quarta-feira, 16 de abril de 2025

QUALIFICAÇÃO A MAIS OU DESENVOLVIMENTO A MENOS

Lê-se no Público que de acordo com dados do Eurostat relativos a 2024, em Portugal, 16% dos diplomados entre os 20 e os 64 anos Em Portugal, 16% dos diplomados têm qualificações a mais para o trabalho que realizam. Ainda assim, trata-se de um valor inferior à média na UE, 21,4%.

Parece-me que em matéria de políticas públicas de economia e emprego este indicador merece reflexão.

Nos últimos anos, felizmente, temos vindo a assistir a um aumento do nível de qualificação, mas parece verificar-se um inquietante desperdício do capital mais importante, a qualificação dos recursos humanos. Para além da “sobrequalificação” para os empregos disponíveis acresce a debandada de muitos jovens adultos qualificados para outros países em busca de projectos de vida mais sólidos e compatíveis com as suas motivações e qualificação.

Por outro lado, estão identificados dois factores considerados fortemente contributivos para este cenário.

Verifica-se que o peso da indústria e dos serviços de alta tecnologia é baixo e, por outro lado as limitações da contratação que se tem verificado no sector público.

Sem que seja, longe disso, um especialista nesta área, creio que tem faltado uma estratégia concertada envolvendo a qualificação dos cidadãos e, simultaneamente a qualificação e organização do trabalho e emprego por parte do universo de empregadores.

Acresce que nesta equação terá de ser considerado algo que me parece pouco referido e valorizado, o nível de qualificação dos empregadores.

Considerando como indicador um trabalho do divulgado em 2018 pelo Observatório das Desigualdades do ISCTE, "O mercado de trabalho em Portugal e nos países europeus", com base em dados do Instituto Nacional de Estatística e do Eurostat, em 2017 e a formação de nível superior, os empregados eram 27,1% e os empregadores, 20,1%.

Este cenário, torna ainda mais necessária a existência de políticas públicas que sustentem e promovam de forma consistente e prolongada a modernização do mercado de trabalho, a qualificação do emprego que não pode assentar em proletarização dos salários e precariedade que desincentiva a busca de qualificação, a aposta em sectores de actividade que absorvam mão-de-obra mais qualificada e com maior produtividade, entre outros aspectos.

A divulgação dos dados relativos à “sobrequalificação” pode sustentar o perigoso entendimento de "não compensa estudar". Na verdade, contrariamente à tão afirmada quanto errada ideia de que somos um país de doutores, continuamos, em termos europeus, com uma taxa baixa de qualificação superior em todas as faixas etárias incluindo as mais jovens.

O que acontece verdadeiramente é termos desenvolvimento a menos, não é qualificação a mais, temos um mercado de trabalho proletarizado e a proletarizar-se que não absorve a mão de obra qualificada. Não podemos passar a mensagem de que a qualificação não é uma mais-valia.

Sem comentários: