Salgado para a sua defesa é uma manifestação da sua "tugalidade", é
um verdadeiro tuga.
De facto, também ele acredita na
existência de uma entidade mítica responsável por tudo, sobretudo de menos bom,
o que nos acontece e nos diz respeito. Não, não estou a falar de uma entidade
divina, de um Espírito Santo, estou a falar de algo mais complexo, se assim se
pode dizer. Estou a referir-me a “ELES”. Se bem repararem, “ELES” estão
absolutamente enraizados nos nossos discursos quotidianos. Apenas alguns
exemplos. “Só querem o deles”, “Eles é que mandam”, “A culpa é deles”, “Eles
querem assim, a gente faz”, “Eles apanham-se lá e estão-se nas tintas”, “Eles
não fazem nada”, “Eles aumentam tudo”, “Isso é que era bom, faço como eles, que
se lixe”, “Eles só fecham coisas”, “Eles só falam”, “Eu fazer mais? Façam
eles”, “Eles têm grandes ordenados e depois não chega para a gente”, “Eles dão
maus exemplos querem que a gente faça o quê?”, “Eles estão cheios dele e a
malta na miséria”. “Eles pensam que somos parvos”, "Eles lá na Europa
decidem e a gente lixa-se", etc. etc.
O mais curioso, é que quando se
tenta perceber sobre quem objectivamente estamos a falar, parece que se trata
de todos menos de mim, ou seja, é sobre ELES. E assim explicamos a nossa
vidinha. Como se vê no discurso de Ricardo Salgado, é apenas uma questão de
escala.
PS – Por vezes, a referência a
“ELES” é substituída pela fórmula, “OS GAJOS” o que empresta uma natureza
bastante mais popular aos discursos.
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