Em muitos textos e conversas com gente interessada nas
circunstâncias de vida dos miúdos, são frequentes as referências à importância
do tempo na forma e qualidade como a vivem.
Quase sempre os discursos entendem
que os miúdos não estão a ter o tempo que precisam para crescer. Desde miúdos,
começa com os pais, experimentam uma enorme pressão pra crescer depressa, para
fazer tudo bem, para fazerem muitas coisas e sempre, sempre com pressa para
chegar ao tudo, tudo é importante, tudo faz falta.
A entrada na escola, em
diferentes idades, nas mais das vezes reproduz esta questão do tempo que os
miúdos cada vez têm menos, para si.
Todo o tempo é gasto na escola,
sempre a aprender o tudo que têm de saber para chegar a adultos excelentes,
empreendedores, sábios e produtivos. Mesmo o tempo outro que não o da escola, é
ainda gasto a aprender mais coisas, a realizar mais actividades sempre à custa
do tempo que os miúdos não têm.
A minha questão é que o problema
essencial não é o tempo que os miúdos não têm, é o tempo que nós, mais crescidos,
não temos. Na verdade nós já não temos tempo.
José Mário Branco, no lindíssimo
Fado da Tristeza, diz, "canta com
aquilo que és, só podes dar o que é teu".
Só podemos dar o que é nosso, o
tempo já não é nosso, não temos tempo, não poderemos, pois, dá-lo aos miúdos. Eles têm
mesmo que crescer sem tempo, como nós vivemos sem tempo.
Tenho que acabar, preciso mesmo
de terminar a preparação de um trabalho para
amanhã e não posso perder mais tempo.
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