quarta-feira, 24 de outubro de 2012

EM PILOTO AUTOMÁTICO

É com relativa frequência que usamos a expressão piloto automático significando a realização de algo ou de um comportamento que já executamos sem grande esforço ou atenção, trata-se de uma tarefa tão familiar que a realizamos de forma “automática”.
Na verdade existem muitos aspectos e comportamentos na nossa vida pessoal, social, profissional, etc, que executamos em “piloto automático”. Ainda bem que o fazemos porque nos cria mais disponibilidade para atentar e pensar no enorme conjunto de decisões que necessitamos de tomar e para as quais é exigido tempo, análise, flexibilidade, informação diferenciada, antecipação de consequências, etc., etc., que não compatíveis com a atitude de “piloto automático”.
No entanto, é com inquietação crescente que me parece que cada vez mais tendemos a viver em piloto automático, seja numa perspectiva mais pessoal, seja numa dimensão mais colectiva. Vejamos alguns exemplos, apenas alguns, sem nenhuma ordem de importância, apenas a ordem da lembrança.
Achamos que devemos ensinar e avaliar os miúdos, todos os miúdos da mesma maneira, ao mesmo ritmo, ou seja, em piloto automático.
Decidem-se as políticas que se executam, custe o que custar, sem flexibilidade, sem atenção às consequências, ou seja, executam-se em piloto automático.
Entendemos as nossas ideias e valores como os definitivos e indiscutíveis, não nos questionamos e fugimos das dúvidas, ou seja, funcionamos em piloto automático.
As nossas relações pessoais, mesmo dentro da estrutura familiar, com alguma frequência e por muitas razões, decorrem de forma absolutamente rotineira, sem chama, ou seja, em piloto automático.
A exclusão e a pobreza banalizaram-se, tornaram-se transparentes, cruzamo-nos com estas situações e nem as “vemos”, ou seja, andamos em piloto automático, nem precisamos de olhar, ver.
Para muitos de nós o quotidiano, mais pesado ou mais leve, é um calendário que apenas emergem os dias em que não trabalhamos, mas que também decorrem da mesma forma, com os mesmos gestos, as mesmas falas ou silêncios, sempre da mesma forma, ou seja, em piloto automático, traduzido num "cá vamos", envolvido coreograficamente num encolher de ombros.
Na verdade, como é sabido, os dispositivos de pilotagem automática foram inventados para facilitar a vida das pessoas e viver a vida em piloto automático é muito mais fácil. 

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