O Público de hoje apresenta um trabalho
interessante sobre a generosidade dos mais ricos em Portugal. Retirando
algumas honrosíssimas excepções, aparentemente, os cidadãos mais ricos do país
não têm por hábito a generosidade da dádiva individual, embora alguns o façam através das empresas ou de Fundações a que estão ligados o que, como é
reconhecido, oferece benefícios fiscais, uma irrelevante compensação da sua desinteressada generosidade. A
este propósito, generosidade e fundações, relembro que no amargo 1º de Maio do
Pingo Doce, proporcionado, foi afirmado na altura, para ajudar e defender as famílias e a suas dificuldades,
o Grupo obteve um ganho estimado em 25 a 27 milhões de euros apesar de ter sofrido uma multa
de 30 000 € o que não está certo pois é injusto penalizar a ajuda às famílias.
Na verdade, os tempos estranhos e pesados que
atravessamos mostram um quadro paradoxal de excessos, a exclusão e a pobreza
por um lado e a acumulação obscena de riqueza e desperdício por outro, levantam
uma questão que, do meu ponto de vista, nem sempre é suficientemente ponderada,
a questão da pobreza não pode ser gerida e resolvida ou minimizada, sem se
considerar a questão da riqueza. A recente crise económica colocou a nu muitos
dos excessos nascidos do interior dos modelos económicos que têm sido seguidos.
Ouvem-se algumas referências e intenções, por exemplo da UE, de prevenir os
excessos, mas provavelmente não passarão de intenções que logo que a poeira
assente, ou seja, as economias recuperem, se esfumarão esquecidas.
Voltaremos com a habitual tranquilidade à
geografia dos excessos, a coabitação da fome e da exclusão com os excessos e o
desperdício, das obscenas e delinquentes remunerações e lucros com a
insuficiência de apoios sociais e com o desemprego, da mansão
inacreditavelmente luxuosa com os sem abrigo, etc.
Nada de estranho, portanto, o mundo é assim,
diremos.
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