Apesar de alguma aparente evolução, quando chegam
os primeiros dias de calor a sério surge a tragédia dos fogos, sempre.
Este ano, ao que parece os meios disponíveis
diminuíram e as condições climatéricas têm sido genericamente favoráveis, não
tem havido calor em excesso apesar de muitos dias ventosos mas nos últimos três
dias a situação mudou, para pior, manteve-se o vento e o calor subiu.
As imagens da Madeira são particularmente
devastadores e dramáticas, mas muitos outros locais em Portugal estão
mergulhados no inferno do fogo.
Todos os anos somos informados de melhorias nos
dispositivos de prevenção e combate, no aumento de meios à disposição, na
racionalização da gestão dos recursos, etc. etc.
Entretanto, quando a comunicação social,
sobretudo a televisiva, de forma frequentemente desajeitada, começa a mostrar o
"terreno", o "cenário dantesco", a ouvir "moradores
que passaram uma noite em branco", a ouvir o "senhor comandante dos
bombeiros", a referir os "meios aéreos, dois Canadairs e um
Kamov", a ouvir os "responsáveis locais ou regionais da protecção
civil", a gravar despudoradamente imagens de dor, sofrimento e perda de
gente anónima que tendo quase nada, vê arder o quase tudo, parece um filme
sempre visto e sem surpresas. É evidente que temperaturas muito altas e vento
são condições desfavoráveis e que a negligência e delinquência dão um
contributo fortíssimo ao inferno que sobressalta cada Verão.
Sem nenhuma espécie de conhecimento destas
matérias, para além do interesse e preocupação de um cidadão atento e
preocupado com os custos enormes destes cenários de destruição, tenho alguma
dificuldade, considerando a dimensão do nosso país, em compreender a
inevitabilidade destes cenários. Os espanhóis têm por uso afirmar que os incêndios
se combatem no inverno, nós combatemo-los no inferno.
Trata-se de um destino que não pode ser evitado?
Trata-se de uma área de negócios, a fileira do fogo, que, pelos muitos milhões
que envolve, importa manter e fazer funcionar sazonalmente? Trata-se
"só" de incompetência na decisão política e técnica em termos de
resposta e prevenção? Trata-se da falência de modelos de desenvolvimento
facilitadores de desertificação e abandono, designadamente das área rurais?
O poeta falava de um fogo que arde sem se ver, é bonita a imagem. Mas quando
um fogo arde e se vêem os seus efeitos devastadores e dramáticos, dói mais e não se perdoa.
Acresce que em Portugal passamos o ano todo a
apagar fogos de diferentes naturezas e implicações.
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