O MEC determinou que a partir deste ano lectivo
os exames nacionais do ensino secundário incidam sobre os conteúdos curriculares
dos três anos do ciclo de estudos e não apenas sobre os conteúdos do 12º o que,
considerando a existência dos exames nacionais em final de ciclo, me parece
lógico, embora o tempo da decisão possa ser discutível.
No entanto, esta decisão torna, do meu ponto de
vista, mais urgente e necessário repensar o modelo de acesso ao ensino superior
cujos critérios assentam fortemente nos resultados dos exames nacionais.
De há muito, já aqui o afirmei em diversas
ocasiões, que entendo que deveria ser considerado o princípio de que a
conclusão e certificação de conclusão do ensino secundário e a candidatura ao
ensino superior deveriam ser processos separados.
Os exames nacionais destinam-se, conjugados com a
avaliação realizada nas escolas, a avaliar e certificar o trabalho escolar
produzido pelos alunos do ensino secundário e, obviamente, está sediado no
ensino secundário. Neste cenário caberiam as outras modalidades que permitem a
equivalência ao ensino secundário, como é o caso do ensino recorrente.
O acesso ao ensino superior é um outro processo
que deveria ser da responsabilidade do ensino superior e estar sob a sua
tutela.
A situação existente, não permite qualquer
intervenção consistente do ensino superior na admissão dos seus alunos, a não
ser a pouco frequente definição de requisitos em alguns cursos, o que até torna
estranha a passividade aparente por parte das universidades sempre tão ciosas
da sua autonomia. Parece-me claro que o ensino superior fazendo o discurso da
necessidade de intervir na selecção de quem o frequenta, não está interessado
na dimensão logística e processual envolvida.
Os resultados escolares do ensino secundário
deveriam constituir apenas um factor de ponderação a contemplar nos processos
de admissão organizados pelas universidades como, aliás, acontece em muitos
países. Mesmo em Portugal, neste momento é possível aceder ao ensino superior
sem ter realizado exames nacionais no secundário.
Sediar no ensino superior o processo de admissão
minimizaria muitos dos problemas conhecidos decorrentes do facto da média do
ensino secundário ser o único critério utilizado para ordenar os alunos no
acesso e eliminaria o “peso” das notas altíssimas concedidas, com frequência,
no ensino recorrente. Todos nós conhecemos os clássicos exemplos de alunos que
se dirigem a medicina porque as suas altíssimas notas assim o sugerem, acabando
por reconhecer não ser esse o seu caminho e, por outro lado, um potencial
excelente médico que deixará de o ser porque por três vezes ficou a décimas da
média de entrada.
De facto, com a decisão do MEC, a existência de exames
nacionais sobre os conteúdos de todo o ensino secundário, certificando a sua
conclusão e a consequente ordenação dos alunos, mais clara me parece a
necessidade de separar a avaliação e conclusão do secundário do processo de
candidatura ao superior.
3 comentários:
Uma coisa é certa: Nuno Crato não entra em facilitismos e exige que os alunos levem os exames a sério. O rigor e a exigência parece que estão para ficar. O eduquês está prestes a ser "enterrado".
Caro Pedro, continuo pouco convencido de que medir muitas vezes a febre a faça baixar. Muitos exames não têm a ver com qualidade como se comprova analisando outros sistemas de ensino. Como é evidente, isto não tem nada a ver com a imprescindível necessidade de uma avaliação exigente e rigorosa.
Estou perfeitamente de acordo. Todo este regime potencia o decoranço e não emprega nenhum estimulo à aprendizagem.
http://oestadoactual.blogspot.pt/2012/10/o-buraco-negro-do-ensino-portugues.html
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