A propósito do início dos exames nacionais do
Básico e do Secundário, o Público apresenta um trabalho muito interessante, com um
título curioso "Cerca de 390 mil estudantes vão a exame, mas as provas não
dependem só deles", que merece reflexão para a qual contribuo com algumas
notas.
A avaliação escolar, através de diferentes
dispositivos, cumpre três funções essenciais, a certificação, da aquisição de
saberes ou de competências por exemplo, a ordenação, os resultados dos alunos
dispersam-se por um escala, 0 a 20 ou 0 a 100, e a de regulação, recolher
informação que permita identificar fragilidades nos processos de trabalho com
vista à sua correcção.
O exames nacionais procuram cumprir, sobretudo a
primeira e segunda funções, a certificação e a ordenação. Neste cenário surgem
as primeiras questões, que competências ou saberes devem ser adquiridos. Não é fácil,
antes pelo contrário, que um só exame consiga avaliar o "tudo" que
pode ser avaliado, por esta razão, o exame não pode ser o "tudo" em matéria de avaliação. As divergências de entendimento a Associação de Professores
de Matemática e a Sociedade Portuguesa de Matemática mostram isso mesmo. Também
nesta esfera entra a natureza mais ou menos eficaz do tipo de questões a
introduzir no exame, é o caso da defesa do recurso, maior ou menor, a questões
de resposta múltipla. Por outro lado, importa ainda considerar o papel do
avaliador, que a peça também levanta. Parece-me de recordar o número habitualmente
significativo de recursos dos resultados que merecem revisão sendo alterada a
classificação.
Uma outra questão que se reflecte nos resultados
e na sua ordenação, prende-se com o grau de dificuldade das avaliações. Como é
óbvio, se mais difíceis descem as médias, mais fáceis sobem as médias. A questão
central nesta matéria é construir um exame que não se destine a "passar
muitos" ou a "chumbar muitos", mas um exame que contenha o grau de
dificuldade ajustado, face às competências e saberes em avaliação. Os bons
professores sabem, certamente, como construir um bom exame. O problema é que é
neste campo que assenta boa parte da gestão política, ou seja, a tentação de
construir resultados mais ou menos simpáticos conforme a agenda dos interesses.
Temos tido muitos exemplos ao longo dos últimos anos.
A este propósito, recordo, de novo, um trabalho
notável do Professor Gert Biesta, "Good
Education in a Age of Measurement - Ethics, Politics, Democracy", onde
afirma que uma obsessão centrada na medida, assenta na gestão continuada desta
dúvida, "medimos o que valorizamos ou valorizamos o que medimos?"
Na linha do que tenho vindo a escrever por aqui,
reconhecendo a óbvia importância dos exames e tal como também na peça do Público
é referido, creio que questão central da qualidade não é a avaliação através
dos exames, mas os conteúdos e os processos de ensinar e aprender. É nesta
matéria que me parece que devemos centrar as atenções, na qualidade na extensão
e conteúdos dos programas, na correcta definição dos objectivos a atingir, nas
metodologias de trabalho de professores e alunos e, finalmente, na
disponibilidade de apoios oportunos e eficazes às dificuldades de alunos e
professores. Os dispositivos de avaliação são uma parte fundamental,
imprescindível e integrada de todo este processo e não O fim das aprendizagens.
Dito de outra maneira, dentro das três funções essenciais para a avaliação
escolar que acima enunciei, esta função reguladora assume uma importância que é
esbatida pela sobrevalorização mágica que a actual equipa da 5 de Outubro faz
dos exames.
Na verdade, a política recente do MEC é clara,
medir, medir tudo, esquecendo um princípio que os burocratas do MEC
considerarão, no mínimo, romântico, quando se trata de pessoas, o melhor
instrumento de medida que se possa construir, continuará apenas a "medir"
uma amostra do que alguém pensa, sabe, sente ou é, miúdos ou graúdos.
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