No Público surgiu ontem um trabalho interessante
no qual um especialista em saúde mental referia os riscos potenciais de alterações
do comportamento que derivam do grave conjunto de dificuldades que muitos
portugueses atravessam.
A instalação de uma clima de desconfiança face ao
poder e ao futuro e a desesperança em mudanças significativas em tempo útil em
cima de situações como desemprego, por exemplo, podem provocar níveis de
sofrimento que potenciem fenómenos reactivos de natureza agressiva mais
extremados e dirigidos a terceiros, os identificados como responsáveis, caso
dos ocupantes da cargos políticos de relevo, ou mesmo dirigidos contra si próprios
através do suicídio.
Dito de outra maneira, os comportamentos correm o
risco de forma cada vez mais intensa conterem cargas emocionais que potenciam o
seu descontrolo. Aliás, se bem atentarmos nos testemunhos recolhidos em
manifestações ou protestos é bastante clara a carga emocional que envolve os
comportamentos observados e que se traduzem em comportamentos extremados como
verificamos na Grécia, em Espanha ou no extremo do recurso à tragédia das
imolações ou do suicídio como forma de protesto.
Assim, um contexto de situações de desemprego, pobreza
exclusão percebidos como resultantes de decisões políticas é fortemente
perturbador das pessoas e ajuda a explicar o aumento significativo dos casos de
perturbações depressivas ou da ansiedade ou de e comportamentos de natureza
mais agressiva.
Se a tudo isto ainda juntarmos sucessivas
declarações, algumas inaceitáveis e insultuosas, de pessoas com funções públicas
de relevo, está criado um caldo de cultura potencialmente explosivo e onde
facilmente germinam os excessos.
É frequente a afirmação de que somos um povo de
brandos costumes. A questão é que, como dizia Camões, todo o mundo é composto
de mudança, tomando sempre novas qualidades. Um dia cansamo-nos de ser bons
rapazes.
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