quinta-feira, 18 de dezembro de 2025

AS PESSOAS SEM-ABRIGO

 É claro que não é por muito falar dos problemas que eles se resolvem ou minimizam. No entanto, também me parece que não insistir pode contribuir para uma menor atenção a situações muito séria e atentatórias dos direitos das pessoas. É o caso das pessoas em situação de sem-abrigo, uma situação que nos deveria envergonhar como comunidade, sendo o desemprego e a precariedade laboral as principais causas. Talvez esta dado seja de ter em conta na discussão em aberto relativa à alteração das leis laborais.

Assim, voltemos a insistir.

Dados da Estratégia Nacional paraa Integração de Pessoas em Situação de Sem-Abrigo (ENIPSSA), hoje divulgados referem a existência de mais 14.400 pessoas estavam em situação de sem-abrigo no final de 2024. Verifica-se um aumento 1348 casos de pessoas nesta situação.

Em Lisboa e no Porto a situação mais prevalente é situação de sem-abrigo entre um ano e menos de cinco. No Algarve 36% das pessoas vivem nesta situação há um ano ou menos e em 29% dos casos este período é desconhecido o tempo em que estão sem-abrigo.

É de registar que em 2024 se regista que 1345 pessoas deixaram a situação de sem-abrigo, a maioria na região Norte, 444, e na Área Metropolitana de Lisboa, 314. É uma subida relativamente aos dados de 2023, 987 pessoas que deixaram de estar na situação de sem-abrigo.

No entanto, parece-me que não devemos esquecer que continua a ser muito grande o mundo dos sem-abrigo. São muitos, demasiados, os sem-abrigo do mundo, boa parte integra aquela percentagem que a sondagem nunca mostra de que fala Sam The Kid.

São muitos, os sem-abrigo num porto que os acolha, uma casa, uma família, um espaço a que dêem vida e que lhes apoie a vida.

São muitos, os sem-abrigo, mesmo com família ou em instituições.

São muitos, os sem-abrigo no afecto, nos afectos, sem um coração que os abrigue.

São muitos os sem-abrigo em escolas onde não cabem.

São muitos, os sem-abrigo em mundos que não são seus. São muitos, os sem-abrigo em culturas que não entendem e que não querem entendê-los.

São muitos, os sem-abrigo num corpo que seja aconchego para o seu corpo.

São muitos, os sem-abrigo em valores que cada vez mais parecem predominar e que não os reconhecem.

São muitos, os sem-abrigo em vidas que lhes não pertencem, mas carregam. São muitos, os sem-abrigo no aceder e no gostar das coisas de que a vida também se tece.

Como referi, muitos destes sem abrigo vivem à nossa beira, sem-abrigo, não contabilizados, nem contabilizáveis.

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