Excelência,
Apelando à sua generosidade apresento-lhe a seguinte situação.
Por azares da fortuna acabei por nascer e viver no Deserto da Sara, como sabe o petit nom da margem sul do Tejo. Estou num trágico inferno Senhor Ministro. Os meus filhos engrossam as estatísticas que envergonham o nosso país e a sua colega Ministra da Educação pois, por falta de escolas, estão condenados ao analfabetismo. Todos os dias temos alguém conhecido ou familiar que falece por falta de assistência pois hospitais… não existem O seu colega Ministro da Saúde tem aqui a tarefa facilitada pois não se pode fechar o que nunca abriu. Como sabe, não temos indústria e comércio e, no deserto, a agricultura é residual pelo que poucos trabalham aqui no Deserto da Sara. Mesmo assim, os poucos que o fazem têm de percorrer longuíssimas distâncias até chegar ao Portugal rico e desenvolvido da margem Norte. Até estas viagens são infernais pois, como muito bem sabe Vossa Excelência como Ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, não temos estradas, as carroças são lentas e a travessia do Tejo torna-se difícil porque os barcos não ajudam. O nosso ordenamento territorial obedece às leis do deserto pelo que não temos cidades, apenas aldeias e tão dispersas que nem as grandes superfícies chamadas Centros Comerciais aqui se instalam. Embaraça-nos muito, também, o isolamento em que vivemos pois quando, por milagre, alguém se lembra de vir ao Deserto da Sara não pode ficar devido à inexistência de hotéis, embora tenhamos numa aldeia chamada Costa da Caparica, uns parques de campismo muito jeitosos que Vossa Excelência já visitou num safari que fez pelo Deserto da Sara, aquando da revolta do mar.
Como vê Excelência, é o inferno. Quando, com a ajuda de um familiar rico ou com algum subsidiozinho dado pelo governo a que Vossa Excelência pertence, oferecemos um presente aos nossos filhos, quase sempre optamos por “kits de sobrevivência”. É por isso que me dirijo ao Senhor Ministro no sentido de me ajudar. Um primo da cunhada do tio da minha mulher falou-me que existe uma terra chamada Ota que fica situada numa região chamada Éden onde existe tudo, mas mesmo tudo, o que pode fazer feliz uma família preocupada com o bem-estar dos seus filhos. Parece que só falta mesmo um aeroporto mas, disse-me esse familiar, o Senhor comprometeu-se pessoalmente a construí-lo. Só lhe pedia então um emprego para sair aqui do Deserto da Sara e dar à minha família o que merece. Ajeito-me em qualquer coisinha e, se tiver dificuldade, peço ajuda a um ucraniano daqueles que são doutores e sabem fazer de tudo e que agora vêm para as nossas obras. Como vê peço pouca coisa. Em troca prometo o meu voto e o da família, prometo rir-me das graças sobre a sua inscrição na Ordem dos Engenheiros, e, muito importante, não farei queixa dessas graças.
Queira Senhor Ministro aceitar os meus agradecimentos pela atenção que possa dispensar a esta trágica situação.
Seu, José Marques
Almada
Apelando à sua generosidade apresento-lhe a seguinte situação.
Por azares da fortuna acabei por nascer e viver no Deserto da Sara, como sabe o petit nom da margem sul do Tejo. Estou num trágico inferno Senhor Ministro. Os meus filhos engrossam as estatísticas que envergonham o nosso país e a sua colega Ministra da Educação pois, por falta de escolas, estão condenados ao analfabetismo. Todos os dias temos alguém conhecido ou familiar que falece por falta de assistência pois hospitais… não existem O seu colega Ministro da Saúde tem aqui a tarefa facilitada pois não se pode fechar o que nunca abriu. Como sabe, não temos indústria e comércio e, no deserto, a agricultura é residual pelo que poucos trabalham aqui no Deserto da Sara. Mesmo assim, os poucos que o fazem têm de percorrer longuíssimas distâncias até chegar ao Portugal rico e desenvolvido da margem Norte. Até estas viagens são infernais pois, como muito bem sabe Vossa Excelência como Ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, não temos estradas, as carroças são lentas e a travessia do Tejo torna-se difícil porque os barcos não ajudam. O nosso ordenamento territorial obedece às leis do deserto pelo que não temos cidades, apenas aldeias e tão dispersas que nem as grandes superfícies chamadas Centros Comerciais aqui se instalam. Embaraça-nos muito, também, o isolamento em que vivemos pois quando, por milagre, alguém se lembra de vir ao Deserto da Sara não pode ficar devido à inexistência de hotéis, embora tenhamos numa aldeia chamada Costa da Caparica, uns parques de campismo muito jeitosos que Vossa Excelência já visitou num safari que fez pelo Deserto da Sara, aquando da revolta do mar.
Como vê Excelência, é o inferno. Quando, com a ajuda de um familiar rico ou com algum subsidiozinho dado pelo governo a que Vossa Excelência pertence, oferecemos um presente aos nossos filhos, quase sempre optamos por “kits de sobrevivência”. É por isso que me dirijo ao Senhor Ministro no sentido de me ajudar. Um primo da cunhada do tio da minha mulher falou-me que existe uma terra chamada Ota que fica situada numa região chamada Éden onde existe tudo, mas mesmo tudo, o que pode fazer feliz uma família preocupada com o bem-estar dos seus filhos. Parece que só falta mesmo um aeroporto mas, disse-me esse familiar, o Senhor comprometeu-se pessoalmente a construí-lo. Só lhe pedia então um emprego para sair aqui do Deserto da Sara e dar à minha família o que merece. Ajeito-me em qualquer coisinha e, se tiver dificuldade, peço ajuda a um ucraniano daqueles que são doutores e sabem fazer de tudo e que agora vêm para as nossas obras. Como vê peço pouca coisa. Em troca prometo o meu voto e o da família, prometo rir-me das graças sobre a sua inscrição na Ordem dos Engenheiros, e, muito importante, não farei queixa dessas graças.
Queira Senhor Ministro aceitar os meus agradecimentos pela atenção que possa dispensar a esta trágica situação.
Seu, José Marques
Almada
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