Um grupo de peritos propõe que as crianças que recorrem às
urgências hospitalares paguem taxas moderadoras mais elevadas, quando não se
tratar de situações verdadeiramente urgentes e não venham através dos Centros
de Saúde ou por indicação da Linha Saúde 24. O objectivo é, obviamente, “moderar”
o recurso às urgências.
Todos nós reconhecemos sem grandes dúvidas que às urgências
hospitalares acorrem muitos casos das chamadas “falsas urgências” o que,
obviamente, complica a vários níveis o funcionamento e eficácia dos serviços e
o atendimento a situações verdadeiramente urgentes. Esta situação é clara para
mim mas, por outro lado, a experiência de vida e o conhecimento do que é por cá
viver, sugerem algumas notas.
Em primeiro lugar, tendo o maior respeito pelos peritos, os
seus saberes e as suas opiniões, não deixo de recordar, por exemplo, como os
peritos estudaram, previram e geriram eficazmente a crise económica em que
mergulhámos e como os peritos têm visões claras, coerentes e consensuais sobre
como sair dela. Na verdade, como o povo diz, quase temos “cada perito cada
sentença”. Donde, sendo imprescindível a sua opinião, importa outras análises.
Muitos de nós têm experiência de recorrer a consultas de
urgência nos Centros de Saúde e também sabemos da dificuldade ou quase
impossibilidade de, em muitas circunstâncias, conseguir a consulta dentro de um
tempo razoável de espera. Dizerem-nos para esperarmos no Centro de Saúde,
acontecendo que ainda poderemos ter que esperar depois no hospital, a tentação,
óbvia, é a deslocação directa para a urgência hospitalar, encurtando a espera. Esperar
que assim não façamos é ingenuidade ou incompetência, pois sem respostas eficazes
na generalidade dos Centros de Saúde bem podem os peritos clamar pelo recurso a
estes antes do hospital.
Se este quadro envolver crianças a coisa complica-se. A
esmagadora maioria de nós não tem conhecimentos que lhe permitam avaliar a
maior ou menor gravidade dos problemas que podem afectar os miúdos pelo que a
reacção mais natural dos pais é dirigirem-se com a rapidez possível ao local
onde sabem encontrar a resposta ajustada para o que quer que seja. Mais uma vez
coloca-se a questão, levo o meu filho para o Centro de Saúde, espero horas para
a consulta e corro ainda o risco de ter de seguir para o hospital, pelo que o
mais fácil será seguir directamente para o hospital.
Os peritos propõem então que se eu tomar esta decisão seja
multado, ou seja, que me apliquem uma taxa moderadora elevada que é para
aprender a não correr logo para uma urgência cuidar da saúde do meu filho. Claro
que os peritos, como peritos, não têm destas inquietações.
O enunciado das propostas dos peritos é muito interessante
do ponto de vista processual e logístico. O problema, o pequeno problema, é que
nestes processos o que está em causa são pessoas, em particular pais a decidir
sobre o que fazer com os miúdos que sentem doentes e não sabem se muito se
pouco pelo que correm onde pensam estar a melhor resposta.
De qualquer forma vamo-nos habituando a multas aos pais que
decidem mal, aqui chamam-se taxas moderadoras.
4 comentários:
Cada cavadela sua minhoca. Em Portugal é peritos para tudo... e por causa dos peritos é que estamos na situação em que estamos.Quantos mais estudos mais enormidades são feitas contra aqueles que lhe pagam os ordenados chorudos... para depois mandarem estas bacoradas pela boca fora. Não foi assim com as PPP?
Votaram no Passos Coelho, não foi? Azarito!
O pais a saque! Vale tudo!
E foram estes que, em campanha eleitoral, prometeram esperança e diziam que os portugueses nao aguentavam mais impostos!!!....
Hipócritas! Aldrabões! Cínicos!
Esta é das medidas mais escandalosas de que já tive notícia. Então como é que os pais vão adivinhar a gravidade da doença dos filhos?
Circulava também há tempos o boato de que os desempregados estariam isentos de taxas moderadoras. Já pude comprovar que não. São 20 €. Felizmente aceitam multibanco...
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