Foi divulgado o primeiro relatório do Sistema de Indicadores de Políticas de Inclusão – SIPI, coordenado pelo Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do Iscte – Instituto Universitário de Lisboa que numa primeira fase consideram as respostas de 721 pessoas com deficiência.
Vejamos alguns dados.
Perto de 40% das pessoas com
deficiência inquiridas afirmam viver com rendimentos abaixo do salário mínimo.
Por outro lado, 20% depende apenas da Prestação Social para a Inclusão (PSI), 324,55
euros.
Em matéria de emprego, 63% dos
inquiridos não têm emprego permanente. Em Portugal existe uma taxa de
desemprego de pessoas com deficiência de 12,8%, superior ao dobro da média
nacional.
Neste estudo, apenas envolvendo
pessoas em idade activa, a percentagem de inactividade é próxima de 40%.
Considerando as fontes de
rendimento, 39,9% dos inquiridos vêm do trabalho, 36,5% das prestações sociais,
30,4% de pensões de reforma/invalidez (30,4%). Acresce que 8,2% de pessoas que
afirmaram depender inteiramente da ajuda de terceiros não auferindo qualquer
rendimento.
Analisando o rendimento que
auferem, 30,7% refere viver com muitas dificuldades ou que o seu rendimento não
chega mesmo para fazer face às despesas”.
Lamentavelmente estes dados não
surpreendem, “apenas” sublinham o tanto que está por fazer.
Ainda pensando nestes indicadores
recordo o relatório divulgado em Abril, "Pessoas com Deficiência em
Portugal – Indicadores de Direitos Humanos 2024", da responsabilidade do
Observatório da Deficiência e Direitos Humanos com base no Inquérito Europeu às
Condições de Vida e Rendimento relativos a 2023, produzido pelo Serviço de
Estatística da União Europeia, Eurostat.
Vejamos alguns dados. Perto de
dois terços das pessoas com deficiência com mais de 6 anos estavam em risco de
pobreza antes da transferência dos apoios sociais.
Considerando as prestações
sociais a taxa de pobreza baixa 41,3% e nos cidadãos sem deficiência 20,3%
verificando um maior impacto dos apoios sociais na população com deficiência.
No entanto, o volume de apoios disponibilizado continua abaixo do que se verifica
na UE.
Parece claro e preocupante que, apesar
de alguma evolução, a situação das pessoas com deficiência continua com grande
vulnerabilidade face à pobreza e exclusão.
Não é novo, sucessivos relatórios
de diferentes entidades vão mostrando o quanto está por fazer e as dificuldades
decorrentes da corrida de obstáculos em que se transforma a vida das pessoas
com deficiência ameaçando os seus direitos e bem-estar bem como das suas
famílias. São por demais evidentes as dificuldades em áreas como, educação,
saúde, trabalho e emprego, segurança social, acessibilidades, autonomia,
independência ou autodeterminação.
A verdade é que a voz das
minorias é sempre muito baixa, ouve-se mal, existem variadíssimas áreas em que
são significativas as dificuldades colocadas às pessoas com deficiência,
designadamente saúde, acessibilidades, educação, apoio social, qualificação profissional
e emprego, em que a vulnerabilidade e o risco de exclusão continuam elevados
como este relatório mostra.
Importa também sublinhar que os
direitos fundamentais não podem ser de geometria variável em função de
contextos ou hipotecados às oscilações de conjuntura ainda que tenhamos
consciência da excepcionalidade destes tempos.
Parece necessário reafirmar mais
uma vez que os níveis de desenvolvimento das comunidades também se aferem pela
forma como lidam com os grupos mais vulneráveis e com as suas problemáticas.
Este entendimento é tanto mais importante quanto mais difíceis são os contextos
em que vivemos, os tempos actuais mostram discursos e comportamento hostis e
agressivos face à diversidade, ameaçam quem é percebido como diferente como se
existissem dois seres humanos iguais.
Mas, mais grave é que estes
discursos começam a contaminar as políticas públicas dada a mediocridade de
lideranças, a negação de valores e culturas que dávamos como adquiridos.
Não passarão.
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