Foi divulgado há dias o relatório Pessoas com Deficiência em Portugal: Indicadores de Direitos Humanos 2025 realizado pelo Observatório da Deficiência e Direitos Humanos, coordenado por Paula Campos Pinto. Vejamos alguns dados. Em sentido positivo, mantém-se uma trajectória positiva relativamente ao abandono escolar de pessoas com deficiência entre os 18 e os 24 anos, 18,2% em 2023, valor mais baixo que em anos anteriores.
De sublinhar também que mais
estudantes com deficiência frequentam o ensino superior. Em 24/25 matricularam-se
5300 estudantes, mais 30,4% do que no ano anterior, 4063.
No entanto, mantemos indicadores
preocupantes.
O trajecto após o secundário
mantém-se difícil. Em 2024, 32,4% dos jovens com deficiência não trabalhavam
nem estudavam nem frequentavam dispositivos de formação. Nos jovens sem
deficiência o indicador é de 8,1%, uma diferença significativa, superior a 24%.
A taxa de emprego das pessoas com
deficiência em 2023 era de 64,4% sendo que em situações de deficiência grave
passava para 50,9%.
A diferença da taxa de emprego entre
pessoas com e sem deficiência em 2024 era de 21,3%. Esta taxa estava em
decréscimo até 2022 e voltou a subir.
Numa outra área crítica,
condições sociais e económicas, 66,4% das pessoas com deficiência com mais de
16 anos estão risco de pobreza antes das transferências sociais, duas vezes
mais que as pessoas sem deficiência. Considerando as transferências sociais a
taxa baixava para 22,2% nas pessoas com deficiência e para 14,1% nas pessoas
sem deficiência. Esta diferença tem-se acentuado.
Parece claro e preocupante que,
apesar de alguma evolução, a situação das pessoas com deficiência continua com
grande vulnerabilidade face à pobreza e exclusão.
Não é novo, sucessivos relatórios
de diferentes entidades vão mostrando o quanto está por fazer e as dificuldades
decorrentes da corrida de obstáculos em que se transforma a vida das pessoas
com deficiência ameaçando os seus direitos e bem-estar bem como das suas
famílias. São por demais evidentes as dificuldades em áreas como, educação,
saúde, trabalho e emprego, segurança social, acessibilidades, autonomia,
independência ou autodeterminação.
Repetindo-me, a voz das minorias
é continua muito baixa, ouve-se mal, existem variadíssimas áreas em que são
significativas as dificuldades colocadas às pessoas com deficiência,
designadamente saúde, acessibilidades, educação, apoio social, qualificação
profissional e emprego, em que a vulnerabilidade e o risco de exclusão
continuam elevados como este relatório mostra.
Importa também sublinhar que os
direitos fundamentais não podem ser de geometria variável em função de
contextos ou hipotecados às oscilações de conjuntura ainda que tenhamos
consciência da excepcionalidade destes tempos.
Parece necessário reafirmar mais
uma vez que os níveis de desenvolvimento das comunidades também se aferem pela
forma como lidam com os grupos mais vulneráveis e com as suas problemáticas.
Este entendimento é tanto mais importante quanto mais difíceis são os contextos
em que vivemos, os tempos actuais mostram discursos e comportamento hostis e
agressivos face à diversidade, ameaçam quem é percebido como diferente como se
existissem dois seres humanos iguais.
Mas, mais grave é que estes
discursos começam a contaminar as políticas públicas dada a mediocridade de
lideranças, e sustentam a negação de valores e culturas que dávamos como
adquiridos.
Não passarão.
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