sábado, 23 de junho de 2012

SENTADOS E CALADOS DURANTE OS 90 MINUTOS

Não sei se será a última vez, provavelmente não, que aqui coloco umas notas sobre a questão dos exames nacionais obrigatórios.
Antes de mais, e de novo, entendo que os dispositivos de avaliação são uma parte fundamental, imprescindível e integrada da e na aprendizagem, mas não O fim das aprendizagens. Também entendo, como muita outra gente que a imprescindível melhoria dos resultados escolares não depende exclusivamente dos exames e da retenção dos alunos. A retenção, só por si, não promove o sucesso, pelo contrário, alimenta-o, é caríssima, está na base do abandono escolar, etc. os estudos nacionais e internacionais mostram isso.
A minha discussão desta matéria assenta, fundamentalmente, no entendimento do MEC de que o combate ao abandono e ao insucesso assenta, sobretudo nos exames, mais exames. O  Documento de Trabalho, de balanço e estratégico, divulgado pelo MEC a 15 deste mês é muito claro nessa afirmação.
Hoje, com alguma surpresa, confesso, li a entrevista de Paulo Guinote ao Expresso sobre esta questão e vejo, no contexto da defesa do aumento do número de exames, o argumento de que "deve ser a única altura do ano em que estão sentados e calados durante os 90 minutos numa sala. Quanto mais não seja por isso, é para eles uma experiência interessante de autodisciplina, que não acontece na maioria das aulas".
Não acredito que Paulo Guinote, professor de Português, bom professor certamente, entenda que na maioria das suas aulas os alunos devem estar "sentados e calados" 90 minutos e que isto seja um argumento para sustentar os exames, o que leio e conheço de Paulo Guinote, não me deixam entender o argumento. Achei ainda curioso que, em resposta à questão sobre o facto de Portugal ser o único país da Europa, para além da Áustria, com exames obrigatórios e com peso no percurso do aluno ao 4º ano de escolaridade e recordando, por exemplo, a Finlândia não os tem e não apresenta os níveis de abandono e insucesso que nós temos, Paulo Guinote, afirma, "se calhar quando tinham, também faziam exames". Se calhar?! Talvez, se calhar, tenham entendido que combater o insucesso e o abandono não tem que assentar em exames nacionais ao fim de quatro anos de escolaridade.
Ainda uma última nota sobre a posição dos miúdos face aos exames, o nervosismo e ansiedade. Aqui concordo com Paulo Guinote, a eventual ansiedade é criada pelos discursos dos adultos, os miúdos, na sua esmagadora maioria lidam com alguma tranquilidade com os exames, esta não é uma questão. Neste sentido, também não colhe a afirmação da Secretária de Estado do Ensino Básico de que é importante que os meninos se habituem a realizar provas de conhecimentos e daí a bondade dos exames, argumento também interessante. Também concordo com  entendimento de Paulo Guinote sobre a contínua utilização dos exames como "instrumento político", como, aliás, com quase todas as matérias em educação. Nisto radica boa parte dos problemas do nosso sistema educativo.
Insisto no meu ponto, a qualidade promove-se, é certo e deve sublinhar-se, com a avaliação rigorosa e regular das aprendizagens, naturalmente, mas também com a definição de currículos adequados e de vias diferenciadas de percurso educativo para os alunos, sempre com a finalidade de promover qualificação profissional, com a estruturação de dispositivos de apoio a alunos e professores eficazes e suficientes, com a definição de políticas educativas que sustentem um quadro normativo simples e coerente e modelos adequados de organização e funcionamento das escolas, não com mega-agrupamentos e aumento do número de alunos por turma, por exemplo, com a definição de objectivos de curto e médio prazo, etc.
Se calhar, é isto que falta.

1 comentário:

L.Maria disse...

O que me dá a entender é que se quer fazer tudo em grande. Grandes turmas, mega-agrupamentos, exames à molhada, e "sentados e calados" o máximo de tempo possível (neste caso 90 minutos!)
O problema é que os resultados também serão em grande: Maior abandono escolar; mais stress para miúdos e pais e arrisco-me a dizer que o saber, o conhecimento a capacidade de raciocínio não aumentará na mesma proporção, não me parece que isso aconteça com "empinar" matéria escolar para exames. Eu, quando tinha de o fazer, durante uns tempos nem me queria lembrar daquilo, aliás penso que o meu cérebro arranjou uma protecção qualquer para não me lembrar de matéria marrada.
O meu filho acabou o 5º ano e já está a pensar nos exames do 6º como se de alguma catástrofe se tratasse! É isto que queremos?
Não! Não é isto que eu quero... mas eu tenho um filho, lido com crianças e estou na realidade, e não sei em que realidade andarão os "outros".