Li no CM e, estranhamente, não encontrei mais nenhuma referência, que o MECI informou na reunião com sindicatos de professores que irá desencadear uma alteração no modelo de gestão das escolas. As negociações iniciar-se-ão a 21 de Outubro e estarão concluídas no primeiro trimestre de 2025. Mais se lê que “Em cima da mesa estará a forma de eleição dos directores, o grau de autonomia das escolas e outros temas”.
Apesar de muitas vezes aqui ter referi a necessidade de
rever o modelo de governança das escolas fiquei surpreendido, mas naturalmente
agradado, com a divulgação. Como tem acontecido em recentes medidas do MECI
espero que “fazer a coisa certa” seja também “fazer certa a coisa”. A ver
vamos.
São recorrentes a divulgação e o conhecimento por parte de quem
se move neste universo de inúmeras situações negativas envolvendo a direcção de
escolas e agrupamentos como, também devemos registar, situações que correm de
forma positiva dentro do que se pode esperar num universo tão complexo como a
educação.
Retomo algumas notas sobre a direcção de escolas e
agrupamentos. O modelo de direcção unipessoal das escolas e agrupamentos e a
forma como é desempenhado volta com regularidade à agenda incluindo o
questionar do próprio modelo face a uma direcção colegial. Têm existido estudos
de opinião e tomadas de posição individuais ou manifestos que alimentam a
discussão ou mesmo a necessidade de alterar o modelo de direcção.
Como já tenho afirmado a propósito de outras matérias,
talvez fruto do ambiente de fortíssima tensão que nos últimos anos envolve a
educação, os debates e as ideias também tendem a ser crispados, com opiniões
definitivas e sem margem de entendimento e, frequentemente, com agendas menos
explícitas. O modelo de gestão das escolas será apenas mais um exemplo deste
cenário.
Com o atrevimento de quem não vive por dentro o quotidiano
das escolas, mas que nas últimas décadas tem, como profissional e como cidadão,
acompanhado de forma atenta o universo da educação, recupero algumas reflexões
que já aqui deixei e que continuam actuais.
Conforme tenho dito, sempre me pareceu claro que a
transformação da direcção de escolas e agrupamentos num modelo unipessoal e a
sua forma de eleição através dos conselhos gerais, acompanhada por uma política
de mega-agrupamentos diminuindo substancialmente o número de unidades
orgânicas, gosto desta designação, se inscreveu na sempre presente tentação de
controlo político do sistema. A experiência tem vindo a evidenciar essa
situação.
São conhecidos casos, alguns chegam à imprensa, de processos
de eleição de direcções escolares que mais não são do que formas de colocar
pessoas com o alinhamento certo na função. Aliás, o próprio funcionamento dos
Conselhos Gerais é, em algumas situações, um exemplo disto mesmo. Assim sendo,
o modelo de gestão unipessoal e a forma de eleição dos directores não são
garantias de “mais democracia” ou “melhor democracia” nas escolas.
Dado um pecado estrutural do nosso sistema educativo, a
ausência ao longo de décadas de dispositivos eficientes de regulação, coexistem
boas experiências e práticas em situações de direcção unipessoal com situações
bem negativas.
Por outro lado, importa recordar que, em muitas
circunstâncias, também a “gestão democrática", de democrática não tinha
assim tanto e também se verificavam casos gritantes de menor competência.
Dito isto, parece-me que tanto quanto ou mais do que o
modelo de direcção, unipessoal ou colegial, julgo de reflectir na forma de
eleição, participam todos os docentes ou um pequeno grupo que “representa” o
corpo docente no conselho geral, o mesmo se passando com os funcionários.
Por outro lado, também me parece que deve existir um claro
reforço do papel dos Conselhos Pedagógicos no funcionamento de escolas e
agrupamentos. Parece-me também clara a vantagem da presidência do Pedagógico
ser claramente independente da direcção da escola, sobretudo num modelo de
direcção unipessoal.
Importa também que a reflexão sobre a direcção de escolas e
agrupamentos seja acompanhada de uma verdadeira reflexão sobre o quadro de
autonomia nas suas várias dimensões e equilíbrios. Qual o efeito da
municipalização ou “proximidade”, como também lhe chamam, na autonomia e
funcionamento de escolas e agrupamentos.
É claro que quanto mais sólido for o modelo de autonomia das
escolas mais importante se torna o papel e função da direcção,
independentemente do modelo. Esta é do meu ponto de vista a questão central.
Muitos estudos e a experiência mostram que nas organizações,
incluindo escolas, a qualidade das lideranças tem um impacto forte no
desempenho, em diferentes dimensões, das instituições e também de todos os que
nela funcionam. Boas lideranças escolares traduzem-se em melhores e mais
estáveis climas de trabalho, maior nível de colaboração entre os profissionais,
menor absentismo, melhores resultados ou menos incidentes de natureza
disciplinar, ambientes escolares mais amigáveis em termos de educação inclusiva,
melhor relação com pais e comunidade, entre outros aspectos. Como exemplo, em
2019 um estudo realizado pela Universidade do Porto da Universidade do Porto
sugeria que o estilo de liderança dos directores das escolas tem um impacto
importante na motivação dos professores pois existe uma “correlação
significativa entre a forma como são geridos os estabelecimentos de ensino e a
relação que os docentes têm com a sua profissão. Creio que o cenário não se terá alterado.
Camões já afirmava que um “fraco Rei faz fraca a forte
gente” o que numa actualização republicana poderá entender-se como a defesa de
lideranças competentes, com uma gestão participada, com mecanismos de eleição
alargados, transparentes, escrutinados e com, insisto, mecanismos de regulação
que previnam excessos e abusos.
Alguns episódios na contratação de docentes ou de
funcionários e nos processos que envolvem técnicos e docentes, são exemplos em
ter em conta pela forma negativa como foram geridos ou desencadeados por
algumas direcções de escolas de escolas e agrupamentos.
Vamos ver como e quando conseguiremos a estabilidade
imprescindível ao trabalho de todos os envolvidos nas comunidades escolares.