Há poucos dias foram divulgados
dados de um inquérito realizado pelo movimento Escola Pública que mostram um
retrato preocupante do clima das escolas. Mais de metade dos docentes
inquiridos, 55,4%, refere que já foi “vítima de agressões físicas ou verbais
por parte dos alunos”. A indisciplina é considerada como o factor com mais
impacto no quotidiano dos professores e o que mais afecta o seu bem-estar seguido
da carga burocrática associada ao seu trabalho, 26,4% das respostas.
Na mesma linha um levantamento efectuado
recentemente pela Federação Nacional da Educação mostra que os casos de
indisciplina em ambiente escolar aumentaram em cerca de 5% a 6% no último ano
lectivo face ao anterior.
Os tempos vão duros para toda a
comunidade e, naturalmente, também se repercutem na escola. Como muitas vezes
aqui abordo, a escola, a instituição escola, vive ela própria tempos
complicados, envelhecimento, desencanto e cansaço em muitos docentes que interage
com a falta de professores, climas institucionais nem sempre amigáveis e fonte
de apoio e tranquilidade, falta de recursos, de auxiliares de educação e
técnicos, um modelo de governança que, demasiadas vezes faz parte dos problemas
das escolas e nõ das soluções, um caminho de “municipalização” que levanta dúvidas, alterações nos quadros
de valores e representações das comunidades que se traduzem na relação com a escola e com os professores com frequentes
episódios de hostilidade e agressão, algumas dimensões inadequadas das
políticas públicas de educação, etc., etc.
No entanto, é esse o ponto que
queria sublinhar, apesar de como aqui tantas vezes tenho referido considerar
urgente a reflexão e intervenção adequada relativamente aos problemas dos
alunos, aprendizagens e comportamentos, às questões sérias que envolvem os
professores incluindo as de natureza profissional, às relações interpessoais e
clima social ou de organização, ao funcionamento e governação das escolas, não
simpatizo com a alimentação da ideia de que todos os que diariamente chegam às
escolas entram no inferno.
Sublinho, no entanto, que este entendimento
não invalida o saber que para alguns professores, funcionários e alunos a
escola será mesmo … o inferno.
A verdade é que, apesar de todos
os constrangimentos e dificuldades e do que ainda está por fazer, o trabalho
desenvolvido por professores, técnicos, funcionários e alunos é bem-sucedido na
maioria das situações e isso deve ser sublinhado. De uma forma geral,
professores, técnicos, funcionários e alunos, quase todos, fazem a sua parte.
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