Era uma vez um Velho que cumpria a sua narrativa, andar pelo
mundo sem destino. Um dia, os passos e o acaso levaram-no a uma terra pequena e
estranha. O Velho olhou à volta e parecia que a realidade passou a estar a
preto e branco, sentia-a muito triste.
As pessoas eram cinzentas, os dias eram cinzentos. Tanto as
noites eram escuras como cinzentas e poucas eram as conversas das pessoas.
O Velho intrigado resolveu ficar mais algum tempo naquela
terra escura. Sentava-se a ver passar o mundo, pegava na sua máquina de fazer
letras e ia escrevendo palavras, que compunham frases que construíam ideias
para olhar para o mundo e começar de novo, fazer letras, outras palavras,
outras frases, outras ideias.
As pessoas cinzentas da terra escura estranhavam a tarefa do
Velho e foram-se aproximando espreitadoras. Os miúdos, são sempre mais
corajosos os miúdos, começaram fazer perguntas e o Velho explicou que fazia
letras e o que fazia com as letras.
Claro que os miúdos também quiseram fazer letras, é sabido
que os miúdos gostam de saber fazer letras. O Velho com calma, a calma dos
velhos, foi ensinando e os miúdos aprenderam. Era uma festa, faziam letras,
muitas letras, escreviam palavras, muitas palavras, compunham frases, muitas
frases, construíam ideias, muitas ideias, o que de mansinho foi entusiasmando os mais velhos da terra que,
à boleia dos miúdos, como muitas vezes acontece, aprenderam também a fazer
letras e a usá-las.
Estranhamente, aquela terra foi deixando de ser cinzenta,
deixando de ser escura, aos poucos retomou as cores que as ideias, construídas
com as frases que tinham palavras feitas de letras, criaram.
Na verdade, o Velho não ficou surpreendido, nas andanças
pelo mundo ele tinha estado numa terra onde as pessoas cantavam, “É tão triste
não saber ler como é triste não ter pão, quem não conhece uma letra, vive numa
escuridão”.
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