Durante a manhã aqui no monte enquanto se andava na rega, eu e o Mestra Zé Marrafa íamos trocando umas lérias, como sempre acontece.
O Mestre Zé é homem de setenta e
alguns com uma capacidade de trabalho e uma sabedoria sobre as coisas da terra e da vida alentejana que não tem fim e não poucas vezes me deixa embaraçado quando tenho de parar e ele se ri com aqueles olhos pequenos.
A conversa de hoje desenrolou-se sobre as pessoas, as suas qualidades e os seus defeitos. Às tantas,
o Velho Marrafa diz que há pessoas que sobram sempre. Nunca me lembro de ter ouvido tal enunciado assim aplicado e a curiosidade levou ao pedido de explicação.
Olhou com aqueles olhos pretos sempre a rir e afirmou qualquer
coisa nestes termos, "Ora Sr. Zé, uma pessoa que sobra é assim que alguém
que não tem grande serventia, serve para pouca coisa, não gosta de trabalhar,
não tem jeito para nada, às vezes nem para o cante ou para as lérias, que é
coisa que toda a gente gosta, sobram sempre, não são companheiros para nada
desta vida, olhe, alguns nem servem de companha para comer".
E continuou mais uns minutos a explicar com toda a gente
deve saber e querer saber fazer alguma coisa que seja útil. Uma pessoa que
saiba fazer qualquer coisa, nunca sobra, tem sempre companheiros.
Nunca tinha pensado nas pessoas que sobram, a partir deste
ponto de vista. Sempre a aprender com o Velho Marrafa.
O Velho Marrafa nunca sobra, sabe muito, é bom de companha,
para usar as suas palavras.
2 comentários:
Pelo que tenho lido, acho que o Sr. Zé também não é uma das pessoas que sobram!
Ainda citando uma expressão recorrente do Velho Marrafa, "Deixe lá ver". :)
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