Em pouco tempo surgem na imprensa generalista
dois estudos comprovando os níveis altíssimos de stress e risco de burnout no
grupo profissional dos professores portugueses.
Os dados não surpreendem, vão ao encontro de
outros estudos, nacionais e de outros países, sobre o burnout ligado ao
desempenho profissional. Os factores identificados como mais contributivos para
este quadro são a indisciplina, desmotivação dos alunos e a pressão para o
sucesso e depois insatisfação com as condições de desempenho, carga horária e
burocrática, falta de trabalho em equipa, falta de apoio e suporte das
lideranças da escola. O cenário agrava-se no ensino secundário.
Na verdade, os dados só podem surpreender quem
não conhece o universo da escola, como acontece com boa parte dos opinadores
que pululam pelos media perorando sobre educação.
Este dados são tanto mais preocupantes se
considerarmos que, de acordo com vários estudos, as variáveis ligadas aos
professores explicam 70% do sucesso dos alunos ou ainda que o factor chave do
sucesso na educação é a "qualidade do trabalho do professor". Também
cito com frequência uma afirmação de 2000 do Council for Exceptional Children,
"o factor individual mais contributivo para a qualidade da educação é a
existência de um professor qualificado e empenhado".
Neste quadro percebe-se a importância e
consequências das situações de mal-estar envolvendo os professores. Alguns dos
discursos que de forma ligeira e muitas vezes ignorante ocupam tempo de antena
na imprensa, parecem esquecer a importância deste trabalho e das circunstâncias
em que se desenvolve.
É complicada a tarefa de professor em algumas
escolas que décadas de incompetência na gestão urbanística e consequente
guetização social produziram.
Os valores, padrões e estilos e vida das famílias
alteraram-se significativamente fazendo derivar para a escola, para os
professores, parte do papel que competia(e) à família. Este trabalho é
realizado, muitas vezes, sem qualquer tipo de apoio ou suporte, com cada
professor entregue a si mesmo.
Importa ainda considerar as variáveis relativas à
estabilidade e segurança profissional com milhares de professores a cumprir a
sua carreira de poiso em poiso, sem poiso e sem condições. E não nos esqueçamos
também da imprescindível necessidade de que o seu trabalho seja avaliado
através de dispositivos sólidos, eficazes e justos de forma a proteger a
própria classe, os miúdos e as famílias.
Também deve ser ponderada a deriva política a que
o universo da educação tem estado exposto nas últimas décadas, criando
instabilidade e ruído permanente sem que se perceba um rumo, um desígnio que
potencie o trabalho de alunos, pais e professores. O arranque deste ano lectivo
foi particularmente elucidativo.
Com muita frequência os professores são
injustiçados na apreciações de muita gente que no minuto a seguir à afirmação
de uma qualquer ignorante barbaridade, vai, numa espécie de exercício
sadomasoquista, entregar os filhos nas mãos daqueles que destrata,
depreendendo-se assim que, ou quer mal aos filhos ou desconhece os professores
e os seus problemas. Também são conhecidos os casos sucessivos de agressão e
insulto por parte de alunos e famílias.
A forma como os miúdos, pequenos e maiores, vêem
e se relacionam com os professores está directamente ligada à forma como os
adultos os vêem e os discursos que fazem e isto contamina a serenidade do
processo de trábalho.
É também é imprescindível que a educação e os
problemas dos professores não sejam objecto de luta política baixa e
desrespeitadora dos interesses dos miúdos, mesmo por parte dos que se assumem
como seus representantes.
Na verdade, ser professor é uma das funções mais
bonitas do mundo, ver e ajudar os miúdos a ser gente, mas é seguramente uma das
mais difíceis e que mais respeito deveria merecer.
Sem comentários:
Enviar um comentário