quinta-feira, 26 de julho de 2012

CANTA COM AQUILO QUE ÉS, SÓ PODES DAR O QUE É TEU

Em muitos textos  e conversas com gente interessada nas circunstâncias de vida dos miúdos, são frequentes as referências à importância do tempo na forma e qualidade como a vivem.
Quase sempre os discursos entendem que os miúdos não estão a ter o tempo que precisam para crescer. Desde miúdos, começa com os pais, experimentam uma enorme pressão pra crescer depressa, para fazer tudo bem, para fazerem muitas coisas e sempre, sempre com pressa para chegar ao tudo, tudo é importante, tudo faz falta.
A entrada na escola, em diferentes idades, nas mais das vezes reproduz esta questão do tempo que os miúdos cada vez têm menos, para si.
Todo o tempo é gasto na escola, sempre a aprender o tudo que têm de saber para chegar a adultos excelentes, empreendedores, sábios e produtivos. Mesmo o tempo outro que não o da escola, é ainda gasto a aprender mais coisas, a realizar mais actividades sempre à custa do tempo que os miúdos não têm.
A minha questão é que o problema essencial não é o tempo que os miúdos não têm, é o tempo que nós, mais crescidos, não temos. Na verdade nós já não temos tempo.
José Mário Branco, no lindíssimo Fado da Tristeza, diz, "canta com aquilo que és, só podes dar o que é teu".
Só podemos dar o que é nosso, o tempo já não é nosso, não temos tempo, não poderemos, pois, dá-lo aos miúdos. Eles têm mesmo que crescer sem tempo, como nós vivemos sem tempo.
Tenho que acabar, preciso mesmo de terminar a preparação de  um trabalho para amanhã e não posso perder mais tempo.

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