quinta-feira, 28 de junho de 2012

CHUMBOS NO SECUNDÁRIO. E AGORA?

O MEC revelou dados relativos à finalização do ensino secundário no ano lectivo 2010/2011. Relativamente a 2009, o insucesso subiu quer nos cursos científico-humanísticos, os que geralmente são escolhidos por quem quer aceder ao ensino superior, quer nos cursos profissionais que ainda são escolhidos sobretudo por alunos com mais baixo rendimento escolar. No 12º desceu de 66.8% para 63.2% o número de alunos que o concluíram e nos cursos profissionais de 75.7% para 70.2%. No Público refere-se que a maior dificuldade dos exames de Matemática explicarão o aumento do insucesso, explicação que não me convence, não porque não possa acontecer, mas porque a dificuldade dos exames passou a ser um instrumento de gestão política retirando-lhe credibilidade como ferramenta de análise e defesa da qualidade.
Na verdade, o que me parece mesmo preocupante é o que estes resultados podem significar e implicar em termos de futuro para estes jovens.
Considerando dados da União Europeia relativamente ao abandono escolar, sendo certo que em Portugal diminuiu a taxa de abandono, temos que em 2009 a média da UE a 27 era de 14.4 % e em Portugal 31.2 %. Segundo o INE, em 2010 o abandono continuou a cair mas é ainda de 28,7 %, ou seja, o dobro da média em europeia. Tal indicador vem mostrar o que sempre afirmo, não somos um país de “doutores”, ideia falsa vendida até à exaustão por uma opinião publicada ignorante e apoiada em alguma comunicação social mais negligente.
Como muito frequentemente afirmo, o abandono escolar será a primeira etapa da exclusão social. Nesta perspectiva, o combate ao abandono deve, tem de, ser um eixo central na política educativa. A eficácia nesta tentativa de baixar os níveis de abandono passa necessariamente pela diversificação dos percursos de educação e formação, o que habitualmente se designa por oferta educativa.
Deve sublinhar-se que têm sido realizados progressos bastante significativos na diversificação desta oferta embora, muitas vezes, as alternativas disponibilizadas sejam percebidas pelos alunos e pelas famílias como “formação de segunda”. Algumas escolas têm práticas que alimentam esta percepção, na medida em que canalizam preferencialmente os “maus alunos” para formação “alternativa” e com níveis de insucesso elevados.
Na verdade, o que é absolutamente central é que os jovens ao sair do sistema se encontrem equipados com qualificação profissional, quer ao nível do ensino secundário, quer ao nível do ensino superior, que com o trabalho no âmbito do ensino politécnico tem condições para processos de qualificação mais curtos e mais diversificados.
Neste contexto, parece essencial que sejam acauteladas as iniciativas que combatam o abandono desde que, evidentemente, a sua avaliação revele a qualidade necessária e não mais uma fonte de desperdício ou um programa inócuo para cumprir estatísticas.
Segundo dados do INE de há meses, 314 000 jovens não estudam nem trabalham, a designada situação “nem nem”. Estes números, atendendo à dimensão do país são absolutamente dramáticos. Temo que uma boa parte dos jovens com insucesso na finalização do secundário possam engrossar esta imensa minoria, hipotecando o futuro.

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