sexta-feira, 13 de julho de 2012

SAUDADE

António, parece que foi ontem. Nós, novos, bonitos, ali em baixo na rua, a passear. Primeiro afastados, a olhar um para o outro, os tempos eram diferentes. Depois, já casados, gostávamos de passear de mão dada, sempre.
As pessoas diziam que éramos doidos. Se calhar sim, só um bocadinho. Foram anos cumpridos e cheios com os filhos que cresceram e se fizeram gente, bonita e boa. Como tu, António.
Quando partiste fiquei zangada, zangada e triste, muito triste. De todas as promessas que me fizeste, foi a única que não cumpriste. Disseste que não me deixarias só, nunca.
Mas tu sabes, António, quando nos encontrarmos vamos, de novo, passear de mão dada, em qualquer rua.
Mesmo que ainda nos chamem doidos.

1 comentário:

Ofelia Cabaço disse...

Idílio

Quando nós vamos ambos, de mãos dadas,
Colher nos vales lírios e boninas,
E galgamos dum fôlego as colinas
Dos rocios da noite índa orvalhadas;

Ou vendo o mar, das ermas cumiadas,
Contemplamos as nuvens vespertinas,
Que parecem fantásticas ruínas
Ao longe, no horizonte, amontoadas:

Quantas vezes, de súbito emudeces!
Não sei que luz no teu olhar flutua;
Sinto tremer-te a mão, e empalideces....

O vento e o mar murmuram orações,
E a poesia das coisas se insinua
Lenta e amorosa em nossos corações

Antero de Quental,
Professor, este poema vem muito a propósito, estou comovida e, até culpabilizada, se eventualmente alguma nuvem cinzenta paira sobre a minha mente, quando sei, que o amor quando é verdadeiro é o mais lindo, o mais puro, o mais sacrificado, o que ilumina as nossas almas e nos deixa saudades em vez de rancores e demagogias. Esta saudade é bela e muito saudável, apesar de triste! Uma abraço e obrigada pelos belos textos.
Ofélia