Leio no Público que entre o início do ano e o fim de Agosto, o Departamento Central de Investigação e Acção Penal iniciou 219 processos por suspeitas de crime em lares de idosos. Acrescentando os que transitaram de 2023 estavam 318 processos em investigação de acordo com dados Procuradoria-Geral da República. Neste período foram ainda encerradas 13 instituições.
É também sabido que a
insuficiência da fiscalização e a impunidade dos responsáveis leva a que
alguns "empresários", depois de verem encerradas algumas instalações,
"deslocalizam-nas" e abram outros espaços por vezes bem próximos ou
até nas antigas instalações.
As instituições para idosos são
um mercado em crescimento, teremos perto de um milhão de portugueses acima dos
75 anos e dado o envelhecimento progressivo, o futuro do negócio parece
assegurado. Aliás, sabe-se que muitas das instituições para idosos têm longas
listas de espera.
Este universo, o acolhimento,
institucional ou familiar dos velhos é uma questão complexa, tão complexo e
difícil como é, muitas vezes, viver na condição de velho.
Recordo que já num relatório de
2013, creio, a OMS identificava Portugal como um dos cinco países europeus em
que os velhos sofrem mais maus-tratos. Cerca de 39,4% dos velhos sofriam alguma
forma de maus-tratos, que envolvem, por exemplo extorsão, abuso psicológico,
físico ou negligência.
De facto, nos últimos tempos têm
sido recorrentes as notícias sobre os maus tratos aos velhos, aos seniores,
como agora se diz. Regularmente, surgem na imprensa referências à forma
inaceitável como os velhos estão a ser tratados.
Começam por ser desconsiderados
pelo sistema de segurança social que com pensões miseráveis, transforma muitos
velhos em pobres, dependentes e envolvidos numa luta diária pela sobrevivência.
Continua com um sistema de saúde que deixa muitos milhares de velhos
dependentes de medicação e apoio, sem médico de família.
Em muitas circunstâncias, as
famílias, seja pelos valores, seja pelas suas próprias dificuldades e estilos
de vida, não se constituem como um porto de abrigo, sendo parte significativa
do problema e não da solução produzindo cada vez mais situações de solidão e
isolamento entre os velhos, com consequências que têm feito manchetes, muitos
velhos morrem de sozinhismo, de solidão.
Estão em extinção as relações de
vizinhança e a vivência comunitária, fontes privilegiadas de protecção dos mais
velhos.
É certo que existe, felizmente,
um pequeno número de idosos que além do apoio familiar, ainda possuem meios que
lhes permitem aceder a bens e equipamentos que contribuem para uma desejável e
merecida qualidade de vida no fim da sua estrada.
Finalmente, as instituições,
muitas delas, subordinam-se ao lucro e escudam-se numa insuficiente
fiscalização não oferecendo a qualidade exigida. Por outro lado, os
equipamentos de qualidade são inacessíveis aos rendimentos de muitos dos nossos
velhos.
Lamentavelmente, boa parte dos
velhos, sofreu para chegar a velho e sofre a velhice.
Não é um fim bonito para nenhuma
narrativa.
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