Ontem abordei aqui o clima de escola numa perspectiva preocupante, o mal-estar que muitos alunos e professores sentem no seu dia por diversas razões.
Hoje achei que é preciso
relembrar a escola tal como a imaginamos e desejamos. Vou recorrer a um texto
que aqui deixei relativo à entrada na escola do meu neto pequeno, o Tomás em
2022.
Escrevi assim:
O meu neto pequeno, o Tomás,
está a iniciar a longa estrada da escolaridade obrigatória, até já aprendeu as
letras O, A do nome. Os primeiros dias na escola nova não foram fáceis, a
vontade era ficar em casa. Tivemos até uma tentativa de ajuda do Simão, já
está no 4º ano, é muita experiência, que quando o Tomás lhe disse que não
queria ir para escola, respondeu, “mano, tem de ser, são as leis da física”.
Ainda estamos a tentar compreender a abordagem.
A verdade é que rapidamente a
situação se alterou e o Tomás vai muito contente para escola e a forma como
dela fala mostra que se sente muito bem.
Um destes dias quando ia a
caminho da escola, interpela o pai mais ou menos nestes termos, “lembras-te
quando no segundo dia eu não queria ir para escola, queria ir para casa da avó?
Era porque ainda não tinha pessoas que gostassem de mim. Agora já tenho”.
É verdade, a educação escolar,
a acção do professor, tem esse princípio fundador, assenta na relação que se
operacionaliza na comunicação e se tempera com a emoção. Também por isso são
também preocupantes os tempos que vivemos, os professores têm pouco tempo para
comunicar, para conversar com os alunos e as emoções, por vezes, entram em
turbulência e descontrolo.
Também a pressão para os
resultados, a natureza dos conteúdos e gestão curriculares, o número de alunos
por turma e o número de turmas ou a burocracia, dificultam essa relação. O
professor “fala com o programa”, a maioria dos alunos entende, outros não e com
esses é preciso falar, mas … para os mandar calar ou até sair. Há pouco tempo
para conversar, para “cativar”, como diria Saint-Exupéry.
Por isso tantas vezes afirmo
que os professores, tanto ou mais do que ensinar o que sabem, ensinam o que
são. Quando nos lembramos com ternura e admiração de alguns professores é pelo
que eles eram e nem sempre pelo que nos ensinaram apesar da importância que
tenha tido.
Pensemos no tempo e no modo
para que nas salas de aula os professores e os alunos, todos os alunos, tenham
o tempo e a circunstância que lhes permita comunicar, entre si, com a razão e
com a emoção. Irão aprender e ser.
E mais provavelmente gostarão
da escola, onde estão pessoas que gostam deles.
Recordo uma história que já
aqui contei. Há uns tempos, num trabalho com professores numa cidade do
interior, um Professor, dos grandes, contava que tinha uma experiência muito
interessante com uma turma CEF, as dos "alunos de segunda" como muitas
vezes são vistas. O Professor comentava com os miúdos como estava satisfeito
com as mudanças positivas que eles apresentavam e perguntava a que se deviam.
Um dos miúdos, o
"chefe", respondeu "sabe, boceses gostam da gente, falam com a
gente e a gente gosta de boceses". Quando nos contou isto o professor não
escondeu a emoção.
E eu nunca esqueci e sei que a
escola, felizmente, também é isto.
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