Partiu o Papa Francisco. Apesar da sua empatia, da natureza de muitas das suas intervenções públicas, atento "às dores do mundo", em defesa dos mais desprotegidos e do seu carisma partiu sem, também ele, lidar de forma mais eficiente com os desafios que a Igreja enfrenta e dos males de que padece.
A questão crítica é a escolha da
direcção a seguir, a continuação dos pecados e do imobilismo com a crença na
absolvição ou a redenção que a renove. Apesar de alguma frescura nos discursos
e comportamento e algumas inciativas não mais do frestas apertadas do Papa Francisco não estou particularmente crente numa mudança
substantiva embora, mesmo como agnóstico, a julgue essencial pelo papel e
significado que a igreja ainda mantém nas nossas comunidades.
A propósito das mudanças na
Igreja, ou a sua ausência, considerando a referência que ainda constitui para
muita gente, recordo que D. Manuel Martins, bispo emérito de Setúbal, afirmava
em 2012 em entrevista ao JN, que a Igreja não está à altura do momento, está
"atrasada" e não presta atenção às "transformações do
mundo". E assim parece continuar.
A afirmação de D. Manuel Martins
lembrou-me o conhecido enunciado, "no entanto ela move-se". Ao que a
história ou a lenda rezam, no séc. XVII Galileu Galilei reagiu com esta mítica
afirmação à sua condenação no Tribunal do Santo Ofício pela defesa do modelo
heliocêntrico, a Terra move-se em volta do Sol.
Do meu ponto de vista, a
reconhecida perda da influência da Igreja Católica, sobretudo nos países mais
desenvolvidos, deve-se também ao seu imobilismo, à forma conservadora como não
reage às óbvias mudanças sociais, políticas, económicas e culturais sustentando
um progressivo afastamento da vida das pessoas, apesar da empatia revelada pelo
Papa Francisco.
Um dia, talvez a instituição
Igreja aceite e perceba a importância e a necessidade de mudança no discurso e
nas atitudes relativas ao divórcio e casamento, às uniões entre pessoas do
mesmo sexo e adopção por parte destes casais, à anticoncepção, ao celibato dos
padres, à abertura do sacerdócio às mulheres, o combate à ostentação visível em
parte das estruturas da igreja, etc.
No entanto, considerando o que se
tem ouvido e é conhecido das intervenções da hierarquia da Igreja, não creio
que, apesar de alguns comportamentos, iniciativas e discursos do Papa Francisco e também da
significativa mudança de estilo face ao seu antecessor Bento XVI, não parece
ter-se desencadeado algum movimento de alteração significativa nas posições da
Igreja sobre estas matérias apesar de algumas situações ou iniciativas mais pontuais.
Eppur si muove.
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