Ontem, antecipando o dia 5 de Outubro no qual a
agenda das consciências manda que se pense nos professores, a RTP passou uma
pequena peça sobre algumas iniciativas levadas a efeito em algumas escolas a
este propósito. Do que vi, registei alguns depoimentos de miúdos do 1º ciclo
sobre os Professores. Da lembrança retiro três enunciados, “vai-me ensinar a
ser inteligente”, “vai-me ensinar a saber tudo” e “vai-me ensinar a ser boa
pessoa”. Devo confessar que para responsabilidade é suficiente e na verdade não
podemos falhar nesta missão que eles esperam dos professores.
Pensemos então na importância essencial e na
responsabilidade que o trabalho dos professores assume na construção do futuro.
Tudo passa pela escola e pela educação.
Pensemos no que é ser professor hoje, em algumas
escolas que décadas de incompetência na gestão urbanística e consequente
guetização económica e social produziram.
Pensemos em como os valores, padrões e estilos de
vida das famílias se alteraram fazendo derivar para a escola, para os
professores, parte do papel que compet(ia)e à família. Este trabalho é
realizado, muitas vezes, sem qualquer tipo de apoio ou suporte, com cada
professor entregue a si mesmo.
Pensemos na falta de condições de estabilidade e
segurança profissional com milhares de professores a cumprir a sua carreira de
poiso em poiso, sem poiso e sem condições. E não nos esqueçamos também da
imprescindível necessidade de que o seu trabalho seja avaliado através de
dispositivos sólidos, eficazes e justos de forma a proteger a própria classe,
os miúdos e as famílias.
Pensemos na deriva política a que o universo da
educação tem estado exposto nas últimas décadas, criando instabilidade e ruído
permanente sem que se perceba um rumo, um desígnio que potencie o trabalho de alunos,
pais e professores. O arranque deste ano lectivo foi particularmente
elucidativo.
Pensemos na frequência com que os professores são
injustiçados na apreciações de muita gente que no minuto a seguir à afirmação
de uma qualquer ignorante barbaridade, vai, numa espécie de exercício
sadomasoquista, entregar os filhos nas mãos daqueles que destrata,
depreendendo-se assim que, ou quer mal aos filhos ou desconhece os professores
e os seus problemas. Também são conhecidos os casos sucessivos de agressão e insulto
por parte de alunos e famílias.
Pensemos que a forma como os miúdos, pequenos e
maiores, vêem e se relacionam com os professores está directamente ligada à
forma como os adultos os vêem e os discursos que fazem.
Pensemos em como é imprescindível que a educação
e os problemas dos professores não sejam objecto de luta política baixa e
desrespeitadora dos interesses dos miúdos, mesmo por parte dos que se assumem
como seus representantes.
Pensemos nos professores que nos ajudaram a
chegar ao que hoje cada um de nós é, aqueles que carregamos bem guardadinhos na
memória, pelas coisas boas, mas também pelas más, tudo contribuiu para sermos o
que somos.
Pensemos, finalmente, como ser professor deve ser
uma das funções mais bonitas do mundo, ver e ajudar os miúdos a ser gente.
Confiemos pois que os professores não vão
decepcionar os miúdos que ontem falaram. Com a ajuda dos professores, também,
eles vão ser inteligentes, competentes e boas pessoas.
4 comentários:
Concordo.
Mas, neste dia do professor convém também lembrar que ainda há muito por fazer no sentido de distinguir verdadeiramente os bons dos maus professores.
Quando temos um regime de avaliação que coloca praticamente todos os professores no Bom ou acima deste, está tudo dito sobre a forma como se auto(des)regula a nossa actividade profissional.
Como o Pedro reparou escrevi "E não nos esqueçamos também da imprescindível necessidade de que o seu trabalho seja avaliado através de dispositivos sólidos, eficazes e justos de forma a proteger a própria classe, os miúdos e as famílias."
Estamos de acordo.
Mas, há quem não pense como nós. Os sindicatos de professores são um bom exemplo quando dizem que todos os professores dão o máximo de si próprios. É mentira. Há muitos que dão o mínimo dos mínimos...
Como também já escrevi muitas vezes, alguns dos discursos de representantes dos professores, são parte do problema e não parte da solução
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