Num altura fortemente marcada por
medidas com impacto muito significativo na qualidade de vida da maioria dos
cidadãos, com aumento de impostos, corte nos vencimentos, pensões e reformas,
aumento brutal do desemprego, cortes nos apoios sociais, etc., assume ainda
mais relevância a dimensão e responsabilidade ética de quem gere e decide nas
diferentes áreas do nosso funcionamento.
Vem esta introdução a propósito
do escandaloso, mas não surpreendente, lote de nomeações pelo Ministério da
Saúde para a direcção executiva de agrupamentos de Centros de Saúde sob
proposta da ARS-Norte, como frisou o Ministro na AR. Como é evidente, isto não o
desresponsabiliza, antes pelo contrário. Uma análise à informação disponível, ver o Público,
sobre a experiência e currículo de boa parte dos nomeados seria algo de anedótico
se não fosse trágico nos efeitos. Vai na linha do que estamos habituados de há
décadas, um cartão partidário faz milagres curriculares e abre portas profissionais, desde uma licenciatura
a um tachozinho na administração da Saúde, arranja-se sempre qualquer coisinha,
os amigos e as fidelidades são para as ocasiões.
Quando o Primeiro-ministro afirma
que o Governo não está a "exigir de mais" ao País, não pode ser levado
a sério, tal como não pode ser levado a sério quando afirmou na campanha
eleitoral e no início do seu Governo que "Não se admitirão "jobs for
the boys"".
Afinal, aconteceram as nomeações para a aumentada
administração da CGD, em anunciado emagrecimento, e em que está claramente em
causa um conflito de interesses em alguns dos novos administradores a que se têm vindo a juntar várias situações como a referida acima.
Quando afirmou que a "actuação do estado
será transparente". Afinal, o negócio com o BIC sobre o BPN não foi
propriamente um modelo de transparência.
“A ser necessário um aumento de impostos incidirá
sobre o consumo e não sobre o trabalho”, disse o Primeiro-ministro. Afinal, cerca
de metade do subsídio de Natal foi, por assim dizer, cativado pelo Estado e
este ano são dois os vencimentos cativados a trabalhadores da administração e
pensionistas, medida inconstitucional conforme decisão do Tribunal
Constitucional.
"Os gabinetes ministeriais terão de ser
exemplos de contenção e austeridade", disse-se. Afinal, aconteceram
centenas de nomeações. Em alguns casos, a informação disponibilizada,
designadamente no que se refere a vencimentos, mostra situações curiosíssimas
com disparidades, no mínimo estranhas. Acontece ainda que muitas das nomeações
têm sido de "especialistas", um processo que mais não passa de uma
habilidade para fugir à impossibilidade de contratação por parte dos gabinetes
e tem sido condenado pelo Tribunal de Contas.
Afinal, os administradores hospitalares ligados
ao PS foram substituídos por administradores hospitalares ligados ao PSD e
CDS-PP numa dança a que estamos habituados.
Afinal para a Águas de Portugal são nomeados dois
autarcas, um do PSD e outro do CDS-PP. Estranhamente o rapaz do PSD, Manuel
Frexes, da Câmara do Fundão está em litígio com a AdP por causa de uma enorme
dívida.
Afinal, soube-se hoje que o Ministério dos
Estrangeiros, o do Dr. Portas, contratou um funcionário do CDS-PP obviamente
por concurso público transparente e mérito curricular. Aliás o novo adjunto é
arguido no caso Portucale o que ainda mais engrandece o seu currículo.
Afinal …
Hoje está instalada uma "praia do
descontentamento", uma forma de protesto, em frente ao Ministério das Finanças.
No entanto, mais do que uma praia, tudo isto constitui o inferno do nosso
descontentamento.
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