Alguns professores e pais têm vindo a alertar desde
o início do ano para o aumento das dificuldades das famílias e do aumento do
número de famílias que não conseguem assegurar condições mínimas de qualidade
de vida aos seus miúdos. Professores e directores escolares registam a subida
de pedidos de ajuda e da apresentação de situações de carência, sendo
particularmente preocupante a situação de carência alimentar.
Tem sido recorrentemente noticiada a impotência e
dificuldade de muitas instituições de solidariedade social em responder ao
aumento brutal de pedidos de ajuda das famílias.
Face a este cenário o que temos pela frente é a
insistência insensível num caminho de cortes nas áreas sociais e da educação,
no corte insensato e insustentável no rendimento das famílias produzindo
diariamente novos pobres que já nem envergonhados se conseguem sentir, tamanha
é a desesperança que faz aparecer na escola ou nas instituições de mão
estendida.
Face a este drama dizem-nos não haver
alternativa. É mentira porque existem alternativas e é crime porque se condena miúdos
a passar a carências graves.
Já foi decidido que este ano lectivo as escolas
distribuirão pequenos almoços às crianças identificadas como situações
vulneráveis, sinalizadas, como se costuma chamar entre nós. A medida pecou por
tardia, muitas crianças têm como alimentação não muito mais do que aquilo que
as escolas lhes providenciam, como bem sabem as pessoas que se movem no
universo da educação.
As dificuldades das famílias e o que dessas
dificuldades penaliza e ameaça os mais pequenos, é demasiado importante para
que não insistamos nestas questões. Todos os estudos e indicadores identificam
os mais novos como o grupo mais vulnerável ao risco de pobreza que, aliás, tem
vindo a aumentar. Existem concelhos em que a percentagem de crianças
carenciadas ultrapassam os 50% e sabe-se do impacto negativo dos cortes dos
cortes na Acção Social Escolar e no orçamento das autarquias.
As dificuldades que afectam directamente a
população mais nova são algo de assustador. Esta realidade não pode deixar de
colocar um fortíssimo risco no que respeita ao desenvolvimento e sucesso
educativo destes miúdos e adolescentes e portanto, à construção de projectos de
vida bem sucedidos. Como é óbvio, em situações limite como a carência
alimentar, estaremos certamente em presença de outras dimensões de
vulnerabilidade que concorrerão para futuros preocupantes.
É por questões desta natureza que a contenção das
despesas do estado, imprescindível, como sabemos, deveria ser feita com
critérios de natureza sectorial e não de uma forma cega e apressada, custe o
que custar, naturalmente mais fácil mas que, entre outras consequências, poderá
empurrar milhares de crianças para situações de fragilidade e risco com
implicações muito sérias.
Miúdos com fome não aprendem e vão continuar
pobres. Manteremos as estatísticas internacionais referentes a assimetrias,
insucesso e incapacidade de proporcionar mobilidade social através da educação.
Não estranhamos. Dói mas é “normal”, é o destino.
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