quinta-feira, 24 de outubro de 2024

CLIMA DAS ESCOLAS

Há poucos dias foram divulgados dados de um inquérito realizado pelo movimento Escola Pública que mostram um retrato preocupante do clima das escolas. Mais de metade dos docentes inquiridos, 55,4%, refere que já foi “vítima de agressões físicas ou verbais por parte dos alunos”. A indisciplina é considerada como o factor com mais impacto no quotidiano dos professores e o que mais afecta o seu bem-estar seguido da carga burocrática associada ao seu trabalho, 26,4% das respostas.

Na mesma linha um levantamento efectuado recentemente pela Federação Nacional da Educação mostra que os casos de indisciplina em ambiente escolar aumentaram em cerca de 5% a 6% no último ano lectivo face ao anterior.

Os tempos vão duros para toda a comunidade e, naturalmente, também se repercutem na escola. Como muitas vezes aqui abordo, a escola, a instituição escola, vive ela própria tempos complicados, envelhecimento, desencanto e cansaço em muitos docentes que interage com a falta de professores, climas institucionais nem sempre amigáveis e fonte de apoio e tranquilidade, falta de recursos, de auxiliares de educação e técnicos, um modelo de governança que, demasiadas vezes faz parte dos problemas das escolas e nõ das soluções, um caminho de “municipalização”  que levanta dúvidas, alterações nos quadros de valores e representações das comunidades que se traduzem na relação com  a escola e com os professores com frequentes episódios de hostilidade e agressão, algumas dimensões inadequadas das políticas públicas de educação, etc., etc.

No entanto, é esse o ponto que queria sublinhar, apesar de como aqui tantas vezes tenho referido considerar urgente a reflexão e intervenção adequada relativamente aos problemas dos alunos, aprendizagens e comportamentos, às questões sérias que envolvem os professores incluindo as de natureza profissional, às relações interpessoais e clima social ou de organização, ao funcionamento e governação das escolas, não simpatizo com a alimentação da ideia de que todos os que diariamente chegam às escolas entram no inferno.

Sublinho, no entanto, que este entendimento não invalida o saber que para alguns professores, funcionários e alunos a escola será mesmo … o inferno.

A verdade é que, apesar de todos os constrangimentos e dificuldades e do que ainda está por fazer, o trabalho desenvolvido por professores, técnicos, funcionários e alunos é bem-sucedido na maioria das situações e isso deve ser sublinhado. De uma forma geral, professores, técnicos, funcionários e alunos, quase todos, fazem a sua parte.


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