Lê-se no Público que de acordo
com dados do Eurostat relativos a 2024, em Portugal, 16% dos diplomados entre
os 20 e os 64 anos Em Portugal, 16% dos diplomados têm qualificações a mais
para o trabalho que realizam. Ainda assim, trata-se de um valor inferior à
média na UE, 21,4%.
Parece-me que em matéria de políticas
públicas de economia e emprego este indicador merece reflexão.
Nos últimos anos, felizmente,
temos vindo a assistir a um aumento do nível de qualificação, mas parece
verificar-se um inquietante desperdício do capital mais importante, a
qualificação dos recursos humanos. Para além da “sobrequalificação” para os
empregos disponíveis acresce a debandada de muitos jovens adultos qualificados
para outros países em busca de projectos de vida mais sólidos e compatíveis com
as suas motivações e qualificação.
Por outro lado, estão identificados
dois factores considerados fortemente contributivos para este cenário.
Verifica-se que o peso da
indústria e dos serviços de alta tecnologia é baixo e, por outro lado as
limitações da contratação que se tem verificado no sector público.
Sem que seja, longe disso, um
especialista nesta área, creio que tem faltado uma estratégia concertada
envolvendo a qualificação dos cidadãos e, simultaneamente a qualificação e
organização do trabalho e emprego por parte do universo de empregadores.
Acresce que nesta equação terá de
ser considerado algo que me parece pouco referido e valorizado, o nível de
qualificação dos empregadores.
Considerando como indicador um
trabalho do divulgado em 2018 pelo Observatório das Desigualdades do ISCTE,
"O mercado de trabalho em Portugal e nos países europeus", com base
em dados do Instituto Nacional de Estatística e do Eurostat, em 2017 e a
formação de nível superior, os empregados eram 27,1% e os empregadores, 20,1%.
Este cenário, torna ainda mais
necessária a existência de políticas públicas que sustentem e promovam de forma
consistente e prolongada a modernização do mercado de trabalho, a qualificação
do emprego que não pode assentar em proletarização dos salários e precariedade
que desincentiva a busca de qualificação, a aposta em sectores de actividade
que absorvam mão-de-obra mais qualificada e com maior produtividade, entre
outros aspectos.
A divulgação dos dados relativos
à “sobrequalificação” pode sustentar o perigoso entendimento de "não
compensa estudar". Na verdade, contrariamente à tão afirmada quanto errada
ideia de que somos um país de doutores, continuamos, em termos europeus, com
uma taxa baixa de qualificação superior em todas as faixas etárias incluindo as
mais jovens.
O que acontece verdadeiramente é termos desenvolvimento a menos, não é qualificação a mais, temos um mercado de trabalho proletarizado e a proletarizar-se que não absorve a mão de obra qualificada. Não podemos passar a mensagem de que a qualificação não é uma mais-valia.
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