O Ministro da Educação afirma hoje que a "contestação dos
professores não é assim tão grande". No seu entendimento, a pouca constatação
existente é um resultado normal de processos negociais que envolvem, digo eu,
uma também normal conflitualidade de interesses, entre os vários actores do
universo educativo.
O Ministro afirma também que está a resolver, paulatina e tranquilamente
os problemas, citando vários exemplos, todos aplicados aos problemas dos
professores que, diz o Ministro, estão na sua totalidade em vias de se
resolver.
Como é evidente, tenho a maior das dúvidas sobre o
ajustamento das conclusões retiradas pelo Ministro Nuno Crato, mas imagino que
um ministro tenha que fazer este tipo de discursos, transforma a realidade na
projecção dos seus desejos.
A minha questão é de outra natureza. Remete para os
problemas que as crianças, os alunos podem sentir e perante os quais não vão,
certamente, contestar.
O aumento do número de alunos por turma e a concentração
excessiva de alunos, mudanças curriculares que parecem servir mais a economia
de recursos que as necessidades de ajustamento na extensão e organização dos conteúdos
curriculares, a constituição de turmas de nível que nas circunstâncias em que o
Ministro as entende e tem defendido, correm o risco de certificar o insucesso,
um Estatuto do Aluno e da Ética Escolar que assenta em bandeiras a multa aos
pais e castigos, que podendo ser necessários, nunca não são suficientes para além
de uma retórica sobre a autoridade dos professores que não se percebe muito bem
como este Estatuto constrói, o corte nos recursos ao dispor da escola em áreas
não docentes, a “normalização” do tratamento dos alunos com necessidades
especiais, a anunciada “via profissional” para miúdos com 10 anos, etc., são
exemplos, entre outras decisões, que levantam de facto inquietações.
Estas inquietações não serão susceptíveis de produzir contestação,
os miúdos não costumam contestar.
Por outro lado, com a contestação dos professores, o
Ministro, como aluno diligente, vai aprendendo a lidar, discurso habilidoso para cativar a opinião pública, ziguezagueando
quanto baste, dá com uma mão, retira com a outra e tudo corre dentro da
normalidade. Entende Nuno Crato.
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