É conhecido o novo Estatuto do Aluno e da Ética
Escolar. Uma pequeníssima nota para a referência à ética, curiosa, vinda da 5
de Outubro. Tal como a imprensa tem vindo a sublinhar, o MEC encara as questões
graves dos comportamentos em contexto escolar através de dois eixos fundamentais
que, afirma incompreensivelmente, visam restaurar a autoridade dos professores,
castigos aos alunos e multas e suspensão de apoios aos pais dos indisciplinados e absentistas.
Primeiro umas notas sobre a indisciplina. A
indisciplina escolar é matéria de competência da escola e matéria de
responsabilidade de toda a comunidade, incluindo os pais, naturalmente, e todas
as figuras com relevância social, por exemplo, não se riam, políticos ou
jogadores de futebol. O Estatuto do Aluno, qualquer um, é um regulador, melhor
ou pior, mas nunca A solução e, pela mesma razão, nunca será A causa da
indisciplina.
As mudanças significativas no quadro de valores e
nos comportamentos criam dimensões novas em torno de um problema velho, a
indisciplina. Daqui decorre, por exemplo, que restaurar a autoridade dos
professores, tal como era percebida há décadas, é uma impossibilidade porque os
tempos mudaram e não voltam para trás.
Um professor ganha tanta mais autoridade quanto
mais competente e apoiado se sentir. A grande questão da avaliação dos
professores deveria ser entendida como ferramenta do seu desenvolvimento
profissional. É também importante reajustar a formação de professores. As
escolas de formação de professores não podem “ensinar” só o que sabem ensinar,
mas o que é necessário ser aprendido pelos novos professores e pelos
professores em serviço. Talvez fosse de analisar como o próprio MEC respeita a
autoridade dos professores e os contributos que as políticas educativas de há
anos para cá têm dado para a sua degradação. Problemas "novos"
carecem também de abordagens "novas" que retomo no fim do texto.
Quanto às multas aos pais e suspensão de apoios
sociais retomo notas que já aqui deixei.
1 - A maioria dos pais não gosta que os seus
filhos sejam "maus". A maioria não sabe como fazê-los
"bons". Estes precisam de apoio não de multas ou punições. Ponto.
2 - Uma minoria, muito pequena, de pais de miúdos
"maus" são pais maus não estão interessados ou preocupados em ser
bons, nem se preocupam com os filhos, são "negligentes". Nestes casos,
o problema é, no limite, retirar a guarda dos filhos, a multa não mexe
seguramente com a negligência destes pais. Ponto.
3 - Um miúdo "mau" levanta problemas
numa escola, qualquer escola, onde existem umas dezenas largas de especialistas
em educação que sentem a maior dificuldade em "resolver" os problemas
criados por esse miúdo "mau", não conseguindo, com frequência,
resultados positivos. Será que alguém que conheça estes cenários acredita que
os pais serão capazes de os resolver, por si, mesmo se lhes retirarem parte do
abono de família ou de qualquer outra prestação social? Não acredito. Ponto.
Escolas organizadas, com cultura institucional
sólida traduzida na adequação e consistência dos seus projectos educativos e
com lideranças eficazes são mais organizadoras dos comportamentos de quem nelas
habita, como qualquer outra organização. Também por isto se questiona
incompetente constituição de mega-agrupamentos.
Um caminho de autonomia, com a alteração
desejável dos modelos de organização e funcionamento das escolas e na gestão
curricular deveriam permitir que as escolas, algumas escolas, mais
problemáticas tivessem menos alunos por turma ou ainda que se utilizassem os
professores em dispositivos de apoio a alunos em dificuldades. Por outro lado,
os estudos e as boas práticas mostram que a presença simultânea de dois
professores é um excelente contributo para o sucesso na aprendizagem e para a
minimização de problemas de comportamento bem como se conhece o efeito do apoio
precoce às dificuldades dos alunos.
As dificuldades dos alunos estão com muita
frequência na base do absentismo e da indisciplina, os alunos com sucesso, em
princípio, não faltam e não apresentam grandes problemas de indisciplina.
Sabe-se que o maior volume de problemas de indisciplina
se centra no 8º e 9º ano, sendo que, por vezes, no secundário os episódios são
mais graves, realidade que pode alterar-se com a extensão da escolaridade
obrigatória. Os professores também sabem que na maior parte das vezes, os alunos
indisciplinados não mudam os seus comportamentos por mais suspensões que sofram.
É evidente que importa admitir sanções, no entanto, fazer assentar o combate à
indisciplina nos castigos aos alunos e nas multas e retirada de apoios aos
pais, é ineficaz, é facilitista na medida em que é a medida mais fácil e mais
barata, é demagógica porque vai ao encontro dos discursos populistas que
aplaudem a ideia do "prender" do "expulsar" até ficarem só
os nossos filhos.
O problema é quando também nos toca a nós, aí
clamamos por apoios.
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