Tive a possibilidade de assistir
durante uns minutos à conferência de imprensa da equipa do Ministério das
Finanças a propósito da entrega do Orçamento de Estado para 2013 no Parlamento.
O documento não apresenta nada de substantivamente diferente do que tem vindo a
ser anunciado, embora a discussão e aprovação esteja por fazer. Esperemos para
ver mas o prognóstico para a vida da esmagadora maioria das famílias é muitíssimo
reservado, sendo que muitas dificilmente sobreviverão mesmo com cuidados
paliativos.
A certa altura, alguém da
imprensa, vá lá saber-se com que intenção, perguntou a Vítor Gaspar se se
sentia remodelável. O ministro com o tom
vagaroso e fino que lhe é peculiar recordou que a composição do Governo é da
responsabilidade do Primeiro-ministro e que da sua parte se limitava a
retribuir a generosidade e o investimento enorme como lhe chamou que o país fizera na sua educação
durante décadas. Desenvolveu o tema durante algum tempo, sublinhando esse seu
dever para quem nele investiu, pois a sua educação foi muito cara pelo que,
insistiu, deveria retribuir esse esforço colocando-se ao serviço do estado.
Vítor Gaspar é, na verdade, um
homem que nasceu para gerir défices, consegue de forma notável identificar o
défice criado pelo investimento do estado na sua pessoa e a necessidade de
equilibrar esse défice servindo agora o estado ainda que não o faça,
naturalmente, pro bono.
Acontece que mais uma vez tenho
dificuldade em entender Vítor Gaspar. Vejamos, o estado, nós, investimos
durante décadas na sua formação, muito cara como ele afirma e Vítor Gaspar para
retribuir, para compensar, tira-nos o quase tudo.
Trata-se de uma estranha forma de
retribuição pouco compatível com uma boa educação. Não é nada bonito fazer mal
a quem nos fez bem.
O mesmo entendimento de retribuição
não informa uma notícia pequena referida no Público, organizar ou participar em
manifestações pode representar uma nódoa no currículo e impedir o acesso a
emprego. Está mal, alguém que se manifesta pelo que entende ser a defesa do bem
de todos deveria ser discriminado positivamente e ter a possibilidade de
retribuir o que todos fizeram pela sua educação.
Assim não vamos lá.
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