terça-feira, 8 de abril de 2025

NÃO, NÃO E ... SIM

Nos últimos tempos face a diversos episódios de mal-estar, violência, delinquência ou abusos que envolvem crianças, adolescentes e jovens e também com o impacto da série da Netflix, “Adolescência” as referências à relevância de regras e limites na educação dos mais novos e em diferentes áreas do seu funcionamento destacando-se a questão dos comportamentos, dos consumos de natureza diversa e, naturalmente, a exposição a ecrãs e a tudo o que por eles chega no telemóvel, no tablet ou no pc.

Ao longo da minha actividade profissional e desde há muito tenho abordado estas matérias, quer na formação dos meus futuros colegas, quer em trabalho com professores e pais com quem tive oportunidade de realizar muitos encontros interessantes, mas também com algumas inquietações, confesso, face a discursos que fui ouvindo.

E a verdade é que ao longo do tempo estas questões têm vindo a evoluir num sentido cada vez mais preocupante e, finalmente, parece que estão definitivamente na agenda familiar e institucional, designadamente, na área da educação, mas também na saúde mental.

Aqui no Atenta Inquietude têm sido múltiplas as referências a este universo.

Por curiosidade, deixo um texto de Abril de 2012, “Não, não e … sim”, que me parece manter a sua pertinência.

Já por aqui temos conversado, de forma mais séria ou através de estórias, sobre a ideia de como o ”não” e o ”sim” são bens de primeira necessidade na vida dos miúdos.

Acontece que, por diferentes razões, na vida das famílias, de muitas famílias, parece estar a ser progressivamente mais difícil administrar o “não” usando-se de forma, por vezes excessiva, o “sim”, seja de forma mais activa ou apenas por omissão do “não”.

Tal cenário acaba por estar associado a situações em que os miúdos evidenciam grandes dificuldades em perceber as regras e os limites do seu comportamento, uma das funções mais importantes do “não”. Como consequência, o comportamento dos miúdos torna-se despótico, desregulado, transformando-os no “pequeno ditador” de que alguns falam e muitos conhecem, gerando-se situações de grande embaraço e climas educativos e relacionais pouco saudáveis entre graúdos e miúdos.

Assistimos com muita frequência a cenas bem exemplificativas deste funcionamento, pais envergonhados e impotentes e meninos a fazer o que lhes passa pela cabeça, quando lhes passa pela cabeça.

Em muitas circunstâncias, os estilos de vida dos pais, o pouco tempo que têm para os miúdos, instalam de mansinho um sentimento de culpa que leva a que os pais, quase sempre sem se dar conta, se inibam, para evitar situações de tensão ou crispação que "estraguem" o pouco tempo que têm para os filhos, de dizer de forma firme e persistente, “não”, "não podes fazer isso". Acontece que o “não” inicial desencadeia no miúdo uma reacção de birra, mais ou menos exuberante, a que os pais não resistem e, é uma questão de tempo, o “não” passa a “sim” quase sempre acompanhado de um “só desta vez”, “só uns minutos” ou qualquer outra expressão que na circunstância atenue o desconforto.

Os miúdos são inteligentes, percebem muito facilmente quando um não é não ou quando o não passa rapidamente a sim. Aprendem com serenidade as regras e os limites. É, pois, fundamental que os pais se sintam confiantes e usem o “não” de forma adequada, ainda que flexível, sem medos das “birras” ou de perderem o afecto dos miúdos por serem “duros”. Na verdade, as crianças precisam dessas regras e dos limites para estabelecer relações de afecto positivas, a sua ausência é que é um risco.


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