Retomo mais um dado do Estado da Educação 2024 divulgado pelo Conselho Nacional de Educação, agora respeitante aos professores.
No estudo realizado, 20% dos
docentes admitem o abandono da carreira de professor.
Acresce que considerando o grupo
abaixo dos 30 anos sobe para metade os que admitem o abandono da profissão. São
dados que sublinham o alerta vermelho em que a educação está mergulhada há já
algum tempo criando um contexto de mal-estar para os profissionais e de pouco
capacidade atracção de novos docentes.
O estudo do CNE estima que na
próxima década será necessário contratar em média 3800 docentes por ano o que
configura um problema sério para as próximas gerações de alunos e para todos
nós, sociedade.
Como muitas vezes aqui abordei, há
décadas que a falta de docentes estava escrita nas estrelas e sucessivas
equipas ministeriais, para além de más políticas públicas que afastaram
milhares de professores das escolas negavam a evidência, ouvia-se o mantra dos
“professores a mais”. Maria de Lurdes Rodrigues e Nuno Crato foram dois
exemplos de incompetência e irresponsabilidade nesta matéria e nem um rasgo de
seriedade no assumir do que é óbvio, falharam. Continuam serenos e de
consciência tranquila, provavelmente, também com uma outra percepção, está na
moda, do que é consciência tranquila.
O resultado está à vista, o
atropelo a um direito fundamental, o direito à educação, e o desempenho escolar
de muitos alunos prejudicado pela falta de docentes.
Apesar de algumas iniciativas
recentes na tentativa de em muito curto prazo minimizar os problemas só uma
abordagem estrutural pode ter potencial de mudança sustentada.
Nesta perspectiva, julgo
absolutamente necessário que as políticas públicas de educação assumissem como
um eixo nuclear a valorização da carreira docente, valorização dos professores.
É claro que mudanças estruturais
têm custos pelo que será de considerar a necessidade de investimento sério em
educação, 6% do Produto Interno Bruto o que está definido pela UNESCO como meta
para 2030.
Só esta valorização pode tornar a
carreira docente atractiva e com um potencial de retenção e satisfação dos que
nela se integram.
Esta valorização passa,
evidentemente, pela valorização salarial, mas importa considerar também
dimensões como a definição de modelos de carreira e de avaliação justos,
simplificados e transparentes e promotores de estabilidade.
Importa que a valorização dos
professores resista ao risco de “deskilling” ou “desprofissionalização” através
de mudanças nas exigências da habilitação para a docência.
Importa que se definam dispositivos
de apoio ao exercício profissional em contextos mais exigentes que, por várias
razões, se tornam pouco atractivos para profissionais em início da carreira ou
para uma eventual mudança para quem já está integrado.
Importa que se desburocratize o
exercício da docência com gastos brutais de tempo e esforço sem retorno
pertinente. Sim eu sei, como dizia João dos Santos, que “mais difícil em
educação é trabalhar de uma forma simples”, mas desburocratizar não é promover
“facilitismo” é uma medida com impacto positivo em termos profissionais e
pessoais.
Considerando o que acontece em
muitos territórios educativos talvez seja de começar a olhar (reflectir) sobre
o modelo de governança das escolas e agrupamentos que parece excessivamente
dependente da competência de cada direcção criando assimetrias profissionais e
climas institucionais menos favoráveis ao trabalho de alunos, professores e
técnicos.
Julgo claro que mudanças neste
sentido não são fáceis e que será sempre difícil um caminho de concordância
generalizado, mas também tenho a convicção de que medidas conjunturais, mais
positivas ou menos ajustadas, concebidas por ciclos políticos continuarão,
apesar, de alguns ajustamentos, a “mexer” na conjuntura e a não alterar
substantivamente a estrutura que alimenta … as conjunturas.
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