É com relativa frequência que usamos a expressão piloto
automático significando a realização de algo ou de um comportamento que já
executamos sem grande esforço ou atenção, trata-se de uma tarefa tão familiar que a
realizamos de forma “automática”.
Na verdade existem muitos aspectos e comportamentos na nossa
vida pessoal, social, profissional, etc, que executamos em “piloto automático”.
Ainda bem que o fazemos porque nos cria mais disponibilidade para atentar e
pensar no enorme conjunto de decisões que necessitamos de tomar e para as quais
é exigido tempo, análise, flexibilidade, informação diferenciada, antecipação
de consequências, etc., etc., que não compatíveis com a atitude de “piloto
automático”.
No entanto, é com inquietação crescente que me parece que
cada vez mais tendemos a viver em piloto automático, seja numa perspectiva mais
pessoal, seja numa dimensão mais colectiva. Vejamos alguns exemplos, apenas
alguns, sem nenhuma ordem de importância, apenas a ordem da lembrança.
Achamos que devemos ensinar e avaliar os miúdos, todos os
miúdos da mesma maneira, ao mesmo ritmo, ou seja, em piloto automático.
Decidem-se as políticas que se executam, custe o que custar,
sem flexibilidade, sem atenção às consequências, ou seja, executam-se em piloto
automático.
Entendemos as nossas ideias e valores como os definitivos e
indiscutíveis, não nos questionamos e fugimos das dúvidas, ou seja, funcionamos
em piloto automático.
As nossas relações pessoais, mesmo dentro da estrutura
familiar, com alguma frequência e por muitas razões, decorrem de forma
absolutamente rotineira, sem chama, ou seja, em piloto automático.
A exclusão e a pobreza banalizaram-se, tornaram-se
transparentes, cruzamo-nos com estas situações e nem as “vemos”, ou seja,
andamos em piloto automático, nem precisamos de olhar, ver.
Para muitos de nós o quotidiano, mais pesado ou mais leve, é
um calendário que apenas emergem os dias em que não trabalhamos, mas que também
decorrem da mesma forma, com os mesmos gestos, as mesmas falas ou silêncios, sempre
da mesma forma, ou seja, em piloto automático, traduzido num "cá
vamos", envolvido coreograficamente num encolher de ombros.
Na verdade, como é sabido, os dispositivos de pilotagem
automática foram inventados para facilitar a vida das pessoas e viver a vida em
piloto automático é muito mais fácil.
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