Lê-se no Público que, de acordo o inquérito anual da DGEEC relativo às condições que os estabelecimentos de ensino superior para acolhimento da população escolar com necessidades especiais, o número de alunos aluno nesta condição inscritos no superior mais do que duplicou em cinco anos, de 2311 em 2019/20, para 5309 em 23/24, 80% no ensino público.
No entanto a taxa de abandono
aumentou ligeiramente, de 10,25% para 11% no ano passado.
A candidatura de alunos com
necessidades especiais ao ensino superior tem previsto um contingente prioritário
para candidatos com deficiência apenas “os titulares de atestado médico de
incapacidade multiuso que avalie incapacidade igual ou superior a 60% ou os
titulares de parecer positivo de comissão de peritos”. Será ainda obrigatória a
comprovação “das medidas adicionais de suporte à aprendizagem durante o
percurso do ensino secundário justificadas pela deficiência em causa”.
Dadas as dificuldades sentidas o
MECI manifestou a intenção no ano passado de alterar este quadro, o que creio
não se ter verificado.
Como já aqui tenho escrito, é
habitual ouvir-se que, recorrer a quotas ou contingentes especiais para
minimizar exclusão ou desigualdade, não sendo o ideal, pode ajudar a minimizar
os problemas. No entanto, a questão é mais complexa, nem sempre as vagas definidas
no contingente especial são preenchidas.
Para além da definição de quotas
no acesso ao superior e dos seus critérios de aplicação, a promoção da
qualificação de cidadãos com necessidades especiais e, portanto, da sua
inclusão começa na educação pré-escolar e durante todo o trajecto do ensino básico
e secundário. Neste percurso é crítica a necessidade de dispositivos de apoio
competentes e suficientes.
A realidade, no âmbito da chamada
educação inclusiva, apesar das boas experiências que existem, não é a que
muitas vezes se vê referida. A título de exemplo e como qui muitas vezes
referi, nem sempre é cumprido o limite de alunos com necessidades educativas
especiais por turma.
São claramente insuficientes os
recursos técnicos e humanos, psicólogos, terapeutas e auxiliares e verifica-se
a incapacidade de muitas escolas na operacionalização das medidas de apoio
definidas nos relatórios técnico-pedagógicos. As direcções escolares referem a
insuficiência de recursos humanos adequados que se agudiza com dramática falta
de docentes.
Acresce que, como já aqui referi
a propósito do contingente prioritário para alunos carenciados, a decisão de
continuar para o ensino superior é construída durante todo o trajecto do básico
e secundário. Trajectos educativos bem apoiados promovem expectativas mais
elevadas de alunos e famílias, valorizam o conhecimento e a qualificação e,
portanto, são mais potenciadores da intenção de continuar a estudar. Donde, é
imprescindível um forte investimento em recursos e dispositivos de apoio que
que sustentem mais sucesso para todos os alunos de todas as escolas.
Também sabemos que, sem
estranheza, as famílias em situação mais vulnerável expressam mais
frequentemente expectativas mais baixas ou nulas sobre o sucesso escolar dos
seus filhos e sobre a importância de estudar. Por outro lado, também sabemos
que a entrada no mercado de trabalho de pessoas com deficiência ainda tem mutos
obstáculos. Torna-se, assim, necessário um trabalho que envolva as famílias no
sentido de construir ou reajustar expectativas sentirem a existência de uma
imagem criadora de futuro.
Embora já seja feito em muitas
escolas, sobretudo no final e durante o pós-básico, seria desejável que os
dispositivos de orientação vocacional tivessem os recursos necessários para de
forma alargada providenciarem informação clara sobre a natureza da oferta
formativa, das suas características e solicitações, a que áreas de desempenho
permitem aceder no mundo profissional, etc. Por outro lado, esse apoio também
envolve o trabalho com os alunos no sentido de ajudar a um processo de tomada
de decisão que seja base para procurar qualificação, de natureza diversa, no
ensino superior.
Já no ensino superior e para
todos os alunos é importante que existam dispositivos de apoio institucionais e
também formas de mentoria desenvolvidas já por alunos a frequentar os
estabelecimentos que contribuam para melhores e mais rápidos processos de adaptação
a novas rotinas, métodos de trabalho, dificuldades de adaptação, etc. O nível
de desistência da frequência é mais alto nas populações mais vulneráveis.
Uma nota final para o óbvio, as
mudanças mais estruturais requerem investimentos e os recursos são finitos,
nenhuma dúvida.
No entanto, as políticas públicas
exigem opções e, também por isso, são avaliadas.
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