O MEC revelou dados relativos à finalização do
ensino secundário no ano lectivo 2010/2011. Relativamente a 2009, o insucesso
subiu quer nos cursos científico-humanísticos, os que geralmente são escolhidos
por quem quer aceder ao ensino superior, quer nos cursos profissionais que
ainda são escolhidos sobretudo por alunos com mais baixo rendimento escolar. No
12º desceu de 66.8% para 63.2% o número de alunos que o concluíram e nos cursos
profissionais de 75.7% para 70.2%. No Público refere-se que a maior dificuldade
dos exames de Matemática explicarão o aumento do insucesso, explicação que não
me convence, não porque não possa acontecer, mas porque a dificuldade dos
exames passou a ser um instrumento de gestão política retirando-lhe credibilidade
como ferramenta de análise e defesa da qualidade.
Na verdade, o que me parece mesmo preocupante é o
que estes resultados podem significar e implicar em termos de futuro para estes
jovens.
Considerando dados da União Europeia
relativamente ao abandono escolar, sendo certo que em Portugal diminuiu a taxa
de abandono, temos que em 2009 a média da UE a 27 era de 14.4 % e em Portugal
31.2 %. Segundo o INE, em 2010 o abandono continuou a cair mas é ainda de 28,7
%, ou seja, o dobro da média em europeia. Tal indicador vem mostrar o que
sempre afirmo, não somos um país de “doutores”, ideia falsa vendida até à
exaustão por uma opinião publicada ignorante e apoiada em alguma comunicação
social mais negligente.
Como muito frequentemente afirmo, o abandono
escolar será a primeira etapa da exclusão social. Nesta perspectiva, o combate
ao abandono deve, tem de, ser um eixo central na política educativa. A eficácia
nesta tentativa de baixar os níveis de abandono passa necessariamente pela
diversificação dos percursos de educação e formação, o que habitualmente se
designa por oferta educativa.
Deve sublinhar-se que têm sido realizados
progressos bastante significativos na diversificação desta oferta embora,
muitas vezes, as alternativas disponibilizadas sejam percebidas pelos alunos e
pelas famílias como “formação de segunda”. Algumas escolas têm práticas que
alimentam esta percepção, na medida em que canalizam preferencialmente os “maus
alunos” para formação “alternativa” e com níveis de insucesso elevados.
Na verdade, o que é absolutamente central é que
os jovens ao sair do sistema se encontrem equipados com qualificação
profissional, quer ao nível do ensino secundário, quer ao nível do ensino
superior, que com o trabalho no âmbito do ensino politécnico tem condições para
processos de qualificação mais curtos e mais diversificados.
Neste contexto, parece essencial que sejam
acauteladas as iniciativas que combatam o abandono desde que, evidentemente, a
sua avaliação revele a qualidade necessária e não mais uma fonte de desperdício
ou um programa inócuo para cumprir estatísticas.
Segundo dados do INE de há meses,
314 000 jovens não estudam nem trabalham, a designada situação “nem nem”. Estes
números, atendendo à dimensão do país são absolutamente dramáticos. Temo que uma boa parte dos jovens com insucesso na finalização do secundário possam engrossar
esta imensa minoria, hipotecando o futuro.
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