quinta-feira, 26 de julho de 2007

PODER PATERNAL E FRAQUEZA SOCIAL

Numa comunidade que se afirma preocupada com o bem-estar das crianças é motivo de fortíssima preocupação saber que nas sete comarcas de Lisboa existem 40 000 processos pendentes, sim 40 000, relativos a regulação do poder paternal. Muitas crianças demoram entre quatro a seis anos, sim de quatro a seis anos, a verem definida a sua situação de natureza familiar.

Estranho que esta escandalosa e terrorista situação tenha tão pouco eco na comunicação social e pareça ausente da agenda dos que gostam de se afirmar como defensores da criança. Cada vez estou mais convicto de que os putos são de ferro. É que muitos resistem e sobrevivem. Sorte a deles.

AVÓS PARA TODOS

No Dia Nacional dos Avós retomo a proposta, aqui em tempos apresentada, de uma iniciativa legislativa que estabeleça o DIREITO AOS AVÓS e, consequentemente, o DIREITO AOS NETOS. De facto, existindo tantos velhos sós e tantas crianças e jovens sós, um Decreto que obrigasse à sua aproximação seria um fantástico dois em um. Os velhos passariam a ter netos com quem (con)viver e os miúdos a ter avós com quem (con)viver. Esta relação, que para a maioria das pessoas que a conheceram e conhecem é fantástica, não pode entrar em risco de extinção. Em termos operacionais a coisa não parece assim tão difícil, uma vez que existe sempre um Lar de Terceira Idade e um Jardim de Infância ou Escola não muito longe onde se podem encontrar e juntar. Iniciativas deste tipo podem constituir bons exemplos, estes sim, de uma educação a tempo inteiro em vez de "só" escola a tempo inteiro. Conheço alguns exemplos avulsos e interessantes de experiências neste âmbito.
Como não acredito nesta iniciativa legislativa porque não começar ao contrário, isto é, vamos promover estes encontros mesmo sem ter Decreto que os determine.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

PROPAGANDA, TRABALHO INFANTIL E HIPOCRISIA POLÍTICA

Nas sociedades actuais haverá algum governo que não tenha uma preocupação forte com a gestão da sua imagem, com o marketing da sua acção? Certamente que não e só ingenuidade ou ignorância farão alguém acreditar que quem estiver no poder resistirá à tentação de utilizar a seu favor tudo o que as ciências da comunicação política têm produzido relativamente à eficácia da mensagem.

Serve esta introdução para me referir a um dos mais recentes exercícios de hipocrisia política. Soube-se que o Governo encenou no CCB a apresentação do Plano Tecnológico da Educação (ia a chamar-lhe choque mas evito, pois a pobre da educação já não suporta mais choques) montando uma sala de aula “hi-tech”. Como é sabido no CCB não existe uma escola, nesta altura os meninos estão de férias e mal parecia os governantes fazerem-se acompanhar dos menores das respectivas famílias, lembrem-se do efeito devastador da presença do Dinis Carrilho na campanha do pai Carrilho. Não restava pois outra alternativa senão angariar umas criancinhas que representassem um papel que lhes não será estranho, o de alunos. Cumprindo-se a legislação protectora da criança, este seria mais um daqueles episódios discutidos no domínio da subjectividade de opinião. Mas não, a Dona Seabra, a Zita, e o Dr. Melo, o Nuno, saltaram em defesa das pobres crianças exploradas e abusadas no delinquente exercício de propaganda do governo. Trata-se da mais descarada hipocrisia. Não me lembro das generosas vozes se levantarem publicamente e de forma consistente sobre o escândalo criminoso que atinge muitas crianças em Portugal, essas sim, vítimas do trabalho infantil, por vezes retiradas à escola para aumentar o rendimento familiar. Muitas destas situações passam-se no distrito representado politicamente pelo Dr. Melo. A Dona Zita talvez não saiba se "foi assim", mas foi e ainda é.

E depois admiram-se dos 62% de abstenção.

terça-feira, 24 de julho de 2007

DEIXEM AS CALCULADORAS EM PAZ

Voltou a discussão sobre a presença das calculadoras na escola, sobretudo nos anos iniciais. Como é habitual as posições tendem a extremar-se, quer entre, no caso, as pessoas ligadas ao ensino da matemática e outros técnicos, quer entre os iluminados tudólogos que, como sempre, falam sobre tudo com a arrogante ignorância de quem não sabe. A propósito, o atrevimento de um conselho. Dr. José Manuel Fernandes, genial Director do Público, estude, aproveite o Programa Novas Oportunidades, verá que vai a tempo.
A escola, isto é, os miúdos e os professores (sobretudo), andarão bem se integrarem adequadamente e com senso aquilo que faz parte do seu dia a dia. É uma boa maneira de nos prepararmos para o que existe à volta da escola e não levar, como por vezes acontece, a uma escola afastada do mundo real, dificilmente percebida por alunos e pais e, naturalmente, desconfortável para professores, para os bons professores.
A calculadora é uma ferramenta ao serviço de saberes que, imprescindivelmente, devem ser adquiridos, não pode ser entendida, aliás como qualquer outra ferramenta, como O OBJECTIVO do ensino. Estou convencido que os professores, os bons professores, e os miúdos integram isto. O que se torna mais difícil de integrar é o erro de cálculo que produz políticas educativas erráticas e inconsistentes, o erro de cálculo que leva a programas desajustados, o erro de cálculo que torna frágil a formação de professores, o cálculo subjacente a muitos manuais de duvidosa qualidade, o calculismo que evita a avaliação de professores, etc.

Ao que consta estes cálculos não vieram de nenhuma calculadora. Deixem-nas em paz, são uma pequenina ferramentazinha que, devidamente tratada, não perturba.

segunda-feira, 23 de julho de 2007

O HOMEM VAI A JOGO, CUIDADO COM O MENEZES

Finalmente fumo branco. Para poupar nos efeitos especiais e porque não havia nevoeiro em Julho, o homem aproveitou esse fumo anunciador e, urbi et orbi, disse, “Vou a jogo”. Ele virá de Gaia país abaixo brandindo a espada que baterá para sempre os sulistas, elitistas e liberais. E os fracos como o Dr. Mendes, o Marques. E os comentadores cegos à sua aura de genialidade como o Marcelo, o Professor, e o Pereira, o Pacheco. Treme Sócrates que ele aí está com a bandeira que tirou da mão de Sá Carneiro numa renhida disputa com outra figura maior, o Dr. Lopes, o Santana. Treme Portugal que ele ameaça tudo mudar e tudo fazer. Esta voragem e sede pelo protagonismo vazio de ideias e por isso populista e demagógico, talvez explicável pelo Professor Eduardo Sá no Livro de Reclamações da SIC pela falta de díalogo consigo mesmo, irá levá-lo a constatar mais uma vez, espero, que os portugueses, a começar no PSD, não o merecem. E eu, por uma vez, concordarei. Não merecemos o Dr. Menezes, o Luís Filipe.

O PLANO TECNOLÓGICO PARA A EDUCAÇÃO

O Governo, com a pompa, circunstância e encenação a que já nos habituámos, apresentou hoje o Plano Tecnológico para a Educação. Comoveu-me assistir ao deslumbramento do Senhor Primeiro-Ministro brincando com um quadro interactivo. Foi anunciado um conjunto de medidas e iniciativas meritórias no sentido de promover a acessibilidade e disponibilização de recursos na imprescindível área das Tecnologias de Informação e Comunicação. Duas pequenas notas de prudência. A primeira, no sentido de relembrar que a simples injecção de recursos e meios no sistema, não é suficiente para garantir a melhoria substantiva da sua qualidade. Basta compararmos os indicadores, acessíveis ao público, referentes aos recursos afectados ao Sistema Educativo nos últimos 15 anos e os resultados dos alunos no mesmo espaço de tempo. O problema central é de melhor, não é de mais embora, sublinho, sejam bem-vindos mais recursos na área das TIC.

Segunda nota, a presença dos computadores e outros dispositivos nas salas de aula sendo importantes, só por si não implicam mudança e melhoria. Todos conhecemos escolas em que os equipamentos já existentes estão muito longe de serem utilizados de forma consistente no sentido da melhoria do trabalho de professores e alunos. Como eu costumo dizer, é preciso que o computador não seja apenas “um lápis mais sofisticado” que se usa hoje para fazer a ficha 26 porque ontem se realizou a ficha 25.

NADA DE NOVO

Depois do meu habitual fim-de-semana alentejano, desta vez dedicado a arranjar os alhos que estavam colhidos de modo a serem entrançados, vinha preocupado por não ter acompanhado devidamente o andamento do país. Após a leitura da imprensa acumulada fiquei mais tranquilo. A tradição ainda é o que, lamentavelmente, tem sido. A saber.
O Dr. Portas, o Paulo, vai processar o estado por quebra do segredo de justiça e responsabilidade indirecta pelo notável resultado do Dr. Telmo nas eleições de Lisboa.
O Dr. Mendes, o Marques, continua a acreditar que lidera o PSD enquanto o PSD finge ser liderado pelo Dr. Mendes.
O inenarrável Dr. Menezes, o Luís Filipe, faz que concorre à liderança do PSD, mas não sabe se concorre, ele que só pensa em concorrer. Está bem aconselhado por essa figura inimaginável chamada Mendes Bota.
O Eng. Sócrates distribui computadores em nome do choque tecnológico.
A saga da Dona Salgado, a Carolina, viu o elenco aumentado com a entrada em cena da Dona Salgado, a Ana Maria.
Na Madeira a inimputável classe política dirigente continua a errática e delinquente leitura do que são leis nacionais.
O Tribunal de Contas arrasou a gestão da Administração do Porto de Lisboa que, como é habitual, será premiada por… boa gestão.
O Dr. Lopes, o Santana diz que está a pensar(!!!).
Ingenuidade a minha. Como é que num fim-de-semana alguma coisa de novo iria acontecer.


sexta-feira, 20 de julho de 2007

NATALIDADE E ENDIVIDAMENTO

O Primeiro-Ministro anunciou hoje no Parlamento um conjunto de medidas que procuram incentivar o aumento da natalidade. Entre as medidas anunciadas contam-se aumentos nos abonos de família, especialmente em famílias numerosas, e atribuição de apoio económico logo durante a gravidez a partir do terceiro mês. São de saudar iniciativas que possam contribuir para atenuar o sério risco de envelhecimento da população portuguesa.

Curiosamente, é hoje também referido na imprensa que o crédito malparado dos particulares atingiu o máximo dos últimos 5 anos, isto é, as famílias portuguesas estão mais endividadas e com menos possibilidades de gerir as suas dívidas.

Creio que estas questões estão profundamente ligadas e, por isso, para além de dispositivos específicos de apoio, parece mais importante um modelo de desenvolvimento económico que promova mais equidade na distribuição da riqueza, uma política fiscal mais simpática e justa para as famílias e menos protectora da banca e, sobretudo, o entendimento de responsabilidade social por parte de empresas e de uma cidadania responsável e exigente por parte de cada um de nós.

quinta-feira, 19 de julho de 2007

O BILINGUISMO - UM EQUÍVOCO

O Público de hoje apresenta um trabalho dedicado à situação de algumas crianças e jovens que frequentam estabelecimentos de educação com ensino bilingue, envolvendo, para além do português, francês, inglês, espanhol e alemão. Na peça, as diferentes opiniões, de pais e professores, sublinham as potenciais e diferentes vantagens desta situação o que vem ao encontro de variadíssimos estudos.

Só não entendo a razão pela qual, muitíssimos professores, definem uma situação bilingue de português e crioulo como uma causa incontornável de dificuldades de aprendizagem, ou seja, português e inglês faz bem, português e crioulo, faz mal.

Parece-me que o problema remete para o estatuto atribuído às línguas e para as atitudes educativas dele decorrentes, e não para a situação de bilinguismo. Um dos muitos equívocos no mundo da educação.

NOVA LEI DOS MANUAIS ESCOLARES

Muitas vezes tenho utilizado este espaço para manifestar a minha discordância com vários aspectos da política educativa subscrita por esta equipa ministerial. Hoje quero registar positivamente algo que me merece uma especial saudação. Finalmente foi publicada em Diário da República a legislação reguladora dos manuais escolares. Entre outros conteúdos, estende a sua vigência para 6 anos, contempla a existência de orientações relativas às suas características, regulamenta o regime de avaliação e certificação por entidades exteriores ao circuito da produção e edição e, finalmente, estabelece a progressiva gratuitidade dos manuais para famílias com menores rendimentos. Sendo certo que em Portugal boas leis não produzem necessariamente boas práticas, não deixa de ser importante que a legislação, pelo menos alguma, evolua no bom sentido, qualidade e inclusão.

terça-feira, 17 de julho de 2007

AGORA A INTERVENÇÃO PRECOCE

Depois de ter comprometido seriamente o que se fazia, com maior ou menor qualidade, em matéria de apoio educativo a alunos com necessidades educativas especiais ao definir que alunos podem, ou não, beneficiar de apoio com base na Classificação Internacional de Funcionalidade, um instrumento completamente desajustado para este efeito, a agitação volta-se agora para a chamada Intervenção Precoce, área de intervenção destinada ao apoio às crianças mais pequenas, dos 0 aos 6 anos.

Na mesma linha do que já, (mal) tinha sido feito o Comissário Capucha, chefe da DGIDC (Direcção-geral de Desenvolvimento e Inovação Curricular) afirma, do alto da sua arrogante ignorância, que “o que se faz com uma criança cega, não pode ser igual que se faz com uma criança de uma família disfuncional ou que é vítima de violência”. É espantosa a densidade científica desta afirmação. Mas o problema não é evidentemente este. Qualquer intervenção é pensada em função da situação que a motiva. A questão é que o Comissário Capucha vai, também nesta faixa etária, privar de apoio muitas crianças cujas necessidades não têm a ver com deficiência. Isto mesmo foi reconhecido por diferentes especialistas ouvidos pelo Público. Até o Juiz Armando Leandro, Presidente da Comissão Nacional de Protecção de Crianças e Jovens, habitualmente cauteloso e optimista, mostrou a sua preocupação com os potenciais efeitos desta medida.

É certo que o currículo do Comissário Capucha não evidencia qualquer conhecimento sobre esta matéria, mas poderia ter a humildade de ouvir alguém. Na minha terra temos um ditado que afirma: “Quando a gente não sabe, perguntar a quem sabe, é saber metade”. Mas a minha terra é uma terra de gente humilde.

AÍ ESTÁ O DR. MENEZES, O LUÍS FILIPE

Fiquei pasmado. A sério. Ouvi na RTP a entrevista do Dr. Menezes, o Luís Filipe, desde há dois anos o hiperactivo candidato à presidência do PSD. Não é que o homem conseguiu, sem se rir, falar de seriedade, credibilidade, sentido de estado e até, isso é que me espantou, que se acha o mais preparado para ser primeiro-ministro em 2009. Se depois do Dr. Santana Lopes, o Pedro, o PSD se entregar a esta inenarrável personagem, bem andará Sá Carneiro se ressuscitar para distribuir uns tabefes no partido para acabar com a má moeda referida pelo Prof. Silva, o Cavaco.

SARAMAGO, A IBÉRIA E PORTUGAL

As recentes afirmações de Saramago sobre a possibilidade de Portugal se “diluir” na Espanha originando uma Ibéria, ideia que ciclicamente emerge, têm motivado um coro de protestos oriundos de vários quadrantes. Estranhamente, muitas das vozes que se incomodaram com tal perspectiva, não parecem preocupadas com eventuais riscos de perda de soberania implicados no Tratado Europeu em construção. Não se lhes conhece inquietação com o facto de muitas das decisões que nos dizem respeito serem tomadas pelos burocratas de Bruxelas indiferentes às especificidades nacionais. Também não se lhes conhece reacção sobre a presença esmagadora de empresas estrangeiras, muitas delas espanholas, em variadíssimos mercados, desde o imobiliário em Lisboa até à agricultura no perímetro do Alqueva. Não se lhes conhece preocupação com a colonização cultural que nos empobrece ou ainda com a pressão normalizadora que nos indiferencia à pala de uma tal globalização.

Estou em crer que Saramago apenas se lembrou, com a “inimputabilidade” dos velhos senadores, a afirmar que o “rei vai nu”, isto é, muita gente pensa nisso mas não se deve dizer.

domingo, 15 de julho de 2007

INTERCALARES DE LISBOA - LISBOA GANHOU?

Não, hoje não vai ser possível. Não ganharam todos. Se as previsões se confirmarem, o Dr. Portas, o Paulo, perdeu o vereador que tinha (não tinha, pois a Dra. Zezinha assinou pelo Dr. Costa) não elegendo o Dr. Telmo. O Dr. Negrão também perdeu e no seu partido terá ganho o Dr. Menezes à custa do Dr. Mendes que também perde porque o proscrito Prof. Carmona ficou à frente do Dr. Negrão. No entanto, o Prof. também perdeu porque queria continuar o que esteve a fazer(?!) e a arquitecta Roseta perdeu pois ficou atrás do outro independente, o Prof. Carmona. A CDU terá ganho sem subir na medida em que o Dr. Costa perdeu face ao objectivo da maioria absoluta mas ganhou a presidência, o Dr. Sá Fernandes continua só e o Dr. Louçã anunciará uma vitória dos lisboetas e das lisboetas. O fadista irá recolher o papel higiénico que lhe servirá para embrulhar tantas ideias, o Dr. Monteiro voltará na próxima para nova prova de vida, o Prof. Garcia Pereira não vai desistir de se candidatar a qualquer coisa. O rapaz fascista e o senhor verde estão em rodapé, não consigo perceber se ganharam ou perderam.

E Lisboa? Ganhou ou perdeu?

VERGONHA

Como já vos tenho referido, o meu Alentejo ocupa sempre o fim-de-semana. É uma necessidade. Desta vez já com um calor magano e bravo que amolece e faz ansiar pelas branduras da noite que são anunciadas por um pôr-do-sol que só lá.
Esta alentejana estadia impede, por vezes, um comentário em tempo útil. Mas apesar do atraso quero ainda referir-me a duas situações daquelas que nos fazem sentir embaciada a condição de cidadão desta terra.
Primeira. É sabido que a Região Autónoma da Madeira decidiu não fazer aplicar a lei da Interrupção Voluntária da Gravidez e que não apoia a deslocação de mulheres ao Continente para a sua realização. Trata-se de uma lei da República mas, parece, não aplicável a toda a República. Até aqui nada de novo relativamente ao que os responsáveis políticos da Madeira nos têm, infelizmente, habituado com a cumplicidade de variadíssimas figuras do regime. O que acho verdadeiramente notável é ter ouvido na Antena 1 o Secretário Regional, Francisco Jardim Ramos, afirmar que a lei não se pode aplicar porque o “Não” ganhou na Madeira e deve ser respeitada a vontade do eleitorado. Para rir se não fosse trágico e insultuoso. Vergonha.
Segunda. Na sequência do que regularmente tem vindo a acontecer, os jovens da selecção portuguesa de sub-20 em futebol deram um deplorável espectáculo de mau perder e indisciplina no mundial da modalidade, no Canadá. Como é habitual nada acontecerá face a estes “excessos de juventude” como os responsáveis normalmente entendem. Vergonha.
Vocês não acham que estas duas situações são, lamentavelmente, faces da mesma realidade? Como acabei de chegar do Alentejo desculpem o desabafo. Que porra de país!

sexta-feira, 13 de julho de 2007

UMA FESTA

No âmbito de um fórum organizado pelos meus amigos do Colégio Maria Pia da Casa Pia de Lisboa, participei ontem num debate sobre o tema genérico “Educação, Formação, Arte, e Conhecimento. Que Caminhos?”.

Para fim foi uma festa e uma daquelas situações de vida que nos faz sentir com alma. Participaram o mestre João Mota, um velho conhecido e figura notável da nossa comunidade que não querendo falar sem que lhe fizessem perguntas, encheu a sala com a experiência da sua vida e o olhar lúcido, independente e crítico sobre a sociedade, a Patrícia Portela, uma moça que nos quis convencer da sua timidez e conversou com uma densidade e sentido de humor notáveis e a cujo trajecto na cultura portuguesa haverá que estar atento e o Professor Fernando Catarino que faz de cada referência às suas plantas uma coisa poética.

Devo agradecer por me ter sido dado este privilégio. Aqui fica o registo

quinta-feira, 12 de julho de 2007

OS RESULTADOS DA MATEMÁTICA. E AGORA SENHORA MINISTRA?

É. Governar para os números é arriscado. Quando em Maio a Senhora Ministra afirmou, “Pela primeira vez os resultados não serão apenas associados ao desempenho dos alunos, mas também das escolas e dos professores, para o melhor e para o pior”, ninguém acredita que estaria a admitir o pior. A Associação de Professores de Matemática, prudentemente, lembrou que seria cedo e desajustado proceder a tal afirmação. Arrogantemente o Comissário Capucha convidou a APM a abandonar a Comissão de Acompanhamento do Plano da Matemática. Com razão, pois a crítica não foi produzida no remanso do lar, no anonimato de uma esquina ou no ruído de um café, conforme o manual em vigor de crítica à política do governo.

Mas o pior confirmou-se. 72.8% dos alunos com negativa, sendo que 25% não ultrapassou a nota 1. Devastador. Como qualquer pessoa minimamente atenta a estes fenómenos percebe, estes resultados não são fruto de questões de conjuntura, radicam em questões múltiplas, de natureza estrutural, que um Plano para 3 anos dificilmente alterará de forma significativa e que acreditar em melhorias substantivas no espçao de um ano é, no mínimo, liberdade poética.

Comissário Capucha desculpe o atrevimento de um conselho. Convide os alunos com nota inferior a 3 a abandonar o sistema. Verificará Vossa Excelência que os números do sucesso subirão vertiginosamente.

quarta-feira, 11 de julho de 2007

MOMENTOS

(Foto de Pedro Camara)
Uma das vezes que estive em Moçambique, na terra da boa gente, Inhambane, o velho Bata de quem aqui já falei, homem de tempo comprido e muitas histórias cumpridas, dizia-me, referindo-se às suas, muitas, rugas. “Cada ruga sabe tanto como uma Bíblia”.

Quantas vidas estarão enroladas no fumo deste cigarro?

terça-feira, 10 de julho de 2007

ATÉ OS SENHORES BISPOS

A Conferência Episcopal Portuguesa, hoje reunida em Fátima, veio criticar alguns aspectos das políticas do Governo. Estranhamente, os senhores bispos não seguiram o conselho da Secretária de Estado da Saúde no sentido de dizerem mal do Governo em casa, na esquina ou no café desde que com “sensibilidade social”. É certo que o fizeram em Fátima e não utilizaram, ao que consta, um tom jocoso. Pelo menos ainda nenhum informador o referiu.

Ainda bem. Não imagino sequer o que poderia acontecer, caso o Ministro dos Negócios Estrangeiros tivesse que interceder no Vaticano para que o Papa Bento XVI substituísse algum bispo, devido a comentários jocosos. E ainda haveria o problema de encontrar um cardeal do PS. É que Pina Moura não poderia aceitar.

A ESPERA

(Foto de Maria Negreiros)
De que lado virá? E será um milagre?

E A ESPERANÇA?

(Foto de Espírito da Luz)
Ainda no seguimento da conversa sobre a confiança, fiquei a saber que, sempre de acordo com o INE, o Índice Sintético de Natalidade é de 1.36, o mais baixo de sempre.

Este sim. Um sinal inquietante.

O mundo anda estranho. Não tratamos bem dos velhos, não temos confiança no futuro e não arriscamos nas crianças. Vamos dar onde, como e com quem?

segunda-feira, 9 de julho de 2007

CONFIANÇA NO FUTURO

De acordo com o INE e também com indicadores fornecidos pela Comissão Europeia, a confiança dos consumidores portugueses baixou no primeiro semestre de 2007, enquanto no mesmo período os indicadores económicos evoluíram positivamente.

É de registar que esta queda é especialmente nítida entre a população com mais baixo rendimento económico, mais velha, com menor qualificação e com situação laboral entendida como mais vulnerável. As mulheres revelam mais pessimismo que os homens.

Eu, que me considero um optimista realista, ou seja, fico por vezes pessimista, queria acreditar que estaríamos mais confiantes. Porque gosto de pensar positivamente no futuro dos miúdos, desta vez mantenho-me optimista. Espero não me desiludir.

FOGE LISBOA QUE ELES QUEREM-TE

Acabei de assistir à primeira parte do debate dos 12 candidatos à Câmara de Lisboa a correr na RTP. Para um habitante do deserto é um espectáculo pedagógico na medida em que nos mostra, de forma bem elucidativa, o nível de grande parte da classe política que nos representa. Aqui com a vantagem de estarem todos.

Quem deve estar francamente assustada é a menina e moça chamada Lisboa. Todos lhe querem mexer. Dizem que para melhorar. A ver pelo que tem sido feito e dito hoje, é de estar com medo. Mas os onze cavalheiros e a dama atiram-se com ganas e sem elegância à menina e moça. Quem a irá defender? Se fosse a ela, processava-os a todos por assédio e a alguns por maus tratos.

domingo, 8 de julho de 2007

CHATS, SEXO E ADOLESCENTES

No DN de hoje aparece um trabalho muito interessante, mas também inquietante, sobre a utilização das salas de chat por adolescentes que, a troco do carregamento do telemóvel por exemplo, se dispõem a exibições e comportamentos sexuais para eventuais “clientes”, companheiros de web.

Já aqui temos referido como o mundo dentro do ecrã é um mundo tão fascinantemente rico como, também, encerra riscos severos. É, por isso, fundamental que se publicitem aspectos e possibilidades, quer num sentido, quer noutro.

No entanto, diz-me a experiência de contacto com muitos pais de adolescentes, a grande questão é como lidar com este mundo. Ninguém tem soluções milagrosas e definitivas mas um primeiro aspecto fundamental é tornar muito clara aos pais, a todos os pais, a sua existência. Para isso é essencial a informação. Depois, creio que a escola terá um papel também importante na abordagem com os adolescentes, de forma aberta, de TODAS as dimensões possíveis de utilização da net. Continuo a sustentar que o melhor caminho é promover nos jovens a auto-regulação do seu comportamento. E isso exige informação, diálogo, confiança, responsabilidade e autonomia.

AFINAL, TUDO NA MESMA

Voltei ontem à noite de cinco dias em Praga, cidade a não perder e que encontrei bem diferente, passados vinte e um anos. À velocidade a que o mundo se move esperava encontrar diferenças cá pela terra. Decepção.

Ao correr do teclado, sem ser exaustivo, fiquei a saber que se investiga o negócio dos submarinos que envolve o Dr. Portas, o Paulo e li que o Ministro da Agricultura, coerentemente com o actual clima de arrogância, depois de interpelado por um pescador (sublinhe-se que de forma não jocosa), lhe sugeriu que saísse da União Europeia. Soube que numa intervenção extremamente pedagógica, a Senhora Secretária de Estado da Saúde nos explicou que se pode dizer mal do governo em casa, na esquina ou no café desde que haja “sensibilidade social”. Percebi também que, provavelmente por sensibilidade social, as juntas médicas da Caixa Geral de Aposentações recusaram a reforma a dois professores com doenças terminais e que o Bastonário da Ordem dos Médicos, também por sensibilidade social, terá ficado incomodado com a sensibilidade dos seus colegas das referidas juntas.

Verifiquei ainda que o Primeiro-Ministro Sócrates, o Eng., inaugurou, longe do povo, uma ponte no Carregado. Parece que continua animada a campanha para a Câmara de Lisboa. Vi o Prof. Carmona a andar de mota, vi o Prof. Garcia Pereira a andar de barco, vi o Dr. Telmo a andar de vassoura na mão, vi o Dr. Fernando Negrão a andar para atrás baralhado com tanto apoio do partido, vi o Dr. António Costa a carregar a política do governo às costas, vi o incontornável Dr. Manuel Monteiro ao lado de um grupo patético afirmando estar no deserto e… mais não aguentei.

segunda-feira, 2 de julho de 2007

MENOS POBREZA NO MUNDO. E POR CÁ?

Apesar do tudo que está por fazer, não pode deixar de se registar que, segundo dados agora revelados pela ONU, o número de pobres no mundo baixou. Este abaixamento global verificou-se, no entanto, de forma assimétrica, registando-se mesmo um aumento na Ásia Ocidental.

Ainda a propósito de pobreza e agora que se iniciou a presidência portuguesa da União Europeia, parece-me fundamental recordar que a “distância que separa o rendimento médio dos 20% mais pobres do rendimento médio dos 20% mais ricos está bastante acima da média comunitária”, ou seja, “o rendimento superior é 8,2 vezes mais alto que o rendimento inferior enquanto na União Europeia é 4,9”, (Público, 15/04/07).
(Foto de Gonçalo Romeiras)

domingo, 1 de julho de 2007

JOVENS LICENCIADOS E MERCADO DE TRABALHO

O Público de hoje aborda um tema ao qual já nos temos referido neste espaço. Trata-se da formação universitária dos jovens e o acesso ao mercado de trabalho desses recém-licenciados. Um estudo de Paulo Claro evidencia um fortíssimo enviesamento da procura de formação superior levando a um abaixamento significativo de inscritos em cursos da área científico-tecnológica. Esta situação origina excesso de licenciados em algumas áreas e enorme necessidade noutras com os óbvios reflexos no acesso ao mercado de trabalho. Surgem então vozes que, estranhamente, alimentam na opinião pública a desvalorização da importância da formação superior o que pode induzir desmotivação e desinvestimento por parte de jovens e famílias.

A este propósito, é fundamental relembrar que “uma pessoa com o 9º ano de escolaridade tem um risco de desemprego três vezes maior que um licenciado” e, de acordo com a OCDE, “O salário médio dos licenciados em Portugal é cerca de 80% superior ao dos trabalhadores com o ensino secundário completo”.

Cada vez que alguém diz “não vale a pena estudar” estamos a dar um tiro no pé.