Aos 71 anos e ligado à educação desde que entrei na escola aos seis anos já não é fácil sentir-me surpreendido, mas a verdade é que, recordando Sá de Miranda, "M'espanto às vezes, outras m'avergonho".
Ontem, no final da apresentação do novo modelo de acção social para o ensino superior, o Ministro da Educação, da Ciência e da Inovação afirmou o seguinte: “Quando nós metemos pessoas quesão basicamente todas de rendimentos mais baixos a beneficiar de um serviço público, nós sabemos que o serviço público se deteriora, é assim nos hospitais, é assim nas escolas...”. Assim mesmo!
Posteriormente tentou compor como
é habitual, mas foi que disse, palavras mal ditas o que faz parecer que o
Senhor Ministro está a perder a aura. Na verdade, lembrando Ettore Scola no
imperdível “Feios, porcos e maus” o Senhor Ministro associa com clareza a baixa
condição social e económica dos estudantes ao estado degradado das residências
universitárias. Não pode!
Umas notas breves de um não
especialista sobre a questão da comunicação, sobretudo das lideranças
políticas.
A primeira questão é exactamente
essa, o peso social do mensageiro condiciona o conteúdo da mensagem, ou seja, a
mesma frase não tem o mesmo valor afirmada por um cidadão comum ou proferida
por uma figura com responsabilidades de decisão, neste caso em matéria de
cultura e políticas públicas nesta área. Aliás, trata-se do ministro da
Educação.
Pode sempre afirmar-se que haverá
alguma razão nas afirmações ou que a intenção não traduz o valor facial das
afirmações que toda a gente ouve não podem deixar de ser analisadas e levadas
em consideração.
Quanto à intenção, a sua não
existência, e até posso esforçar-me por acreditar que não exista, não colhe, é
mesmo uma afirmação inaceitável.
É verdade que numa certa altura
do desenvolvimento dos miúdos, o seu desenvolvimento moral e intelectual
leva-os a considerar que a sua não intenção de realizar algo, desculpa o que
aconteceu, tal entendimento traduz-se no frequente "foi sem querer" e
como "foi sem querer", não tem problema.
Neste patamar, não funciona o
"foi sem querer" e não podemos dizer a primeira "coisa que nos
passa pela cabeça".
A questão é que as lideranças, as
que verdadeiramente lideram, apesar de não possuírem, felizmente, o dom da
infalibilidade e da perfeição, não podem, não devem proferir determinadas
palavras e persistirem teimosamente na sua afirmação.
Trata-se de mais um exemplo de
palavras (mal)ditas que ao longo dos anos têm sido proferidas por muita gente
dos vários quadrantes políticos e áreas de intervenção.
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