No Público de hoje surge um estimulante trabalho sobre um
projecto desenvolvido nos Estados Unidos em que os alunos são chamados a
avaliar os seus professores. De acordo com os autores, os resultados dessa
avaliação são surpreendentemente consistentes entre si e com a literatura sobre
boas práticas educativas, incluindo nessa consistência a diferença entre os
alunos.
Algumas notas sobre esta questão.
Em primeiro lugar relembrar que a avaliação dos professores
por parte dos alunos não é algo de novo. No ensino superior, também em
Portugal, muitas instituições têm dispositivos de avaliação dos professores e
das unidades curriculares de que são responsáveis por parte dos alunos. O
envolvimento de alunos mais novos na avaliação dos professores, aliás,
realizada por alguns professores informalmente sobre o seu próprio trabalho é,
de facto, menos frequente.
Parece-me importante registar que existe uma extensa
literatura sobre o que são práticas docentes com qualidade nas várias dimensões
que o trabalho de professor envolve. Em Portugal, como noutros países existe
muita investigação sobre como “representam” os alunos o professor “ideal”, ou
seja o que entendem por um “bom professor”. Estes trabalhos realizados com
alunos de diferentes idades e características, bons alunos e “maus” alunos,
alunos disciplinados e “indisciplinados”, mostram com muita clareza uma
consistência na definição do que são as qualidades dos bons professores na
perspectiva dos alunos, de todos os alunos. Dito de outra maneira, os alunos “sabem”
o que é um bom professor, o espaço não permite aprofundar a forma como eles
elaboram estes discursos.
A questão central é o efeito, o impacto, desta “avaliação”.
A avaliação dos professores é quase sempre objecto de múltiplas discussões
sobre a sua forma e impacto, por exemplo na progressão da carreira, para além
de, como também é frequente entre nós, ser contaminada por agendas exteriores à
educação e por visões excessivamente corporativas.
Neste contexto, creio que estamos longe de admitir com
serenidade o envolvimento formal dos alunos na avaliação dos seus professores,
mas também é verdade que muitos professores o fazem de forma informal e com
excelentes resultados, que os alunos “sabem” o que são bons professores e que
desde muito pequenos os miúdos são genericamente capazes de produzir discursos críticos
e válidos sobre o que os rodeia.
Se qualquer de nós realizar uma maior ou menor, depende da
idade, viagem à meninice e adolescência, recuperar os professores de que guarda
uma memória positiva e pensar porquê eles assim permanecem, conclui com
facilidade que eles foram os nossos “bons professores”.
Os miúdos sabem, um dia talvez o possam dizer.
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