Não é muito hábito fazer no Atenta
Inquietude referências a produtos
culturais, por assim dizer, mas não resisto a trazer uma nota sobre uma obra mágica
que anda pelas salas de cinema. Trata-se do filme de Wes Anderson, "Moonrise
Kingdom", que aborda a descoberta
do amor pelos miúdos mal amados, no caso, o rapaz problemático, Sam
Shakusky, órfão, rejeitado pela família de acolhimento e escuteiro sem
particular vocação mas competente, que se aproxima de Suzy Bishop, miúda também
problemática, estranha, mal amada numa família de advogados.
Para além de uma banda sonora e fotografia lindíssimas,
o filme ajuda-nos a lidar com o mundo, é muito bonito.
A certa altura, Sam pergunta a
Suzy porque razão ela anda permanentemente com uns binóculos que não abandona
nunca. Suzy responde algo como "os binóculos fazem o longe parecer perto,
é o meu poder mágico".
Na verdade a Suzy, o Sam, como
muitos outros miúdos do mundo real querem, gostam, precisam de ver mais perto coisas,
dimensões, sentimentos que lhes parecem longe, Ver o afecto mais perto, ver a
atenção mais perto, ver o cuidado mais perto. Lamentavelmente, os binóculos não
têm esse poder mágico em que Suzy acredita, não trazem nada disso para mais
perto.
Aliás, ela mais do que saber,
sente isso quando não usa os binóculos para ver o amigo Sam Shakusky, ele está
perto, o afecto que eles descobrem um pelo outro e que acaba numa notável e
surreal cena de casamento, está perto, muito perto, aquece.
Esse é o poder mágico que muitos
miúdos precisam.
Sem comentários:
Enviar um comentário